TRÊS

2665 Words
— Kate? — Ele realmente parecia surpreso em vê-la, só não deveria estar mais abismado do que ela. —Thomas? — Kate m*l podia acreditar, que ele era o pai da colega de quarto. Não poderia ser verdade, o professor não parecia ter mais de 30 anos, se bem que a idade engana. — Você é o pai de Tracy, eu presumo — afirmou de um modo que mais parecia um questionamento. — Sou, e você deve ser a colega de quarto divertida, inteligente e que não é uma delinquente juvenil. — Ele sorriu, enquanto a menina sentia um leve rubor queimar seu rosto, mesmo que Thomas continuasse bem-humorado como no encontro mais cedo. — Posso entrar? — ele perguntou e só naquele momento ela percebeu que estava obstruindo toda a porta. — Oh... claro, desculpe. — Kate abriu passagem para ele, puxando a porta mais para o lado. Thomas entrou lentamente, colocou as sacolas que trazia consigo, que provavelmente tinham comida, Kate imaginou, em cima da mesa, enquanto ela observava a roupa despojada do pai da companheira de quarto, uma calça jeans em um tom de azul escuro e uma blusa social branca solta por cima dela, ela não conseguiu reconhecer o perfume que ele usava, sabia apenas que era inebriante, ficava até difícil pensar perto do homem, seu cabelo estava meio molhado e, com um ou outro floco de neve ainda preso, penteado para trás. Depois que ele deixou as coisas na mesa, foi se sentar no pequeno sofá, que ficava do lado oposto das camas, e ao lado do qual havia uma pequena mesinha de canto. O dormitório se dividia em três partes, um quarto/sala. Que era a parte principal. À direita havia duas portas, uma para o banheiro e outra para a pequena cozinha americana, próximo a essa, as meninas colocaram uma pequena mesa redonda com duas cadeiras. Depois da porta do banheiro havia a cama de Tracy e uma cômoda ao lado. Do lado oposto do quarto ficava a cama de Kate próxima à janela e ao lado outra cômoda. Em a frente das camas na parede ao lado da porta ficava um sofá e uma pequena estante com uma televisão. Era até bastante espaçoso, bem mais do que Kate imaginava que seria, mas também havia dado um trabalhão para as duas jovens arrumar o quarto daquele modo. — Vocês duas fizeram um belo trabalho nesse lugar, aposto que demoraram muito tempo nisso — Thomas comentou e Kate sorriu, haviam ficado a tarde toda naquilo. — Onde está Tracy? — ele perguntou enquanto passava os olhos pelo lugar. — Nada, demoramos apenas o fim da tarde — ela mentiu, queria de algum modo impressioná-lo. — Tracy ainda está no banho, mas já deve sair — falou sorrindo. Ainda estava em pé perto da porta, não havia conseguido pensar o suficiente para andar até a cama e se sentar lá. Na verdade, Kate se sentia sufocada com Thomas ali, pelo menos ele não a estava estudando, ela já estava com vergonha o suficiente. Do nada, Thomas se remexeu parecendo ter sido cutucado por algo, levando as mãos às costas, puxou de trás de si um objeto e levantou gesticulando para ela que era um sutiã, um sutiã dela. Kate nem imaginava como poderia ter esquecido aquilo ali, o rosto dela queimava de vergonha, era uma peça provocante de renda e vermelho, a cor do pecado. Sentia-se promíscua e i****a por deixado ali. — Acho que esse sutiã é seu — disse ele calmamente, mas parecia tentar não sorrir. Ela andou a passos lentos até ele, pegou a peça de sua mão, correndo até o outro lado do quarto e enfiando-o na primeira gaveta de sua cômoda. Kate respirou fundo antes de se virar novamente para Thomaz, que estava com um lindo sorriso de lado. Ela então apressou-se em explicar para ele, ainda com muita vergonha do que havia acabado de acontecer. — Desculpe-me, estava arrumando as coisas na cômoda e