My Baby Girl

Segunda-feira, 14:00. POV Lívia Trabalho como influencer e hoje fiz uma sessão de fotos para uma marca de cosméticos. Meu motorista chegou a pouco tempo para me buscar, a caminho de casa eu passo por um local que chama minha atenção, eu já tinha visto outras vezes, mas agora que esse espaço foi recentemente reformado, está sendo mais movimentado. Fico curiosa e mando o motorista parar o carro na vaga mais próxima e me aguardar. Chegando ao local, fico chocada por não ser nada do que eu imaginava, não se trata de uma loja, mas sim de um espaço cheio de adultos agindo como crianças ou bebês, “mas que tipo de lugar é esse ?!” eu me pergunto em choque. Além deles, há adultos que cumprem o papel de cuidadores pelo o que estou observando. Enquanto eu assisto essas cenas, uma mulher se dirige até mim e fala: — Olá ! Me chamo Yara. Como posso ajudar ? — Pergunta em tom simpático. — Olá ! Eu me chamo Lívia, não conheço o espaço ainda, entrei por curiosidade. Confesso que estou surpresa, nunca vi um lugar assim. — Permita-me explicar. Somos um espaço dedicado a cuidar de adultos que praticam regressão de idade. Aqui apenas adultos podem se matrícular para regredir ou para cuidar dos nossos “babys”, é como chamamos quem regride. — Isso é tipo … um serviço terapêutico ? — Para alguns sim, mas muitos fazem apenas por diversão. Aqui também temos funcionários que podem ser identificados pelo uniforme, o espaço funciona como uma creche, e eu sou a dona, diretora e coordenadora. — Entendi. — Digo olhando ao redor. — O que acha de fazer uma experiência ? Não cobramos por isso e ficamos abertos até as 18:00. — Bem, na verdade eu tenho um aniversário hoje, só passei para conhecer mesmo. — Entendo, caso tenha interesse estaremos de portas abertas. Quando estou prestes a sair, uma menina de aproximadamente 25 anos esbarra em mim e cai no chão por estar correndo de uma suposta cuidadora, eu solto um “ai” de susto, eu me volto para ela e digo: — Você deveria prestar mais atenção ! Então eu noto que ela tem um machucado que está vermelho em seu braço direito, e que está assustada. A mulher que corria atrás dela olha para mim seriamente e diz: — Desculpa pelo incômodo, ela é uma baby inquieta, está sempre correndo por aí. — E ela tem algum motivo para isso ? — Questiono ainda olhando para a marca vermelha. — Ela só é muito agitada como eu já disse, venha menina ! — Fala em tom rude. A mulher tenta se aproximar da garota, mas ela se esconde atrás de mim, eu estava prestes a ir para casa, mas agora preciso cuidar de um assunto do qual eu nem estava envolvida. Eu me viro para a menina e pergunto seu nome, mas ela fica em completo silêncio olhando para baixo com uma expressão que indica claramente medo, e isso eu posso dar certeza, pois já realizei um curso sobre comunicação não verbal. Olhando para essa situação, eu suponho que ela seja vítima de violência por parte dessa mulher nesse ambiente, mas por qual motivo ela continuaria frequentando esse lugar ? Não era algo da minha conta, mas agora que eu vi, não posso simplesmente ignorar, isso poderia me tornar cúmplice de maus tratos, e eu jamais concordaria com isso. Não posso assustar a garota, tratarei ela com um bebê para que não se sinta ameaçada, eu me abaixo de frente para ela e volto a fazer perguntas sobre seu nome e sua idade, mas ela insiste em manter o silêncio. Por trás de mim a mulher fala: — Ela é tímida, pode deixar que eu cuido dela. — Você é a cuidadora dela ? — Pergunto me voltando para a senhora que aparenta ter 40 anos. — Exatamente, então pode deixar ela sob meus cuidados. — Entendi, e qual o seu nome senhora ? — Você me chamou de senhora ?! Quantos anos acha que eu tenho ?! — Fala se exautando. — Pela sua aparência tenho certeza que não é a mesma dessa baby, imagino que você tenha uns quarenta e poucos. — Eu tenho 35, você não tem educação ?! — Diz levantando ainda mais o tom de voz. — Eu que deveria te perguntar isso pela forma como você está tratando ela. — Respondo em tom calmo. — Não se envergonha de falar em tom ríspido com alguém que regride ? Eu no seu lugar teria vergonha de mim mesma. — Credo ! Onde está a gerente desse local ?! — Que bom que perguntou, quero falar com ela. — É você quem está sendo grossa aqui ! — Eu ?! Por acaso está com medo que eu conte algo ? Porque que eu me lembre foi você quem estava tratando uma baby de forma rude ? Mas não importa né ? Porque as câmeras gravam tudo. — Digo apontando para as câmeras. Dito isso a mulher se retira do ambiente em passos rápidos, como se quisesse fugir. Eu novamente me volto para a garota, me abaixo já que ela continua sentada e tento conversar com ela. — Gostaria que me dissesse seu nome, não vou te fazer nenhum m*l. Por que você está machucada ? Ela quem fez isso em você ? E se sim, por que você continua vindo para cá ? A menina em silêncio me observa por um tempo, ela tem uma aparência muito fofa, parece a Kidol Irene do Red Velvet, ela é baixa, magra, tem pele clara, longos cabelos pretos, e rosto pequeno com traços que me lembram um coelho. Mesmo sendo adulta, seu olhar é de uma garotinha inocente em busca de amor e cuidados. Após alguns segundos ela se levanta e corre assustada para outro cômodo. Eu não posso permitir que ela seja vítima de violência, não irei colaborar com isso. Encontro Yara conversando com um funcionário e a chamo educadamente para conversar em particular. Ela me chama para sua sala e pede qual seria o assunto, então eu conto o que aconteceu recentemente.