Grosseirão

1524 Words
"Vovó eu estou bem, torça por mim! estou sendo avaliada por eles! Até mais tarde" Essa foi a mensagem que eu mandei a vovó quando cheguei no quarto das meninas. Elas estavam muito empolgadas a me mostrarem suas coisas. Rebecca era extremamente falante, é compreensível já que a irmã dela quase não abria a boca. - Vocês dormem juntas? Perguntei ao sentarmos todas entre as almofadas e ursos no tapete. - Rebecca tem medo de dormir sozinha! Enfim Raquel respondeu. - Eu tenho pesadelos á noite! Rebecca disse com seus olhinhos tristes. - O meu amor... Fiz um carinho em sua cabeça. - São só sonhos, não tenha medo! - Quando eu fico com medo eu vou para o quarto do papai... Ela explicou. - E durmo lá a noite toda! É compreensível... Pensei! - E você Angel? Raquel perguntou.- Também corre para a cama do seu pai quando está com medo? Tive vontade de morde-las, porque eram muito fofas, e curiosas também. - Não! Eu não tenho papai! Respondi sorrindo. Raquel abriu sua mochila, acredito que ia pegar algo para me mostrar. E Rebecca continuou tagarelando. - E mãe você tem? Perguntou se aproximando mais de mim. - Não... Eu só tenho avó! Respondi fitando seus olhinhos azuis. - Você sabia que a nossa mamãe tá lá no céu? Ela perguntou. - Com certeza meu anjo! Respondi com um sorriso reconfortante. - O Papai disse... Raquel continuou. - Que ela era tão boa, mas tão boa que o papai do céu precisou dela lá em cima! - E por isso ela virou uma estrelinha! Rebecca finalizou a explicação da irmã. Senti um aperto no coração, devo estar impressionada demais com essas meninas. - Meus amores, agora vamos trocar as roupas antes que a vovó apareça, tabom? Elas concordaram e foram escolher as novas trocas de roupas. E eu fiquei pensando no que elas me disseram... Essa era a graça de cuidar de gêmeas, quando uma parava falar a outra continuava. Mas o que mais me impressionou foi o carrancudo do pai delas, dizer coisas tão bonitas sobre a mãe. Quem imaginaria que sairia algo de bom daquele cara amarrada! - Olha Angel, o meu desenho! Raquel me mostrou seu caderninho. - Que lindo! Respondi analisando o papel. - Esse é o papai, essa é Rebecca e eu! Ela mostrou três pessoas de mãos dadas, desenhava muito bem para uma criança de sete anos.- E essa é a mamãe nos olhando! No desenho da Raquel havia uma moça loira em cima das nuvens. Ela sorria em direção a eles, e eu achei muito interessante a visão carinhosa dela de um assunto tão triste. Nesse momento alguém bateu a porta e eu me assustei. - Angel querida... Diana apareceu entre o vão. - As meninas estão deixando você respirar? Ela disse em tom de brincadeira. E eu sorri assentindo. - Que bom que vocês duas já trocaram de roupas! Ela disse se voltando á gêmeas. - Desçam! O pai de vocês quer um beijo antes de ir! As duas saíram correndo literalmente. Numa empolgação total para chegarem logo. Diana sorriu e balançou a cabeça, e depois se voltou para a mim. - Angel eu sinto muito mas não poderei ficar com vocês o resto da tarde... Putz e agora? Será que eu dou conta? - Aqui está a minha agenda! Ela disse pegando um caderno na prateleira. -Eu deixo tudo marcadinho, se você tiver alguma dúvida pode me ligar, o telefone está na capa. - Sim senhora! Respondi assentindo. - E ah... Ela disse como se lembrasse de algo. - Angel você só poderá ir embora depois das seis... É o horário em que o Pither chega todos os dias! Quê?? As seis?? Eu tô ferrada! As aulas começam a sete, e só o ônibus demora uma eternidade para chegar até a minha casa. - Algum problema pra você? Ela perguntou. - Não! Balancei a cabeça em negativa. Eu vou dar um jeito! Pensei. - E não se preocupe, o Léo pode te levar até em casa se quiser? Nãoo! Claro que não! Eu não gostaria que as minhas vizinhas fofoqueiras me vissem chegando naquele carro luxuoso. - Eu prefiro o ônibus, senhora! Respondi dando um meio sorriso. - Okay! Sua passagem ficará em cima do aparador! Boa sorte querida! Aparador? Deve ser a mesinha... Gente! Como esse é povo é difícil! Diana saiu acenando pra mim. E meu coração afundou no peito com medo de não me sair tão bem! Quando ouvi o barulho do carro olhei pela janela do quarto das meninas. E vi quando o super-herói delas saiu. Elas vieram correndo