O segredo esquecido

— Como pode ser tão lindo? — O que disse Betina? Eu tive que sair dos meus devaneios, no auge dos meus quinze anos, tudo o que eu podia fazer era admirar a beleza de Théo ao longe. Ele é o garoto perfeito, na verdade, um homem, pois ele já tem vinte anos e não olha para mim, ele simplesmente ignora a minha existência, ou insulta-me, quebrando um pedaço do meu coração a cada vez, é como se eu não existisse no mundo perfeito e rico de Théo Brás. Saí do meu transe e disse ao meu irmão: — Eu estava apenas sonhando irmão. — E posso saber com quem? Bernardo lançou-me um olhar fulminante deixando transparecer todo o ciúme que ele sente de mim, com qualquer outra pessoa do s**o oposto. Eu apenas sorri e disse: — Com o dia em que irei à universidade, como você querido irmão. Eu tornava-me uma perita em mascarar os meus sentimentos, ainda mais por alguém tão inacessível quanto Théo, não só pela riqueza, o meu irmão nunca permitiria que eu me aproximasse do melhor amigo dele. Bernardo sempre me diz que Théo é s****o e que eu devo manter distância dele. m*l sabe ele, que se eu pudesse passaria cada segundo da vida ao lado desse cafajeste. Bernardo bagunçou o meu cabelo, como ele fazia quando eu era criança, Théo escolheu esse exato momento para se aproximar, o que fez as minhas bochechas ficarem vermelhas de vergonha. — Ainda perdendo tempo com essa pirralha? Você vem, ou não? Théo levantou a chave do Porsche, ele havia ganhado esse carro dos pais quando completou dezoito anos e agora que não estava mais interessado no carro, como quando ele o ganhou, deixava Bernardo dirigir. Bernardo bagunçou novamente os meus cabelos, deu-me um sorriso e seguiu Théo, apenas disse: — Até mais maninha. Théo já abria a porta do carro, ignorando-me completamente, eu senti-me mais uma vez humilhada pela atitude dele. Me perguntando, por que o amor tem que doer tanto. Não conseguindo conter as lágrimas, fui para casa, refugiar-me no meu quarto. A gente mora numa casa nos fundos da mansão Brás, é confortável, mas Bernardo diz que é humilhante, nós não termos nem uma casa para morar, nesse momento bem que eu queria, pois não precisaria ver a cara de Théo mais uma vez, talvez eu nem o conhecesse e não teria feito a burrice de me apaixonar. Porém, diferente do que pensei, a minha casa não estava vazia, mamãe estava ali e eu não consegui esconder dela que eu chorava, assim que ela me viu, veio até mim e me deu um abraço, eu realmente agradeço a Deus por ter uma mãe tão compreensiva. Hoje eu vejo, o quanto fui ridícula naquela época, mas tudo era tão intenso, os sentimentos e a maneira como eu os sentia. Quando eu estava mais calma mamãe perguntou: — Já consegue dizer-me o motivo desse choro? Eu olhei para minhas mãos e percebi que não teria coragem para dizer. — Não foi nada mamãe, eu apenas estou triste porque Bernardo vai ter que voltar para a faculdade amanhã. Mamãe riu e balançou a cabeça e disse: — O seu irmão, ou o Théo? A minha boca caiu no chão, eu não imaginava que a minha mãe tinha percebido, achei que conseguia esconder bem. — Eu... eu não... Mamãe sorriu e acariciou o meu rosto: — Não se preocupe querida, você disfarça muito bem, mas sou a sua mãe, eu conheço-te. Além disso, o Théo é um rapaz muito bonito e leva uma vida invejável. Mas, eu devo lembrar-te, não pode acontecer. Você vai conhecer outros garotos e vai amar um deles, vai casar-se, ter filhos e o Théo, vai ser apenas uma lembrança boa. Depois que me acalmei, mamãe voltou ao trabalho e eu fiquei no meu quarto ouvindo músicas. Eu não conseguia deixar de pensar nas palavras da minha mãe e não conseguia dormir, já era tarde. Então, resolvi fazer um passeio pelo jardim da mansão, ali era lindo de noite e eu não conseguia dormir mesmo. Aquele era o horário ideal, pois, não teria que arriscar enfrentar os olhares mortais da Sra. Estela Brás, a mãe de Théo. Se havia um benefício de nunca poder relacionar-me com ele, era o fato de não ter aquela mulher como sogra. Eu andava distraída, até que decidi entrar no labirinto de arbustos que havia ali. Dá para ter uma noção de como o lugar é grande, mas, não há perigo de me perder, conheço todos esses caminhos. Porém, quando entrei, senti-me observada, o meu coração apertou-se, quem poderia estar ali? Apertei o passo, enquanto o meu passo acelerou, eu fiquei com a respiração ofegante. Quando ouvi os passos, não tive outra atitude que correr, tentei olhar para trás e bati em alguma coisa, caindo no chão. Nesse momento ouvi uma risada que eu reconheceria em qualquer lugar, era Théo, ele estendeu a mão para me ajudar a levantar, enquanto disse: — Você é tão medrosa pirralha. Este é o lugar mais seguro da cidade, ou será que você tem medo de almas penadas? Indignada levantei-me e dei um empurrão em Théo, que infelizmente não fez muito efeito, então tentei andar, mas ele puxou-me. — Ei pirralha, solte as suas garras, diz alguma coisa. — Vai se f***r, Théo. — Era isso que eu queria ouvir, quem sabe assim você esquece essa paixão incubada que tem por mim. Eu estava tão furiosa, além disso, ele só me irritava ainda mais com aquelas palavras. — Eu não sinto nada por você, eu odeio-te, seu bêbado. Dava para sentir o cheiro de bebida ao longe e ao pensar nessa situação agora, vejo que corri um sério risco ao ficar a insultar um bêbado. Eu tentei empurrar Théo novamente, mas ele segurou-me e num instante estávamos os dois no chão. Perdi as palavras, nunca imaginei estar tão perto do meu amor. — Espere-me pirralha, um dia nos casaremos. Me desvencilhei e saí correndo dali.