Destinados por acaso-Livro 02

Vestida para casar

Danilo

Depois que chegamos da igreja, Julia me deu uma canseira no chuveiro. Exaustos, jantamos e ela adormeceu logo em seguida. Eu demorei a pegar no sono, fiquei pensando sobre o que Julia tinha me contado sobre Ana ter descoberto sua gravidez, provavelmente ela iria contar para o namorado. O meu medo era que um dos dois deixasse escapar por acidente, como aconteceu com Helen, e isso se espalhasse pela universidade. Julia ainda tinha mais um ano de estudos pela frente e não queria que ele se transformasse em um pesadelo para ela, ainda mais em sua condição.

Acordei pela manhã e Julia já havia se levantado, "Vai chover", pensei. Ela nunca se levantava antes de mim. Me levantei e fui ao banheiro fazer minha higiene. O cheiro de café já se espalhava por todo o apartamento. Entrei na cozinha e ela estava sentada na bancada, fazendo anotações em uma planilha.

--- Bom dia, meu amor. --- a beijei lentamente, seu hálito tinha gosto de morango.

--- Bom dia, meu professor. Eu fiz o café. -- ela conta, animada.

--- Eu estou vendo, o que te deu para levantar antes de mim? -- perguntei desconfiado.

--- Nada, eu só queria fazer café da manhã para o meu noivo. Não posso? -- ela faz biquinho.

--- Claro que pode, linda. O que está anotando nesta planilha ai? -- perguntei, me inclinando para olhar.

--- Os possíveis convidados para o nosso casamento.

--- É mesmo? Quem você já colocou?

--- Minha família, a sua, Helen, o acompanhante de Helen (caso ela tenha um), Ana, Jeff e o "Chucky ``. --- eu dou risada da forma como ela se refere ao chefe.

--- Você precisa me contar porque chama seu chefe pelo nome daquele brinquedo horroroso. --- ela ri, divertida.

--- Então, a ideia do apelido foi minha e da Helen. Arthur, o nosso chefe, é do tipo bem carrasco, sabe? Não atura erros e é extremamente exigente também. Ele costumava até gritar com os funcionários, eu mesma já fui alvo algumas vezes, mas agora ele melhorou bastante, ele nem grita mais. Ele é carrasco, mas é justo. -- ela conta, despreocupada. Eu rio.

--- Suponho que ele não faça ideia que possui esse apelido.

--- Não, de jeito nenhum. Eu seria demitida, com certeza. No entanto, esse não é o único apelido que ele tem, alguns funcionários o chamam de "Rei Arthur". -- ela fala, como se o segundo fosse tão r**m, quanto o primeiro.

---- Você sabe que esse é até bacana perto do que vocês deram, né? 

--- Eu sei. -- ela ri. 

--- Ju, eu estava pensando sobre o caso da Ana e do Jeff. Pensei em fazer um jantar aqui em casa e chamá-los, o que acha? 

--- Aqui na sua casa? Quer dizer... na nossa casa? -- ela pergunta confusa.

--- Sim, eles vão saber que estamos juntos de qualquer jeito, não vão?  -- dou de ombros.

--- Vão, mas o choque de chegar aqui e dar de cara com você, será grande. 

--- Bom, é melhor arrancar o band-aid de uma vez. 

--- Você tem razão. Vou conversar com Ana hoje sobre isso.

Julia

Danilo insistiu em me trazer ao trabalho, mas eu o convenci a vir de carro sozinha. Deus me livre passar pela mesma situação embaraçosa que passei ontem com Ana e Helen.

-- Bom dia, gatona. Está maravilhosa hoje, não que você não seja todos os dias. -- digo para Helen, ela sorri e depois revira os olhos. 

Helen está exageradamente bem arrumada hoje, está até usando batom vermelho no horário de trabalho.

--- Bom dia, Ju. Obrigada, decidi me arrumar um pouco hoje. -- ela dá de ombros, como se não soubesse que está bonita.

--- Entendi, a Ana já chegou? Preciso falar com ela. -- perguntei ao ver a mesa da Ana vazia.

--- Já, mas deve ter ido ao banheiro. Você contou pro Danilo? -- Helen pergunta preocupada.

--- Contei. 

--- Ele deve ter ficado bravo comigo. -- ela segura a cabeça com as mãos.

--- Nada disso! Nenhum pouco. Ele entendeu que você não falou porque quis. Danilo é uma pessoa muito tranquila e do bem. Eu não lembro de ter visto ele bravo uma única vez. -- a tranquilizo.

--- Certeza? -- ela parece aliviada.

--- Claro, amiga. --- vejo Ana retornando a sua mesa. --- Vou falar com a Ana.

