Ajoelha e chora

1953 Words
No shopping Juliana ficou na fila com o dinheiro e a conta para pagar, enquanto as outras foram até um mercado próximo comprar algumas coisas que faltavam. - Lá em Porto tem mercado dentro do shopping. – Conversava ela com uma moça na fila. - Pois é, aqui não tem nada. – Dito isto a moça saiu correndo da fila para alcançar uma menininha que estava quase entrando em uma loja. Quando a mulher retornou à fila, Juliana perguntou se a menina era sua filha, ao que a mulher respondeu que sim. - Você parece jovem pra ser mãe. - Tenho 20 anos. Ela tem dois e meio. - Ganhou com 18? - 17. Eu não sou daqui, sou de Charqueadas. E você? - Sou daqui mesmo. Nasci e cresci aqui. De repente a mulher foi chamada num guichê e Juliana em outro. Ela pagou a conta e não viu mais a mulher para se despedir. Seu celular tocou e do outro lado da linha sua dinda mandou que ela fosse até o mercado encontrá-las. Juliana saiu do shopping e foi andando até o fim da quadra onde ficava o mercado, e encontrou as meninas lá. - Vai querer alguma coisa querida? Pode pegar. De repente a menina se lembrou que não estava tomando seu anticoncepcional e que ele havia acabado faziam três dias. - O que foi filha? – Perguntou Marcelina ao ver a sobrinha de olhos arregalados. Ela falou baixinho. - Dinda. Eu tô sem absorvente e anticoncepcional. Acabou faz dias e eu esqueci de pedir pra mãe comprar. - Meu Deus! – Disse Marcela. - Tem que comprar, não pode esquecer de jeito nenhum. Na sétima o professor vivia falando. – Disse Vitória. - É. E agora no segundo ano também. Vi ano passado e tô vendo de novo. – Disse Juliana. - Viu duas vezes e esqueceu Ju? Anticoncepcional é o remédio mais importante que a gente toma. Se errar nele ou não tomar, tem a consequência mais séria. – Disse a madrinha. - Eu sei dinda. – Disse Juliana já bastante nervosa. Elas foram em direção ao caixa e pagaram as compras. Saindo dali foram até uma farmácia e compraram o remédio. - Viu o que a farmacêutica falou né Ju? Recomeça a tomar agora, toma direitinho e nos primeiros dias tem que usar camisinha. – Continuou Marcelina. – Eu pensei em pedir pra ela já te dar injeção, mas não falei com a tua mãe e ela pode não gostar. Mas pede pra médico mudar, injeção é melhor. Dura um mês ou três meses e não tem aquele compromisso de tomar sempre. Pra vocês jovens é melhor. - Vou ver com a mãe tia. No caminho para casa Juliana continuava tensa. O fim de tarde já estava chegando e o ar ficava mais frio. Ela e as primas estavam de short e blusas de verão, e já começavam a reclamar da temperatura. Chegando em casa Juliana saiu do carro e foi abrir o portão. Estava tão nervosa desde o mercado que simplesmente saiu do carro, esquecendo que Ciro devia fazer aquilo. Ao ouvir o barulho do portão sendo puxado o rapaz saiu de dentro de casa. Juliana estava parada já dentro do pátio e a madrinha entrou com o carro. - Oi Ciro! Eu ia te chamar mas a Ju abriu o portão antes! Não precisou! – Disse a madrinha saindo do carro com as filhas. Ciro estava usando uma calça jeans que parecia nova. De cabelo molhado e sem camisa, parecia estar se arrumando para ir à algum lugar. - Onde vais moço? - Na festa dona Marcelina. Vocês não vão? - Festa de quem? - Festa lá da igreja. Não sei de que santo é, mas tô indo! – Disse o rapaz com uma risada marota. – Afinal, se não for isso, como a gente se diverte né? Ele voltou pra dentro de casa sob os olhares quase famintos de Marcela. Juliana ficou desconcertada demais para pensar em qualquer coisa, e fechou o portão para expulsar os pensamentos que lhe ocorreram. - Tenho que ligar pro pai de vocês. Já vão vendo roupa e se arrumando. Na certa ele esqueceu da festa de hoje. Meu Deus! Devíamos ter esperado até as cinco e já trazido ele! Que cabeça oca! - Bah é verdade mãe. Com o negócio do remédio da Ju até esquecemos. - Vão tomando banho e vendo roupa que eu vou lá buscar o pai de vocês. Volto voando, se comportem. A mãe pegou as chaves do carro e foi em direção ao pátio. As meninas fecharam a porta e Juliana foi novamente abrir o portão para a madrinha sair. Olhou em direção à casa ao lado, mas aparentemente o rapaz ainda estava se arrumando. - AAAAAAHHH! - Que isso ? - Aquele homem meu Deus! Marcela estava escorada na parede se abanando com a roupa que tinha na mão. - Eu vou acabar fazendo besteira! - Vai fazer bastante besteira até o pai chegar e te ver falando assim. Vai fazer besteira é com a cinta dele. Marcela encarou Vitória quase com ódio. As primas tomaram banho e Juliana foi por último. Não conseguia tirar da cabeça a imagem de Ciro. De fato, Marcela tinha razão. Era de esquentar até nevando. Ela só não era tão escandalosa como a prima, a ponto de deixar transparecer com tanta avidez o que sentia. Mas que ele era um colírio para os olhos, isso era. Durante toda a missa Juliana procurava com os olhos pelo rapaz de olhos azuis, não o encontrando ali. Mas onde ele podia ter ido? Depois da missa todos se dirigiram ao salão comunitário que ficava ao lado da igreja. Seus tios eram romeiros e haviam comprado uma das mesas. Juliana e Marcela foram até a cantina buscar a janta e as bebidas. Quando