Our Secrets

Bia Meu cabelo estrava preso em um coque com no mínimo dois lápis o mantendo no lugar enquanto prestava atenção em cada palavra que saía da boca de Jackson, meu professor, que manejava com destreza a câmera profissional em suas mãos enquanto passava alguns slides no data show. Mesmo que eu já soubesse algumas das coisas que ele dizia, sentia uma enorme necessidade de anotar tudo que eu podia no meu caderno.      Assim que o sinal tocou anunciando o fim das aulas todos levantaram recolhendo suas coisas das mesas indo em direção a porta de saída. Peguei meu caderno colocando o lápis junto ao meu coque descendo as escadas.      — Ei, Bia! — Chamou Jackson antes que eu pudesse cruzar a porta.     — Sim? — Me aproximei de sua mesa.     — Tive um tempo então pude olhar o seu portfólio. Meus parabéns, suas fotos estavam realmente incríveis. — Disse enquanto guardava suas lentes em uma bolsa preta padrão. — Obrigado professor eu... — Jack, me chame apenas de Jack ok? — Ok. — Respondi um tanto receosa. — Enfim, me acompanhe. — Jackson pegou sua bolsa saindo da sala e começando a andar pelos corredores da faculdade até a saída enquanto eu o seguia. — Você deve ser uma das minhas alunas mais talentosas Bia, com certeza terá um futuro brilhante pela frente se você se esforçar ao máximo.     — Obrigado Jack, bom, eu tento. — Ouvir isso de um professor, com certeza, infla o ego de qualquer um, ainda mais do professor que todos dizem ser o melhor.     — Esse último semestre trabalharemos com ensaios... Se aceita uma sugestão acredito que deveria investir no nu artístico.     Parei de andar bruscamente o olhando como se meus olhos fossem sair de suas órbitas ao mesmo tempo que meu cenho franzia, totalmente incrédula.     — É só uma sugestão, pense nisso. — Disse sorrindo, passando a mão no meu braço e seguindo até o estacionamento dos professores.     Enquanto meu cérebro tentava filtrar o que havia acabado de acontecer comecei a caminhar em direção ao campus. O dia por incrível que pareça estava levemente ensolarado, o céu em um azul de tirar o folego com uma suave brisa soprando. Mesmo morando a mais de três anos em Londres não me canso de admirar a sua beleza principalmente no inverno, adquiri um amor incomensurável pela neve em um nível de contar os dias para a chegada das grandes nevascas.     Quando cheguei ao meu dormitório a primeira coisa que fiz foi me jogar bruscamente de bruços em minha cama totalmente cansada.     — A aula foi tão chata assim? — Perguntou Carol.     Olhando para o lado pude vê-la sentada na cama com os cabelos presos a um r**o de cavalo e o notebook no colo. Pouco antes do seu intercâmbio acabar, Carol conseguiu uma vaga na mesma faculdade que eu para cursar moda, acabamos dividindo quarto quando ela não passa as noites com o Tony, o que é raridade.     — Mais ou menos... Acho que meu professor está dando em cima de mim.      — Ouvi dizer que o Jackson dá em cima de todas as alunas dele, até que demorou pra dar em cima de você... O que ele disse? — Carol me olhava com seu olhar curioso e malicioso.     — Disse que esse semestre vamos trabalhar com ensaios e deu a "sugestão" — Fiz aspas no ar. — De eu fazer um nu artístico no meu portfólio.     — Nossa, ele pediu pra te ver pelada na cara dura! — Disse dando risada batendo palmas. — Isso que é sutileza.     — Engraçadinha. — Revirei meus olhos virando na cama até estar de barriga para cima.     — Ele quer uma playboy sua exclusiva! — Ela conseguia chorar de rir com as próprias piadas. — Usa um dos "nus artísticos" que você manda pro Tom. —  O olhar de Carol emanava maldade enquanto eu a olhava boquiaberta.     — Mas como...      — Não sou burra de achar que vocês nunca trocaram uns nudes. Além disso você passa muito tempo no banheiro, assim fica óbvio!     — Você não presta! — Sentei-me jogando com força o meu travesseiro nela fazendo ambas rirem.     — Só por que eu sou sincera?! Onde ele está agora?     — Acho que Nova York.     — Alguma ideia de quando ele volta? — Perguntou levantando-se de sua cama e se sentando na minha.     — Não, só quando terminar as filmagens o que eu espero que já esteja acabando. Quatro meses consecutivos sem vê-lo é f**a!     — Vish, deve estar subindo pelas paredes já hein.     — Cala a boca Carol! — Disse a empurrando da cama fazendo com que ela caísse sentada no chão. — Você só pensa nisso?     — Não, mas você não pode dizer que eu estou errada! — Reclamou a ruiva tirando algumas mechas de cabelo que haviam caído em seu rosto. — Vem cá... Por que tem três lápis no seu cabelo?     — Isso se chama praticidade!     — Não. — Disse ficando em pé. — Se chama loucura! Apenas revirei os olhos começando a tirar os lápis do meu coque enquanto Carol abria seu guarda-roupa procurando por alguma roupa. —Vai sair? —Vou, hoje eu e o Tony completamente três anos juntos... — Respondeu sorrindo e jogando um vestido prata na cama, provavelmente o descartando como opção. — Vamos jantar fora. Eu estava feliz por eles, mas havia uma pontada de tristeza no meu peito já que eu e o Tom completaríamos três anos juntos em poucas semanas, mas ele estava novamente a quilômetros de distância... —Droga... Desculpa Bia, esqueci de você e o do Tom... — Carol me olhou com cara de culpa como se fosse culpa dela essa distância toda. —Relaxa... — Levantei-me caminhando até ela ajudando a procurar uma roupa. — Precisamos achar uma roupa pra você, algo sexy e elegante... — Desde quando universitárias têm vestidos elegantes no guarda-roupa? — Perguntou fazendo ambas rirem. — Sexy sem ser vulgar então, tipo... Isso aqui. — Disse pegando um vestido preto de alcinha. — Vai ficar ótimo em você. — Obrigado Bia! O que seria de mim sem você?! Apenas dei de ombros sorrindo e voltando a sentar na cama. Peguei meu celular conferindo novamente se havia alguma ligação perdida ou ao menos uma mensagem que seja, mas não havia nada... Droga de relacionamento à distância... Deitei-me de costas com o celular sobre o peito repartindo mentalmente que ele devia ter um bom motivo pra não ligar ou mandar mensagem, eu não queria ser a namorada obsessiva que liga pro namorado a cada cinco minutos, além disso ele pode estar no set e se alguém que não fosse ele atendesse? Mesmo a três anos juntos nós sempre fomos totalmente discretos com nossas vidas pessoais, tirando nossa família, apenas Tony e Carol sabiam do nosso namoro. Ned e Mary, colegas de elenco que acabaram se tornando muito amigos do Tom ainda não sabiam sobre mim o que confesso, era uma droga. — O que acha? — Perguntou virando para mim. — Tá ótima... — Respondi erguendo os polegares. — Eu vou indo, mas vê se não fica deprimida à noite toda... — Carol se aproximou dando um beijo na minha testa que eu tenho certeza de que deixou a marca de batom. — E não me espera acordada. — Pode deixar! — Disse limpando o batom vermelho da minha testa. Assim que Carol saiu peguei meu notebook começando a procurar por algo para assistir, talvez alguma série que eu pudesse maratonar, quando ouvi algumas batidas na porta. Me levantei quase que me arrastando para abri-la. — Nossa... Você tá péssima... — Disse Dylan assim que me viu. — Haha engraçadinho. — Revirei os olhos entrando e deixando a porta aberta para que ele pudesse entrar também. Dylan era da minha turma de fotografia, nesses três anos acabamos eu, Carol e Dylan nos tornamos quase que inseparáveis. — Me empresta sua câmera? Quero tirar umas fotos para