CAPITULO 03

2217 Words
Andrew Sophia havia acabado de jogar uma bomba em minha mão. Não vou negar que a uns anos já pensei sobre a possibilidade de ela querer se demitir e admito, me assustou um pouco. Mas ela trabalha para mim a tanto tempo, que me esqueci completamente que esse dia poderia chegar. Quando a ouvi dizer que se desligaria da empresa, senti um aperto inexplicável no peito. Não sabia o que pensar, não sabia o que falar. Era uma sensação totalmente nova pra mim. Então simplesmente pedi para que ela me deixasse a sós pois “havia muito trabalho para fazer”. Mas a verdade era que, com essa notícia, seria impossível me concentrar em qualquer outra coisa. Por que agora? Por que tão de repente? Ela recebeu uma proposta melhor? Essas foram algumas das muitas dúvidas que não saíram da minha cabeça. Tentei voltar minha concentração para o trabalho, mas simplesmente não consegui. Precisava me concentrar em um projeto que precisava revisar, mas a única coisa que me vinha a cabeça era por que? Como vou me virar sem ela? Procurar uma nova assistente pessoal? Eu não quero! Me recuso. Chamei Sophia algumas vezes em minha sala, com a intenção de obter mais informações sobre o motivo de sua demissão. Mas sempre que ela entrava, eu acabava inventando uma dúvida sobre o projeto e a pedia para sair. No fundo, eu apenas não queria encarar essa realidade. Já era quase 17:00 e meu dia não tinha sido nada produtivo. Não poderia mais enrolar, tinha que saber o real motivo que a levou a tomar essa decisão. Ela queria um tempo para ela? Isso não faz sentido, tem que ter mais algum motivo. Decidido a não ir embora sem que eu saiba o que realmente aconteceu me levantei e caminhei em direção a porta, a abri e lá estava ela, com uma caneta em seus lábios, perdida em pensamentos. Me encostei na porta e fiquei ali a observando por um tempo. Como eu poderia me acostumar com sua ausência? Quero dizer, ela é muito competente certo? Chamei sua atenção pois precisava de respostas, a perguntei se algo a estava chateando, ou se ela estava com problemas com alguém, e ela respondeu que não. O que me intrigou, mas dos males, o menor. Pois se não havia problema algum, significava que eu ainda poderia convence-la a ficar. Entendi que ela estava se sentindo sobrecarregada. O que me deixou puto comigo mesmo, pois sei que a culpa é única e exclusivamente minha. Sei que deveria trabalhar menos, mas o trabalho, era a única coisa que eu tinha para me distrair. Voltar para uma casa sempre vazia. Eu não gostava, mas acontece que acabei me esquecendo desse detalhe, as pessoas precisam viver suas vidas. E eu a estava impedindo de viver a dela. Resolvi libera-la mais cedo, afinal, o dia já estava perdido, e esperava que isso fosse um ponto a meu favor. Agora, eu precisava pensar em algo para convence-la a desistir dessa maldita demissão. Voltei para minha sala e peguei meu celular, precisava falar com alguém, eu tinha duas opções: Rafael e Caio. Rafael costumava ser muito centrado, porém estava viajando, então eu liguei para a única pessoa que poderia me aconselhar no momento, meu primo Caio. Combinei de encontra-lo no London Pub em duas horas. Tentei me concentrar um pouco no trabalho, mas estava impossível, então peguei o carro e fui de uma vez para o local combinado. Ao chegar no bar passei os olhos pelo ambiente confirmando que Caio ainda não havia chego, caminhei em direção ao balcão e me sentei em uma banqueta. Como era quinta-feira o London estava vazio, poderíamos conversar tranquilamente ali. Pedi uma bebida e alguns tira gostos, e enquanto esperava comecei a pensar no que eu faria se Sophia realmente saísse da empresa. — Fala cara. — Caio disse chamando minha atenção para ele. — Eae. — o cumprimentei. — O que manda? — perguntou enquanto se sentava em uma banqueta ao meu lado. — Cara, sabe a Sophia minha assistente? — Já fui direto ao assunto, estava doido para falar com ele sobre isso. — Uoou! Vai me dizer que você finalmente pegou aquela gostosa? Eu sabia que isso uma hora iria acontecer. Só não esqueça de avisar pra ela não confundir as coisas. Você sab... — Não cara, ela pediu