Uma Terça A Noite

1581 Words
Callie Hoje é um daqueles dias que eu apenas não queria ir para a escola, queria ficar deitada o dia inteiro na minha cama apenas fazendo peso na terra e transformando oxigênio em carbono, talvez nem isso..., mas infelizmente essa escola era minha única chance de ter um futuro e sair desse lugar, então respirando fundo me levantei e peguei uma calça que estava no chão.  Antes que eu pudesse vesti-la meu padrasto entrou de supetão me pegando apenas de regata e calcinha. — Callie quantas vezes eu vou ter que dizer para você arrumar a p***a desse quarto? — Gritou da porta. — E-eu arrumo assim que chegar da escola... — Usei a calça que tinha em mãos para cobrir as minhas intimidades. Charlie começou a se aproximar lentamente de mim até ficar a centímetros de distância, seu hálito emanava o cheiro de cinzas de cigarro e bebida barata, ele passou as costas dos dedos no meu rosto fazendo meus olhos se fecharem fortemente em repulsa ao seu toque. — Você tem se vestido igualzinha a uma vadia... — Sussurrou acariciando minha bochecha com a ponta de seus dedos asquerosos. — E se você continuar se vestindo assim... Eu vou ter que te tratar como uma! — Ele afastou sua mão acertando um forte t**a no meu rosto fazendo com que eu caísse sobre a cama. — É bom esse quarto estar arrumado quando eu chegar! — Disse saindo do quarto. Eu simplesmente não entendo porque a minha mãe ainda está com esse porco... Limpei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto involuntariamente e me vesti com uma roupa qualquer, fui até o meu banheiro e quando olhei no espelho pude ver um hematoma avermelhado começando a se formar no meu rosto devido ao t**a, rapidamente peguei um pouco de ** e comecei a passar para disfarçar. — Bom... Melhor que uma cara vermelha... Sai do banheiro pegando a minha mochila e corri para o ponto de ônibus, eu, com certeza, iria me atrasar hoje... O dia foi passando até que rápido, a última aula era de física, como sempre eu estou sentada no fundo da sala com meu caderno de rabiscos não prestando muita atenção na aula, eu já havia visto essa matéria no final de semana e não tinha nenhuma dúvida. Eu não diria que me encaixo no rótulo "invisível", as pessoas notam a minha presença, sabem que estou aqui já que quase sempre que eu olho envolta há alguém me olhando e comentando algo com a pessoa ao seu lado ou com o grupinho de amigos, com o tempo aprendi a simplesmente ignorar esse fato. Até que hoje não foi um dia r**m, tirando o incidente de hoje de manhã... Como sempre passei no Sr. Miguel para comprar um sanduíche e fui para casa completamente de bom humor, pois sabia que não haveria ninguém. Eu amo chegar em casa e não ter absolutamente ninguém, é o único momento que eu me sinto em paz na minha própria casa... Fui praticamente direto para o meu quarto e comecei a arrumá-lo, realmente estava precisando, quando guardei algumas blusas na gaveta da cômoda achei uma fotografia do meu pai e eu... Eu me lembro perfeitamente desse dia, estava nevando e fizemos um boneco de neve no parque e eu não queria ir para casa sem ele, então meu pai pegou um pedacinho dele e deixou no congelador de casa falando que eu sempre teria uma parte dele comigo... Hoje eu vejo o quão boba eu fui com isso, mas ainda sim meu pai foi atencioso e deixou aquele punhado de neve no freezer por quase um ano inteiro... Essa lembrança fez algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto, é isso que acontece quando se sente muita saudade, ela simplesmente transborda pelos olhos... Assim que terminei comi meu sanduíche na cama enquanto mexia no celular apenas procrastinando no Tumblr da vida. Já estava começando a ficar entediada quando ouvi a porta da frente se abrindo, pelo horário devia ser a minha mãe voltando do trabalho. Joguei meu celular sobre os lençóis da cama e saí a procurando. — Oi querida. — Disse assim que me viu. Ela estava usando seu uniforme amarelo e avental branco. Minha mãe praticamente se matava de trabalhar em uma lanchonete não muito longe de casa, sua aparência magra e cansada fazia com que ela aparentasse ser muito mais velha do que realmente era, com seus cabelos ruivos sempre presos por um r**o de cavalo. — Oi mãe... — Fui até ela a abraçando com força sentindo um cheiro de bebida. — Você andou bebendo? — Só um pouco, não se preocupe comigo, afinal eu sou a mãe aqui. — Respondeu me soltando. — Como foi o dia na escola? — Chato. — Revirei