voltaram o pai de Juliana havia chegado e estava sentado à mesa também. Ao ver as roupas da filha, Marcos a olhou de cima abaixo. - Juliana, isso é roupa de vir numa missa? A menina vestia uma saia curta e uma camisa folgada e comprida porém transparente, que deixava o sutiã à mostra. - Ai pai, eu não trouxe roupa por que esqueci da festa. A Marcela que me emprestou. - É tio. Ela não tem culpa de ter cabeça de vento. Foi a vez de Juliana encarar a prima com olhar mortal enquanto todos riram. - A gente ri mas o caso é sério. Existe roupa para cada lugar e essa aí não é pra se vir numa missa. - Mas pai, a gente vem pra missa e já fica pra festa. Daí eu tenho que vir com uma roupa e trazer outra pra trocar? - Tem gente que faz isso. Já vi algumas indo no banheiro se trocar. – Disse a madrinha. - Olha aí ó! Não discute com teu pai Juliana. A casa de Deus é lugar sagrado. - E cadê a mãe? – Perguntou Juliana procurando a mãe pelo salão. - Pois é, não vi ela na missa. Agora que me lembrei. - Bom, se eu quisesse saber onde está a Malú eu não tinha me separado dela. – Disse Marcos dando uma sonora gargalhada. - Esse meu irmão.- Disse Marcelina não contendo a risada. Jantaram e algumas mesas foram retiradas para dar lugar à pista para os casais dançarem. Juliana se levantou e foi procurar pela mãe. Encontrou-a sentada numa mesa lá no canto quase junto à parede conversando vorazmente com algumas amigas. - Mãe? Ao ver a filha, Maria Luísa teve a mesma reação do ex marido: encarou a filha dos pés à cabeça e censurou sua roupa. - Juliana! Mas isso é roupa de vir na igreja? - Deixa ela Malú. É jovem e bonita tem que mostrar! Tá linda minha filha! - Falou uma das amigas de sua mãe que também estava sentada na mesa. - Obrigada tia.- Disse ela já desconcertada. Notou que haviam latinhas de bebida vazias sobre a mesa e uma na mão de sua mãe. Pelo tom de voz exaltado e pelos assuntos da rodinha, Juliana percebeu que a cerveja já começava à subir por ali. - Mãe por que não me procurou? - Teu pai tá lá. Não quero nem olhar pra cara daquele imprestável. Juliana suspirou. Seus pais no mesmo ambiente geralmente não era boa coisa. - Eu vou dançar um pouco. Qualquer coisa eu tô na pista. - Tá vai! Guido e Marcelina foram dançar e as meninas ficaram na beira da pista junto à outras pessoas sem par. Alguns minutos depois uma música bem conhecida começou tocar, e Juliana percebeu que Marcela dançava insinuante olhando para o outro lado. Seguiu com olhos na direção em que a prima olhava e enxergou Ciro parado um pouco adiante junto à vários rapazes. Seu coração deu um salto e ela sentiu corar até a alma de vergonha. Olhou na pista e viu seus tios dançando distraídos sem perceber o que a filha estava fazendo. - Ela é louca. Vai levar uma tunda do pai ainda! – Disse Vitória olhando na mesma direção. - É. É isso que ela quer. Juliana percebeu que Ciro revezava o olhar entre a prima e ela, e que os rapazes olhavam para Marcela e faziam comentários seguidos de risadas maldosas. Aquela situação a deixava muito desconfortável,e mesmo olhando para a pista percebia que ele não tirava os olhos dela. Um rapaz veio e a chamou pra dançar. Buscou se distrair, sem sucesso. No outro dia, quase perto da hora do almoço, Vitória e Juliana estavam sentadas no pátio conversando. Ficaram até o fim da festa e viram Ciro ir com os amigos na direção de outra cidade. Até o momento ele não havia voltado pra casa e Marcela estava atirada na cama dormindo como se tivesse voltado de uma guerra. - Mas ficou com o cara? - Fiquei. Só de beijo né? Não dava pra ir muito mais longe por que o pai tava ali perto. Já foi difícil fugir dele. - E a Marcela? Mais um pouquinho tinha strip ali. Deu sorte do pai e da mãe estarem distraídos. - Ah e também o cara deve ter uns 25,30 anos. Capaz que ele vai querer ficar com ela. - E por que não? - Ah Vi, é que esses caras mais velhos tem muito mais experiência que a gente. Eles tão acostumados à ficar com mulher. Perder a virgindade já com mulher adulta. O que vai acrescentar pra eles ficar com a gente? A gente é nenê perto das que eles pegam. - Eu vejo minhas colegas se gabando do que fazem, de que ficaram com cara mais velho e tal. Achei que fosse legal. - Eles pegam elas por que elas se oferecem. Depois saem rindo. A gente tá estudando eles já tem doutorado. - Eu hein. Um carro parou em frente ao portão e Ciro desceu. Camisa aberta, rosto de quem havia bebido mais do que podia e cabelo bagunçado. Alguns dos rapazes que estavam com ele na noite anterior lhe deram tchau. Juliana encarou o peitoral dele pela a******a da camisa e de novo sentiu calor. Sua boca salivou e seu coração deu um súbito aceleramento, chegava até a doer. Ele parou com a mão na fechadura e olhou incisivamente para Juliana erguendo uma sobrancelha. O olhar maroto da festa de novo se fazia presente. As duas se entreolhavam e Juliana foi quase com medo puxar o portão. - Oi. – Disse ele com uma voz grave. - Oi. Meus tios tão dormindo. Pode entrar. – Falou a menina, se atropelando. Ele entrou cambaleante e acenou para Vitória, andando com dificuldade até a casa.
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