devo ter esquecido isso aí no sofá — ela falou em um tom de voz baixo, Thomas sorriu para ela antes de responder com a maior calma do mundo. — Não precisa se desculpar, coisas assim acontecem sempre. — Ele sorriu com essa última parte. Ele estava zombando dela e ao perceber isso, Kate fechou a cara. Será que Thomas era sempre assim, calmo? Isso chegava a ser irritante, Kate se perguntou em sua mente. Apressou-se em sentar na cama e pegou o celular começando a mexer freneticamente, queria evitar qualquer conversa que chegasse no ocorrido do sutiã. Precisava definitivamente apagar aquilo da memória, pelo menos era uma peça da Victoria’s Secret, imagina se fosse um daqueles cheios de desenhos e de cores de bebê? A vergonha para ela seria triplamente maior. * Um banho nunca pareceu durar tanto quanto o que Tracy estava tomando, a bateria do celular de Kate já havia acabado e ela sentia-se em uma situação extremamente constrangedora. Olhando para o nada. — Paaaaaiii! — Tracy saiu do banheiro já gritando. A menina estava com uma toalha na cabeça, enxugando o cabelo e vestia um pijama longo, cor rosa, com várias patinhas de cachorro brancas estampadas nele. Ela foi até o pai e deu um forte abraço nele. — Que bom que o senhor chegou. — Senhor. Uau! Realmente ele era mais velho do que aparentava e era estranho para Kate ouvir ele ser chamado de senhor, já que ele conversava como um jovem e se vestia como um também, além da bela aparência. — Oi, querida, o que está achando da faculdade? — Thomas perguntou, sendo atencioso com a filha, aquilo era lindo e dava para Kate perceber que ele estava sendo sincero também. — Tudo está perfeito e os alojamentos são até mais confortáveis do que eu esperava — Tracy falou e Kate concordou com ela mentalmente. — E ah, eu quase me esqueci — ela falou virando-se para Kate. — Essa aqui é a Katherin... ops, Kate — apontou para a companheira de quarto com um enorme sorriso e ela, por sua vez, encolheu-se timidamente em sua cama. — Já nos conhecemos — ele falava com tranquilidade, a mesma calma de sempre. Será que nada era capaz de tirar aquele cara do sério? — Ah, que bom então, confesso que estou faminta, o que você trouxe para comer? — Tracy perguntou e Kate agradeceu, mentalmente, a ela por isso. Também estava faminta e qualquer coisa para se livrar do clima constrangedor que havia se instalado na casa. A ruiva foi até a mesa e abriu os pacotes, verificando a comida, o cheiro chegou até Kate, o que fez seu estômago roncar baixinho. Do nada a luz se apagou e o quarto se transformou em um breu total, um pânico foi crescendo dentro de Kate e sua respiração foi ficando mais pesada, tentou pensar em quem estava mais perto e decidiu que era Thomas, ela levantou-se rápido e se jogou no sofá ao lado dele. Desde pequena Kate tinha pavor do escuro, por isso naquele momento de pânico, ela procurou apoio e assim que achou o braço dele, agarrou com todas as suas forças, fechando os olhos. — Ei, calma — Thomas falou ao perceber o pânico da menina, provavelmente ela estava tremendo de medo, tentava controlar a respiração, mas estava difícil. Em meio ao pânico conseguiu falar algo. — Por favor, liga a luz, eu odeio o escuro. — A voz dela saiu baixa e suplicante. Ela apertou ainda mais o braço de Thomas. — Calma, foi uma queda de energia, o que é bem incomum, mas deve ser por causa da neve — ele falou, calmo. — Filha, vocês têm velas? Lanternas? — ele perguntou a Tracy. — Não temos — Tracy respondeu e depois como se tivesse sido iluminada por alguma luz divina, falou. — Eu vou ver se alguma das meninas dos outros quartos têm velas para nos emprestar, pai cuide de Kate, ela parece meio apavorada — Tracy falou