subindo as escadas em direção ao quarto. (...) As gêmeas eram realmente tranquilas, a minha preocupação frequente era de perder a aula. As meninas e eu tiramos o dia para se conhecermos. Elas me mostraram absolutamente tudo o que elas tinham, desde os brinquedos, até as roupas de sair. Elas me viam como uma amiga, faziam perguntas ao meu respeito porém as vezes eu não sabia o que responder. - Angel qual era o seu brinquedo preferido na infância? Rebecca perguntou. - Eu não sei! Me senti m*l em responder assim, mas eu infelizmente não me lembrava. Depois de fazermos a lição de casa juntas, fomos pra cozinha tomar o café da tarde. As meninas eram muito educadas, elas pediram para a cozinheira fazer bolo de chocolate, e não eram esnobes como o Felipe mencionou. Elas eram gêmeas mas tinham algumas diferenças, como por exemplo Rebecca ser mais loura que a irmã, e seus olhos serem azuis. Já Raquel eram mais parecida com o pai, e isso me fez lembrar da expressão fria dele comigo mais cedo. Os olhos dela eram esverdeados, ela era mais tímida e falava menos. Já Rebecca era extremamente curiosa e falante, mas algo me chamou atenção. A cozinheira fazia tudo para a Rebecca separado, e eu soube que ela tinha intolerância a lactose. Ela se chamava Olívia e disse que trabalha para a família á anos. Quando as meninas foram lavar as mãos para comer, ela me disse que Rebecca é frágil e fica doente sempre, além de ser extremamente sensível. Fiquei tão m*l por isso! Elas já não tinham uma mãe, e ainda sofriam com outros problemas. Eu nunca fui uma pessoa curiosa mais a minha língua coçava de vontade de perguntar a cozinheira sobre o patrão. Mas achei cedo demais! E se ele volta de supetão e me pega falando?!... Não gosto nem de imaginar! Depois do tal bolo, subimos todas para cima, Rebecca e Raquel brigavam para darem as mãos pra mim. - Calma meninas, eu tenho duas mãos uma para cada! Respondi sorrindo. - Você vai voltar amanhã? Rebecca perguntou. - Isso depende do pai de vocês! Falei apertando o seu narizinho arrebitado. Raquel se sentou na sua cama e me analisava cautelosa, enquanto eu ajudava a Rebecca com a sua boneca. - Você vai com a gente para o aniversário do Miguelzinho? Parei um instante para entender a pergunta. - Miguelzinho? Perguntei confusa. - É no aniversário! Ele é o nosso primo! Rebecca explicou. Senti uma vontade extrema de fazer perguntas, era como se esse assunto me interessasse. - E quantos anos ele tem? Falei. - Quatro! Raquel respondeu. - Ele é filho do Tio Miguel. Miguel?! Será que é irmão da mãe delas, ou do carrancudo? - Vocês só tem ele de primo? Perguntei deixando minha curiosidade á vista. - Não! As duas responderam juntas. - Temos a Esther também! Rebecca complementou. - Ela é filha do Tio André! - Aéh? E vocês gostam dela? Perguntei pegando um pente para pentear os cabelos das gêmeas. - A gente tem quase a mesma idade, ela é muito legal! Fiquei tão entretida com as confissões das meninas que quase tive um colapso quando alguém bateu na porta. A porta não se abriu e eu fiquei muito assustada. Uma das gêmeas puxou a maçaneta e não tinha ninguém. Olhei no relógio e já eram seis e cinco. Meu Deus! Estou mega atrasada! Olhei pela janela e vi o carro do carrancudo estacionado. Quanta grosseria! Porque ele não me chamou? - Meninas eu preciso ir! Falei me levantando. Rebecca fez cara de choro e eu senti meu coração despedaçado. - Não! Não chores eu volto amanhã! Falei ficando da altura delas. - Promete? Raquel perguntou. - Palavra de Fada madrinha! E dei meu dedo mindinho á elas. Desci as escadas com elas atrás de mim, a passagem estava mesmo no aparador. E nem sinal do grosseirão! Ótimo! Eu também não queria ver ele mesmo! - Amanhã estarei aqui outra vez! Falei antes de sair. E as duas me abraçaram realmente tocadas. E eu fiquei pensando como podem simpatizarem comigo tão rápido?! Senti uma dor na alma de deixarem elas daquele jeito! Cadê aquele pai que não estava na sala para ficar com elas? Saí da casa e antes dei uma olhada para trás, vi pelo vidraça quando o pai delas pegou Raquel no colo. É um absurdo! Ele esperou eu sair?! Francamente será que existe um ser mais duro e m*l educado como ele?
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