Grahan, Grahan, Grahan!
Coloquei o óculos de p******o e acelerei a moto. As pessoas lá embaixo uivavam ensandecidas enquanto chamavam meu nome.
Eu jurava que a melhor sensação do mundo era a adrenalina antes de uma apresentação. Nada se comparava ao barulho do motor, à vibração da moto sob suas mãos quando estava prestes a mergulhar no desconhecido e sair voando. A energia de tantas pessoas juntas num mesmo lugar ansiosas pela sua apresentação, desafiando você, querendo saber até onde é capaz de chegar. O perigo daquilo tudo, a ideia de saber que um erro mínimo pode arruinar tudo. Isso era a minha vida, minha maior paixão. Assim como o combustível que movimenta e dá vida à uma moto, as competições causavam o mesmo efeito sobre mim. Não havia nada que eu amasse mais do isso.
Até ela aparecer. E se transformar no centro do meu mundo.
- E lá vem ele, com vocês... Garrett Grahan! - o rapaz gritou no microfone.
Acelerei a moto mais uma vez, e desci a rampa empinando.
O rosto dela voltou à minha mente apenas para zombar de mim. Suas últimas palavras antes de deixar meu apartamento voltaram à minha cabeça, como se estivessem sendo sussurradas no meu ouvido.
A moto deu um ronco alto e subi a rampa voando por cima de milhares de cabeças. Eu não precisava olhar para saber que estavam todos concentrados em mim.
Soltei as mãos do guidão e dei uma cambalhota no ar.
De olhos fechados visualizei meu apartamento, Ashlyn dando as costas pra mim.
O barulho da porta se fechando.
Ela tinha feito sua escolha.
- Perai galera alguma coisa está errada! - o rapaz no microfone soo preocupado.
Estendi as mãos para segurar os guidões da moto, mas tudo que consegui agarrar foi o ar. Meu corpo foi jogado pra baixo. Ouvi o ronco da minha moto e consegui agarrar o que parecia ser o banco.
A risada de Ashlyn preencheu meus ouvidos, sobressaindo-se em relação a gritaria que começava a ficar cada vez mais alta e disforme.
Eu estava caindo. Talvez a queda me matasse.
“f**a-se!”, pensei soltando minha mão.
Relaxei e deixei minha mente divagar.
O gosto dos lábios de Ashlyn.
A sensação de seus dedos entrelaçados nos meus.
Suas manias, seu revirar de olhos e o som de sua risada.
Todos os nossos momentos juntos passaram como um filme na minha cabeça.
É... A vida, tinha valido a pena afinal.
Houve gritos e meu corpo se chocou contra alguma coisa.
Mais gritos desesperados.
E então, silêncio e escuridão.