Episódio 2

1562 Words
Meu sorriso se torna um pouco mais genuíno ao ver a expressão de horror que aparece no rosto de Dominick quando os padrinhos entram em formação, e me viro para um homem mais velho no final da fila. A procissão começa alguns minutos depois, assim que mamãe aparece. Caminho até o altar, surpresa com o quão lotada a igreja está dos dois lados. É fácil pensar que mamãe afastou todo mundo que ela conheceu, mas quando chego na primeira fila e vejo o vovô sorrindo para mim, e não para a minha mãe, lembro por quem todos estão aqui. O vovô pode não ter mais a fortuna que teve antes, mas ainda é um homem rico. O fato de ele ter deserdado a filha é um segredo bem guardado, embora pareça que o futuro marido da mamãe saiba disso. Como posso saber esse pequeno detalhe? Ok, talvez, talvez eu o tenha chamado de lado ontem à noite, depois que ele se sentou ao lado da minha mãe enquanto ela bebia uma taça de champanhe após a outra no meio do jantar. Sua expressão era nada além de benevolente enquanto ele olhava para ela afetuosamente. Ele pediu licença para ir ao banheiro e eu o segui alguns minutos depois. — Você sabe que ele não tem dinheiro? Perguntei logo depois que ele saiu do banheiro. O corredor era estreito e escuro. Ficava longe das cozinhas e com pouco trânsito. — Desculpe? Ele perguntou surpreso, erguendo as sobrancelhas. No entanto, ele se manteve firme e não me ignorou. Imediatamente me senti como uma menina, apesar dos meus saltos de sete centímetros. — Minha mãe. Ela não tem... quero dizer... Engoli em seco e olhei para o chão antes de reunir coragem para olhar para o viking loiro meio homem meio deus mais alto que eu. Ele era o homem mais lindo que eu já vi. — Não há dinheiro, se é por isso que você vai se casar com ela. O vovô não é mais tão rico e parou de nos dar dinheiro tem bastante tempo. Então, se essa é a razão pela qual você está fazendo isso... Nesse momento eu estava tremendo da cabeça aos pés. Oh, Deus, eu só precisava dizer isso e então poderia me esconder em um armário pelo resto da noite. — Então, não tem, sabe? Não há dinheiro. E com aquela última gagueira eu me virei com os meus saltos pontudos e saí de lá. E agora aqui estou, em frente à igreja. Eu não conseguia mais adiar. Finalmente eu olho para cima e lá está ele. O deus Viking em toda a sua glória espetacular. O smoking m*al continha o seu peito largo. Imagino que os seus olhos não estejam em mim, mas em minha mãe: sua esposa corada, que está visivelmente parada nos fundos da igreja, prestes a entrar e caminhar em direção ao altar. Mas não, os seus olhos me têm em vista. É apenas por alguns segundos. Um momento em que os nossos olhos se encontram e permanecem assim. Ando pelo corredor central da igreja com flores nas mãos. E um homem está esperando por mim. Ele tem um brilho nos olhos que é só para mim. Ou é assim que parece. E então o padrinho que segura o meu braço me leva para o lado e a conexão se perde. É preciso todo o meu esforço, mas não olho por cima do ombro. Seria muito desesperador. E seria errado. Deus, o que estou fazendo? Este é o casamento da minha mãe! E estou esperando que o noivo dela olhe para mim? Um homem com o dobro da minha idade com quem a minha mãe vai se casar? Fecho os olhos com força e balanço a cabeça um pouco depois de me posicionar no final da fila de damas de honra. Nossa, isso finalmente está acontecendo? Sempre tive medo de estar condenada a ficar doente mental depois de crescer com uma mãe instável, bêbada e ocasionalmente viciada em cocaína. Quando ela tinha dinheiro para isso. Sem falar no pai ausente que foi embora quando eu tinha cinco anos por causa da minha mãe maluca. Fui eu quem tentou equilibrar o orçamento depois de dez anos. Bem, quando tínhamos dinheiro, antes de mamãe gastar tudo em festas de cocaína para ela e seus amigos no Caribe. Vovô parou de nos dar dinheiro quando eu tinha quatorze anos, mas garantiu que eu estivesse lá para ouvir a discussão, porque ele não era idio*ta. E não nos deserdou completamente. Ele continuou pagando por meio de um aplicativo de supermercado para nos enviar comida. Coisas que a minha mãe não podia devolver para comprar cocaína. Eu poderia ir às compras com ele se precisasse de roupas, e ele pagou algumas vezes a reabilitação da mamãe, o que funcionou por um ou