os olhos me afastando e jogando-me no sofá me arrependendo no mesmo instante já que ele era incrivelmente duro. — Não aprendeu nada de novo? — Perguntou tirando seu avental e colocando sobre um dos ganchos próximos a porta. — Não, eu já tinha visto essa matéria. — Respondi pegando uma mecha do meu cabelo e olhando as pontas. — Você é tão inteligente querida, igualzinho o seu pai... — Ela sussurrou a última parte abrindo o armário e pegando uma panela. — Vou fazer seu prato favorito hoje. — Macarronada? — Sentei a olhando de uma forma que eu tinha certeza de que meus olhos até brilhavam. — Esse mesmo, vem cá me ajudar. — Respondeu sorrindo e sinalizando para que eu fosse até ela. Levantei-me caminhando até ela com toda a animação do mundo. Não tínhamos muitos momentos mãe e filha, o máximo que fazíamos juntas era ir ao consultório da Dra. Stonem, mas eu acabei tendo de parar com as consultas por causa dos gastos, ao menos ainda tenho a receita dos remédios que ela me passava principalmente para dormir. — Ei, vem cá. — Me chamou enquanto eu derramava o macarrão no escorredor dentro da pia.  Sem entender muito bem me aproximei dela, ela colocou uma mão no meu rosto tirando o cabelo que cobria o lado oposto onde Charlie havia me batido mais cedo com a outra, havia esquecido quase que totalmente disso... —Eu lamento por isso querida... — Disse passando as pontas de seus dedos delicadamente sobre o hematoma fazendo com que meus músculos enrijecessem devido a dor. — Por que você ainda é casada com ele? Eu sei que ele faz muito pior com você. —Sussurrei olhando em seus olhos. — Ele é bom para nós de uma maneira que você é muito nova para entender, ele paga o teto sobre nossas cabeças. — Podíamos ir morar com a tia Alice em Seattle. Ela parou de escrever a algum tempo, mas sei que iria nos ajudar mãe, eu não sei quanto tempo vamos conseguir sobreviver aqui. —Já podia sentir algumas lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto. — Está falando tolices! — Ela me soltou se afastando de mim indo em direção a pia. — Não são tolices! Ele é um porco nojento e covarde que adora bater em mulher! — Gritei cerrando meus punhos com raiva. — Agora chega Calliope vai já para o seu quarto! Não vou tolerar que fale com o meu marido desse jeito! — Gritou de volta apontando para a porta do meu quarto.     Apertei os meus lábios com força não acreditando no que ela havia dito, corri até o meu quarto batendo à porta com força ao entrar. Nada nesse lugar fazia algum sentido, como alguém aceita se submeter a isso? Eu preferiria morar embaixo da ponte...  Usei as costas das mãos para limpar com força as lágrimas que escorriam pela minha bochecha fui até o banheiro e tomei dois dos comprimidos do frasco, voltei e me joguei na cama abraçando um dos travesseiros que havia sobre ela apenas observando as gotas de chuva batendo contra a janela esperando que o remédio fizesse e feito e me apagasse logo.  Não tenho muita certeza de quanto tempo se passou, eu estava deitada de costas para a porta com o cobertor até o pescoço, mas mesmo estando totalmente grog pude ouvir perfeitamente o ranger da porta do meu quarto se abrindo, uma corrente de ar frio percorreu o lugar me causando um leve arrepio até mesmo por baixo do cobertor, ouvi passos que vinham na direção da minha cama, só pelo cheiro repulsivo sabia que era o Charlie, senti sua mão acariciando a minha b***a a apalpando fazendo meu corpo todo enrijecer, involuntariamente lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu mordia meu lábio inferior com toda a força para não emitir nenhum som.  Não demorou muito e ele saiu do meu quarto fechando a porta ao sair, soltei o meu lábio já sentindo um leve gosto de sangue por ter apertado de mais. "Quando esse inferno vai acabar..." — Pensava enquanto as lágrimas apenas saiam de meus olhos.  Acabei pegando no sono, provavelmente por efeito do remédio, mas acordei com barulho de coisas quebrando e alguns gritos, qualquer pessoa se levantaria totalmente assustada para ver o que era, mas quando se está dopada de remédio e acostumada com isso você simplesmente ignora e volta a dormir ou simplesmente fica ali deitada ouvindo o amargo som do caos.  Não demorou muito e os gritos pararam, pude ouvir a minha mãe chorando e uma porta batendo, logo não ouvi mais nada e peguei no sono novamente... Era apenas mais uma terça anoite...
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