Capítulo 02

1260 Words
Alice narrando De fato não foi fácil deixar meus pais e Miguel em casa. Voltar para o colégio interno significava muito na minha opinião. Por mais que tivesse que deixar amizades, como a do João por exemplo, seria algo rápido, apenas um ano fora. Escrevi uma pequena mensagem que havia encontrado na internet, posso não ter escrito algo feito por mim, mas era algo que descrevia muito. Chorei bastante. Miguel ainda estava pequeno, mamãe necessitava de alguns cuidados uma vez ou outra. Papai era maduro na frente de todos, mas quando se escondia, sabia que estava precisando de alguém. "Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver". Eu sou apaixonada por vocês três, os grandes amores da minha vida. Até as férias. Eu amo vocês. Precisava deixar alguma coisa. Apenas para que eles vissem que eu também me importo e apesar de não demonstrar muito, era o que deveria ser dito. Ou escrito. Além do mais, iria para casa nas férias. Ler o pequeno pedaço de papel deixado na minha bolsa pelos meus pais, significava muito, não foi fácil. "Já está chegando a hora de ir. Essa frase é bonita para se cantar, mas muito triste para se viver. Você vai e eu fico, que bom seria se não houvesse despedida, não houvesse " até mais", ou " até breve".   Seria bem melhor se em nossas vidas pudéssemos optar e pedir pelo ficar. Mas não é assim.   Não podemos mudar certas situações, e certos destinos. Sentirei muito a sua falta, mas espero que a sua ida, seja para melhor, afinal foi decisão sua, e eu só tenho que torcer e desejar que tudo de certo, nesse novo caminho que você começa a trilhar.   Seja sempre essa pessoa amiga e alegre que sempre foi. Por onde andar, lembre que deixou aqui pessoas que lhe querem bem e torcem pelo seu sucesso. E distribua à todos esse sorriso constante que sempre alegra seu rosto de felicidade.   Ficarei aqui, esperando ansiosa o seu retorno, para que juntos possamos m***r a saudade, que a partir de agora, será nossa companheira constante.   Seja feliz. Que você encontre em seus novos dias, a felicidade e as realizações que tanto almeja. Boa Viagem."    Estar em um voo, cheio de pessoas estranhas ao seu redor que não faziam ideia pelo qual motivo você estava chorando, era estranho. Todos olhavam para mim com aquele olhar de pena, não que eu estivesse triste, era mais uma coisa envolvendo a emoção. Encontrei com o mesmo senhor que me esperou de carro pela primeira vez. Os minutos eram contados em todos os instantes. O celular na minha mão fora teclado inúmeras vezes. Preferi não contar a ninguém que estava voltando para o colégio. Primeiro pelo fato de ser uma surpresa, já que eu imaginava que não iria voltar mais, muito menos os meus amigos. Segundo, seria interessante ver a reação deles. Pensar em chegar de surpresa, às vezes me deixa um pouco preocupada. Quem sabe eu não esteja preparada para o que irei presenciar. Sabe-se lá o que está acontecendo. Quando converso com a Milena procuro não saber de nada, muito menos de Bruno e Enzo. Quem sabe os dois já estejam com alguém. Dentro de um ano muita coisa pode ter acontecido, novas amizades, novos amores... Cheguei no colégio pela manhã de domingo, por fora parecia uma bagunça enorme. Muitos alunos estavam jogando bola no gramado da frente, alguns corriam, outros cantavam, inclusive havia alguém muito conhecido no meio daquela roda. Não queria que ele me visse hoje, apenas amanhã. Hoje a única pessoa com quem eu gostaria de conversar era Milena. — Será que a minha melhor amiga está aqui? — Perguntei, assim que abri a porta. Tinha certeza que ela estaria lá dentro, pela cantoria dela que podia ser escutado do lado de fora da porta. — Alice? É você? — Não preciso comentar que ela tocou diversas vezes no meu rosto, como se estivesse sentindo se eu estava mesmo na sua frente. — Vai me dar um abraço ou não? — Brinquei. Os braços dela passaram em volta do meu corpo, por alguns segundos me senti sufocada. — Você trouxe malas. — Analisou as mesmas em cima da minha cama. — Não me diga que você vai ficar. Quer dizer, diga sim! Milena era a melhor amiga do mundo. Com o fato de eu ter voltado para o colégio, ela ficou toda sentimental. Nunca recebi tantos abraços e beijos na minha vida. — Quer ficar por dentro de tudo? — Ela perguntou. — Com certeza. — Assenti. — Vou começar pelo seu melhor amigo, Enzo. — Iniciou. — Digamos que ele faça parte de um grupo um tanto popular desde o ano passado. — Contou. — Mas o grupo popular dele são de meninos bacanas? — Perguntei curiosa. — Digamos que não. — Negou com a cabeça. — Inclusive, ele anda com a Gabriele. Não podia imaginar que Enzo poderia ter mudado tanto. Quem sabe, uma conversa de amigo para amigo iria cair bem. Tudo dependeria dessa semana fluir da maneira como estou imaginando. — Agora vamos para a pessoa que você mais tem interesse em saber. — Começou. — Bruno está melhor do que no primeiro ano. Talvez o ano que se passou tenha o deixado mais maduro. — Explicou. — Ele encontrou alguém? A ex-namorada? — Perguntei com medo da resposta que poderia escutar. — Fique tranquila. — Ela tocou o meu ombro. — Pelo que Igor me contou, ele está longe de qualquer relacionamento. — Explicou. Isso significava que eu não teria mais chance com ele? Ou quem sabe ele estivesse apenas dando um tempo para as mulheres. Isso acabava me deixando em dúvida sobre tudo o que eu preparei. Sobre as palavras que deveriam ter sido ditas e tudo mais. — Você veio com a intenção de voltarem? — Perguntou. — Talvez eu esteja pensando nele mais do que o normal. — Contei. — Amiga, eu sei que você ainda gosta dele... Mas o Bruno seguiu a vida dele. — Tentou explicar sem jeito. — Ele deixou claro que quando voltasse para casa não iria te procurar. E o que eu menos esperava aconteceu. Bruno havia desistido. Não queria saber de mim. Foi por isso que as mensagens pararam. "Filha? Você já chegou? Espero que não tenha dado nenhum problema!"  Camila (mãe) "Desculpa!!! Esqueci de mandar uma mensagem avisando que já estava no colégio." Alice "Em poucas horas já esqueceu de mim? Brincadeira!!! Miguel mandou um beijo." Camila (mãe) Como se o meu irmão já soubesse falar alguma coisa. Com apenas um ano e quatro meses, o máximo que ele pronunciava era mamãe, papai, Ali, papa... Senti saudade de casa, dos meus pais e do meu irmão. Um pequeno ano estava prestes a passar... Tudo poderia acontecer e como mamãe me avisou, teria que ser forte com o que iria encontrar no colégio. Afinal, mais de um ano se passou.
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