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paredes eram brancas

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Blurb

David é um garoto de apenas 13 anos e vive com a família em uma casa simples na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná. Seu pai, um alcoólatra escroto que se diverte ao espancar a esposa nas horas vagas, é assassinado de madrugada na saída de uma boate. Após algum tempo de investigação, a polícia percebe que todas as pistas convergem para uma única suspeita: o garoto teria matado o próprio pai. O problema é que a mãe de David também é assassinada pouco tempo depois, e agora, as duas mortes são atribuídas a ele. O pai não valia nada; mas por que David mataria a própria mãe?A explicação vem de um laudo médico que aponta para um garoto com sérios transtornos mentais. Então, David é trancafiado num hospital psiquiátrico. Só que é justamente lá que ele suspeita que está sendo envolvido em uma trama assustadora, algo que pode mudar toda a sua trajetória. Mas que segredo poderia estar por trás da morte dos pais do garoto?Duvidando da própria sanidade, David começa a investigar, mas todas as descobertas só levantam mais dúvidas, e o rapaz se vê diante de uma pergunta perturbadora: até que ponto ele pode acreditar na própria realidade?

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Capítulo 1EM NOME DO PAI
Capítulo 1 SORRIR. ESSE FOI O PRIMEIRO IMPULSO QUE ELE TEVE ao saber da morte do velho. Controlou-se. Não queria vê-lo morto, claro que não. Se bem que, em algum momento, essa ideia tenha lhe rondado a cabeça, sorrateira. De maneira inconsciente, ele jurava. Julgamentos são gratuitos, sedutores. Então o que as pessoas poderiam pensar de um filho que se permite pensamentos obscuros sobre o próprio pai? O sujeito tinha partido, e agora ele não sabia como reagir. Sorrisos são naturalmente efêmeros. Assim, mostrar os dentes não lhe parecia a solução. partidoChegava a ser engraçado imaginar que embora até o próprio falecido suspeitasse de que seu fígado, já todo ferrado, não fosse resistir por muito mais tempo, o álcool não teve nada a ver com desfecho melancólico da história. Por mais que a ideia parecesse tentadora, não dava para atribuir ao uísque a culpa por ter abreviado a vida do cara. ferradoDe manhã, um dos jornais locais trazia — em sua seção de manchetes sangrentas — a notícia de que um homem identificado como Agenor Pereira de Lima, fora assassinado na noite anterior. Baleado. Ao que parece, a vítima não fez nenhuma questão de dar trabalho ao atirador. Bastou um disparo. Um único tiro foi o suficiente para fazê-lo desmoronar. sangrentasPaola, a vizinha da casa de cima, foi quem apareceu com a publicação na casa do garoto. Tinha as mãos agitadas e o olhar certeiro. Ela, o marido Diego e o filho Enzo — uma criança de quatro anos, que fazia um barulho sinistro ao respirar — tinham se mudado para o bairro uns meses antes. certeiroO garoto ouviu, numa das conversas entre a sua mãe e a mãe do pequeno Enzo, que o menino padecia com uma bronquite crônica, ou asma ou sabe-se lá o quê. O fato é que às vezes o garotinho tinha dificuldade ao respirar, e dava a impressão de que seus pulmões iam entrar em colapso numa batalha árdua e desonesta em busca de algo que a maioria de nós só se dá conta de que existe quando precisa: o ar. Paola costumava passar boa parte do tempo em sua casa cuidando do filho asmático, o que lhe rendia também algum tempo livre para bisbilhotar a vida dos outros, e ao se dedicar aos prazeres da maledicência, não era difícil identificar alguma satisfação naqueles olhos castanhos. Esse mesmo entusiasmo a acompanhou naquela manhã quando ela decidiu aparecer na casa do garoto com o jornal nas mãos. bisbilhotar Uma bala tinha atravessado o pescoço flácido do velho Agenor, bem no momento em que ele saía da Boate Sagitarius — um desses lugares exóticos, onde o grau de satisfação masculina costuma aumentar a cada dose de bebida — na rua Lisboa, Jardim Alice. balaBoate Sagitarius — Já era madrugada quando o som do disparo percorreu os arredores. Não se pode negar que se alguém estivesse transitando