A Armadilha de Viviane

936 Words
Lucas (18) agia com uma calma perturbadora. O diário de capa de couro estava escondido sob o colchão, seu conteúdo queimando em sua memória. Ele andava pelo apartamento, observando Helena (36). Sua mãe era uma fortaleza de trabalho, mas ele agora via as rachaduras na sua armadura: o tremor ocasional da mão ao tomar café, os olhares longínquos quando pensava estar sozinha. Ela não era uma espiã manipuladora; era uma mulher exausta que fez uma escolha de amor equivocada. Ele precisava unir os dois. Sua primeira tentativa foi sutil. Ele sabia que Daniel (38), apesar de sua raiva, era obcecado pelo caso PHOENIX. Lucas usou seu conhecimento da mente de Daniel, adquirido durante o estágio, para semear uma dúvida em Helena. — Mãe, estou revisando uns artigos. O Promotor Albuquerque sempre falava sobre a importância de revisar as cláusulas de dissolução. Se a PHOENIX tiver alguma cláusula com a subsidiária TecnoCore, pode ser a brecha que ele está procurando. Helena o encarou por cima dos óculos de leitura, desconfiada. — Por que você está revisando isso? — Curiosidade. — Lucas deu de ombros. — É o maior caso da cidade, mãe. A sugestão plantada fez o efeito esperado. No dia seguinte, Helena passou horas revendo documentos que antes considerava irrelevantes, apenas para satisfazer a pulga atrás da orelha plantada por seu filho. Enquanto Lucas jogava seu jogo de aproximação, Viviane (34) observava Daniel. Ela notou a mudança. Daniel estava mais quieto, mais focado, mas a raiva contra Helena ainda era palpável. Ele a ignorava, concentrando-se apenas na lei. — Daniel, recebi uma dica. — Viviane se inclinou na mesa dele, os olhos brilhando. — A PHOENIX tem uma reunião de emergência amanhã à noite, fora da cidade. O CEO está lá. — E daí? — Daniel estava cético. Ele não confiava em "dicas" sem provas concretas. — E daí que isso cheira a fuga. E a Dra. Monteiro estará lá, com certeza. Se formos ao local e obtivermos uma liminar ex parte baseada em suspeita de evasão de ativos, podemos congelar as contas deles. E o melhor: podemos confrontar a Doutora Monteiro em público, fora da proteção do tribunal. Viviane estava mentindo. Ela não tinha "dica". Ela havia forjado a informação através de um contato na segurança da PHOENIX. Ela sabia que Daniel precisava de uma vitória rápida e humilhante. Ela precisava ver Helena ceder, e queria Daniel ao seu lado quando isso acontecesse. O confronto aberto era sua armadilha. Daniel hesitou. O movimento era arriscado. Se a liminar fosse negada, ele perderia prestígio. Mas a ideia de pegar Helena no flagra, de provar que ela era uma criminosa inescrupulosa que estava ajudando uma empresa a fugir, alimentava sua raiva. — Prepare a moção. — Daniel concordou, o rosto rígido. — Mas seremos discretos. Não quero um circo midiático. Viviane sorriu, vitoriosa. — Discretos, Promotor. Apenas você, eu e a verdade. Lucas, ainda agindo como o filho dedicado, mas ferido, ofereceu-se para dirigir Helena até a reunião fora da cidade. Ele sabia que ela estava cansada e distraída. Ele precisava de mais tempo a sós com ela. No carro, ele tentou táticas mais diretas. — Mãe, o senhor Albuquerque parece ser um bom homem. Por que a senhora tem tanto medo dele? Helena apertou o volante. — Eu não tenho medo de Daniel, Lucas. Eu o respeito como adversário. E não toque mais nesse assunto. — A senhora está sempre trabalhando para me dar o melhor. Mas o melhor não é ter dinheiro. É ter a verdade. A senhora sacrificou a sua felicidade por mim? A pergunta atingiu Helena em cheio. Ela parou o carro no acostamento, as luzes da estrada passando rapidamente. — Não confunda sacrifício com escolha, Lucas. Foi Minha Escolha. E eu não a lamento. Agora, não me faça lamentar a minha escolha de te trazer para cá. Helena retomou a direção, o silêncio pesado entre eles. Lucas entendeu: a muralha dela só cairia sob extrema pressão. E a pressão veio na forma de Daniel e Viviane. A reunião da PHOENIX estava sendo realizada em uma mansão à beira-mar, isolada e aparentemente segura. Helena e o CEO estavam discutindo os últimos detalhes da reestruturação quando as luzes do pátio se acenderam. Daniel, vestido de Promotor, e Viviane, parecendo uma deusa vingadora, entraram no salão, acompanhados por dois oficiais de justiça. — Doutora Helena Monteiro, seu cliente está sob ordem judicial para congelamento de bens e impedimento de viagens. — Daniel anunciou, sua voz fria preenchendo o espaço. — Sob suspeita de evasão de ativos. Helena levantou-se abruptamente, o pânico do CEO ao seu lado. Ela não estava fugindo; estava defendendo o caso. Viviane tinha armado uma cilada. — Você está cometendo um erro grave, Daniel! Não há evasão! Esta é uma reunião de reestruturação legal! — É o que todos os criminosos dizem, Helena. — Daniel se aproximou, a satisfação brilhando em seus olhos. — Parece que suas táticas de blefe acabaram. Este é o preço de jogar sujo. Viviane sorriu, vitoriosa. Ela olhou diretamente para Lucas, que estava parado na entrada do salão, assistindo à cena. A intenção de Viviane era clara: que Lucas visse a mãe sendo pega no flagra, confirmando o que Daniel pensava dela. Mas Lucas viu outra coisa. Ele viu o desespero nos olhos de Helena, e a fúria fria de seu pai. Ele percebeu que aquele confronto não terminaria com uma ordem judicial, mas sim com uma tragédia. A hora de intervir havia chegado. Ele tirou o diário escondido da jaqueta, pronto para revelar o segredo ali mesmo, no meio do caos, para parar o m******e emocional.
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