Flashbacks, 2011… 11 anos atrás
"O mais belo do amor jovem é a verdade em nossos corações de que ele duraria para sempre. ~ ATTICUS ~"
"Você vem à loja mais tarde, Marie?"
Marine olhou para ele com timidez, esboçando um sorriso leve enquanto concordava com um aceno suave.
Sempre que ele a chamava de “Marie”, ela sentia o chão sumir. E aquela voz rouca e grave dele mexia por dentro dela.
Ah, se ele pelo menos a beijasse agora… pensou ela, mordendo os lábios, piscando os olhos devagar, tentando evitar seu olhar — mas não conseguiu.
Estavam namorando havia apenas algumas semanas, e ainda não tinham trocado o primeiro beijo.
Ainda assim, a cada dia que passava, ela se apaixonava mais por ele e por seus gestos encantadores:
desde levar ela para encontros espontâneos no seu local de trabalho, beijar sua testa e bochechas com suavidade sempre que se despediam, até mandar mensagens carinhosas tarde da noite, que a faziam suspirar feito uma tola antes de dormir. Marine só não queria que aquele sentimento acabasse.
Era um amor proibido. Sempre que as mensagens dele chegavam enquanto ela estava com os pais ou irmãos, ela escondia o celular — às vezes desligava completamente.
Seus irmãos e pais ainda não sabiam do namoro, e Marine tinha certeza de que, quando descobrissem, ela estaria encrencada. Mas e daí?
Ela estava apaixonada e queria aproveitar aquela felicidade pelo maior tempo possível.
Nunca queria que aquilo terminasse…
Já havia rumores, é claro. Dadas as diferenças de classe social e a grande disparidade de idade — ela tinha 17, ele quase 23 —, Marine sabia que as pessoas falariam naquela cidadezinha entediante.
Era também por isso que Dorian ainda não a havia levado para um jantar formal num restaurante, como ela sempre sonhara.
Estavam mantendo tudo em segredo.
Doía ter que esconder tanto só porque não formavam o par perfeito. Mas haveria mesmo algo perfeito nesse mundo louco?, ela se perguntava.
Ela…
"Marine? Marie? No que está pensando? Por que está tão quieta?"
Dorian pousou as mãos em seus ombros e balançou-a de leve, tirando-a do devaneio.
"Ah… Acho que me perdi nos pensamentos", disse ela baixinho, fitando-o de novo, os lábios curvando-se sutilmente enquanto se afundava naqueles olhos azuis profundos e brilhantes.
Seu olhar desceu pelo rosto dele, e então um sorriso maior surgiu.
Ele estava tão atraente com suas roupas de trabalho: jeans desbotados e uma polo escura que marcava seus músculos, destacando o peito. Ela corou de repente, desviando os olhos do corpo dele para os próprios pés, as mãos entrelaçadas e inquietas.
"Marie, olhe para mim."
A voz grave dele soou, e ela obedeceu, ainda que piscando várias vezes, o olhar instável.
Por que estava se sentindo tão tímida? Por que…
"Sempre que você faz isso…"
"Faz o quê?", ela interrompeu.
Ele não respondeu, apenas murmurou, rouco, antes de encostar os lábios nos dela:
"... me dá vontade de beijar você toda. Dane-se!"
"Oh, Dorian…"
Ela gemeu baixinho, sem um pingo de vergonha, enquanto se beijavam pela primeira vez. Perdida no momento, Marine não queria que aquilo acabasse.
De jeito nenhum…
………
Tempo presente, 2022 (Cena da festa)
"Este vestido custou 2.000 malditos dólares, e aquela i****a derramou vinho tinto nele. Ela simplesmente arruinou meu vestido, querido, ela…"
Dorian m*l ouvia o que Charline dizia. Mesmo tentando acalmá-la com tapinhas nas costas, sua mente estava longe.
Ele estava em choque — devastado até o âmigo, encarando seu pior pesadelo. O tempo parecia ter parado enquanto ele fitava a mulher que assombrava seus sonhos insanamente nos últimos dez anos.
Os cachos loiro-morango dela, iguais aos de sempre, emolduravam seu rosto agora mais magro, enquanto se encaravam em choque.
Dizer que ele estava surpreso era pouco. Várias perguntas invadiram sua mente: O que ela fazia ali? E como garçonete?
Onde estava a princesa excêntrica da família Collins, a moça que tinha tudo, a mulher que partiu seu coração e o fez deixar Birmingham sem olhar para trás?
Onde estava ela? Com certeza, não era essa pessoa, catando copos, lágrimas escorrendo pelo rosto, olhando direto para ele…
Ele sentiu vontade de rir da absurdez da situação. Não conseguia acreditar.
Ela parecia tão frágil, e tinha mudado — ele notou enquanto a observava, aproveitando cada segundo.
Os lábios que ele beijara, mordera e… caramba! Ela também parecia assustada, boca entreaberta, lágrimas ainda caindo.
A única e inigualável Marine Collins, agora uma garçonete e…
"Querido, você não está falando nada! Estou arruinada, essa mulher estragou minha noite, amor, e você só fica olhando para ela. As pessoas estão vendo, as câmeras…"
Ao ouvir "câmeras", Dorian saiu do transe. Deu uma última olhada em Marine antes de desviar o olhar.
Sua expressão mudou de confusão para desprezo e ódio puro, enquanto o passado voltava à tona.
Tudo o que ela e a família fizeram com ele, como ela o traiu e…
Segurando os braços de Charline com firmeza, ele perguntou áspero:
"O que você quer que ela faça? Precisa se acalmar, amor."
Continuou afagando as costas dela, falando com suavidade, mas seu olhar voltava repetidas vezes para Marine, que ouvia sussurrar desculpas enquanto catava os cacos de vidro, mesmo com as mãos feridas.
Havia gotas de sangue no chão. Aos poucos, a multidão se dispersava com a chegada do segurança e da equipe de apoio.
"Ela tem que pagar pelo vestido e pelos danos extras. Custou dois mil dólares e…"
Charline soluçava, mas Dorian a interrompeu, falando alto, para que todos ouvissem:
"Você quer que a v***a patética pague por isso, não é?"
Ele perguntou, e Charline balançou a cabeça, trêmula.
A tal “v***a patética” no chão — sim, era dela que ele falava —, ele a encarou com um sorriso c***l enquanto o ódio voltava com força.
Declarou então:
"Pronto! Ela vai pagar. Vai pagar cada centavo desse vestido. Vai pagar por tudo — e se não pagar, processamos!"
Charline riu, aliviada. Mas Dorian, de olho em Marine, viu dor — ou sofrimento — refletido em seu olhar.
Seus lábios se abriram, e ela soltou um suspiro abafado, quase inaudível, mas ele ouviu.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto de novo, em abundância.
Mas Dorian não ligava. Ela ia pagar… ela e a família dela. E isso era só o começo.