Estou muito ansiosa pelo momento em que ele me dará um lenço dele (como é nosso costume, se um cara quer se casar com uma garota), com certeza vou bordar e devolver. Então esperarei a chegada dos casamenteiros.
Marcos é ateu, e ignora as minhas preocupações. — Você precisa se converter ao Islã para estar comigo. — Sem problemas.
— Você precisa fazer isso já. Já será difícil que o meu pai aceite você. Eu disse da última vez que estive com ele.
— Está quente aqui... Minto para Aisha, abanando o rosto com as mãos. Viro a cabeça para não encontrar o olhar desconfiado da minha amiga.
Sussurro para mim mesmo: não faça perguntas, eu rezo, chegará a hora que compartilharei tudo com você.
Sinto intuitivamente o momento em que o humor dela muda de detetive para fofoca. Ela envolve o seu braço fino em volta do meu cotovelo e me puxa em sua direção. Eu me inclino, quase posso sentir os seus lábios na minha pele.
— Você viu o novo promotor? Ela está inspirada e até, parece-me, animada, e eu balanço a cabeça.
Há várias semanas que temos falado na nossa comunidade sobre uma coisa: um homem da nossa comunidade foi nomeada para uma posição importante.
Há apenas um mês ninguém sabia disso, não estava na nossa cidade e nas línguas das pessoas. Agora ele é um convidado bem-vindo em qualquer casa e em qualquer feriado. Um tema quente para as fofocas de todos.
— É verdade o que dizem sobre você Aika? Estão começando a falar sobre você! Todas as garotas viram o pescoço e só você...
Não gosto de me sentir uma ovelha n***a em nada. Meu peito parece um pouco áspero, mas dou de ombros. Não direi que não estou interessado no novo promotor, porque diante dos meus olhos e no meu coração está apenas o meu querido Marcos.
— Já imaginou, se o seu pai ouve o que estão dizendo? Eu não respondo
— Dizem que o novo promotor precisa de uma noiva, os seus pais querem que ele siga a tradição, há muito trabalho e ele não é menino, tem trinta e dois anos! E ele não parece apaixonado pela ideia, mas também não recusa...
Tudo isso não é nada interessante para mim. Não faz diferença quem o novo promotor escolhe. Mas não posso contar isso a Aisha. Ela ficará ofendida e ainda levantará mais questões. A verdade é que não há necessidade de ouvir mais. Meu telefone vibra e olho para a tela:
— Al, estou aqui.
Marcos não gosta de me chamar pelo meu nome verdadeiro. Ele sempre eslaviciza isso. E toda vez imagino como meu pai reagirá a Alya. Parece-me que isso simplesmente não vai acontecer, mas em vez de me desesperar, faço questão de me lembrar mais uma vez que para minha família sou apenas Aika.
Aika Alya Khanim. E ele deveria se acostumar com isso.
Eu cuidadosamente desembaraço o meu cotovelo debaixo do braço de Aisha. — Estarei de volta em alguns minutos. Se alguém perguntar, no banheiro. Acho que o meu rímel ...
— Não, Aika...
Aisha tenta me atrasar, mas eu não deixo.
Claro, que não precisa ser retocado, estou mentindo descaradamente. Mas Marcos não gosta de esperar, então manobro entre os convidados e as mesas redondas, indo em direção aos banheiros. Música alta chega aos meus ouvidos e penso num plano: dali sairei para o pátio. Estou escrevendo para Marcos para esperar lá quando alguém apertar meus ombros com os dedos.
Freio bruscamente contra a minha vontade, olho para cima e sinto uma onda inexplicável de emoções.
Dói-me um pouco. Estou confusa. Um homem desconhecido está olhando para mim.
Ele tem olhos verdes atentos e penetrantes emoldurados por cílios longos e grossos. Nariz liso. Bochechas e queixo cobertos por barba por fazer de vários dias, lábios finos.
Eu poderia dizer que ele é bonito, mas acho que Marcos é mais bonito. E este... Parece muito sério. Calor zero.
— Por que você está me agarrando? — Gostaria de pedir desculpas pela minha desatenção (obviamente quase voei em direção a uma pessoa), baixar os olhos e me afastar, como o meu pai gostaria que eu fizesse, como minha mãe me criou, mas eu falo primeiro, depois penso.
Portanto, observo enquanto o olhar do homem se ilumina de surpresa, suas sobrancelhas se erguem. Eu levanto meu queixo. Olhamos um para o outro por alguns segundos e então ele mergulha. Não no decote do meu vestido, como você pode imaginar, mas na tela escura do telefone. Eu me entrego, bloqueando-o freneticamente. O olhar do homem retorna aos meus olhos. O coração está bombeando.
Por alguma razão, concluo que este é o promotor. Ele conseguiu ler alguma coisa?
— Você vai a um encontro?
Meus olhos se arregalam de indignação e minha respiração fica presa. O pulso está saltando.
— Nada que tenha haver com você.
Mas em vez de suavizar as coisas, estou sendo rude novamente.
— Bem, se não está percebendo... Você está se enroscando sob os meus pés.
Ele diz com uma voz uniforme. Ele nem precisa aumentar o volume para eu ouvir em meio à música alta. Praticamente leio lábios.
O peito se enche de uma nova porção de indignação, mas não tem tempo de se expressar em palavras.
Os dedos em meus ombros relaxam, e descem, tocando a pele com as pontas dos dedos. Seguindo esse gesto aleatório, mas animado, eu fico arrepiada. Eu até me encolho um pouco e fico com raiva por causa disso, apertando os lábios.
Uma resposta cáustica está na ponta da minha língua, mas o queixo do homem se ergue acima da minha cabeça e ele dá um passo para o lado para me contornar. Ele olha para algum lugar distante. Deixa claro: ele não está nem um pouco interessado em mim.
O homem continua se movendo como se nada tivesse acontecido, mas por algum motivo olho para trás e sigo os ombros largos em um terno azul-escuro.
O telefone, bem apertado em minha mão, vibra e me lembro de Marcos.
Tiro os olhos do estranho indignada e continuo meu caminho, mas não paro de pensar nele, apesar da exigência de Marcos: Ei, onde você está?
Um homem não tem o direito de se comportar assim. Ele deve respeitar as mulheres. E se realmente todo mundo está oferecendo as suas filhas como noivas para ele hoje, então estou muito feliz que o meu pai não participe disso.
Desde criança ele me prometeu: eu mesma escolherei um marido.