pela rua Ataíde Aires naquele momento, certamente teria ouvido o estampido. Se bem que, em uma cidade como Foz do Iguaçu, o ruído produzido por um tiro não é bem o que se pode chamar de “novidade” ou algo que desperte tanto a atenção das pessoas, especialmente de madrugada. Protegido pelas sombras da noite — apesar da iluminação pública — e por vários veículos enfileirados no estacionamento diagonal do outro lado da rua, o atirador disparou contra o homem, que no mesmo instante despencou como uma laranja podre, direto no chão. Foi tudo rápido demais, alguém teria dito. Um trecho da notícia no jornal dizia que “(...) as duas mãos levadas à garganta, não deram conta de obstruir o ferimento, de onde jorrava um líquido viscoso que se alastrava pela calçada”. O garoto ficou se perguntando se o sujeito que tinha escrito aquela m***a de notícia achava que estava fazendo poesia. “(...) as duas mãos levadas à garganta, não deram conta de obstruir o ferimento, de onde jorrava um líquido viscoso que se alastrava pela calçada”Correu os olhos pelo texto e encontrou um parágrafo onde o tal jornalista que assinava a matéria dizia que nenhuma das testemunhas foi capaz de descrever de onde o tiro tinha partido. Seja lá quem tivesse puxado o gatilho, havia sumido do local tão rapidamente quanto a esperança nos olhos de um condenado à morte. nenhuma das testemunhas foi capaz de descrever de onde o tiro tinha partidoUm campo de futebol que fica em frente à boate, pode ter contribuído para o sucesso na fuga do criminoso. O lugar tem poucas árvores, e a escuridão é sempre uma aliada de quem tem a intenção de passar despercebido. O atirador deixou para trás um homem prestes a se afogar com próprio sangue e uma dúvida: ou o sujeito era um profissional, alguém que sabia exatamente o que estava fazendo, por isso, mirou na artéria, na altura do pescoço; ou não passava de um amador, que falhou ao mirar na cabeça e acertou por acaso a garganta da vítima. profissional, De qualquer forma o trabalho foi feito. øøø Sim, o garoto estava nervoso, por que não ficaria? Estremeceu quando um policial chamado Wallace Viana o convidou para — segundo suas próprias palavras — uma conversa informal na 6ª SDP. O detetive Viana era o agente designado para assumir a investigação no caso do assassinato do velho Agenor. conversa informalQuando se deparou com aquele sujeito de pele escura, o garoto teve a sensação de já tê-lo visto antes. E já tinha mesmo. Estava diante do dono de um cavanhaque tão bem desenhado, que parecia coisa de pagodeiro. Costumava aparecer nesses programas de TV, onde os apresentadores se sentem especiais e enchem a boca ao falar do último infeliz que teve o corpo cravejado de balas. enchem a bocaEra ele, Wallace Viana. O homem que surgia na tela, ao lado de policiais fardados, toda vez que as letras de rodapé indicavam reportagens relacionadas a assassinatos, t***************s ou brigas de gangs, chefiadas por traficantes doidões, na disputa por território. Os mesmos programas aos quais o garoto assistia enquanto sua mãe jurava que ele dedicava suas tardes às curtidas no f******k ou à mais uma temporada f*****a de Malhação. gangs, FacebookforçadaMalhação— Ei, tudo bem — o detetive disse, seu tom era despreocupado —, vamos apenas conversar. Arregaçou as mangas da jaqueta jeans até a altura dos cotovelos. — Tá. O que o garoto se esforçava para entender, era aonde o detetive queria chegar com aquela história de conversa informal, e afinal, por que ele estava sendo interrogado? conversa informalpor que ele estava sendo interrogado?