o meu portfólio... — Disse entrando e fechando a porta. — E você é a única que eu conheço que tem uma Polaroid em perfeito estado. — Não mesmo, ela é o meu xodó, se você quebrar eu te vendo no mercado n***o pra comprar outra! — Eu sou supercuidadoso! Você sabe muito bem disso... — Dylan revirou os olhos se aproximando de mim e segurando meu rosto obrigando-me a olhar para ele. — O que foi? Por que a carinha triste? —Nada... Problemas com o boy. — Você e seu boy. Te conheço a quase três anos e você nunca nos apresentou, to começando a achar que é desculpa sua pra não ficar com ninguém. — Ele soltou meu rosto sentando-se na minha cama. — Um dia eu apresento vocês, ele só viaja de mais... — Disse me jogando ao lado dele fazendo ambos se deitarem. — Homens são muito complicados, acho que vou começar a ficar com garotas... — Nossa é fácil assim? — Perguntou fazendo ambos rirem. — Seja lá qual for o problema com o seu boy, vai se resolver... — Dylan jogou seu corpo contra o meu ficando em cima de mim. — Sei exatamente do que você precisa... —Tá pensando no que eu to pensando? — Sussurrei olhando em seus olhos verdes. Ele aproximou seu rosto do meu descendo até o pé do meu ouvido. — Quem chegar por último paga a conta! Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele saiu de cima de mim e saiu correndo porta a fora em direção ao café. —DYLAN! Seu trapaceiro! — Gritei correndo atrás dele com meus tênis na mão os colocando no caminho. Quando cheguei ao café que ficava em frente ao campus lá estava o moreno me esperando com os braços cruzados e um sorriso vitorioso nos lábios. — Eu vou querer um chocolate quente duplo com muito chantilly! — Disse sorrindo enquanto eu me aproximava. — Eu te odeio... — Passei por ele com os olhos cerrados. — Você me ama que eu sei! — Dylan me abraçou pelo pescoço por trás fazendo ambos rirem. Eu adorava aquele café, sempre era quentinho lá dentro, com uma decoração rústica e um inebriante aroma de café muito na hora que me hipnotizava. Havia três pessoas na nossa frente então apenas entramos na fila. — Mas é sério Bia, me empresta sua câmera? — Pediu com seus olhinhos de cachorro pidão. — Tá. — Revirei os olhos dando-me por vencida. — Quem vai ser o seu modelo? — Vou tentar convencer o Bart Allen a posar pra mim. — Respondeu me olhando de uma forma maliciosa. — Pede pra fazer um nu artístico com ele. — Acha que ele toparia? — Não! — Aff Bia, para de me iludir! — Dylan fingia estar bravo comigo me empurrando para frente conforme a fila diminuía. — Essa vida de ser gay não tá fácil! — Você só tem crush nos heteros quer o que? — Perguntei acompanhado de um riso nasal. — Meu amor, eu e a ilusão somos Best Friends... Cadê a Carol? Aquela p*****a tá me de devendo um café também. — Saiu com o boy dela e eu lamento te informar, mas acho que você está ficando viciado em café. — Meu amor, pra estudar para as provas finais eu to faltando injetar café na veia! Se brincar eu cheiro até o pó! — A senhorinha que estava na nossa frente olhou para ele por cima dos ombros de uma forma assustada. — Brincadeira... — Disse sem graça enquanto eu tentava ao máximo não rir ao seu lado. Passamos horas naquele café conversando sobre as últimas aulas que tivemos e até fofocando um pouco, mas quando voltamos para o Campus cada um foi para o seu quarto. Só então percebi que eu saí correndo com tanta pressa que esqueci até o meu celular. Quando entrei escutei o familiar som de uma vibração sobre o criado mudo, praticamente corri para atender. Um enorme sorriso se fez presente em meu rosto ao ver que se tratava de um FaceTime do Tom. Rapidamente arrumei o meu cabelo acendendo a luz do quarto para melhorar a iluminação atendendo em seguida. —Hi darling...