demissão. — Decidi o interromper antes que ele falasse demais. — Então agora não há nada que te impeça de finalmente pegar ela. — Cara não tem nada a ver com isso — respondi sério. — Ela pediu demissão, mas eu quero convence-la a ficar. Mas não faço ideia de como, eu não sei, não estou conseguindo pensar direito. — Você pode contratar uma tão boa ou melhor com o estalar de dedos... porquê... Andrew pelo amor de Deus, não me diz que você gosta dela? Mulher só puxa agente pra baixo cara, se você se apaixonar já era. — Olha, ela é competente. Eu só não quero ter o trabalho de ter que treinar outra pessoa ok? Não tem nada a ver com o que você está supondo agora. Sophia tinha um papel importante em minha vida, eu era grato a ela. Mas eu não iria admitir isso pra Caio, ele não entenderia. Com certeza levaria para outro lado. E não era isso que eu esperava dessa conversa. — Hum... se você diz. — ele respondeu estreitando os olhos para mim. — O que a levou a pedir demissão? Ela te contou? — Ela disse algo sobre não ter tempo para ela mesma, aparentemente está cansada de trabalhar tanto. — Rapaz, eu já te falei isso uma vez, você tem que desacelerar esse ritmo aí. A Vida não é só trabalhar. — Eu sei, eu sei. Mas não é sobre isso que eu quero saber. — Ok, então. — Ele deu de ombros. — Voltando ao foco que é a Sophia, você já tentou propor a ela algo mais interessante? Não sei, de repente uma redução de carga horária, um aumento no salário. Se é tão importante assim, você terá que pensar em algo que ela não possa recusar. — ele fez uma pausa, e mediu-me com o olhar. — Por mais que eu ache que você não precisa disso. — É isso! Minha cabeça está tão confusa que nem mesmo pensei em algo assim, vou resolver isso. — Beleza cara, acho que você deve diminuir sua carga horária também. — Comecei a fuzila-lo com o olhar enquanto ele falava pela milésima vez sobre isso. — Tudo bem, não vou falar mais nisso. Vamos beber um pouco, o melhor que a gente faz. — Completou enquanto acenava para a bartender. Aproveitamos para beber e colocar o papo em dia. Mas como Caio não perde tempo, o filho da mãe já saiu do bar acompanhado. Pensei também na possibilidade, mas na real, a única coisa que eu queria no momento era resolver logo essa situação com Sophia. Então acabei indo direto para casa. *** Cheguei no escritório não era 06:00 e continuei pensando na sugestão de Caio, queria melhorar um pouco mais essa proposta. Não sei se apenas o aumento no salário e diminuir um pouco a carga horária seria o suficiente para convence-la a ficar. Ela parecia muito decidida. Então precisava bolar uma proposta irrecusável. Resolvi tirar o blazer pois estava me sentindo abafado, mas apenas isso não foi o suficiente. Então desamarrei o nó de minha gravata. Pensa Andrew, o que mais você pode melhorar? Fiquei ali pensando por algum tempo, até que tive uma ideia brilhante. Se ela estava se sentindo sobrecarregada, eu poderia contratar uma pessoa para ajudá-la nas tarefas. ISSO! Com todos esses benefícios ela não poderia recusar minha proposta. Não vou negar, já estava me sentindo vitorioso. Não aguentava mais esperar, tinha que fazer essa proposta logo. Então liguei pra ela e a pedi para vir até minha sala. Apesar de não ter a visto ainda, sabia que ela já tinha chegado a um tempo. Ao ouvir uma batida na porta e olhei em direção a ela, ali estava Sophia com um sorriso no rosto. Acenei com a cabeça para que ela entrasse. Expliquei a ela minha proposta, e como tudo iria acontecer daqui para frente, apenas esperava que ela concordasse. Nem a pessoa mais louca do mundo recusaria minha proposta. Pude notar sua surpresa com tudo, o que apenas me confirmou, ela seria incapaz de recusar a proposta, já estava ganho. Foi o que pensei. Até que ela finalmente resolveu me responder, mas sua resposta não foi o que eu esperava. Ela apenas disse “Obrigada pela proposta Andrew, mas creio que não possa aceitar dessa forma” Me perguntei algumas vezes se eu tinha ouvido certo. Ela havia recusado de cara? Sophia nem se quer pensou em minha proposta. Pela segunda vez na semana Sophia havia me surpreendido negativamente, ela