Giullia em Génova

02 // Encontro

"Muitas vezes do inesperado,

nasce o que se espera uma vida inteira."

Ao caminhar pelas ruas de Gênova, com meu mapa em mãos, tentando encontrar rapidamente as ruas que eu deveria seguir caminhando até chegar ao apartamento onde Valerie morava, tropecei em uma lajota da calçada que estava solta e fui de encontro ao chão.

Senti mãos tocarem meus braços, servindo de apoio para que assim eu me levantasse, sentindo meus joelhos doerem por conta do impacto. Ao levantar minha cabeça para agradecer quem me havia ajudado, encontrei belos pares de olhos castanhos me encarando com preocupação.

— Eu sou muito desastrada mesmo. — Reclamei ao olhar para os meus joelhos ralados. — Muito obrigada moço.

— Você está bem? — Perguntou ele ao olhar minhas malas caídas ao lado.

— Figurati! Só estou um pouco arrependida de não ter pegado um táxi até o apartamento da minha prima e ter escolhido ir andando. — Expliquei, verificando que tudo estava em ordem.

— Quer uma carona? — Perguntou ao apontar seu carro estacionado na rua.

Ele era um estranho. Eu estava em uma cidade que basicamente não conhecia nada e poderia vir a me prejudicar ainda mais aceitando aquela carona. Sem falar que pelo mapa, eu estaria a poucos minutos do apartamento, se estivesse fazendo o caminho correto. Maldita hora que a internet do meu celular não estava funcionando.

— Agradeço a ajuda, porém não será necessário. — Agradeci. — Se meu mapa estiver certo, é logo ali em frente.

— Addio. — Falou acenando enquanto se distanciava.

Agradeci mentalmente enquanto caminhava pela calçada, por ter adquirido aquele kit de malas por um preço bacana e principalmente por duas delas se encaixarem, fazendo assim ficar um pouco menos difícil de arrastá-las pelas ruas.

Assim que cheguei no pequeno prédio do endereço que Valerie havia me passado, sorri aliviada por ter chegado no meu novo lar. O pequeno prédio parecia uma casa, só que de três andares. Fora pintado com um tom pastel de laranja, que me parecia estar desbotando.

A porta por onde entrava estava trancada, como imaginei. Não havia interfone disponível. Olhei novamente para meu celular, na tentativa de encontrar algum sinal de internet que fosse suficiente para chamar por Valerie.

"Sono arrivato!"

Em questões de segundos uma cabeça apareceu na janela do terceiro andar, fazendo com que um sorriso se iluminasse assim que Valerie me viu.

— Estou descendo. Aspettare! — Pediu.

Nos abraçamos no instante em que ela abriu a porta. Como eu sentia falta de ter meus parentes por perto, principalmente alguém que eu gostava tanto.

Fazia 21 anos que eu não me encontrava com Valerie. Minhas lembranças eram somente da nossa curta infância juntas.

Por ser um apartamento em cada andar, ele até que não era pequeno como havia dito. Seria bastante confortável para duas pessoas dividirem.

— Este será o seu quarto, espero que seja o suficiente por enquanto. — Falou ao abrir a porta.

Não era um cômodo grande, mas talvez alguns metros maior que o quarto que tinha em minha casa. Por sorte, já havia uma cama de casal no centro dela, com uma enorme janela que alcançava a cabeceira da cama. Do lado esquerdo uma peça integrada a parede que provavelmente seria o armário onde deixaria minhas roupas.

— É perfeito para mim. — Afirmei sorridente.

Enquanto conversávamos sobre a cidade, Valerie me ajudou a retirar as roupas das malas e organizar no armário. Pelo que havia reparado, tudo que eu havia trazido comigo caberia ali.

— Você não irá acreditar! — Falou animada. — Tem um restaurante bacana na cidade que estava contratando um sub chef há duas semanas atrás, não sei se já encontraram.

Meus olhos brilharam ao ouvir seu comentário. Meu coração imediatamente rezou para que a vaga não houvesse sido preenchida. Precisava encontrar um emprego para conseguir pagar o apartamento e também a mensalidade do meu curso.

Valerie me explicou um pouco sobre o restaurante, que já havia ido jantar uma noite com algumas amigas e que parecia super refinado. Contou em detalhes sobre o prato que havia experimentado e principalmente da organização do local.

Minha prima iria sair para trabalhar e eu ficaria no apartamento para descansar da cansativa viagem. Segundo o que me havia me contado por mensagem, ela trabalhava em uma empresa de desenvolvimento de tecnologia. Sempre fora apaixonada desde pequena por tecnologia e seus desenvolvimentos, por sorte havia conseguido fazer uma faculdade sobre e agora um emprego na área.

Procurei na última mala que já estava praticamente toda desfeita, pelo meu roupão de banho e também uma toalha, agora aproveitaria o momento sozinha para tomar banho.

No banho, decidi que iria tentar afastar meus pensamentos de mamãe e Teresa por alguns momentos, uma vez que meu coração ficava apertado toda vez que lembrava delas.

Como o clima estava seco e frio, escolhi um dos meus suéteres para me aquecer naquele fim de tarde, enquanto escolhia as roupas que iria utilizar no outro dia para buscar pela minha vaga de emprego. Claramente, ali as pessoas utilizavam roupas bastantes parecidas, acredito que minha aparência não seria um problema para a minha aceitação na possível vaga.

A vida passa como um sopro. Não temos a noção de que a qualquer momento tudo pode acabar, simplesmente não estamos preparados para o fim.

Lembro-me de algumas vezes ter pedido para papai fazer um check-up completo, já que fazia tanto tempo que ele não frequentava um médico, mas de nada adiantava meus pedidos. Suas desculpas eram as mesmas de sempre: não tinha tempo, muito menos dinheiro sobrando para isso.

Fazia alguns meses que eu estava tentando de alguma forma guardar um pouco de dinheiro para dar a ele, para isso, mas quem sabe eu devesse ter começado antes a guardar, não houvera tempo.

Lembro-me de ser o último dia da semana, quando cheguei em casa após cuidar da filha de uma conhecida da mamãe que morava uma rua ao lado da nossa, e o semblante de mamãe estar triste. As olheiras estavam inchadas e escuras embaixo de seus olhos. O rosto inchado da mesma forma, indicando que ela havia chorado por muito tempo.

Algumas expressões/palavras/frases utilizadas na história e seus significados:

Figurati= Não se preocupe

Addio= adeus

Sono arrivato= cheguei

Aspettare= espere