A Patroinha

1030 Words
Sara Levanto do sofá da sala desanimada, olho no relógio do celular que marca 15:10 de um sábado simplesmente tedioso. A hora não passa de jeito nenhum, e eu já já vou enlouquecer se não arrumar alguma coisa pra fazer imediatamente. Fico zanzando pela casa de um lado pro outro, e no final decido ir na sorveteria tomar um açaí. No r**m, no r**m, um açaí melhora tudo. Porém, como não quero ir sozinha, vou ligar pra Isabella fazer o favor de ir comigo. A Isah é a minha amiga aqui do morro. Procuro o número dela no celular, e coloco pra chamar, ela me atende no terceiro toque. - Fala sua mandada, bora lá no açaí comigo? Sei que tu não tá fazendo nada pra ninguém uma hora dessas mesmo._ falo assim que ela atende a ligação. - Tu que pensa quirida, estou no asfalto resolvendo umas paradas aqui pra minha mãe._ ela diz no deboche. - iiiih, então tu caiu igual raio._ falo já desistindo dela. - Cai nada espera eu..._ ela tenta negociar, mas eu desligo na cara dela rindo, sabendo do ódio que ela vai ficar. Ela fica muito p**a quando eu faço isso, e eu já faço só pra irritar mesmo. Fico um pouco desanimada, mas já que aquela safada não está em casa, vou ter que ir sozinha mesmo, e eu odeio anda sozinha, ainda mais aqui pelo morro. Todo mundo fica me encarando de r**o de olho, e eu não gosto de falar com ninguém, e se bobear, me faço até de cega pra não ter que cumprimentar esse povo. Meu irmão diz que eu sou muito metida, mas na verdade não é isso, só não acho que sou obrigada a fica rindo pra quem eu não conheço, e pra quem eu sei que não gosta de mim, o pessoal daqui só puxa meu saco porque sabe que sou irmã do dono do morro. E eu tenho muita preguiça desse povo! Chego na sorveteria, e percebo de cara uma funcionária nova, muito bonita por sinal. Ela é pretinha, magrinha, cabelo Black enrolado e o rostinho fino. Fico encarando ela de longe e não demora muito pra ela vim me atender. - Oi boa tarde._ diz ela vindo até a mim com um sorriso simpático que me fez rir junto. Já gostei. - Oi boa tarde, você é nova aqui né? To sempre aqui e nunca te vi._ pergunto como sempre curiosa. - Sim, é o meu primeiro dia, meu nome é Manuelly, mas pode me chamar de Manu._ ela estende a mão com aquele sorriso sincero muito difícil de se ver nessas meninas aqui do morro. - Prazer n**a, meu nome é Sara._ nos cumprimentamos. - Sara, a famosa Patroinha._ meu nenêzinho MB chega me dando um susto. - Então você é a primeira dama?_ pergunta a Manu com a testa franzida. - Não, não eca._ faço cara de nojo, e ela fica sem entender nada_ eu sou irmã daquele embuste._ reviro meus olhos e eles riem juntos. Faço meu pedido pra Manu que não demora muito pra trazer ele. Pedi do copo maior né, porque eu quero ser feliz, e açaí é vida gente. Fico lá conversando com o MB, que pra quem não sabe, esse vagabundo é meu amor todinho. Ele é um dos braços direito do meu irmão e também é o sub do morro. Nós dois nunca tivemos nada, nenhum beijinho se quer, para toda a minha tristeza. Ele também nunca deixou escapar nada se é afim de mim também, mas às vezes eu sinto umas olhadas diferentes, não sei se se é coisa da minha cabeça, mas as vezes acho que ele só não chegou em cima de mim ainda por causa do meu irmão. "Mais uma das vantagens de ser irmã do brabo da favela, uhull" :'( Depois de um bom tempo conversando com o MB, o rádio dele toca, e ele se despede de mim, indo embora pra boca. Eu aproveito que o movimento da sorveteria está fraco e procuro saber mais sobre a Manuelly. Não sei por quê, mas gostei muito dela, e eu sou muito seletiva com essas coisas. - Mas me fala mais sobre você, sempre foi daqui?_ a curiosidade é meu ponto fraco. - Não, eu morava na baixada, mas tive uns problemas de família._ o sorriso dela desaparece e ela fica com o rosto triste, acho que lembrou de algo que a machucou, ou que ela não queria lembrar_ então uma amiga me convidou pra morar na casa dela até eu conseguir um emprego e poder ter um cantinho só meu. Ela veio aqui, conversou com o dono dessa loja e hoje foi o meu primeiro dia._ ela sorri meio sem graça_ ainda estou aprendendo, confesso que estou meio enrolada com algumas coisas, mas já já eu pego o jeito._ termina ela com um sorriso tímido. - Aaah garota, tu já tá indo muito bem, eu gostei muito de você logo de cara, e olha que eu sou chata em, você é muito simpática e isso é muito importante para o comércio, continua assim que está indo muito bem._ ela fica um pouco envergonhada com meu elogio. - Poxa, muito obrigada._ sorri ainda tímida. Ela definitivamente não é aqui do morro. - Você está morando em qual parte aqui do morro?_ continuo com a minha interrogação. - Na goma 7._ incrível como ela continua respondendo minhas perguntas sem se incomodar. - Ata, tenho uma amiga que mora na 8, vamos se ver muito ainda. Seja bem vinda no nosso morro, aqui é um pouco complicado as vezes, mas depois que você se adaptar melhora._ dou um sorriso sincero pra ela que me retribui. - Obrigada, não conheço ninguém por aqui ainda, então foi muito bom conhecer você._ ela diz em pé com a bandeja na mão. - Te digo o mesmo. Vou indo nessa, qualquer dia a gente se esbarra por aí, bjunda._ ela dá uma gargalha. - Beijos._ me despeço e vou pra casa andando a pé mesmo né, pois não tem um vagabundo disposto a fazer uma caridade, o erro! INSTA DOS LIVROS: @valen_tyns
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