Capítulo 02

1460 Words
            Este domingo seria longo e produtivo. De início precisaria acordar cedo para ir até a casa de minha tia buscar o presente da Duda, que havia encomendado há alguns dias. Minha tia trabalhava com bordados, o que ela mais costumava vender era em almofadas, que era o caso da minha encomenda. Por mais simples e clichê que pudesse ser, esse era o presente que minha melhor amiga havia escolhido e era claro que eu a presentearia da sua forma preferida. — Você poderia me levar para buscarmos o presente da Duda? — Perguntei para mamãe que estava sentada ao meu lado na mesa do café. — Claro. — Respondeusorridente. — Poderíamos aproveitar para almoçarmos fora nós três. Papai parece ter ficado animado com a sugestão, o que era mais uma atitude estranha vindo de ambos. Era como se eles estivessem a ponto de aprontar alguma coisa. — Oque aconteceu? — Perguntei para o meu pai pela quinta vez enquanto almoçávamos. — Nada. — Respondeudando de ombros. — Só consegui um sócio para a empresa. — Um sócio que conseguirá investir bastante. — Mamãe completou. Era claro que sua felicidade era duvidosa, sempre estaria relacionada ao seu trabalho. Isso murchou um pouco minhas expectativas de que eles apenas estariam animados por estarem passando um pouco de tempo comigo. Acredito que seu trabalho era seu maior amor. — Soube também que ele têm um filho da sua idade. — Contou. — Você deveria conhece-lo. — Mamãe sugeriu. Olhei surpresa para o que ambos estavam querendo dizer mesmo que indiretamente. — Vocês estão querendo jogá-lo para cima de mim? — Perguntei um tanto com raiva. — Claro que não. — Papai tentou desconversar. — Vocês poderiam ser amigos. O tom que ele utilizara, a forma como dissera as palavras, como me encaravam com expectativas, era nítido que suas vontades eram outras. Eles queriam que de alguma forma eu tivesse algo com o tal menino. Provavelmente isso viria a beneficiá-los mais ainda. Fazia parte da minha rotina adentrar o closet exagerado que mamãe havia mandado fazer para mim, e não encontrar nada que me chamasse atenção. Era como se eu já tivesse utilizado tudo tantas vezes que não me dava vontade de vestir nada. Como a festa seria durante à noite e haveria música, a melhor opção seria optar por um look mais curto por conta do calor e da flexibilidade. Optei por uma blusa preta de alcinha com vários girassóis em volta — Uma das minhas preferidas por sinal — e meu shorts jeans novo que havia ganhado de mamãe há um mês. A minha primeira opção de calçado era sempre o mesmo: alto, todo preto e fechado. — Já está indo? — Papai perguntou assim que me viu pisar no último degrau da escada. — Sim, por que? — Perguntei curiosa. — Seria muito legal se você conseguisse vir mais cedo para casa hoje. — Respondeunervoso. — Nossos sócios irão vir jantar aqui esta noite e gostaria que você conseguisse chegar pelo menos para a sobremesa. — Vou ver o que posso fazer. — Afirmei. Antes de sair com um ponto de má vontade depositei um beijo na testa de ambos. Meus pais sabiam que eu não gostava de misturar seus trabalhos com a minha vida pessoal e estava mais do que na cara que queriam me apresentar para o filho de seu mais novo sócio. Lá estava eu, parada em frente à casa de Duda com uma mediana embalagem de presente em mãos, o suficiente para chamar a atenção de várias pessoas que estavam por ali. A música estava alta, como se com sua pressão pudesse fazer com que o chão tremesse. — LAAÍS! — Maria Eduarda gritou assim que me viu. — Feliz aniversário amiga. — Falei abraçando—a. — Você trouxe a minha almofada. — Falou animada apertando a embalagem contra seu corpo. — Não aguentava mais você falando disso. — Brinquei revirando os olhos. Ela me mostrou como havia "decorado" os cômodos da sua casa e a quantidade de gente que havia ali. A maior parte do pessoal era do colégio, e se concentravam no quintal onde havia a piscina. Assim que meus olhos encontraram os de Arthur que bebericava sua bebida em um canto com outros meninos, fez questão de demonstrar o menosprezo que havia por mim. — Amiga, o Arthur não para de olhar para você. — Duda falou com o olhar malicioso de sempre. — Deve estar tentando me acertar com