estava tão decidida que até mesmo me entregou uma lista com assistentes que pudessem substitui-la. Me vi incapaz de falar qualquer coisa, então ela apenas saiu da sala, me deixando sozinho com os meus pensamentos. Por qual motivo ela recusaria uma proposta assim? Não faz sentido. Dessa forma, ela teria o tempo que tanto quer. A não ser que os planos dela sejam voltar para Manhattan, e se fosse isso não havia nada que eu pudesse fazer. Tinha uma reunião importante na parte da tarde, tentei me concentrar um pouco. A reunião correu bem, mas confesso que evitei ao máximo falar com Sophia. Não sei ao certo se estava com raiva, ou frustrado demais. Eu queria mesmo era entender, porque ela sairia tão de repente, e porque recusou uma proposta tão boa. Não estava conseguindo me concentrar, precisava sair dali e precisava ainda mais de uma bebida, então pedi Sophia para cancelar a última reunião. Não era algo tão importante e não conseguiria resolver nada de cabeça quente. Então fui para o mesmo bar que tinha ido ontem encontrar com meu primo. Liguei para Caio para que pudesse me acompanhar novamente, mas ele prontamente recusou. O filho da p**a já estava enroscado com um r**o de saia, então resolvi beber sozinho mesmo. Era até bom, teria mais tempo para pensar, sem que aquele mané começasse com as suposições sem cabimento. Eu queria que Sophia continuasse na empresa pelo fato dela ser muito competente, pela minha gratidão e por já ter me acostumado com ela, só isso. Por que importava tanto? — Quer saber, f**a-se! – falei para o nada. Como eu beberia sozinho, queria um pouco de paz. Então procurei uma área mais reservada para que eu pudesse ficar sem ser incomodado por ninguém. Pouco tempo depois de me sentar, uma atendente apareceu para anotar meu pedido. Para começar pedi duas garrafas de cerveja. Eu não tinha o costume de vir aqui sozinho, sempre estava com Caio ou Rafael. Porém hoje seria apenas eu, mas eu ficaria, pois a última coisa que eu queria agora era ir pra casa. Precisava pensar em como as coisas seriam daqui pra frente. Afinal, se Sophia queria sair, e não quis ficar nem mesmo com uma proposta daquelas, só me restava aceitar sua decisão. Por mais que eu não entendesse, ela com certeza tinha seus motivos. Decidi mostrar para ela pelo menos nesse último mês em que ela estaria comigo, que eu estava falando sério sobre tudo que eu disse. Isso, era apenas isso que eu poderia fazer. *** Acordei com uma enorme dor de cabeça, não sabia ao certo o que tinha acontecido. Me lembro de chegar ao London Pub e beber por um bom tempo, mas não faço a mínima ideia de como cheguei em casa. A única coisa que eu sei é que exagerei e muito, estava com uma p**a dor de cabeça. Ao me sentar na cama vi o que parecia ser um kit ressaca. Maravilha! Era tudo que eu precisava agora. Percebi que havia um bilhete também, estreitei meus olhos e o peguei. “Andrew, trate de tomar todos os remédios para que você possa se sentir melhor. Conversamos segunda. Sophia.” — Então foi assim que eu cheguei em casa. — Sussurrei para mim mesmo. Não consegui evitar um pequeno sorriso se formando no canto da boca.— Como eu posso deixa-la ir se até mesmo isso ela faz? Fiquei sério de repente ao me dar conta do que eu tinha acabado de falar, isso estava totalmente errado. Comecei a procurar meu celular para olhar o registro de chamadas, ele estava na cama próximo de onde eu estava deitado. O peguei para checar os fatos. Arregalei meus olhos ao ver a hora que havia ligado pra ela. 23:55. Que droga! Pra piorar a situação não lembro de muita coisa. — Conversamos o que segunda? — Deixei essa pergunta no ar. Peguei o kit ressaca e desci para cozinha. Após tomar os remédios e um banho relaxante, decidi comer alguma coisa. Ao longo do dia fui tendo flashes do que aconteceu ontem, me lembrando que eu havia falado demais. Eu tinha mesmo que a perguntar “O que ela estava fazendo comigo?” Quão patético eu devo ter parecido? Ela deve querer falar sobre isso. Felizmente hoje é sábado, então, tenho até segunda para pensar em como contornar essa situação.
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