Capítulo 01
7/8 anos antes..
Bruna
Com toda a minha ansiedade me tomando conta, não descansei direito a noite inteira. Eu vi o sol clarear todo o cômodo, e me inquietei mais uma vez na cama, esperando minha mãe me acordar.
Olhei no celular e eram oito horas. Não demorou pra maçaneta redonda se mover e a porta ser aberta pela dona Flavia. Me apressei em me cobrir até o pescoço, fechar os olhos e fingir que estava dormindo, evitando uma bronca.
- Sei que não estava dormindo, Bruna - Senta na ponta da minha cama - Quer enganar a quem? Só se for a sua avó.
Respiro fundo e me sento na cama - Será que vou conseguir, mãe? - O sentimento de medo me toma conta.
- Enganar tua avó? - Ela me bate - Para com isso, menina.
- É sério, mãe.
- Não é a toa que terminou seus estudos um ano antes. Tenho orgulho por ser adiantada e só tirar notas altas em toda a sua vida escolar - Sorrir me confortando.
- Mas e se... - Me interrompe.
- Bruna - Segura meu rosto com carinho - Você é inteligente e esforçada. É seu sonho, minha filha - Sorrio fraco - Lute e alcance seus sonhos, mesmo que...
- Não acreditem em você - Completo. É uma frase que ela usa pra nos incentivar a lutar pelo que queremos sem se preocupar com opiniões negativas alheias.
- Nada de pensamentos negativos. Você vai conseguir, eu te garanto. E se não for o caso, vai tentar mais uma vez, nada de desistir, Bruna Matos - Ela também é bastante positiva, ver o lado bom de tudo e acha que pra tudo se tem outra chance.
- Obrigada, mãe - A abraço bem forte - Panquecas? - Me solto de seus braço e me animo.
- Com bastante calda - Rimos.
Tomei meu café com meus pais que me apoiaram descontraindo com piadas e brincadeiras. O relacionamento dos meus pais é o sonho de qualquer um que fica acordado pensando em como quer viver o seu romance. É meio brega, mas é fofo. Um caso que nunca vai acontecer comigo.
Quando o relógio marca meio-dia em ponto, sai de casa juntamente com meu pai, que insistiu para me levar até o local da prova. Maldito Enem que me estressa!
- Boa sorte, minha filha - Me abraça rápido, mas me transmitindo confiança - Se lembre do que sua mãe disse - Anuo - Mesmo eu não sabendo o que ela disse dessa vez - Rio nasal - Mas tenho certeza que foram palavras sábias. Você se parece com ela: inteligente, esforçada e batalhadora, um exemplo de mulher - Beija minha testa.
Saio do carro e vou em direção a entrada. Cheguei uns vinte minutos antes. Deus me livre bater de cara aqui no portão e passar a maior vergonha nos jornais e virar meme do momento. Essa vergonha eu não passo.
Dou uma olhada na minha bolsa e confiro meus documentos, os alimentos que são muitos, quando fico nervosa, como descontroladamente. Desligo meu celular e retiro o chip dele. Me sento na calçada e o sentimento de preocupação me toma. Tenho mesmo que me sentir tão insegura?
Enquanto tento relaxar, um - eu acho que casal - senta ao meu lado e discutem em bom som.
- Você não entende que tenho que ir bem nessa prova, Philippe? Papai me manda pra um colégio fora do Brasil e a culpa vai ser sua.
- Vai ser ótimo se ele te mandar pro convento, roda mais que a catraca do ônibus, Herica - Escuto ele grunhir alto e o olho assustada enquanto ele massageia o tornozelo - Vou te bater aqui mesmo viada.
- Tenta a sorte - O desafia.
Desvio meu olhar daqueles doidos e volto a me concentrar em revisar mentalmente tudo que estudei.
Assim que abrem o portão, me levanto tão apressadamente, que me desequilibro por um corpo pesado esbarrar com tudo em mim.
Uma mão pesada segura meu corpo, evitando que eu tenha um impacto direto com o chão. Olho nos seus olhos sem reação alguma por sua rápida ação, e com certeza estando corada de tanta vergonha, sinto minhas bochechas queimarem.
- Toma cuidado - Me mostra um sorriso alinhado. Fiquei mole mole - Você tá bem? - Acho que me pergunta por eu estar a tempos o olhando sem emitir um som se quer. Que voz minha senhora das calcinhas molhadas.
- Es-estou - Gaguejo pela proximidade, e volto a postura com suas mãos ainda na minha cintura. Me perco em seu olhar mais uma vez.
- Você vai se atrasar se não entrar - Me desperta me lembrando da prova.
- É mesmo - Me desvencilho de suas mãos. Me viro pra seguir meu caminho, mas sou parada por seu toque no meu braço - O que foi? - Bufo por querer me apressar em entrar.
- De nada. Educação te falta - Debocha.
- Meus pais me ensinaram a usar somente com pessoas que merecem ela - Sério mesmo que ele me cobrou educação?
Aperto meus passos, o ignorando e entrando pelos portões que me dá medo. Parece que abriram o portão do inferno e que em qualquer deslize, eu escorrego de tobogã no colo do capeta me queimando com a desgraça.
Me identifico na sala indicada e me sento bem na frente. Quando a prova é entregue, os sentimentos de insegurança, medo, toda ansiedade e outros fazendo somente uma junção do desespero, sinto vontade de levantar e gritar pelos corredores correndo em alta velocidade. Mas me mantenho sentada e faço meus exercícios de respiração e meditação básica e rápida de um minuto.
Vamos lá, Bruna. Você consegue!
Não tem nenhum bicho de sete cabeças que não tenha visto por todos esses anos trancafiada estudando e dando tudo de si.
Eu vou conseguir minha vaga na faculdade de medicina, sim!