sua visão de raio lazer. — Brinquei. — Será que ele gosta de você? — Perguntou de forma provocativa. — Nós nos odiamos, é reciproco. — Respondi como se fosse óbvio. Maria Eduarda continuou com suas brincadeiras com segundas intenções, o que me deixava bastante sem graça apesar de já ser acostumada com elas. Sentei em uma banqueta ao lado do balcão da churrasqueira enquanto Duda conversava com os outros convidados, na presença apenas da minha amiga garrafa de Smirnoff. Estava sozinha quando notei a presença de alguém ali. Com o canto dos olhos, tentando disfarçar, me dei conta de que se tratava de um menino — que eu nunca havia visto até então —, era alto e loiro, seus olhos chamavam muita atenção apesar de serem castanhos. — Sozinha? — Perguntou. — Mais ou menos. — Respondi. — Duda foi conversar com os outros convidados. — São amigas? — Perguntou curioso. — Melhores amigas. — Sempre faço questão de frisar que sou a melhor amiga dela, principalmente nessas festas. Ele passou os olhos pela multidão que estava na festa como se procurasse por alguém. — Posso me sentar? — Perguntou apontando para a banqueta ao meu lado que até então estava vazia. — Claro. — Concordei. — Desculpa, nem me apresentei. — Desculpou-se. — Me chamo Leonardo. — Apresentou-se esticando a mão em minha direção para que eu a apertasse. — Ah, Laís. — Apresentei-me apertando a mesma. Nós começamos uma conversa aleatória, onde a possibilidade de vários assuntos era constante. Era algo como falar de comida e de repente já estávamos falando de viagens, músicas e filmes. Não havia uma brecha do assunto acabar, como se houvesse uma conexão entre eles. Por fim iniciamos um assunto baseados em famílias, nós dois parecíamos ter problemas com ambas. Contei sobre dona Mônica e o senhor Otávio serem pessoas difíceis e amarem seus trabalhos mais que qualquer coisa na vida. E ele me contou que a dona Maria Helena e o senhor Carlos eram semelhantes em quase tudo. Famílias ambiciosas. — Era para eu estar a caminho de um jantar. — Contou desanimado, mas de forma engraçada. Que coincidência, ele também precisava estar em um jantar na noite desse domingo. Seus pais eram donos de uma empresa. Estava com vergonha de perguntar mais coisas, então preferi ficar em silêncio. — E você tem namorado? — Ele não parecia tão curioso quanto a isso, era mais como se estivesse apenas tentando puxar assunto. — Não gosto muito dessas coisas. — Respondi brincalhona, mas na realidade eu não havia encontrado alguém especial. — E você? — Não tenho tempo para essas coisas. — Respondeurindo. Leonardo era um menino legal. Conseguia puxar assuntos que fluíam de maneira natural, como se nos conhecêssemos a bastante tempo. Não demorou para que Duda voltasse bastante animada, passando seus braços em volta dos nossos pescoços. — Quem é o seu amigo gato, amiga? — Duda perguntou de maneira enrolada. — Sou eu Duda. — Leonardo falou, segurando seu rosto para que ela o olhasse nos olhos. — LÉEEO! — Ela falou alto o abraçando. Maria Eduarda nunca havia comentando nada sobre esse seu amigo. Devo levar em questão que haviam muitas pessoas na casa que eu desconhecia. Não demorou para que sua mãe chegasse querendo acabar com a festa, o que fora fácil já que apenas fora necessário desligar a música. Leonardo a ajudou a fazer com que todos os convidados fossem embora, afinal, Duda morava em um condomínio e não era permitido música até tarde. Enquanto isso, ajudei minha amiga subir até o andar de cima para deitar em sua cama e dormir. — Quer uma carona para ir embora? — Perguntou quando atravessamos a casa dela até a porta que dava acesso à rua. — Se não for atrapalhar seu caminho. — Respondi dando de ombros. Após explicar as coordenadas até a minha casa, fomos conversando o caminho todo e cantando algumas músicas conhecidas que tocavam na rádio. Quando ele me deixou em frente à minha casa, as luzes já estavam apagadas, isso significava que a visita já havia ido embora e que possivelmente escutaria algumas reclamações no dia seguinte. Agora a minha única preocupação era que a semana iria começar novamente e isso significava que haveria aula.            
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