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Isa
Acordei mais uma vez sem ter o que comer, mas na minha casa isso já se tornou normal, na verdade, eu nem posso chamar isso de casa, eu moro dentro do lixão que fica próximo à favela da Babilônia, como se isso já não fosse humilhação o suficiente, eu ainda tenho uma mãe maluca e um pai viciado, os dois infernizam a minha vida de todas as maneiras possíveis, então eu tento passar o menor tempo possível em casa.
Graças a Deus a uns meses atrás eu consegui um curso de enfermagem na Faetec, que não fica tão longe daqui e eu consigo ir para as aulas, graças as passagens que eles dão em um cartão estadual.
Bom eu consigo fazer duas refeições no dia, uma no curso de culinária que eu entrei só para comer os pratos que preparamos, e a outra eu cato latinha para fazer, eu não sou uma mina que reclama muito da vida, pelo contrário nesses meus 19 anos eu agradeço muito a Deus por sobreviver aqueles dois doidos, porque eles acabam com a minha saúde mental e física.
Eu nunca consegui um emprego carteira assinada, porque é impossível ficar limpa morando em um lixão, nem banheiro nós temos, fazemos as necessidades ao ar livre, minhas roupas são trapos que eu encontro por lá, e por causa disso sempre tem umas meninas do morro que ficam rindo de mim, ficam falando que eu uso os restos delas, isso me deixa triste, mas eu não tenho escolha.
Bernardo: qual foi que tu já ta com essa cara de choro ? - ele fala se aproximando.
Bernardo e um funcionário da Faetec, as pessoas falam que ele é envolvida com coisas erradas, mas eu nunca vi, ele nunca me tratou m*l.
Isa: acredita que meu pai roubou todo o meu dinheiro da semana para comprar drogas? agora eu vou ficar com fome a noite.
Bernardo: cara, tu tem que sair daquele lugar, teus pais não prestam, eles não vão facilitar a tua vida.
Isa: e vou pra onde ? ninguém vai alugar uma casa pra mina desempregada, e que mora dentro do lixão porque não tem pra onde ir.
Bernardo: cara, tu consegue ir no morro da Rocinha amanhã cedo ? minha mulher trabalha lá, ela pode te arrumar um estágio.
Isa: jura?
Bernardo: papo retão, tu tá liga que eu te considero pra caralh0.
Isa: eu vou está la amanhã cedo.
Sai de lá feliz, mas quando cheguei em casa fiquei triste, meu pai estava drogado batendo na minha mãe, ela estava gritando sem para, mas não tinha ninguém para ajudar, então eu pulei em cima dele, o que não foi uma boa ideia, porque ele me jogou na parede como se eu fosse de papel, e depois veio em cima de mim me dando soco e chutes, minha mãe gritava falando que ele iria me matar, mas quem disse que adiantou? Ele continuou ali me batendo até eu perder a consciência.
....
No dia seguinte eu acordei e estava no mesmo lugar que ele me jogou, tentei me levantar, mas estava com muita dor, eu m*l conseguia respirar depois da surra que ele me deu.
Quando a minha mãe viu que eu estava me mexendo, ela veio correndo na minha direção, se aproximou e me ajudou a se levantar.
Claudia: quando ele estiver me batendo fingi que não estar vendo, olha o que ele te fez Isabella.
Isa: olha o que ele te fez - falei olhando para o rosto dela todo machucado.
Claudia: eu já estou acostumada.
Isa: por que ele te bateu dessa vez?
Claudia: porque eu reclamei que não tinha nada para comer, eu não aguento mais essa droga de vida.
Isa: merda, eu tenho um entrevista de emprego.
Claudia: como você vai sair assim?
Eu nem respondi ela, apenas fui se arrastando porta afora, entrei em um ônibus que me deixava na Rocinha e todos me olharam assustados, alguns até perguntaram se eu queria ajuda.
Desci na Rocinha e fui me arrastando até a barreira, os vapores ficaram tudo me olhando sem entender nada.
Vapor: c*****o, mina, o que fizeram contigo ? - ele falou se aproximando.
Isa: eu preciso chegar no posto, por favor! - ele nem pensou muito, saindo me colocando no carro e me levando para o posto.
Recepcionista: o que foi isso menina?
Isa: eu preciso falar com a Giovanna, ela está me esperando.
Eles chamaram a Giovanna, porque eu não quis ser atendida sem falar com ela antes, a mesma veio na minha direção e quando me viu entrou em desespero.
Giovanna: você é a Isabella ? - assenti com a cabeça, e apaguei novamente.
Giovanna
eu sabia da situação dessa menina, mas não imaginava que era tão grave assim, ela está literalmente machucada e algumas fraturas são graves ela foi espancada pelos pais, encarei ela e ela me lembrava alguém, mas no momento eu só pensava em como alguém tão nova pode sofrer tanto!