Capitulo 1

1398 Words
Levanto e são seis e meia da manhã, faço um chá de maçã, me sento na porta e observo o sol. As plantas estão molhadas com o orvalho da manhã, adoro essa vista me traz uma sensação boa de paz. Ouço um barulho na porta, olho para trás e minha mãe entra na cozinha com umas sacolas na mão. — Já de pé? — Disse atrás de mim, parece ter chegado a pouco. — Não consegui dormir — Digo e encosto a cabeça nos joelhos, ela aproxima-se e senta-se ao meu lado  — Preciso te dizer algo. — Suspira e põe a mão no meu joelho. Já sei que é coisa séria pelo jeito que fala.  — Pode dizer. — Digo apreensiva. — Seu ex está no bairro de novo. Tony voltou, filha. — Levanto rápido, a caneca cai da minha mão e se arrebenta em mil pedaços pelo chão.  — Não, mãe, como voltou? Ele tinha que estar preso. Logo agora que minha vida está entrando nos eixos de novo?! — Calma, ele não pode te machucar mais.  — E quem garante isso?  — Filha! Ele não vai se aproximar de você, tem medo do seu irmão e tomaremos medidas de segurança, se acalme. — Ela se senta ao meu lado. — Mãe... Estou com medo. — Vai ficar tudo bem. Ela se aproxima, me abraça e choro em seu ombro.  Tony acabou com minha vida, logo depois de toda confusão ele fugiu. Já faz três anos e encará-lo de novo não vai ser fácil, toda vez que vê-lo vou me lembrar de tudo o que me fez e saiu impune.  — Vou fazer um chá para você, deita um pouco, tenta dormir —  Diz passando a mão em minha cabeça.  Depois que ela sai, abraço meus joelhos. Não sei quanto tempo fiquei assim. Sinto uma mão em meu rosto e acordo com um pulo. — Calma, filha, sou eu. — A voz de minha mãe está baixa e serena. — Está na hora da faculdade. Você vai? — Vou me arrumar. Pode me levar? — Seu irmão vai fazer isso. Minha mãe era jovem, tinha quarenta anos e era linda com seus cabelos pretos e olhos castanhos. Dona Hannahh não parecia ter a idade que tinha.  Ela e meu pai, Seu Inácio Irã, se casaram bem jovens e tiveram três filhos. Rony, o meu irmão mais velho, tinha 25 anos. Se casou e foi viver fora, na Holanda. Rui tinha vinte anos, vivia com a gente, enquanto fazia faculdade de educação física, pelo menos ele diz isso, mas o foco dele é as farras, mulheres. Eu sou um ano mais nova do que Rui, isso facilitou nossa convivência e nossas brigas também, já que ele é muito ciumento e continua assim mesmo aos meus 19 anos.  Rui ficou muito furioso com tudo que Tony me fez. Meu irmão bateu muito nele, se não fosse meu pai e os amigos tirarem Rui de cima do Tony, Tony estaria morto com toda certeza. A decepção foi grande para Rui também, afinal eles eram amigos. Depois de tudo isso, meu irmão ficou mais possessivo, cuidando de todos os meus passos, nunca me deixando sair sozinha, não imaginava como ele iria reagir a volta de Tony.  — Vamos, Eve, vou para academia ainda hoje. — Saio do quarto e ele está jogado no sofá com celular na mão, usando um jeans batido e sem camisa, os cabelos molhados não escondem que saiu do banho à pouco.  — Estou pronta, vamos, seu chato. — Rui coloca o celular no bolso e pega a camisa em cima do sofá. Na garagem, Rui pega o carro do nosso pai, o que acho estranho, já que o dele está ao lado. — O carro do papai? Tem certeza? Ele vai ficar puto com você — Digo sentando ao seu lado.  — Eu me entendo com ele. — Rui parece chateado antes mesmo de ligar o carro.  Ele liga o som, o volume está alto, e  passamos bem devagar pelo bairro, olhando tudo em volta. No fundo eu sabia por que estava fazendo isso.  — Você já sabe, não é? — Pergunto olhando minhas mãos. — É, fiquei sabendo ontem na academia — Ele aperta o volante com força.  — Rui, não posso ficar aqui com o Tony por perto, tenho medo. Ele suspira pesado, leva o carro até o acostamento da rua e para.  —Ele não vai chegar nem perto de você, eu não vou deixar, Eve — Ele segura meu rosto entre as mãos, as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto.  — Estou com medo, Rui, muito medo, não quero passar por aquele inferno de novo, eu prefiro morrer. Ele me abraça com força enquanto choro em seu ombro, choro de soluçar e ele me segura com força.  — Vamos resolver isso, eu prometo. Rui me deixa na faculdade, mas da janela da sala vejo que não foi embora. Ele havia parado o carro e ficou dentro observando cada movimento, eu sabia que ele queria ir a academia, mas ele escolheu ficar ali cuidando da minha segurança.Nas semanas seguintes tive alguém comigo todos os dias, nunca me deixavam sozinha, nem em casa, nem na rua. Se Tony realmente estava no bairro, ele se escondeu muito bem. Aquele havia sido um dia atípico, como todos fora de casa e eu sozinha em casa. No fim da tarde desço para por roupa na lavadora, escuto um barulho no telhado que me assusta. — Tem alguém aí? — Pergunto, minhas pernas começam a tremer. Minhas mãos suam, tranco a porta e vou correndo para meu quarto, entro rápido e fecho a porta atrás de mim. Quando olho para minha cama, meu sangue congela. Tony está ali deitado com os braços atrás da cabeça e um enorme sorriso no rosto, aqueles olhos negros que tanto amei e agora são vazios e me trazem um terror enorme.  Viro para a porta e tento correr, mas é tarde demais, ele me segura pela cintura com força e cobre minha boca.  — Nem pensar, você fica aqui comigo, sentiu minha falta, bebê? Por que eu estou louco de saudade de você. Três anos, não é? — Ele fala bem devagar no meu ouvido, trazendo-me lembraças horríveis. Meu coração dispara, o ar some dos meus pulmões, sinto o cheiro de Tony. — Me solta, Tony.  Debato-me nos braços dele, mas é impossível soltar-me, ele é mais alto do que eu e bem mais forte.  — Eu não quis te machucar, Eve, mas você é muito teimosa, tentou se livrar de mim, terminar comigo — Ele beija meu pescoço devagar enquanto fala — Eu nunca esqueci você, voltei para ficar e ter você de volta. —  Ele virá meu corpo de frente para ele e beija meus lábios, força a língua na minha boca. Meus dentes se fecharam ao redor de seus lábios, senti brevemente o gosto de sangue antes de me levantar e me impulsionar para frente, correndo.  — Sua p*****a! — Sinto o empurrão nas minhas costas e caio no chão. Ele sobe em cima de mim e segura minhas mãos na frente do peito, vejo o momento que ele levanta o braço. Fecho os olhos e sinto o t**a forte no meu rosto.  — Nunca mais, ouve bem, Eve, nunca mais me morda, — Ele aperta a mãos no meu rosto — Você é minha, minha! Quero gritar, mas não consigo, minha voz não sai, está presa, meu corpo está mole, parece travado. Ele me levanta do chão com força e me arrasta para o quarto.  — Agora você vai ser minha de novo. — Tony diz. Ele me joga na cama e segura minhas coxas com força, as mãos dele vão para o cós do meu short. Arranho suas mãos e me debato, mas nada adianta. Ele passa uma perna de cada lado do meu corpo, segura meus pulsos com firmeza. Ouço um barulho de carro e Tony me solta e corre, para a janela, antes ele para e me olha — Eu volto, Eve, me espera. — Ele sorri e pula a janela. Arrasto-me até o chão, abraço meus joelhos e choro, meu corpo treme sem parar, lágrimas molham meu rosto.  — Eve, cheguei! É a voz do Rui. Não consigo responder, escuto  seus passos se aproximando, o vejo vir na minha direção e apago.
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