— Isso não é um interrogatório — Viana exclamou, como se não fizesse outra coisa na vida além de adivinhar pensamentos. — São só algumas perguntas sobre o seu pai... — ele estufou o peito e corrigiu a postura. — Nada de mais, coisas de rotina, sabe? — Cadê a minha mãe? — Não se preocupe, ela está na sala ao lado. — Será que dava pra chamar ela, por favor? — A frase quase desapareceu numa súplica dolorosa e infantil. — Fique calmo — Viana abriu um sorrisinho malicioso —, prometo que não vai doer — disse isso com a consciência de quem sabe de que nunca teve talento para piadas. E essa história de detetive engraçadinho só funciona bem em filmes. Tudo o que o garoto não queria era parecer medroso, embora sua expressão dissesse o contrário. A imagem de um moleque assustado, choramingando pela presença da “mamãe” o incomodava. Mesmo assim, ele não abandonava o d****o de tê-la por perto, ainda que fosse só por uma questão de segurança. Então ele insistiu. — Por favor! O detetive suspirou. Alisou o cavanhaque, coçou o pescoço, na altura do colarinho de sua jaqueta azul-marinho, e em seguida chacoalhou a cabeça para cima e para baixo, num movimento quase imperceptível. Sua testa toda engordurada agora estava franzida. øøø Tá de brincadeira, pensou o garoto, quando lhe foi perguntado sobre o convívio do velho Agenor com a família. Era uma pergunta sem sentido. Não havia outra maneira de defini-la. Toda a vizinhança sabia do inferno em que viviam; das noites em que o velho mergulhava em bebedeiras e de suas reações frequentemente violentas. Não é segredo para ninguém que o mundo é um lugar cheio de gente escrota. A pouca idade não o impedia de saber disso. O que escapava à compreensão do garoto era porque muitas mulheres se recusavam a denunciar seus maridos valentões. Tudo bem que o lado afetivo tenha lá o seu peso, e a dependência financeira também seja um problema, mas a ideia de um marmanjo espancando a esposa, o deixava indignado. Talvez porque sua mãe — assim como um bando de mulheres mundo afora — também se submetia a isso. ,problema, O que não falta por aí é gente disposta a fazer cretinice a vida toda, e o garoto nunca teve dúvidas de que seu pai fazia parte desse g***o. øøø Ele só tinha treze anos e não passava de um pirralho desajeitado. Por isso, a maneira como o detetive o encarou foi suficiente para deixá-lo em pânico. Era intencional. Por alguma razão, Viana parecia querer aterrorizá-lo. ― Está certo — ele balançava a cabeça, como se estudasse a expressão no rosto do garoto —, vou ficar de olho em você. Como assim, ficar de olho? O garoto se esforçava para não demonstrar o impacto causado pela frase que acabara de ouvir. Quanto tempo ainda aguentaria sem desabar, sem abrir um berreiro numa súplica sem fim pela presença da mãe? berreiro— Acredite — o detetive falava baixinho e sem desviar o olhar —, mais cedo do que você imagina, vamos pegar o assassino do seu pai. øøø O filho da mãe egoísta parecia mais simpático estirado naquela gaveta do Instituto Médico Legal, o garoto pensou. Conseguiu identificar — apesar da palidez e das manchas roxas ao redor dos olhos — uma expressão amistosa no rosto do pai. Sim, ele estava impressionado com a situação, mas pensou ter visto um sorriso naqueles lábios escuros e sem brilho; o que não o surpreenderia. Apesar de fazer o estilo “f**a-se-todo-mundo”, não se podia negar que o Velho tinha senso de humor, e se tivesse uma oportunidade não hesitaria em sacanear o próprio filho, mesmo depois de morto. “f**a-se-todo-mundo”sacanearConvencer a mãe a entrar no Instituto Médico Legal já podia ser considerado um feito quase heroico. Daí a esperar que a mulher aceitasse reconhecer o corpo do marido, era pedir demais. Diante da trágica falta de opções, o Dr. Fernando de Andrade Passos, o médico legista, não encontrou alternativa senão liberar o garoto para fazer o trabalho e... Deus do céu, que cheiro era aquele? trabalhoDeus do céu, que cheiro era aquele?― É ele mesmo ― o garoto declarou. O homem, metido num jaleco branco, dirigiu-lhe um olhar desapontado. Na opinião dele, aquela era uma cena digna de mais dramaticidade. No mínimo algumas lágrimas. Não aconteceu. Era difícil condená-lo. O sujeito devia estar habituado a ver pessoas se descabelando diante do cadáver de algum familiar. descabelando― Sinto muito ― ele disse, a impessoalidade em pessoa. Antes de deslizar a gaveta frigorífica à posição original, ele puxou de volta o lençol que cobria o rosto do morto. Tanto faz, o garoto pensou. Não tinha a menor disposição para falar sobre o assunto. Tanto faz, Seu silêncio foi interpretado como um sinal de resignação.

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