DAMON FOX
O som alto do toque do meu celular me deixa com uma ligeira vontade de jogá-lo pela sacada do hotel, tamanha a minha ressaca.
Não sei em que momento entre minha noitada e agora eu adormeci, mas lembro-me da morena selvagem que levou ao inferno por horas. Meu braço dormente indica que ela ainda está ali e sinto seu movimento rápido para atender o meu celular.
Uma noite e ela acha que pode atender o meu celular? É sério?
Levanto de supetão e agarro o aparelho, assustando-a. Resmungo algo e, ainda nu, vou para a varanda atender.
Que maravilha! Meu avô.
— Damon, onde você está?
— Sabe que é sábado, não é, senhor Fox? — Ironizo.
— Dia em que os espanhóis virão para conhecer a nossa nova linha de motores. Rapaz, você esqueceu sua função na empresa?
— CEO único e absoluto. Não é necessário que me ensine meu trabalho. Remarcamos para a próxima segunda, pois é aniversário da filha de um deles. Acho que seus espiões da empresa esqueceram-se desse detalhe.
Reclamo, pois posso ser um bom vivant, mas sou absolutamente competente no meu trabalho na Fox & Co. Praticamente movimento a economia automobilística e gerei mais lucro nesses dois anos do que meu avô já viu. Mas para Edmund Fox, isso nunca basta.
Ele quer a família tradicional, perfeita e que é ostentada como símbolo da perfeição nas colunas sociais. Não acho que os negócios devam ser vinculados ao prazer e sei que posso ser um filho da mãe sortudo com as mulheres, mas nenhuma delas desvia o meu talento nos negócios.
Nossa família nunca soube alinhar os negócios com sua existência feliz. Literalmente, se aplica a nós o ditado: sorte no jogo, azar no amor. Mas, ao invés de tentar como minha mãe e avó tentaram, apenas segui o fluxo que meu pai e avô ensinaram: Sorte no jogo e nada mais. Faça o que tem que fazer.
E é justamente isso que eu tenho tentado com os espanhóis, ter sorte na empresa, enquanto minha vida pessoal se resume a excelentes fodas ocasionais. Contudo, devo reconhecer que os Espanhóis são difíceis. Absolutamente difíceis de lidar, pois são extremamente conservadores e o meu avô sabe disso.
Pontualidade e boa família são sinais inequívocos de que um homem sabe gerir seu dinheiro. A lógica? Não sei, pois comigo o inverso sempre deu certo.
A questão é: Preciso convencê-los a fechar negócio conosco, pois a Fórmula 1 é o auge no qual podemos chegar. É ir além dos carros esportivos e modelos multimilionários que fabricamos. Faremos história.
Para isso, preciso apenas aparentar ser um lobo solitário que ainda não achou a mulher da sua vida. Se Miguel Hidalgo acreditar nisso, confiará que sou apenas prudente em me casar com quem eu tenho certeza. Alguém assim é confiável para assinar um contrato bilionário. Eu espero que sim.
Meu avô segue resmungando do outro lado da linha, enquanto divago sobre quão promissor é o contrato que ora debatemos.
— Não, não esqueceram. Ele nos convidou para o aniversário da filha e, já aviso, sabe que está solteiro.
— É o que? — Eu aqui pensando em como convencer que sou um paciente homem de família a espera da mulher perfeita, enquanto sou oferecido em uma bandeja pelo meu avô. De repente o século passado nunca pareceu tão próximo.
— Menino t**o! Isobel Hidalgo é uma socialite valiosa e solteira. E pareceu disposta, quando mencionamos você.
— Vô, eu vou fingir que você não está orquestrando um relacionamento arranjado para mim.
— Sabe que as empresas Miller irão conseguir esse contrato e despontar como os melhores do país, se você fizer besteira. Os Fox não podem perder para os Miller. Não enquanto eu ainda estou vivo.
— Impossível. Nosso produto é superior ao deles e, me desculpe, mas acho que esqueceu que eu estou no comando agora.
— Adam Miller está noivo. Veja hoje a noite a diferença com o qual será tratado e me diga se não tenho razão.
— Eu vou conseguir esse contrato.
— Faça o que tiver que fazer.
— Como sempre!
Uma coisa sobre os Fox é que somos implacáveis nos negócios. Meus pais se divorciaram por isso, antes do meu pai falecer e minha avó Sophia Fox sempre discutia com meu avô. Seu dia de paz foi quando ele finalmente se aposentou e me deixou como CEO.