em tom de deboche e colocou algo na mão de Thomas, que não viu bem o que era por causa do escuro. — Use a lanterna do meu celular por enquanto, mas a bateria já está no fim, não vai durar muito. Thomas ligou a lanterna que clareou metade do quarto, quando Kate percebeu a luz, decidiu abrir os olhos, procurou por Tracy pelo quarto, mas essa por sua vez já não estava mais lá. Aos poucos Kate foi se afastando de Thomas, ainda estava em pânico e com a respiração pesada e agora, constrangida pelo segundo mico que havia pagado. — Desculpe, eu não queria te machucar — ela falou observando as marcas das mãos dela no braço de Thomas. — Ah, isso? — ele perguntou apontando para as marcas. — Relaxa, não foi nada. — Ele sorriu de modo sincero para ela. — Mesmo assim, desculpa — ela falou e afastou-se um pouco dele. — Quer conversar sobre isso? — ele perguntou depois que alguns minutos de silêncio. — Sobre o que? — Kate perguntou confusa. — Sobre esse negócio com o escuro — ele falou de um modo tímido. — Ah — ela suspirou. — Foi a bastante tempo na verdade. Uma pegadinha de colegial. — Se não quiser falar, tudo bem. — Thomas parecia ter percebido como a menina estava constrangida em contar aquilo. — Não, tudo bem — Kate suspirou antes de continuar. — Eu era caloura, estava entrando no ensino médio e geralmente eles fazem esse tipo de piadinha com calouras e vamos combinar, eu era a mais f**a delas, na época usava óculos, tinha cabelos castanhos e bem cacheados e volumosos, além de um aparelho terrível, além de cor de rosa nos dentes. Obviamente era a vítima perfeita, eles inventaram que um dos caras mais lindos do terceiro ano queria ficar comigo e eu, i****a, acabei acreditando. Haveria uma festa à noite, na escola, de boas-vindas. Eu me arrumei e fui até a escola, no meio da festa um dos garotos falou que o tal menino estava me esperando em uma sala e fui seguindo pelos corredores escuros, quando cheguei a tal sala, ela também estava escura, então abri a porta devagar e quando estava completamente aberta várias pessoas com máscaras pularam e me assustaram, jogaram papéis higiênicos em mim. Saí correndo por aqueles corredores escuros, tropeçando e eles ainda atrás de mim, arremessando coisas, até que tropecei em um dos rolos e cai batendo a cabeça. Acordei horas depois, no hospital — ela suspirou ao terminar de contar. — Desde então o escuro me apavora, é como se vivesse tudo aquilo de novo. Entende? — Eu sinto muito — ele falou, aproximando-se dela. — Posso imaginar como deve ter sido difícil. Você já foi em algum psicólogo ou algo assim? Eles podem ter uma solução. — Eu nunca contei a história completa para ninguém além de você — ela falou e sentiu-se constrangida. A luz do celular apagou nesse momento e o pânico voltou novamente, fazendo-a agarrar o braço dele. — Não desliga a luz, por favor. — Aquilo soou como um grito de apelo. — A bateria acabou, cadê o seu, talvez possamos usar a lanterna dele — Thomas falou e Kate sentiu a preocupação em sua voz. — Também está sem bateria. Por favor, não me solte — ela pediu com a voz baixa. Apertando ainda mais ele. — Não vou soltá-la, até porque, quem está agarrada em mim é você — disse ele em tom irônico. — Isso não é engraçado — ela falou, seu corpo tremia por causa do medo, as imagens das máscaras e da perseguição voltando a sua mente, fazendo-a sentir ainda mais medo. — Eu sei, desculpe. — Thomas colocou os braços em volta de Kate e seus rostos ficaram bem próximos, quase colados, a luz da lua iluminava fracamente parte do quarto e dava para Kate ver o contorno da face de Thomas, mas ela podia sentir sua respiração em sua pele e involuntariamente começou a se aproximar até que