CAPITULO 2

1292 Words
— Pare com isso. Eu disse, colocando a mão no seu peito. — Não posso ter uma frequência cardíaca diferente quando você me oferece um desejo? Qual é a sua frequência cardíaca? Ele riu um pouco e me ofereceu o seu pulso. — Posso ouvir o seu coração? Eu sussurrei. — Esse é o seu desejo? Balancei a cabeça solenemente. Ele alisou a camisa sobre o coração e me permitiu ouvir. Ouvindo o suave bater fez o meu interior derreter, mas, então outra dor aguda explodiu no meu peito. Eu engasguei e me enrolei numa bola. — Você está bem? — Está passando. Eu engasguei, esfregando o meu peito. — Está passando. Está tudo bem. Ele colocou a mão na testa e tentou suavizar a sua preocupação. Eu tinha dores no peito muitas vezes, e as pequenas não significavam muito. — Sinto muito, Beth. Quando o seu pai me pediu para cuidar de você, eu esperava trazer flores para você uma vez por semana, junto com algum contrabando, e riríamos um pouco. — Esse nível de tragédia não era o que você esperava? — Não, não é isso. Ele respirou. — Isso é exatamente o que eu esperava. Exatamente o que já passei muitas e muitas vezes. Só que desta vez parece pior. Como se você fosse minha e eu pudesse salvá-la. Como se eu devesse ser capaz de servir de fortaleza entre você e a morte, mas não consigo. Eu não posso fazer nada. Eu tive que pensar em algo para ele fazer que o confortasse e o fizesse sentir como se tivesse feito algo por mim. O meu cérebro se baseou num pensamento que eu tinha toda vez que fechava os olhos para um procedimento. — Se eu puder ter mais um desejo. Há algo que eu quero. Algo que você pode fazer. Os dedos de Christian correram em pequenos padrões pelo meu braço. — Diga-me. Qualquer coisa que você quiser. — Você poderia me beijar. — Não posso, fazer isso. Ele disse, com a voz entrecortada na escuridão. — É madrugada. Ninguém saberia. Eu levaria esse segredo para o meu túmulo. Eu não quero morrer sem ser beijada e não há mais nada que eu queira nessa vida. Fiquei em silêncio enquanto eu esperava por sua resposta. Finalmente, ele disse: se eu fizer isso, você nunca poderá contar a ninguém... — Eu prometo. Será nosso segredo. Ele balançou a cabeça levemente como se não quisesse antes de se virar, inclinar a cabeça e tocar os seus lábios contra os meus. No início, ele ficou perfeitamente imóvel com os lábios fechados e a leve vibração da nossa respiração se misturando. Então, muito lentamente, ele começou a mover os lábios, e foi completamente maravilhoso. Ele entendeu! Eu não queria que ele me beijasse como uma garotinha. Eu não queria um beijo na testa. Eu queria um beijo romântico e completo que me deixasse sem fôlego muito depois de terminar. Eu respondi beijando-o do jeito que ele me beijou. Passaram-se apenas alguns segundos antes que ele fosse longe demais e o meu coração estivesse batendo fora de controle. Os meus monitores começaram a apitar descontroladamente e Christian de repente me soltou. Ele olhou para as minhas bochechas coradas e o sorriso no meu rosto. — Isso está errado. Disse ele desafiadoramente. — Não vou contar a ninguém. Eu o tranquilizei e tentei pensar em algo para dizer que faria ele me beija de novo. Antes que eu pudesse dizer outra palavra, fui cuidadosamente colocada de volta na minha cama, Christian acendeu o abajur e uma enfermeira entrou no quarto para me verificar. — Vou transferir Beth para um hospital diferente. Ele informou secamente. — Você não pode. Ela gaguejou. — Ela só pode ser movida por seu tutor legal. — Eu sou o tutor dela. Vou removê-la esta noite. A enfermeira ficou horrorizada, mas o levou até a recepção para tomar as providências necessárias. Houve muito trabalho a fazer para que eu fosse transferida para um hospital diferente. Algo dentro de Christian havia quebrado. Eu nunca o tinha visto assim antes. Ele sempre foi tão amigável. Quando os meus pais morreram, ele ficou mais doce e charmoso para diminuir a minha dor, mas naqueles momentos depois de me beijar, ele se transformou completamente num homem que eu não conhecia. A minha cabeça girava quando fui separada das minhas máquinas e colocada no banco de trás do carro dele, onde ele havia preparado uma cama para mim. Ele afivelou o meu cinto de segurança e fechou a porta. Puxei um cobertor de lã cinza sobre as pernas e olhei para ele enquanto ele se sentava ao volante. Nunca me senti tão segura em toda a minha vida. Então estávamos na estrada com as estrelas sendo as únicas coisas se movendo tão rapidamente quanto nós. Para onde estávamos, indo eu não sabia. Porque ele pensava que um hospital diferente seria melhor não fazia sentido para mim. .... Eu já estava num hospital melhor, por isso não estava perto da minha família em Toronto, e sim em Edmonton. Mas, não importava, se Christian tinha outra coisa em mente, eu confiava nele. O que aconteceu a seguir foi um borrão na minha mente. Nem me lembro de ter saído do carro. Lembro-me das paredes verdes e das luzes da sala de cirurgia forte meus olhos. Então, nada mais. Eu sabia que eles iriam me cortar e não sabia se iria acordar novamente. Procurei por Christian, mas não vi ninguém. Parecia não haver ninguém ali além do médico. Então a anestesia fez efeito e houve escuridão. Essa foi a minha última operação. Eu tinha outra cicatriz no centro do peito para adicionar à minha coleção, mas nunca mais fechei os olhos para um anestésico. A minha recuperação foi rápida, de acordo com os novos médicos do México quando acordei. Para minha surpresa, eu estava me recuperando num hospital particular num pequeno vilarejo no litoral e passava a maior parte dos dias relaxando na praia e bebendo algo gelado. Que tratamento esses médicos fizeram que os médicos de Edmonton não fizeram? Além das minhas cicatrizes, me sentia perfeita. Durante todo o tempo, Christian estava lá, lendo para mim e depois mergulhando na água para um alongamento rápido. Ele precisava de muitos alongamentos rápidos. Eu fiz perguntas à ele naquela época. O que aconteceu? Como fui curada? Ele sempre fingia que não me ouvia e se eu insistisse na pergunta, ele se afastava, prometendo voltar em breve. Eu estava fraca demais para persegui-lo e finalmente entendi que ele nunca me contaria o que aconteceu ou o que ele fez. No seu silêncio, finalmente compreendi que ele tinha feito algo impensável, possivelmente criminoso, algo que ele não acreditava que pudesse fazer para servir de fortaleza entre mim e a morte. Era um segredo. Ele olhava para mim do outro lado do quarto e eu podia sentir os segredos fervendo entre nós, segredos que tínhamos juntos e segredos que guardávamos um do outro. O meu segredo era o amor que sentia por ele, porque os meus sentimentos por ele tinham que ser enjaulados. Não poderíamos ser amantes. Ele era um homem dezoito anos mais velho que eu e havia se tornado o meu tutor legal. A realidade desse fato fez com que todos acreditassem que a nossa relação se assemelhava a pai e filha, mesmo que ele não fosse o meu pai biológico. Seria muito desagradável se as pessoas ao nosso redor percebessem o meu desejo febril. Tinha que ser escondido de todos: dele, do mundo e às vezes de mim mesmo. Sozinha, eu poderia reconhecer os meus verdadeiros sentimentos. Eu o amava completamente. Sonhava com o dia quando os segredos que existiam entre nós virariam pó e só restaríamos nós.
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