Deixe-me Ser Sua?

Se houvesse apenas um desejo que me fosse concedido, era finalmente conseguir passar em uma entrevista de emprego, das inúmeras que eu havia participado nesse mês. Eu poderia correr atrás de outros trabalhos que estivessem a minha disposição, já que não estava muito apta a escolher por eles. Eu precisava de um emprego. Apesar de necessitar, afinal, o pouco dinheiro que eu havia guardado para suprir minhas necessidades, como por exemplo: aluguel do apartamento, comida, internet e passes para o meu meio de transporte, estava acabando. Em pouco tempo, talvez nem chegassem a dois meses completos, o dinheiro haveria terminado. Estiquei-me da cama para o pequeno cômodo que estava ligado ao quarto, ou seja, meu banheiro. Ao olhar-me para o espelho me deparava com uma menina, eu não deveria parecer assim, certo? Que empresa séria de arquitetura iria se interessar por uma jovem como eu? Que parecia ter iniciado a faculdade agora. Eu precisava de uma mudança, antes que as coisas piorassem. O telefone insistia em tocar freneticamente, eram poucas as pessoas que tinham meu número residencial, provavelmente, seria mais uma empresa tentando vender algum produto.             Deixei tocar.             Quando estava adentrando o pequeno espaço que me era disponível para banho, novamente o telefone tocou.             Estava na dúvida de ir para de baixo do chuveiro ou caminhar alguns segundos até a sala a procura do telefone, mas optei pela segunda opção, mesmo sabendo que não seria nada de grande importância. “LIGAÇÃO” — Alô? — Atendi, desconhecendo o número que estava marcado na identificação do telefone. — Senhorita Isabela Nogueira? — Perguntou uma moça do outro lado da linha. — Exatamente, quem é? — Perguntei curiosa. — Sou secretária do senhor Roberto Carvalho, e você deixou seu currículo aqui na empresa de arquitetura, gostaríamos de saber se há alguma maneira de comparecer ainda hoje aqui? — Perguntou, enquanto eu tentava absorver todas aquelas informações.             Tentava de alguma forma entender que o meu esforço não fora em vão. Mesmo que eu não conseguisse aquele emprego, eu teria uma nova oportunidade de trabalhar no que eu amo fazer. — Sim, é claro, você pode me passar o endereço novamente? — Pedi educadamente.             Enquanto ela me passava algumas informações das quais eu deveria estar ciente e também o endereço do local que eu já havia frequentado dias anteriores para levar meu currículo, agora me preparava para uma nova entrevista. “LIGAÇÃO”             Analisava no meu guarda-roupa a roupa adequada que deveria usar. Primeiro que o dia estava ensolarado e muito quente, e como eu estava ansiosa, não seria nada bom usar roupas compridas.             Por fim, lá estava eu, aprovando pela quarta vez o visual selecionado, que baseava-se somente em uma saia de cintura alta preta social que descia até a altura dos joelhos e uma blusa branca de mangas curtas, e para completar um salto alto preto. O cabelo preso em um coque formal, deixava-me um pouco menos infantil.             E lá estava eu, sentada na sala de espera, que por sinal era muito bem decorada, com os móveis mais sofisticados e diferentes. — Senhorita? O senhor Roberto está lhe aguardando na sala, venha comigo. — Pediu gentilmente.             A cada novo integrante da equipe que passava por mim, percebia que aquele local tinha um ar harmonioso. Todos pareciam contentes com o que faziam. — Entre, por favor! — Ordenou uma voz alta do outro lado da porta.              Adentrei aquela sala imensa, que encontrava-se no topo mais alto do prédio. As paredes na verdade eram janelas enormes, que iam desde o chão até o teto. Era impossível adentrar aquele local e não ficar impressionada com cada detalhe. — Vejo que gostou da minha sala. — O homem, que por sinal era muito jovem, talvez cerca de cinco ou sete anos mais velho do que eu, pronunciou-se. — É uma bela vista. — Comentei, apontando para as janelas. — Todos os ambientes daqui são tão diferentes e únicos.             