Destruída

1218 Words
     Já havia dirigido por mais de uma hora quando estacionei na garagem da casa. Talvez eu devo ter sido premiada com algumas multas por excesso de velocidade,  mas eu estava com raiva e chorando muito, que não consegui prestar atenção nesses detalhes.      Peguei minhas coisas e entrei. A casa estava impecavelmente limpa e organizada. Joguei as bolsas no chão e não contive as lágrimas. Uma mistura de ódio e ressentimentos se apossou de mim, e no momento seguinte, me vi atirando no chão os objetos que estavam na mesa da entrada. Caminhei até o bar e me servi de uísque,  pegando a garrafa e ficando de frente ao espelho. Eu estava h******l, mas na minha situação, não haveria como estar diferente. Tomei um gole e a bebida desceu queimando minha garganta. Céus! Aquilo era h******l. Sem pensar, joguei o copo em direção ao bar, que se espatifou em mil pedaços. Em seguida, atirei a garrafa também.  Depois disso, cai de joelhos no tapete da sala e chorei.      Era uma dor imensurável. Como se cada músculo do meu corpo se rompesse. Eu não merecia isso. Sempre estive ao lado dele, eu vivia por ele.       Ouvi uma batida na porta. Quem poderia ser uma hora dessas?       - Olá? Alguém aí? - perguntou a voz do outro lado da porta.       - Quem é? - respondi com outra pergunta. - Moro na casa ao lado  ouvi um barulho. Está tudo bem? - Sim, obrigada. - respondi com a voz embargada. - Se precisar de algo é só me chamar. - a voz era insistente.     - Obrigada!  Não ouvi mais nada. Ele seja lá quem fosse se foi. Eu só queria ficar sozinha e lamentar a traição.      Acabei adormecendo ali mesmo, e quando acordei, meu corpo inteiro doía. Parecia que um trator havia me atropelado.    Me levantei e peguei uma roupa na mala. Calça e blusa de moletom e um tênis surrado que eu usava para fazer corrida pela manhã. Virei-me e olhei o que tinha feito. Me arrependi na hora. Guilherme não valia o vaso de cerâmica egípcia que eu trouxe do Cairo, em uma de minhas viagens de trabalho.      Fui para o quarto tomar um banho. Minha cabeça estava explodindo, então comecei a procurar analgésicos na gaveta da pia. Nada. Eu teria que sair para comprar.       Olhei-me no espelho, meus olhos estavam inchados e aquela pessoa do reflexo, estava irreconhecível.      Yvelise Brenner, vinte e seis anos, jornalista renomada de uma das maiores revistas do país, destruída por dentro e os reflexos gritavam por fora. Tirei a roupa lentamente, por causa das dores no corpo, e entrei debaixo do chuveiro. A água morna aliviava a  tensão, como se lavasse a alma também. Demorei um pouco no banho, e a imagem da noite anterior, ficava repassando em minha mente inúmeras vezes.      Eu teria que ligar para Laura, a senhora que cuidava da casa na nossa ausência. Desliguei o chuveiro e vesti o roupão.      Quando sai do banheiro,  dei de cara com ela, e me assustei.    - Desculpe D. Yvelise, não quis assustar. Mas eu que me assustei quando cheguei e vi a bagunça. Só não chamei a polícia porque vi sua mala na sala.      - Está tudo bem Laura. Eu ia te ligar agora mesmo. Gostaria que você viesse aqui um dia sim, um dia não. Vou ficar morando aqui por um tempo. - Eu disse a ela.      - Aconteceu alguma coisa? - Ela quis saber.  - Você pode cumprir essa escala? - Perguntei.    - Sim, eu posso. - E mais uma coisa, gostaria que não fizesse perguntas. Está bem?      - Ah sim, claro. Me desculpe.  Se precisar estou na sala. - Ela disse e saiu dando um breve sorriso para mim.      Essa era uma das qualidades dela. Não fazer perguntas sobre nada que eu não quisesse falar. Arrumei-me e fui até a farmácia.  Não era longe então fui a pé mesmo.      Meus óculos escuros escondiam o inchaço dos olhos. Peguei muitos analgésicos e algumas coisas que eu estava precisando. Na hora de passar no caixa, percebi o olhar curioso da atendente. Acho que ela estava se perguntando o porquê de tantos comprimidos. Paguei a compra e saí dali o mais rápido possível.      Em menos de cinco minutos eu estava em casa. Laura estava limpando o bar. - Laura, eu vou descansar um pouco. Só me chame se for realmente urgente.    - Sim senhora,  eu já troquei os lençóis da cama. Durma bem. - Ela diz, sempre com um sorriso amigo no rosto.     Entrei no quarto e fechei as janelas.  O inverno é minha estação favorita, e estava um clima favorável para o final de julho. Tomei vários comprimidos, e me deitei. Não demorou muito e eu peguei no sono.    Tive um sonho h******l. Sonhei que eu estava sentada em uma poltrona, e na minha frente havia uma cama. Guilherme transava com uma mulher loira, e eu não conseguia me mexer nem gritar. Parecia real. Tão real que eu podia sentir lágrimas quentes no meu rosto. E eles sorriam.   A propósito,  a v*******a que eu peguei na minha cama também era loira. Acordei assustada com o pesadelo. Graças a Deus, foi só um pesadelo. Nem imagino ter que reviver aquela cena novamente. Me levantei e fui até a cozinha beber água. Havia um bilhete de Laura na geladeira:      “D. Yvelise, tomei a liberdade de comprar algumas frutas, leite e cereais. Preparei algo para a senhora comer também. Um rapaz veio perguntar se estava tudo bem, e deixou um bilhete para a senhora. Esta na mesa de centro na sala. Se cuide. Laura.”       Laura sempre atenciosa. Corri na sala ler o bilhete. "Olá, meu nome é Jean e moro na casa ao lado. Percebi que você não parecia bem e se precisar de qualquer coisa, não hesite em me chamar."      - E eu percebi que você é um i****a curioso. - Falei para mim mesma. Amassei o bilhete e o joguei no lixo. Lembrei-me do meu celular. O peguei na bolsa e, nossa! Várias mensagens e trinta e cinco ligações, sendo duas de Clarice e as demais de Guilherme. Sem contar os e-mails dele.    Mas quanta insistência! Apaguei todos os e-mails e as mensagens sem ler, depois liguei para Clarice, que atendeu ao primeiro toque.      - Yvi, o que aconteceu? Liguei para o hotel e disseram que você fechou a conta um dia antes. Depois liguei para Guilherme e ele disse que tinha feito uma besteira. Onde você está? Estou indo até aí agora mesmo. - Ela disse quase em desespero.       - Calma, não precisa vir aqui. Estou bem. Amanhã mesmo envio a matéria. Mas antes vou te contar o que aconteceu.      Eu contei a ela tudo o que aconteceu e onde eu estava. Não mencionei, mas ela é minha chefe e amiga. Ela detém a maior parte das ações da revista, e é presidente da empresa.      Assim que terminei de contar,  ela me sugeriu férias. O que eu menos queria nesse momento eram férias. Eu precisava ocupar a mente e pensar em outras coisas que não incluíssem m***r Guilherme.      Mas ela sempre vencia, e por fim eu cedi. Me despedi e desliguei o telefone.       Sei que não será nada fácil lidar com essa situação. Estou realmente perdida, sem rumo, sem chão.      E eu só penso em como sobreviver mais um dia...
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