Perdida Por Acaso

Yara   Com meus fones de ouvido no último volume totalmente isolada do mundo, enquanto todos dormiam eu sofria a vida de estudante prestes a fazer o Enem. Tenho olheiras que nunca mais vão sair, não importa o reboco que eu passe! Quando meu cérebro começou a confundir moléculas com segunda guerra mundial percebi que já estava na hora da pausa para o café. Estudantes não são 70% água e sim 70% café. Me levantei da escrivaninha tirando meu fone e o deixando sobre ela. Eu caminhava devagar ao mesmo tempo que estralava cada junta do meu corpo. Enchendo minha caneca com café pelo relógio da cozinha vi que já eram quase 04a.m, em literalmente 2 horas eu teria que "acordar" para ir à escola. — Talvez eu precise de mais... — Sussurrei enchendo mais a minha caneca que já estava na metade. Sem tirar os pés do chão voltei ao meu quarto, talvez já estava na hora de dormir mesmo... Com um bocejo virei o café deixando a caneca e os meus óculos ao lado do fone. Quando fui apagar minha luminária uma espécie de faísca começou s emanar do meu guarda-roupa começando a se expandir cada vez mais. — Peguei pesado no café. — Sussurrei olhando para aquele buraco brilhante no meu guarda-roupa, com os olhos quase que totalmente fechados. Com a curiosidade aguçada me aproximei para ver um pouco melhor, mas m*l dei um passo e aquela coisa me sugou igual a um aspirador de pó. Não deu tempo de se quer gritar já que meu corpo foi praticamente jogado contra o chão de bruços, minha cabeça bateu tão forte que deu até uma quicada. — Aí... — Gemi lentamente. Eu não tinha a menor disposição para me por de pé, não sei se pela pancada na cabeça ou pela privação de sono, mas aquele chão estava um geladinho tão bom que tenho certeza que começamos a nos fundir em algum momento. Quando abri meus olhos foi como se ainda estivessem fechados já que não enxerguei um dedo a minha frente, eu sentia meu corpo pesado como se tivesse engordado 3 toneladas em uma noite. Fazendo uma enorme força enfim consegui me sentar, mas ao olhar para a minha mesa de cabeceira não vi as horas brilhando do despertador. — Droga! — Esbravejei saltando da cama. Devo ter perdido a hora, precisava de um banho para acordar, corri em direção a porta, mas simplesmente esbarrei com tanta força em uma parede que quase a derrubei no peito me fazendo cair de b***a no chão. — Mas que... Baralho! Ué. — Parei por um segundo. — Por que eu não consigo falar baralho?! Antes que eu tivesse a chance de me levantar ouvi um ranger e uma claridade vindo do outro lado. — É você Jesus? — Perguntei com a mão nos olhos na tentativa de não queimar minhas retinas. — Que? — Ouvi uma voz masculina e passos vindo em minha direção. Quando tirei as mãos que cobriam meus olhos comecei a ver uma silhueta de um homem e só isso já que eu estava sem os meus óculos. Era quase como um borrão. — Quem é você e como entrou aqui? — Questionou, sua voz era estranhamente familiar. — Eu que te pergunto como entrou no meu quarto! Se for um ladrão já aviso que não tenho nada de valor! Só o notebook, mas leva não minha mãe ainda tá pagando a prestação! — Que? Você está falando coisa com coisa! Me acompanhe. — Novamente ouvi passos dessa vez se afastando, mas continuei imóvel no chão. — Por que não vem? — Não consigo ver nada. — Oh desculpe, você é deficiente visual? — Míope pode ser considerado um deficiente visual? — Questionei. — Só enxergo borrões agora. — E cadê seus óculos? — Na minha escrivaninha que fica em algum lugar ali. — Apontei para onde ela costumava ficar pelo menos. — Ali só tem uma janela, além disso você não está na sua casa. — E onde borra eu estou? Fruta que partiu por que não consigo falar borra também? — Não mexa um músculo! Sinceramente essa era uma das minhas únicas, se não a única, opção. — Toma. — Disse esticando algo para mim. Tateando o ar e sua mão enfim peguei o que parecia ser um óculos. Ao colocar no rosto enfim pude enxergar as coisas de forma nítida. — Muito melhor. — Agora responda, como chegou aqui?? Agora tendo o dom da visão pude olhar para o homem que tanto falava comigo. Mas ao olhar pensei que talvez eu tivesse batido a cabeça forte demais. — Estranho? — Meu corpo encontrava-se tão em choque que eu se quer havia levantado. — Me conhece? — Perguntou arqueando as sobrancelhas. — Eu devo estar sonhando... Só pode. — Disse me levantando e começando a analisá-lo melhor. — É o sonho mais real que eu já tive... Quando toquei em sua capa recebi um tapa da mesma e só mostrei a língua a ela. — Como chegou aqui? — Dormindo provavelmente. — Parei em sua frente admirando o colar pendurado no seu pescoço. — É mais bonito pessoalmente. — O que? — O olho. — Respondi apontando para o colar. — Como sabe sobre o olho? É uma espécie de espiã?? — Com um movimento de mais ele formou alguns discos nas mesmas. — Olha eu vou fechar os olhos e você vai simplesmente desaparecer! — Fechei os olhos dando-me um beliscão no braço, mas quando abri os olhos ele ainda estava ali e dessa vez me olhando como se eu fosse pirada. — De novo... — Fechei os olhos novamente dessa vez me dando um beliscão mais forte, mas quando os olhos novamente ele ainda estava lá. — Mas que borra! — Não sei que tipo de truque você está tentando aplicar, mas é melhor ir embora agora! — Novamente com um movimento de mãos ele abriu um portal parecendo levar a saída. E foi aí que eu me lembrei... — Eu passei por um desse... Achei que eu estava locona de cafeína, mas se foi real...