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Giullia em Génova

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"Realizar um sonho não é fácil. Se fosse, não seria um sonho. Sonho são as coisas que estão mais distantes de nós, que são raras, únicas e especiais. Mas, veja bem, não é impossível. Muitas vezes parecerá que é, mas garanto que isso não é verdade."

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01 // Culinária
"Muitas vezes do inesperado, nasce o que se espera uma vida inteira." Sempre acreditei que a vida era uma sequência de desafios e obstáculos. Que todos os dias alguns aparecem em nossas vidas, para nos mostrar o quão forte somos para passar por cada um deles e levar dali uma lição. Acredito que nem sempre estamos preparados para levar uma rasteira e que também nem sempre aprendemos e levamos o melhor dela conosco. Meus últimos dias em Potenza, como agora, desfrutando de uma gigante xícara de chocolate quente em frente a janela do quarto, olhando as pequenas gotículas de chuva escorrerem pela janela, me deixaram bastante pensativa sobre tudo que conquistei e passei até hoje e tudo que ainda pode acontecer. Estava ciente de que ao clicar naquele botão, me inscrevendo para o curso que sonhara por tantos anos, iria mudar a minha vida drasticamente. Sentia minha mão trémula, consequentemente fazendo com que o mouse se remexesse com a frequência da mesma. A pequena seta que aparecia na tela pousava sobre a opção "inscrever-se", porém meu dedo não me permitia clicar. Embora dois anos houvessem se passado desde que papai morrera, parte de mim havia ido embora com ele. Nós tínhamos uma relação de bastante afeto e troca enquanto estivera vivo. O que mais nos unia era a culinária. Papai era um homem bastante tradicional e amava me ensinar a cozinhar. Costumávamos dizer que Deus havia o enviado com o dom da culinária. Embora, mamãe também gostasse de cozinhar, papai normalmente assumia o lugar na cozinha. E fora nesses anos ao seu lado que comecei a enxergar a cozinha como a minha verdadeira paixão. Era como se cozinhar fosse o meu ponto de paz. Não importa como eu estava-me sentindo ou o que estivesse se passando, tudo se resolvia quando eu decidia ir para de trás do fogão. Infelizmente, nunca fomos de uma família rica ou mediana. Papai não ganhava muito trabalhando como chef em um restaurante da nossa cidade, mesmo porque nos últimos tempos o restaurante estava indo de m*l a pior. Mamãe trabalhava como costureira e seu salário já não era lá essas coisas. Sem falar que nos últimos anos os turistas m*l frequentavam nossa cidade, o turismo estava fraco. Por conta disso, também fora difícil manter os clientes fieis no restaurante, uma vez que era necessário inovar e o dono do local não estava muito contente em trocar os pratos. E quem sabe esse fora um dos principais motivos para que eu desejasse sair de Potenza. Queria poder levar meus "dons" que papai havia entregue para mim, para Gênova. Por conta disso, havia-me preparado e combinado com Valeria, minha prima mais próxima, que iria morar com ela por um tempo. Tomar essa decisão não fora fácil, deixar mamãe e Teresa era uma decisão difícil. Primeiro que parecia que eu estava as abandonando, quando na verdade minha tentativa era conseguir trazê-las comigo para Gênova. Não tínhamos familiares na cidade onde morávamos, lembro-me que nos mudamos quando ainda era pequena, talvez lá pelos quatro anos, por conta de papai ter conseguido esse trabalho de chef no restaurante, indo em busca de seu sonho. Mamãe nunca fora focada em algo, nunca havia objetivado trabalhar em algo. Talvez por ela, se papai ganhasse o suficiente, poderia ficar cuidando da casa e de nós duas, mas não teve essa opção. Precisou trabalhar desde que chegamos na cidade para que todas as contas fossem pagas e pudéssemos viver razoavelmente. Não conseguia me enxergar morando em Potenza e continuar vivendo ali. Não conseguia me imaginar crescendo profissionalmente. Os diversos programas de culinária que assisti me fez querer crescer, e para isso era necessário procurar uma cidade que tivesse mais para me dar, para me acrescentar. Então, quando Valerie comentou que estava precisando de ajuda para manter seu apartamento, já que os custos haviam aumentado, não pensei em duas vezes em aceitar a proposta de ir para Gênova. Das inúmeras pesquisas que havia realizado pela internet, todas as vezes informações positivas encantavam ainda meus olhos. Mesmo havendo pontos bons e ruins, para mim, os bons se sobressaiam mais. Muito mais vagas de empregos, principalmente em novos restaurante que haviam aberto por conta da procura. Muitos turistas chegavam a cidade todos os dias, de diversos lugares do mundo, atrás de desfrutar da culinária italiana. — Todas as suas malas estão prontas? — Mamãe perguntou ao colocar a cabeça para dentro de meu quarto. Analisei todo o meu quarto, certificando-me que as três malas grandes que estavam deitadas sobre o chão seriam suficientes para mim, afinal, não teria muito espaço