Mas ele segue se metendo e parece me desafiar agora a não perder esse contrato. Faça o que tem que fazer, significa faça tudo, não importa os meios. Essa sempre foi a abordagem dele e não chegamos aqui à toa.
Desligo o telefone e visto minha roupa, deixando o quarto pago, com um bom café da manhã para a morena. Ela voltou a dormir e agradeço por isso.
É terrível quando querem uma segunda vez.
Saio no meu carro esportivo e ganho as ruas da cidade de Los Angeles, pronto para criar uma estratégia que me faça obter o que eu quero e me livre de me ver obrigado a uma união com a tal Isobel.
Faço uma chamada, assim que o sinal de trânsito fica vermelho.
— James, conseguiu as informações sobre os Hidalgo? — Peço ao meu amigo e advogado da empresa.
— Nada que possa te ajudar.
— Preciso estar à frente do Adam Miller. Somos melhores, qualquer i*****l sabe disso, mas ao que parece ele conseguiu queimar a largada por colocar um anel no dedo de alguma azarada.
— Sermos melhores não importa para Hidalgo. Simplesmente não importa. Você entende isso e não quer aceitar.
— O que sugere então?
— Você não vai gostar.
Realmente, odiei. Assim que estou cara a cara com ele, que se controla para não rir, enquanto eu questionava a sua sanidade.
— Uma noiva? Você quer que eu encontre uma noiva, para fugir de um noivado?
— Exatamente.
— Você se escuta? Irmão, sempre soube que te faltava alguma sanidade, mas não me obrigue apelar para uma iminente interação em sanatório.
— Você está tão desesperado que não raciocina, Damon. Uma noiva de mentira. Uma mulher que será sua noiva, a qual você não precisa jurar amor eterno, entendeu?
— E onde magicamente se encontra uma mulher disposta a uma loucura dessa? Sabe, elas não saem por aí caindo no nosso colo.
— Temos sua secretária?
— Meu avô a conhece. Gata, porém seria suspeito e sabe que ele iria preferir um casamento de verdade com uma herdeira, do que um casamento falso com alguém que trabalha para mim.
— Lauren.
— Lauren? Aquela Lauren?
— Isso, loira, alta, socialite e louca por você.
— Nem mesmo minha prima que, em tese, é sua grande amiga a tolera mais. A mulher tem fixação em mim, sabe o problema que isso causaria?
— Bem, essas são as opções mais razoáveis que eu pensei. A lista é imensa, mas certamente todas elas te causariam problemas ainda maiores do que a própria Lauren.
— De toda Los Angeles sobrou apenas Lauren. Isso é impossível.
— Posso ligar para ela e dizer que você precisa vê-la na segunda. Se por algum motivo você não tiver uma ideia mais genial, ela te ajudará de bom grado. Caso contrário, restam duas opções.
— Noivar com Isobel Hidalgo e me amarrar para sempre em razão de um contrato de negócio bilionário que está afetando minha vida pessoal.
— Ou achar alguma mulher doida o bastante para te ajudar.
A simples ideia fictícia de ter uma noiva me assombra. Lembro-me dos gritos, das brigas e dos poucos momentos de sossego que tínhamos quando meu pai era vivo e da absoluta paz que se instaurou quando ele se foi.
Minha mãe queria ser amada e meu pai o sucesso. Casou-se com ela por seu sobrenome e nunca fez questão de esconder isso e apesar de tudo ela fez o que pode para sustentar aquela coisa esquisita que eles chamavam casamento. Minha avó tentou ajudá-la o quanto pode, mas ela mesma sobrevivia.
Minha mãe viveu o seu luto e logo depois foi buscar a sua própria felicidade. De tempos em tempos tenta convencer-me a ser mais eu mesmo e menos um Fox, mas não consegue perceber que isso é impossível. Está na minha essência a voracidade negocial, a ambição e a vontade de sempre querer e alcançar mais.
Isso é o que me deixa feliz e a ameaça hipotética ao meu modo de felicidade não me parece a coisa mais genial da semana. Aliás, só conseguiria seguir esse plano i****a de James se fosse um contrato eminentemente comercial, o que torna impossível envolver Lauren.
Mas qual doida aceitaria algo assim, sem confundir as coisas? Mulheres assim a gente não costuma esbarrar por aí.