os rostos deles estavam a milímetros de distância um do outro. O professor selou os lábios nos dela, começando um beijo lento e molhado. Parecia que mil explosões aconteciam no corpo de Kate, que levou uma mão até o pescoço dele e depois a outra, entrelaçando os dedos nos cabelos de Thomas. As mãos dele apertaram a cintura da menina e o beijo foi se intensificando, ficando mais quente e sedento. Quando a respiração dos dois já estava em falta eles pararam, afastando-se ofegantes. Ficaram ali, encarando-se no escuro por um bom tempo. Até que um barulho na porta fez com que eles se afastassem, uma luz surgiu e iluminou quase todo o quarto, era Tracy com uma vela acesa nas mãos. — Graças a Deus — disse Kate aliviada. Levantando-se, pegou uma das velas da mão de Tracy, acendeu na outra e colocou em cima da cômoda ao lado da cama. Sentou-se lá, o mais longe possível de Thomas, não queria que toda aquela atração de momentos antes voltasse. — Filha, eu preciso ir. Vejo você depois. — Ele parecia nervoso. — Vocês vão ficar bem? — perguntou olhando diretamente para Kate. Kate apenas acenou com a cabeça que sim e Tracy pediu para o pai não se preocupar. Kate observou-o sair do quarto, será que ele estava arrependido? Essa pergunta pairou sem parar na mente dela. Só que não era culpa dela, aquele beijo aconteceu porque Thomas parecia querer tanto quanto ela. Era isso, Kate queria um beijo dele, aqueles lábios vermelhos pareciam a atrair. De uma coisa, a loira definitivamente tinha certeza, aquele havia sido o melhor beijo de sua vida e não estava nem um pouco arrependida. — Tracy, já vou dormir, não se esqueça de trancar a porta — Kate falou e foi se deitar, deixou o celular conectado na tomada, para o caso de a energia voltar. Kate se deitou e embrulhou totalmente o corpo com um cobertor grosso que havia ganhado de sua mãe pouco antes de ir para Stanford, aquilo era realmente confortável, mas mesmo com isso ela não conseguia dormir. Aquela acabou sendo uma noite agitada, a energia só voltou pouco depois da meia-noite, pelo menos o aquecedor voltou a funcionar, o que ajudava a dormir, porque sem ele, mesmo com o cobertor, Kate estava congelando. Ela começou a pegar no sono, mas um bip vindo de seu celular à acordou novamente. Uma nova mensagem de texto piscava na tela do celular, que estava carregando com apenas 3% de bateria. Oi, mandei mensagem agora porque vi que a energia voltou. Eu não consigo dormir pensando no que aconteceu hoje, não quero que pense m*l de mim. Boa noite. — Era uma mensagem de Thomas. Oi, não se preocupe que isso não vai acontecer novamente. Tchau. — Talvez ela estivesse sendo muito grossa em sua resposta, mas era bom que eles se mantivessem afastados e a mensagem dele não havia sido nenhum pouco fofa também. Acho bom. Tchau. — Aquilo foi como uma facada no orgulho de Kate e mesmo que julgasse ser melhor assim, ela queria que Thomas falasse algo como que o beijo havia sido bom, que não havia sido um erro, que sentia o mesmo que ela. Afinal, o que eu sinto? Realmente não sei, só tenho certeza de uma coisa: aquele foi o melhor beijo da minha vida, ela pensou e sorriu. Kate recolocou o celular na tomada e voltou para a cama com o intuito de dormir, ficou mais algumas horas acordada, pensando sobre como o dia havia sido agitado. — Que m***a está acontecendo comigo? — ela perguntou a si mesma, alto. — O que? — Tracy perguntou. Ela não havia percebido que Tracy estava acordada. — Nada não, estava só pensando alto. Boa noite, Tracy — ela falou tentando ser gentil. — Boa noite — Tracy respondeu. Ela ainda rolou várias vezes na cama antes de conseguir dormir.
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