EPISODIO 1

1262 Words
Foi um verdadeiro inferno, devo admitir, mas descobri que você aprende com as experiências ruins. Os começos podem ser difíceis, ainda mais se você não tiver dinheiro ou amigos para dar apoio. Eu não tinha nenhum dos dois. Apenas vontade de provar que eu podia. Lembro que aquele taxista me levou a uma casa horrível, escondida entre becos que não pareciam ter uma vizinhança muito boa. Eu nunca tinha estado naquela parte da cidade. Eu nem sabia que tinha uma parte da cidade que era assim. Eu olhei em volta. E vi homens de reputação duvidosa, mulheres seminuas que certamente eram prostitutas. E quando passaram por mim, me olharam de uma maneira estranha. A minha roupa de grife me denunciava. E eu não podia culpar elas por acharem que eu não pertencia aquele lugar. Eu tinha que concordar que eu realmente não pertencia. Para os homens eu parecia uma sobremesa na vitrini, enquanto as mulheres olhavam para mim como se eu fosse um ser de outro mundo. Os meus olhos ficaram horrorizados ao ver a entrada da casa Era velha e abandonada. A qualquer momento um tijolo podia cair na cabeça de um que estivesse passando na frente. Engoli a seco. Onde eu estava? Eu olhei para trás, e o taxista tinha deixado as minhas malas na porta, depois de receber, e enquanto eu olhava em volta ele sumia, me deixando ali sozinha. Por um momento quis esquecer aquela estú*pida aventura, chamar ele de novo e pedir para que ele me levasse de volta para a minha vida luxuosa. Eu estava com vontade de chorar. Mas, joguei fora essa ideia imediatamente. Eu estava decidida. Aquele não era o meu lugar, embora o albergue também não fosse... Eu queria a minha liberdade, a minha independência, e se tivesse que conseguir ela vivendo num quarto em um lugar miserável da cidade, era assim que iria ser. Determinada e assustada, entrei. O interior não melhorava muito. Uma pequena área de recepção com uma mesa frágil era a única coisa que tinha lá. Nem uma pintura, nem um tapete, ou qualquer outro coisa para tornar o espaço agradável para os olhos. Nada, absolutamente nada. Uma mulher de cabelos brancos estava escondida atrás daquela mesa. Ela estava digitando num computador que devia ter mais de vinte anos. Sem erguer os olhos, me perguntou: — O que deseja? — Você tem uma suíte disponível? Não sei por que perguntei isso, acho que era o costume. Ao ouvir o meu jeito de falar, ela levantou os olhos e olhou para mim. Ela me olhou de cima em baixo e com um sorriso sarcástico respondeu: — Tenho, minha senhora. Temos uma com jacuzzi. Interessa a você? Eu pensei que ela era uma pessoa muito legal, na verdade, fiquei surpresa que eles tenham quartos assim num lugar como este. — Claro! Eu era um idio*ta e acreditei nela, mas assim que cheguei na suposta suíte, fiquei horrorizado e entendi que a mulher estava rindo da minha ingenuidade. Colocaram-me num quarto que custou vinte dólares por noite. Você pode imaginar que tipo de lugar era. Tirei forças de onde não havia e me forcei a dar uma chance. Pelo menos eu tinha que tentar. O quarto era muito pequeno, talvez quatro vezes menor que o meu. As paredes, que a princípio deviam ser brancas, tinham uma cor amarelada. Peguei o meu celular e no aplicativo de notas anotei: Comprar novos papeis de parede. Verifiquei todos os cantos, para verificar se não encontrava nenhum inseto ou animal. Não encontrei nada parecido, estava tudo limpo. Desfiz minhas malas na hora, pendurei alguns vestidos e blusas no armário, que estava caindo aos pedaços; a porta não fechava direito e não havia cabides. Escrevi uma nova nota: renovar o guarda-roupa. Eu não podia andar por aí usando vestidos de grifes tão caras naquele bairro. Se a minha vida seria assim agora, eu teria que me adaptar em todos os sentidos. Passei a mão suave e delicadamente por cada uma das peças de roupa, em forma de despedida. Eu estava dizendo adeus a todas elas. Caí na cama arrasada, tudo era novo para mim e não tinha começado com o pé direito. Eu estava com fome. Disquei o número da recepção do telefone na mesa de cabeceira e, para minha surpresa, não havia serviço de quarto para trazer o jantar, nem tinham jantar! Isso não vai dar certo, pensei, imaginando como seria minha nova vida. Saí procurando algo para encher o estômago, sabendo que não poderia gastar muito dinheiro. Me deparei com um McDonald's. Eu nunca tinha entrado em um deles e a curiosidade levou a melhor. — O que eu posso fazer por você? O balconista me perguntou quando era a minha vez. — Não sei, o que vocês tem? Ela olhou para mim de forma estranha, como se eu fosse um alienígena. —Hambúrgueres? Ela disse pensando que eu estava tirando sarro com a cara dele. — Então me dê um. — Qual você quer? Com acompanhamento ou sem acompanhamentos? Eram perguntas que eu não sabia responder, me sentia um peixe fora d'água. — O que você pediria? Sussurrei para ele para que o resto dos clientes não ouvisse. Ele riu, mas percebendo que eu estava falando sério, gentilmente respondeu: — Uma promoção do BIG MAC. — Pode ser isso. Eu sorri. — Para beber? — Uma taça de vinho. Ao dizer isso, ele colocou a mão no rosto, estava perdendo a paciência comigo. — Água, refrigerante, suco... — Eu entendi. Sem vinho. Uma água, por favor. Ele me entregou uma bandeja. Eu não entendi nada. Não era servido na mesa? Peguei sem perguntar, não queria continuar fazendo papel de boba. Os outros clientes estavam sendo muito pacientes comigo. Fui até uma das mesas desocupadas e me sentei. Ainda me lembro da primeira mordida que dei naquele hambúrguer. Tinha gosto de glória. Não entendia como aquela iguaria só podia custar sete dólares. Com certeza não seria a última vez que comeria naquele lugar. Assim que cheguei ao albergue, olhei para o meu celular: cinquenta e três chamadas não atendidas da minha mãe. Estou bem, ligo para você, depois. Escrevi uma mensagem para ele parar de se preocupar; sabendo como ela era, com certeza já teria contratado alguns detetives, algo muito comum na minha família. Não revirei mais o assunto. Liguei o notebook que trouxe comigo e saí em busca de trabalho e moradia. Naveguei pelos portais mais conhecidos e quis tentar a sorte procurando um emprego como editora. Estudei Comunicação e o meu grande desejo era poder trabalhar numa grande editora, mas fora o fato de haver apenas algumas ofertas, ambas exigiam experiência, e nesse setor eu não tinha nenhuma. Pesquisei os apartamentos para alugar, mas fiquei surpresa ao ver os preços. Com o dinheiro que tinha e sem emprego, não conseguia alugar nada. Além disso, na sua grande maioria, pediram contrato de trabalho. Onde você esteva com a cabeça Nat? Estive fora de casa apenas meio-dia e já me arrependi da decisão que tomei. Em um dos cantos da página de aluguel, uma pequena caixa apareceu para mim. Era um anúncio de uma vaga fixa. Não tinha pensado nessa possibilidade e, no estado em que me encontrava, era a melhor opção, ou melhor, a única. Liguei para o número que indicaram, uma moça atendeu e marcamos de nos encontrar no dia seguinte. Foi assim que encontrei um apartamento para morar, uma companheira e uma amiga. E aqui estou eu, sentado na cama, com o celular na mão, procurando um novo encontro para esta noite.
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