Um estranho na livraria
A livraria estava silenciosa, preenchida apenas pelo som suave das páginas sendo folheadas e pelo aroma aconchegante de papel e café. Eu estava absorta na escolha dos livros quando o vi.
Ele entrou sem hesitar, como se já soubesse exatamente o que procurava, sem sequer lançar um olhar ao redor. Mas algo nele prendeu minha atenção. Talvez fosse o modo como seus ombros largos se moviam com elegância natural ou a forma como sua expressão era tão séria e ao mesmo tempo intrigante. Ele era lindo de uma forma que não deveria ser real.
Meus olhos o seguiram quase sem querer, um ímã invisível me puxando para sua presença. Respirei fundo e voltei a encarar os livros à minha frente, tentando me concentrar. Mas, como se houvesse um fio invisível nos conectando, olhei novamente.
Dessa vez, ele percebeu.
Seus olhos negros encontraram os meus por cima da estante, e por um momento, tudo ao redor pareceu desaparecer. Seu olhar não era apenas de surpresa, era de reconhecimento. Como se ele me conhecesse de algum lugar. Como se estivesse diante de algo que procurava há muito tempo.
Seus traços duros suavizaram, sua respiração pareceu falhar por um segundo. Ele ergueu levemente as sobrancelhas, como se tentasse se lembrar de algo que estava à beira de sua consciência. Mas então, como se despertasse de um devaneio, ele balançou a cabeça e desviou o olhar.
Ele pegou dois livros, mantendo a expressão fechada, e seguiu para o caixa. Algo dentro de mim gritava para segui-lo, para não deixá-lo simplesmente sair sem que ao menos disséssemos uma palavra um ao outro.
Me aproximei, parando ao seu lado na fila, fingindo estar completamente concentrada nos livros que segurava.
Meu coração batia rápido. Havia uma energia no ar, algo que eu não conseguia explicar. Eu não o conhecia, mas, ao mesmo tempo, sentia como se já o tivesse encontrado antes. Era um sentimento que me assustava e me atraía ao mesmo tempo.
Arrisquei uma tentativa.
— Esse é ótimo, eu já li — falei, apontando para um dos livros em suas mãos.
Ele se virou para mim lentamente, como se estivesse relutante em dar atenção, mas, quando nossos olhos se encontraram novamente, algo brilhou dentro deles. Um leve sorriso surgiu em seus lábios, mas ele logo desviou o olhar e murmurou:
— Que bom.
E então voltou a encarar o caixa, como se o breve contato não tivesse significado nada para ele.
Eu senti um leve aperto no peito, uma decepção boba que não deveria existir. Ele não me devia nada, e eu nem sabia por que queria tanto uma reação diferente.
Paguei meus livros depois que ele saiu e me dirigi ao andar de cima da livraria, onde cadeiras confortáveis ficavam espalhadas pelo espaço. Sentei-me e comecei a ler, tentando afastar a sensação estranha que aquela interação tinha me deixado.
Mas então, poucos minutos depois, senti alguém se aproximar.
Meu coração acelerou quando ele se sentou ao meu lado.
Fingi continuar lendo, mas a presença dele era forte demais para ser ignorada.
— Ele é bom também — sua voz grave soou ao meu lado.
Olhei para ele e percebi que estava falando do livro que eu segurava.
— É sim — respondi, tentando parecer despreocupada.
— Você já chegou na parte das guerras?
— Não. Spoiler! — brinquei, soltando uma risada leve.
Ele riu também, passando a mão na nuca, como se estivesse sem graça.
— Foi m*l.
Algo naquela risada me atingiu de um jeito diferente. Era a primeira vez que o via menos fechado, mais humano, e, de repente, parecia impossível não me sentir ainda mais atraída por ele.
A conversa fluiu mais fácil depois disso. Falamos sobre livros, sobre histórias que nos marcaram, e a cada troca de palavras eu sentia como se algo invisível estivesse nos puxando um para o outro.
Então, de forma natural, ele pediu meu número.
E eu dei.
Eu nem o conhecia direito. Mas já estava apaixonada por ele.