A CONTRATADA DO CEO

A noite chegou silenciosa e imperceptível aos meus sentidos, inebriados por cada gota que bebo tentando não sentir essa dor que me aflige e a perda que me desola. A luz da lua parece me acusar com as memórias de noites densas em que sua chegada era bem vinda quando me trazia a mulher mais imprevisivelmente linda que eu já tive a sorte de conhecer. A noite me acusa por ter perdido a chance de tocá-la como a última vez, de sentir o sabor de sua pele e o aroma dos seus cabelos, enquanto nos tornávamos uma confusão de corpos e amor. Minha mente enganosa me transporta para algum lugar em que eu não a perdi, em algum pôr do sol em que a apreciei e naquele momento único em que senti meu coração transbordar de um sentimento estranho, que eu nunca tinha sentido. Encaro os olhos fechados de Maia, as nuances do seu rosto se modificando enquanto sente a suave brisa tocar a sua pele, inebriada pelo aroma floral da imensa plantação de lavanda. Eu sei que estou apenas sonhando, talvez lembrando, mas ainda assim presto toda a atenção, como se jamais fosse vê-la novamente.  Temendo perder a mínima chance de vê-la, ainda que em meu pensamento. Por alguns segundos, ela parece me ignorar e degustar a beleza do momento sozinha. As mãos tocam suavemente cada pétala e o riso se abre lentamente, como se fosse o êxtase da sua vida. Um incômodo aperta meu peito e eu não o compreendo. Meus olhos parecem ter perdido a capacidade de piscar, temendo perder qualquer detalhe. Minha boca seca parece se recordar da suavidade da pele e minhas mãos queimam querendo tocá-la e absorver talvez apenas um pouco desse momento. Eu me lembro com perfeição a primeira vez que a vi e me amaldiçoo por cada passo errado que dei desde então. O homem que a conheceu não entendia a relevância do momento.  Não compreendeu como era único cada segundo de ações impensadas e quão magnífico seria poder sentir isso todos os dias. O vestido floral segue o ritmo da brisa e posso ouvir a sineta de sua ridícula, porém linda, bicicleta. Os estilhaços dos vasos que ela quebrou me parecem agora, poéticos. Sua voz aguda, quando mentia ou o nariz arrebitado quando me enfrentava, me causam dores.  Saudade.  Vejo quando meus olhos estão fechados e minha mente fantasiando todo o resto. Não há campo de flores ou seus olhos fechados provando a brisa. Não há nada, além de mim mesmo e uma garrafa de alguma bebida que já não sei decifrar no meu apartamento que já viu dias melhores. Meu celular descarregou quando tentei ligar para o seu número, que já sei de cor, pela milésima vez.  Eu poderia ter feito e dito tudo. Eu poderia fazer o que tinha que ser feito. Mas jamais deveria ter cogitado que ela era vil como todos os outros. Sua natureza é pura demais para isso e se há nela alguma mancha provavelmente eu quem a maculou.  —Maia, onde está você agora?  É o que lembro de ter dito, antes de tudo se resumir ao completo caos e escuridão.