CEO procura sua alma gêmea

Esta é mais uma noite sem dormir para Jéssica, ela não dorme bem há muito tempo, claro que nem sempre foi assim. Na infância, dormia como um anjo, só sonhos embalavam suas noites, todos os dias. Até completar os seus dezoito anos, quando teve seu primeiro pesadelo e desde então passou a ter a insônia crônica que carrega até hoje, três anos depois. Três anos parecem ser pouco tempo quando se está feliz, mas quando se está sofrendo, esse tempo se faz uma eternidade torturante, ela desejou seu próprio fim diversas vezes. Além disso, nas poucas noites em que consegue dormir, claro que com a ajuda de remédios, tem pesadelos. Estes foram ficando cada vez mais claros e embora ela não consegue entender, seus pesadelos mesmo que sempre tomando caminhos diferentes seguem para um mesmo fim, onde acaba com um homem morto em seus braços. Este homem tem sempre rostos diferentes, mas ela sente que é sempre a mesma pessoa, Jess sofre por essa pessoa, mesmo quando acorda e passa o dia todo em completa tristeza. Jess já tentou todo tipo de tratamento, mas nada funcionou. Até que por fim desistiu de resolver e aceitou seu destino, até mesmo deu um significado nobre para o seu sofrimento, a caridade, entrou para o convento para expiar a culpa que carrega, ajudando aos necessitados, mas ela mesma não sabe o por quê. Foi uma escolha difícil, pois deixou seus pais para viver a vida na clausura, essa culpa a abalava até os ossos, por mais que fizesse penitências não conseguia apagar o sentimento que se instalou dentro de seu peito. Jessica não sabe por quanto tempo mais ela pode ficar sem uma boa noite de sono tranquilo, suas forças estão se esgotando, mesmo que ela se recuse a admitir isso. Ela estava mais uma noite olhando para o teto de seu quarto, mais uma vez nesse dilema que a acompanha dia a dia, entre ficar acordada até amanhecer e começar sua rotina diária ou dormir para ir em direção aos seus pesadelos. Jess concluiu que precisa dormir, pois não dormiu mais de três horas nas últimas noites. Por mais que ela tenha se dedicado a rezar três rosários durante à noite, o sono ainda não veio. Em sua vida, nada para Jess foi tão fácil, de uma família que enfrentou muitas dificuldades, antes da insônia, ela já estava muito cansada de sofrer. Quando o seu pensamento foi para isso, ela apenas pegou o frasco de remédio que estava na mesa de cabeceira e separou um comprimido, depois pegou o copo de água que sempre deixava ali e ingeriu a única maneira de ela ter uma noite inteira de sono, mesmo no meio de pesadelos. Era preferível os pesadelos, a lembrar de coisas que para ela pareciam ainda bem reais. Não demorou muito para o sono tomar conta e pesarem as suas pálpebras de maneira incontrolável. Ela fechou os olhos e o sono a atingiu profundamente, sem rodeios. Como o previsto, ela foi transportada em seu pesadelo, para um ambiente aterrador, uma rua escura e vazia. De repente, alguém segurou sua mão, era um homem que a segurava tão firmemente como se nunca quisesse perdê-la, a escuridão era tão grande que ela não conseguia ver nada além de seus olhos, a intensidade neles lhe transmitia apenas uma mensagem "amor". Era muito semelhante ao olhar que seus pais lhe transmitiam quando se encontravam nas poucas vezes que Jess voltou para casa, mas no olhar desse homem havia algo mais, ela não soube dizer o quê. Ele lhe disse, com uma voz grave que fez arrepiar todo o corpo de Jess: - Vamos Helena, ele está vindo. Ela não fazia ideia de quem era ele e qual o perigo que os circundava, mais uma vez estava apenas fazendo o que o homem nos seus sonhos lhe pedia. Sem lhe dizer mais nada, o homem começou uma corrida ao qual ela seguiu, mesmo sabendo qual seria o fim de tudo, ela não queria o fim, queria fugir, até que acordasse e que dessa vez o homem não morresse em seus braços. Pelo menos assim ela evitaria a tristeza ao longo do dia seguinte. Jess deu tudo de si, correu o quanto pôde, mas quando viraram em uma rua sem saída, um outro homem lhes esperava ali, assim como ela, esse outro homem já parecia saber exatamente o roteiro do que ia acontecer. Esse outro homem, calmamente acendeu um cigarro, enquanto Jessica e o homem que estava do seu lado ofegavam buscando por ar. O homem do seu lado intensificou o aperto em sua mão. Tudo parece tão real, Jess até mesmo pôde sentir o suor nas mãos que seguravam as suas. O homem que ascendeu ao cigarro disse: - Pensaram que poderiam escapar de mim? Sabe que eu não deixaria você escapar com a minha mulher, ela é minha. - Helena não é um objeto seu maldito, ela é livre, não é uma propriedade. - Eu te admiro, conquistou a mente fraca dela bem fácil com suas palavras melosas. Porém, mesmo se eu os deixasse partir, devo dizer que a miséria os afastaria de qualquer maneira. Helena gosta da boa vida que eu lhe proporciono, ela não será feliz sem o luxo e a riqueza. Me agradeça por eliminar você, antes que se perca o encanto. Sem aviso, apontou a arma e atirou. O homem que estava do seu lado, se apoiou um pouco nela e foi caindo aos poucos, ela o apoiou em seu colo e viu a vida sair dos olhos dele. Dessa vez, ela apenas chorou, como se a sua vida acabasse ali também. A tristeza se apoderou de seu ser e ela mais uma vez acordou chorando incontrolávelmente. Lá fora, o sol já está alto, bonito. Mas, dentro dela tudo é treva, Jess está cansada e triste. Ela devia estar bem, pois havia dormido, no entanto, a dor que sente por aquele homem ter morrido, é tão forte quanto a própria realidade.