--- Bom dia, miga. -- digo me aproximando de sua mesa.

-- Bom dia, Ju. Como está hoje? E esse neném aí, tudo bem? -- ainda bem que ela falou baixo, nem meu chefe sabe da minha gravidez ainda.

--- Tudo bem, obrigada. Eu queria saber se você e o Jeff querem jantar na minha casa sábado a noite, assim vocês dois conhecem o meu namorado.

--- Claro, vou precisar falar com Jeff primeiro, mas ele vai topar com certeza, ele adora você. -- diz ela, um pouco sem graça.

--- Então está combinado, jantar às 19h30. Te mando a localização por mensagem.

--- Ok, tá marcado. --- ela diz com um sorriso. Eu volto para minha mesa.

--- E ai? -- Helen pergunta.

--- Eles vão jantar lá em casa no sábado.

--- Na casa de vocês? De quem foi essa ideia? 

--- Do Danilo.

--- Ele é radical, hein. -- ela ri.

--- Ele é destemido, queria ser um pouco assim também. -- digo pensativa.

--- Você é, amiga...

--- Um minuto de atenção de vocês. --- Arthur entra, interrompendo a fala de Helen, todos os funcionários param o que estão fazendo para prestar atenção nele. Vejo o peito de Helen subir e descer rápido e estranho. 

--- Pessoal, como todos sabem, há quase um ano, nós colocamos nossa editora nas mídias sociais. A Entrelinha cresceu muito e ganhou uma visibilidade incrível no mercado editorial e isso tudo, foi graças ao excelente trabalho da nossa querida Julia. --- ele puxa as palmas e o resto do pessoal o acompanha. Eu sorrio com timidez.

--- Por isso --- ele continua --- Nós teremos uma festa em comemoração ao um milhão de seguidores no **. --- palmas e gritos são ouvidos para todos os lados. --- Uma festa no hotel Sunset, sexta que vem às 20h00. Podem levar seus namorados(as), maridos, esposas, ficantes, peguetes, amantes, casos, casinhos, casões e afins. --- Algumas pessoas riem. Helen fica séria de repente.

--- O recado era esse, agora voltem ao trabalho. Julia na minha sala agora. -- ele diz, já encarnado no corpo de chefe carrasco.

Eu me levanto e sigo rapidamente para sua sala.

--- Com licença. -- eu digo

--- Sente-se. 

Eu me sento em sua frente.

--- Te chamei aqui para te agradecer novamente pelo trabalho impecável que tem feito. Meus parabéns, você é uma profissional muito competente. -- ele diz, sem sorrir.

--- Muito obrigada, chefe. 

--- Em recompensa ao seu trabalho bem feito, vou lhe conceder um aumento de salário.

--- Outro? -- eu pergunto, surpresa.

--- Você não quer? -- ele fala, arqueando uma sobrancelha.

--- Quero! Claro que eu quero. Muito obrigada, será de grande ajuda, ainda mais agora.

--- Ainda mais agora? Está passando por dificuldades, Julia? -- ele pergunta, sério.

"Opa!"

--- Não, não estou. Eu estou... Grávida. --- ele arregala os olhos, surpreso.

--- Não ia me contar? 

--- Claro que sim, eu fiquei sabendo um pouco antes do ano novo. Só estava esperando o momento certo. 

--- Bom, meus parabéns pela gravidez. O pai da criança já sabe? -- ele pergunta de forma protetora.

--- Sabe sim, nós vamos nos casar.

--- Isso é ótimo. Fico feliz que o aumento de salário vá ajudar. Espero ver vocês dois na festa.

-- É claro, nós iremos. 

De volta à minha mesa, Helen me aguardava com curiosidade.

--- O que ele queria? -- perguntou.

--- Me dar os parabéns e me agradecer. Ah! Ele me deu mais um aumento de salário. -- contei, animada.

--- Sério, Ju? Que maravilha! Veio em boa hora, não é? 

--- Foi isso o que eu disse para o Arthur.

--- Você contou pra ele?

--- Contei, na verdade eu já deveria ter contado, mas fui adiando.

--- O que ele disse?

--- Me parabenizou e perguntou se o pai da criança já sabia. -- nós duas rimos.

--- Ele tem um jeito protetor de pai. 

--- Ele daria um ótimo pai... -- diz Helen, pensativa.

--- Será que ele é casado? Já parou para pensar que não sabemos nada da vida pessoal do nosso chefe? -- perguntei.

--- Eu nunca parei para pensar nisso. -- disse Helen, secamente.

Vendo sua cara, encerrei por aqui o assunto.

--- Amiga, tá afim de ir comigo ver alguns vestidos de noiva? -- pergunto.