dois meses. Mas ele nunca me deixou ir morar com ele. Acho que ele sempre teve consciência de como seria. Me doía? Claro, mas tanto faz. Eu não estava doente da cabeça por causa disso. Eu sobrevivo muito bem. Eu vou para uma universidade muito boa. Ok, estou endividada até o pescoço com os meus empréstimos estudantis, mas não vou afundar por causa de toda a mer*da da minha infância. Eu sou melhor que isso. Dou outra olhada no novo marido da mamãe. Deus, por que ele tem que ser tão bonito? Aquele pescoço grosso que levava ao queixo largo. Tenho certeza de que ele deve ter se barbeado esta manhã, mas há um leve traço de barba por fazer ali. Sua barba deve ser um tom mais escuro que o seu cabelo para ter um tom assim. Agora que pensei sobre isso, toda vez que o vi ele sempre tinha aquela sombra no rosto. Um pequeno arrepio percorre o meu corpo quando penso nisso. Grita masculinidade e… virilidade. Minhas bochechas esquentam com esse pensamento e todas as imagens que o acompanham. Seu peito largo e a camada de pelos que sem dúvida o cobre. Não posso deixar de imaginá-lo em cima de uma mulher, abaixando o corpo em direção a ela, investindo... E quando eu tento desviar o olhar e espantar esses pensamentos que eu não deveria ter, eu encontro outros olhos. Dominick está me olhando. Talvez os meus olhos estejam nele porque ele está olhando diretamente para mim. Ele me encara descaradamente até eu desviar o olhar. O sorriso bem-humorado que ele tinha no saguão da igreja desapareceu. Havia uma qualidade diferente ou... intensidade, se essa fosse a palavra certa, na maneira como os seus lábios se curvaram enquanto ele me observava observando-o. Ele abaixa o olhar lentamente. Espere, é…? É sim. Ele está cobiçando o meu decote. Bem, não há muito neste vestido. Na verdade, em nenhum vestido, para ser sincera. Sempre fui plana como uma tábua, só nos últimos anos é que finalmente desenvolvi s*eios pequenos tipo B. Mas eu sabia que o vestido seria para o casamento da minha mãe, então não me preocupei em usar a flexão sutiã que costumo usar para potencializar os meus pequenos recursos. Mas Dominick olha para o decote profundo como se ele pudesse revelar todos os mistérios do Universo, mesmo que ele estivesse prestes a ser o meu meio-irmão, pelo amor de Deus. — Como se você não estivesse olhando para o seu padrasto como se ele fosse uma apetitosa peça de presunto. Dominick levanta ainda mais os lábios. Oh meu Deus, o que está acontecendo? Há um mês eu era boa em ser uma garota normal e em não me deixar absorver pelo vórtice de loucura de minha mãe. Desvio o olhar de Dominick e de seu pai e olho para o chão. Bom. Isso está melhor. Examino o fascinante mundo das fibras do tapete durante o resto da cerimônia de casamento e, repito, não dou ouvidos aos votos conjugais enjoativos e embaraçosos que minha mãe escreveu de que o Sr. Winters é sua verdadeira alma gêmea, verdadeiramente verdadeiro, e que ela não pode viver sem ele. Ele é o completo oposto de Henry, seu último marido, que era apenas sua verdadeira alma gêmea, com apenas um “de verdade”, ou seja, ele não era sua alma gêmea, de verdade, da verdade. Na verdade, aposto que se você assistisse o vídeo daquela cerimônia, que deve estar em alguma prateleira em algum lugar, esses votos que mamãe supostamente escreveu para hoje soariam muito semelhantes aos que ela usou naquele casamento. E ela provavelmente copiou todos eles de alguma cerimônia de casamento que viu depois de pesquisar votos matrimoniais no Google. Minha mãe era tão boa em parecer sincera. Ah, eu não precisava dessa negatividade na minha mente ou na minha vida. Minha mãe é falsa, eu sei disso. O fato de eu estar envolta em sua hipocrisia e vulgaridade não fez nada além de me fazer sentir vulgar e cheio de más vibrações, mas não havia como pular o casamento. Todos os envolvidos exigiram a minha participação e eu poderia morar em Boston sem pagar aluguel. — Deixe a vibração r**m, Sarah. Só preciso sussurrar isso para mim mesmo por mais cinquenta e três minutos e pronto, a cerimônia estará encerrada. Perceber. O poder do pensamento positivo. O copo meio cheio. Essa será minha mentalidade de agora em diante. E se tudo mais falhar, talvez no próximo semestre eu possa pagar um quarto compartilhado.
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