no apartamento de Valerie para levar tanta coisa. — Acredito que peguei tudo que irei precisar inicialmente. — Conclui. — Esqueceu seus suéteres. — Comentou. — Estão terminando de secar na secadora, não os esqueça. Havia pegado muitos casacos, porém, mamãe sabia sobre o meu forte amor por suéteres, eu basicamente poderia falar que tenho uma coleção deles e que passei a fazer nos últimos dois anos. Era claro que, não tinha muito dinheiro para comprar, portanto, a minha "coleção" tratava-se de dez peças. Devo dizer que ter tido a conversa com mamãe sobre ir em busca dos meus sonhos, fora extremamente doloroso, e por mais que eu houvesse segurado o choro em sua frente para demonstrar força, passei mais de uma hora chorando no banho. Lembro-me exatamente que era noite de segunda-feira e ela havia chegado com uma bolsa de roupas para costurar em casa, assim, adiantar seu trabalho. Eu a ajudava a costurar com uma pequena agulha, tudo a mão, já que não tínhamos condições de comprar uma máquina para casa. Mamãe estava sentada em um canto do sofá e eu do outro. Teresa estava sentada no chão da sala, em cima do tapete como de costume. Enquanto nós duas costurávamos as roupas, a pequena brincava no chão com suas bonecas. — Sabe aquele curso que eu estava com vontade de fazer e cancelaram na cidade? — Perguntei para mamãe, iniciando o assunto que tanto eu havia negado a iniciar por medo. — Ah, o de culinária. — Mamãe falou ao lembrar-se. — Irão abrir novamente? — Não. — Neguei. — Na verdade, estava conversando com a Valerie e ela estava falando sobre as dificuldades que está para arcar com os custos do apartamento. — Comentei. Mamãe levantou os olhos para me encarar, ela já havia entendido o recado. — E em Gênova esse curso está disponível? — Mamãe perguntou, fingindo não ter me escutado falar sobre minha prima. — Exatamente, ele irá abrir uma nova turma para daqui dois meses. — Contei. Ouvi um longo suspiro antes de ela parar a costura e virar seu corpo direcionado a mim. — Você irá se mudar? Irá morar com sua prima? É isto que está querendo me dizer? Posso afirmar que meus olhos devem ter brilhado naquele momento e que eu tenha tido muita força para conseguir não chorar, uma vez que seus olhos estavam marejados. Naquela semana mamãe permaneceu um pouco distante de mim. Não entendia muito bem seus sentimentos, já que não conversava muito comigo a respeito deles, principalmente após a partida de papai. Mas mesmo distante, ela havia tido atitudes muito carinhosas e atenciosas naqueles dias. Como por exemplo, no terceiro dia após nossa conversa, ela havia pago a entrada do meu curso. Sabia o quão havia sido difícil ter juntado dinheiro para pagá-lo. Porém, eu só descobri isso quando duas semanas mais tarde, uma carta chegou em nossa casa com todas as informações e passo a passo do que deveria ser feito para que eu iniciasse meu curso. Seu coração era grandioso e esses pequenos gestos só me faziam ter ainda mais vontade de ir para Gênova. Precisava me arriscar. Precisava sair da minha zona de conforto. Não estava tomando aquela atitude somente por mim e pelo meu sonho, mas um dos principais motivos era conseguir levar mamãe e Teresa comigo. Uma das últimas conversas que tive com papai antes dele vir a falecer, fora sobre a minha vontade em aprender sobre culinária. Ele havia dito com todas as letras que estava bastante orgulhoso de mim e de que estava satisfeito por me ter ensinado a prática de cozinhar. Devo dizer que um dos meus maiores motivos para ter tanta vontade em me dedicar e desenvolver meu "dom", assim chamado por ele, era o quão aquilo havia nos aproximado. O quão nossos dias dentro da cozinha fizera bem para a nossa família, como aquilo nos fez permanecer unidos apesar de todas as dificuldades. Era possível enxergar amor em mamãe e papai mesmo após tantos anos. E era justamente na cozinha, quando papai esquecia de tudo a sua volta e se dedicava em nos ensinar o básico como o cozimento certo de um simples macarrão e olhar para mamãe e vê-la olhando-o com os olhos sorrindo. Mamãe sempre sorriu com os olhos. Sempre esboçou seu amor e seu encantamento com seu olhar. Não era preciso olhar para seus lábios para saber que estava feliz. Ela o amava. E talvez em algum momento da minha vida, eu quero que alguém me olhe daquela forma, eu ensinando nossos filhos sobre o ponto certo do macarrão e me amar por isso. De alguma forma os trabalhos deles haviam se refletido tanto em mim, quanto em Teresa. Ela adorava brincar com suas bonecas de estilista. Nisso, como mamãe sempre trazia restos de tecidos que não seriam mais utilizados em seu trabalho, dava tudo para que Teresa montasse os looks de suas bonecas. Gostaria de incentivá-la a se dedicar nesta função. Na maioria das vezes que parava para brincar com ela ou vê-la brincar, via seu empenho em criar as roupas. Iria chegar em Gênova exatamente duas semanas antes de começar o curso. A minha vontade era de ir antes, porém, mamãe precisava se organizar para encontrar algum lugar que pudesse