PRÓLOGO

933 Words
EPÍGRAFE “O acaso é o maior romancista do mundo”. Honoré de Balzac PRÓLOGO JAMES MOORE Nascer em uma família de crédulos no destino, em Deus ou seja o que for sempre fez a minha acreditar que poderia traçar o destino dos seus da forma que bem entendessem. Os Moore são reconhecidos nacionalmente como os magos da medicina, os pioneiros e maiores desbravadores da ciência. Meus pais ficaram ricos com a cirurgia e acreditavam que eu poderia, sem questionar, herdar o seu legado. Por que as pessoas ricas insistem nessa joça de legado eu não consigo entender, mas eles jamais se entregaram à liberdade do caos. Eu fui na contramão e praticamente contra a minha existência quando decidi que seria qualquer coisa que não fosse médico. Não gosto de hospitais, detesto o metódico da sala de cirurgia e o quão repetitivo tudo aquilo às vezes pode ser. Gosto do sabor do frenesi de encarar um desafio árduo, de estar em mil lugares ao mesmo tempo e de ser necessário. E me tornar mais um gênio médico da família Moore, não me daria isso. Seria apenas mais um. Foi no direito, como advogado, que encontrei minha caixa de pandora. Tornei-me acelerado, sem hora para dormir, com hora para despertar. Meu trabalho se resume a desfazer nós impossíveis e solucionar o insolucionável. Trabalhei em diversas empresas e com muitos clientes até Damon Fox, meu melhor amigo, chamar-me para ajudá-lo na empresa de sua família. Ele queria a mesma independência que eu tive, mas seu avô sempre foi um tanto quanto mais… severo que minha própria família. Ele jogava com todas as cartas e não aceitava um não como resposta. Para homens como Edmund ou como meu próprio pai, Bernard Moore, a elegância do destino que eles mesmos traçam é muito mais poética que o improviso do acaso. Eles se sentam em seus tronos e tecem nossas vidas como as Moiras o faziam na mitologia grega. Elas teciam o fio da vida, escolhiam onde pôr os nós, onde desfazê-los e, por fim, quando cortá-los. Eles se sentem deuses que predestinam os seus. Mas, moiras, deuses e homens apegados aos seus legados não tem força quando o susto chega como resultado das nossas escolhas e bom ou m*l uso do livre arbítrio. Se eu pensar bem, Damon e Maia estão juntos, não pelo destino, mas pela aleatoriedade de terem feito as escolhas que fizeram. Não há como prever que, em um mundo normal e com escolhas óbvias, eles se encontrariam. O destino acabaria com eles e nada do que conhecemos existiria. A vida não é um jogo de destino, senão de improviso bruto com todas as suas matizes, sentidos e falta de sentidos. É uma escolha impensada ou uma sucessão de escolhas impensadas que a torna prazerosa de ser vivida. Minha família não pode usar um suposto destino quando eu decidi lançar-me à sorte. Mas eu mesmo não soube ligdr com ela quando, sem pensar e sem atinar sobre as consequências das minhas escolhas improvisadas, terminei casado em uma madrugada qualquer com a mexicana mais louca que já atravessou o meu caminho. Alejandra Mondego é o sinônimo do caos particular que viveu sob meu teto. Ela, sua colher de p*u ameaçadora e seus olhos quentes que me julgam até mesmo por uma respiração errada. Um furacão que desbravou absolutamente cada rincão da minha vida. Cada espaço, sem deixar nada que ficasse vazio e disponível. Com toda a certeza do mundo, as Moiras gregas não colocariam um advogado Angelino ao lado de uma mulher de Guerrero, no México. E, se eu tivesse permitido que o destino fosse o autor dos meus dias, eu jamais a teria desposado. Aquela madrugada voa em minha memória, Alejandra perfeita como uma sereia, nós dois perdidos, testemunhas exóticas e uma celebrante enlouquecida que nos casava como se fossemos os maiores amantes do mundo. No sentido literal da palavra, nós éramos. Devorei e me saciei de cada parte da sua pele morena enquanto eu pude, mais uma das dezenas de atitudes impensadas até aqui. Nos casamos por depositarmos nossas vidas ao acaso, pois não somos um casal que se uniu pelo amor e muito menos o casamento era a única alternativa para resolvermos nossos problemas. Era apenas o caminho mais fácil para ambos. Usamos o casamento em si com outros objetivos. Sim, nos convencemos arduamente que o casamento é apenas um meio para um fim, não sendo ele o objetivo principal naquela noite. Nos casamos pelo acaso, pela sorte de resolvermos problemas, mas jamais pela finalidade precípua pela qual ele foi criado. Não foi amor. Mas nenhum caos pareceu ser o bastante do que esse que eu vivo hoje. Reviro-me na cama mais uma vez tentando compreender quando Pandora abriu sua caixa e derramou sobre mim suas tragédias. Por mais que eu pense, não compreendo porque Alejandra simplesmente se foi, sem nada dizer, sem um adeus… Ela só foi. Não me lembro de ter feito algo contra ela e, por alguns momentos, achei que estávamos bem. Mas a feiura do jogo aleatório da vida é que nem sempre o dado cai no número que a gente quer. Foi quando Deus jogou esses dados que eu descobri exatamente o que eu precisava e não podia mais ter. Eu me apaixonei pela sereia de língua solta e fui atraído como um marinheiro pelo seu canto. Mas ela se foi mar adentro e agora navego águas desconhecidas em sua busca, temendo encontrá-la em zonas perigosas e imersa definitivamente nos segredos que sempre soube existir nos seus olhos. — Eu vou encontrar você, Sereia. Eu juro.
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