--- É lógico, vou amar. Posso dar minha opinião, não é? -- eu dou risada.

--- Claro que pode, boba.

Na hora do almoço, recebi uma mensagem de Danilo.

Mensagem on:

"Oi, amor. Vem almoçar comigo?"

"Oh, dengo, eu bem que queria. Mas quero dar uma olhada em uns vestidos de noiva, vou usar a hora do almoço pra isso. Helen vai comigo."

"Julia Campos, me faça o favor de se alimentar, não vai ficar sem almoçar, hein." -- eu dou risada de sua mensagem.

"Amor,  não se preocupe. Vou pedir algo para comer aqui antes de sair."

"Assim fico mais tranquilo, se cuida cabecinha de vento."

"Cabecinha de vento?!"

"Me liga se precisar de alguma coisa, te vejo mais tarde, eu te amo, meu professor."

"Te amo, minha linda."

--- Ju, o que vai querer? Já vou pedir. -- diz Helen.

--- Arroz branco, filé de peixe e salada verde, por favor amiga.

--- Ok.

-- Ah! E um suco de manga também.

--- Feito. 

15 minutos depois, nossa refeição chega, comemos e partimos para o centro da cidade.

--- Conheço uma loja que tem vestidos lindos. -- comenta Helen.

--- Não é muito caro, não né? -- perguntei já pensando na grana que vou gastar.

--- Não, tem os bem caros, é claro, mas também tem os mais baratos. Vem, vamos entrar. -- ela me puxa.

A loja é linda, tem vestido para tudo quanto é lado e parece ser bem chique e cara. 

--- Não sei não, Helen. Tudo aqui me cheira a montanhas de dinheiro. -- reclamo.

--- Para, Ju! Vamos olhar pelo menos.

--- Olá, posso ajudá-las? -- uma moça vem nos atender.

--- Gostaríamos de ver alguns vestidos de noiva. -- Helen fala por mim.

--- Claro, para qual de vocês duas? -- a moça pergunta.

--- Para mim. -- eu respondo.

--- Por aqui. -- ela nos leva até alguns vestidos que estão em uns cabides.

--- Temos esses modelos, mas também fazemos sob medida. 

--- Vou dar uma olhada nesses. -- digo.

--- Fiquem a vontade, qualquer dúvida é só me chamar. -- a moça sorri e se afasta.

--- Posso escolher alguns para você experimentar?  --- fala Helen, mais animada do que eu.

-- Pode. -- eu rio.

Ela escolhe alguns modelos e depois me entrega.

--- Aqui. Prova. 

--- Lá vou eu! 

Entro no provador e provo um por um dos vestidos que Helen escolheu, sempre saindo e mostrando a ela o resultado, me deixando basear pela sua opinião. Até agora não gostei de nada, resta ainda um vestido, modelo tomara que caia, véu longo e que encurta a saia, transformando-o em um vestido curto.

Eu o visto e o vestido encaixa perfeitamente, o caimento é belíssimo. Eu saio e mostro a Helen.

--- Encontrei, é esse! -- digo, encantada pelo vestido.

Helen pula e bate palmas, animada.

--- Ficou lindo, Ju. Você será a noiva mais bela desse mundo! -- ela ri.

-- Eu também gostei, parece que foi feito pra mim.

--- E foi minha amiga, ele só estava esperando ser encontrado por você.

--- Amei!

--- Então, conseguiu encontrar o que desejava? -- a moça pergunta.

--- Sim, é este aqui. Vou levar.

--- Perfeito. Gostaria de ver alguns sapatos também e acessórios? -- ela pergunta.

--- Não, só o vestido mesmo. -- eu digo.

--- Não se preocupe, Ju. Vou te dar de presente o sapato e os acessórios. -- diz Helen.

--- Helen, não brinca. É caro tudo isso, não precisa. Posso usar o que já tenho. 

--- De jeito nenhum, minha melhor amiga vai estar impecável em seu casamento. Eu faço questão.

--- Adianta teimar com você? -- pergunto, me dando por vencida.

--- Não, não adianta. 

Vamos ao caixa, onde o vestido já se encontra embalado, e pago no cartão. Não é tão caro, mas também não é barato. Pego o celular e envio uma mensagem para Danilo:

Mensagem on:

"Amor, encontrei o vestido perfeito. É lindo!"

"Que bom, minha linda. Você é rápida, hein? Geralmente as mulheres demoram muito até escolher o vestido ideal."

"Quando eu o vesti, eu sabia que era ele. Vou voltar para a editora agora. Amo você."

"Eu te amo, linda."

Mensagem off.

Terminada a compra, Helen e eu retornamos para a editora.