deixar Teresa no momento em que estivesse trabalhando. Sabia que não seria somente eu a fazer sacrifícios. Apesar de ter morado em Gênova quando criança, minha memória havia sido destinada a lembrar apenas de momentos e lembranças afetivas. Em questões de localidades e pontos da cidade, não lembrava exatamente de nada. Vale lembrar, que durante esses vinte e um anos não havíamos retornado nem ao menos para fazer uma visita. Por conta disso, decidi pegar o primeiro mapa de Gênova disponível na rodoviária para me localizar melhor para quando chegasse a cidade. Infelizmente, essa viagem deveria levar praticamente dez horas de ônibus. Mamãe e Teresa haviam me acompanhado até lá para me ajudar com as malas e também para se despedirem. Era estranho olhar para as malas, e saber que somente eu estava partindo, que elas ficariam ali. Não era fácil saber que estariam tão longe e que seriam horas caso quisesse visitá-las. — Irei sentir muita falta de vocês duas. — Afirmei choramingando. — Prometo que irei fazer de tudo para conseguir levá-las novamente para Gênova. — Tenho certeza que irá conseguir encontrar seu lugar lá. — Mamãe falou enxugando as lágrimas. — Não quero que perca seu tempo pensando em nós duas, estaremos muito bem. — Afirmou. — Só volte para nos buscar. Balancei a cabeça positivamente, era o meu maior sonho. — Eu quero muito ir para Gênova com você, promete que vai nos buscar? — A voz de Tereza estava embargada, ela parecia muito machucada em me ver partir. — Prometo sim! — Prometi. — Amo muito vocês. Gostaria de ter mais lembranças da cidade, assim a minha preocupação em me perder seria menor. O ônibus iria fazer algumas paradas durante a viagem, na sua maioria para irmos ao banheiro, esticarmos as pernas e também para que possamos realizar nossas refeições. Porém, haviam explicado sobre o tempo que seria curto para que cuidássemos, para não alongarmos ainda mais a viagem. Imagino que com essas paradas provavelmente a duração da viagem seria maior. Para o trajeto, havia escolhido dois livros de receitas que papai guardava com ele para ler. Iria lê-los novamente para refrescar a memória, apesar de já tê-los completados inúmeras vezes. Pelo que havia visto sobre o curso, era uma aula por semana durante seis meses, isso significava que seriam 24 aulas ao todo. Parecia ser poucas aulas, porém, elas tinham duração de duas horas. Nelas, seria necessário levar sempre um caderno para anotações, era mais prática do que teórica, porém, ainda sim seria necessárias anotações. — Com licença moça. — Uma senhora pediu, ao sentar-se ao meu lado no banco. — Irei ser sua acompanhante nesta viagem, espero não incomodá-la. — Bom dia. — Saudei. — Não incomodará, tenho certeza. Continuei a folhear o livro de receita e passar meus olhos pelos ingredientes e modos de preparos. Com o canto dos olhos conseguia enxergar que a senhora estava de olho no meu livro e com isso, pensei em emprestar o outro que não estava lendo para ela. — A senhora gostaria de dar uma olhada? — Ofereci. — Ah querida, muito obrigada. — Agradeceu. — Em cinco minutos estarei morta de fome só de olhar. Sorri com seu comentário, o que mentalmente já havia pensado a minutos atrás. As lombrigas dentro das minhas barrigas já haviam atiçado faz tempo. — Nunca consegui preparar esse prato, acredita que sempre erro a quantidade da pimenta do reino? — A senhora ao meu lado se referia ao Cacio e Pepe, que nada mais é do que espaguete com queijo pecorino romano e pimenta do reino preta. Papai já havia me ensinado esse prato e já havia o feito algumas vezes. Porém, uma das diferenças é que gostava sempre de preparar algo novo, então, basicamente pegava um prato que já existia e colocava alguns ingredientes diferentes para torná-lo ainda mais especial. Este por exemplo, adorava cortar pequenos tomates, gratiná-los com a ajuda do maçarico e colocar algumas pitadas de ervas finas, que acabam por deixar um prato que antes era muito gorduroso, um pouco mais refrescante e dando também a sensação de leveza. — É um prato bastante gostoso se feito da maneira correta. — Comentei. — A senhora deve analisar a quantidade de macarrão e queijo que será feita, para quantas pessoas, e aí determinar a quantidade de pimenta, geralmente são algumas pitadas, pode ser que coloque aos poucos, vá mexendo e experimentando. Aos poucos fui conhecendo a doce senhora que estava ao meu lado, Anna, estava com seus sessenta e seis anos e morava em Gênova há mais de cinquenta anos. Havia ido visitar sua irmã em Potenza. Seu marido não havia a acompanhado dessa vez, porque tinham um pequeno hotel na cidade e naqueles dias não poderia sair. As horas foram se passando e durante as mesmas, aproveitara para dar diversas dicas de como cozinhar vários pratos que estavam nos livros para dona Anna. Ela me parecia bastante animada com as minhas dicas e prometeu que assim que conseguisse prepará-las, iria me ligar para que eu realizasse uma refeição com ela e seu marido.

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