Provavelmente eu estava falando muito, ele poderia achar que eu estava querendo puxar seu saco por ser uma entrevista de emprego, mas eu realmente estava impressionada com tudo que meus olhos estavam tendo o prazer de enxergar. — Sente-se, por favor. — Pediu gentilmente. — Obrigada. — Agradeci.             Ele estava com o meu currículo em mãos, antes de falar qualquer coisa, analisava-o com cuidado. — Como você pôde analisar em minha empresa, estamos cada vez inovando mais. — Iniciou. — E é por isso que estamos a procura de pessoas jovens. Vejo aqui que acabou de cursar a faculdade de arquitetura e urbanismo, por que escolheu este curso?             Eu poderia contar a ele sobre os meus inúmeros desenhos de quando criança, desenhando minha casa dos sonhos. Ou então, das vezes que brincava com minhas amigas e elas me pediam para fazer um pequeno “esboço” de suas futuras casas.             A verdade era que eu gostava de organização e desenhos relacionados a interiores.             E eu passei a contar essas pequenas histórias, de maneira que não parecesse cansativo. Ele me escutava com atenção, e em alguns segundos fazia algumas anotações em um pequeno bloco de notas que estava em cima da sua mesa. — Você teria como começar um treinamento no início da semana que vem? Exatamente na segunda-feira? — Perguntou, analisando minhas reações. — É claro que sim, eu adoraria. — Respondi empolgada.             Um simples aperto de mão finalizou a minha entrevista. Dentre todas as que eu havia feito, essa fora a primeira que me deixou realmente empolgada, principalmente, por pelo menos ser chamada para um treinamento.             Isso merecia comemoração. Ainda era cedo, eu precisava de algo para à noite. Talvez o bar que eu, Júlia e Patrick estávamos acostumados a frequentar.             Júlia Martins, a melhor amiga que Deus havia me enviado de presente. Afinal, uma amizade de vinte e quatro anos não era para muitos. Seus pais se mudaram para a casa vizinha, um dia depois de eu completar dois anos de idade. Se eu me lembro de algo? Não. Mas nossos pais vivem relembrando nossas histórias. Infelizmente, ou felizmente, ela não tinha os mesmos sonhos que eu, preocupou-se em fazer uma faculdade de Administração e hoje trabalha dentro da empresa de móveis da sua família.             Patrick Nunes, por outro lado, havia sido uma consequência da faculdade que eu havia escolhido. Nós nos conhecemos no primeiro ano e desde então ele faz parte das nossas vidas, nossas festas, nossas viagens...             A minha primeira parada antes da volta para casa, fora em um restaurante na esquina do meu apartamento. Eu precisava me alimentar, nem o café eu havia ingerido de maneira correta, não poderia deixar passar o almoço também. “w******p grupo” Isabela: EU TENHO UMA NOVIDADE! Júlia: Por que você está gritando? Isabela: EU FUI CHAMADA PARA TREINAMENTO EM UMA EMPRESA NA SEMANA QUE VEM! Júlia: Eu não acredito, que maravilhoso! Patrick: Onde iremos comemorar? Isabela: No bar de sempre, na mesa de sempre. Júlia: Preciso voltar ao trabalho, nos vemos mais tarde. Patrick: Fui. “w******p grupo”             Eu não tinha muita coisa em meu apartamento para fazer. A única coisa disponível além da televisão e fuçar na internet, era desenhar.             A minha coisa favorita de se fazer em tempos livres. Desenvolver as minhas ideias que estavam guardadas em minha cabeça.             Quem sabe em algum momento do meu treinamento, o senhor Ricardo fosse pedir alguns desenhos, quem sabe não, isso é óbvio que irá acontecer. Era irá me testar. Afinal, as pessoas devem ser realmente boas para trabalharem lá.