[IN]DELICADA - Nikole Santos

Suspeita de gravidez

JADE

Entrei na minha casa e por mais tarde que fosse, todo mundo tava acordado. Minha mãe, meu pai e meus dois irmãos.

— O que tá acontecendo? — fui direto pra geladeira pegar um pouco de água pra beber.

A minha mãe ficou aliviada ao me ver. — Ainda bem que chegou. Driele tá passando mau. Vomitando.

Vomitando?...

Apareci na porta do banheiro e ela tava lá, verde, de cócoras ao lado do vaso.

Sua cara de culpa não escondia que ela aprontou uma boa e agora tá com medo das consequências.

— Diz ela que foi um acarajé que ela comeu... — contou a minha mãe, que procurava um remédio no meio de vários na caixa de medicamentos.

— Alguma coisa que comeu? — eu ri. Essa foi boa... — Aposto que não foi nada que ela comeu. Aliás, se ela tivesse engolido, não estaria passando por isso. — olhei para minha irmã. Essa descarada.

— Para de f***r com a minha mente! — ela rasgou toda nervosa. — Eu tô passando m*l! Não tá vendo?! — apontou para o vaso com as mãos tremendo mais do que uma pessoa com Parkinson. — Eu disse pro Juninho que aquele acarajé dormido não devia cair bem.

Tentando me enganar...

— Você tá é grávida.

— Grávida?! — minha mãe veio para perto de mim assustada. — Ela disse que não tá fazendo nada e se tivesse tá tomando remédio.

— Se ela não faz nada, eu tenho delírios à noite. Vai comprar o teste de farmácia e veja. Se essa aí já tomou algum remédio na vida, foi roubando as minhas pílulas, porque eu já notei que várias sumiram. — tomei dois copos d'agua enquanto a minha mãe surtava com a Driele.

— Onde você anda aprontando, hein?! — ela questionava encostada na porta do banheiro.

— Eu não fiz nada, mãe! — vomitou logo em seguida.

Eu sabia que o fim era assim.

Eu queria tomar um banho e apagar qualquer lembrança da f**a com o Dedé. Eca.

Mas como a minha irmã estava lá no único banheiro da minha casa, eu tive que esperar ela sair e fiz isso no meu quarto.

Resolvi pesquisar mais um pouco sobre a Fique Rico, empresa do playboyzinho gato de mais cedo.

Quando eu coloco uma coisa na cabeça, é difícil eu tirar, viu.

No meio da minha pesquisa, não descobri muito mais do que Alexia havia me contado. Ele é rico, vende cursos de ficar rico e tem a sede da empresa perto de onde a minha mãe trabalha.

A namorada dele parece ser daquelas que se entrega totalmente ao relacionamento. Talvez ela seja um problema pra mim, ou talvez não.

O máximo que ela pode me fazer é dar trabalho, porque eu não perco nunca.

Depois de pesquisar, fui no w******p e alguns escrotos do bairro estavam me mandando mensagens e fotos desnecessárias.

Não estou pedindo nudes a ninguém. Eu não sei porque eles se acham no direito de ficar mandando.Comecei a responder falando m*l de tudo.

Só assim não me manda mais.

Caralho também!

Chegou uma mensagem da Alexia.

[Alexia: Amiga, o Danilo te fez alguma proposta?]

Eita, que a minha amiga é desconfiada, viu.

Respondi logo pra resolver logo.

[Jade: Que proposta, mulher?]

[Alexia: Ele não deu encima de você não? Não quis t*****r com você? O Danilo é muito descarado. Ele é bem capaz]

Ah, meu pai...

Insegurança é o caralh*, mas o pior é que não tem como confiar naquele babaca.

[Jade: Não, Alexia. Ele não fez nada não. Relaxa, mulher]

[Alexia: Como eu vou relaxar? O Danilo é sem vergonha. Ele dá encima de todas e quando ele chegou agora a pouco aqui, tava falando de você]

Charada falando de mim? Eu vou dar na cara dele se ele tiver falando merda de mim.

[Jade: O que esse babaca falou de mim?]

[Alexia: Tava falando do seu caso com o Dedé...]

[Jade: Manda ele calar a boca, que ele não sabe de nada]

A minha irmã entrou no quarto toda pálida e como num tropeço, caiu na cama. — Tô péssima.

— É nítido.

[Alexia: Ele já parou. Mas eu fiquei pensando se ele não tinha falado nada quando vocês estavam vindo pra cá]

[Jade: As merdas de sempre. Eu vou sair aqui, viu? Vou tomar um banho. Beijos]

Bloqueei o celular e levantei da cama. A Driele tava deitada na cama dela, massageando a barriga com uma careta.

Essa garota está fodida se isso aí for gravidez.

— Tá olhando o quê?

— Limpou o banheiro, ao menos?

— Claro. — ela virou para o outro lado e cobriu a cabeça.

Saí do quarto e o meu pai estava na frente da tv, fumando um cigarro e assistindo jogo.

Tem horas que eu fico com raiva do jeito do meu pai. Ele parece tão preguiçoso, enquanto eu sou tão determinada, mas aí eu me lembro de uma vez, quando eu vinha da faculdade e passava pelo beco sozinha, tarde da noite. Um cara queria me estuprar e meu pai não pensou duas vezes antes de socar aquele outro até ele não conseguir levantar mais.

Eu não sei que sorte foi aquela que ele tava no momento certo, mesmo sendo meu pai e tendo o instinto de proteção, eu achei aquele ato sublime e por isso eu perdoo o jeito dele e o defendo até onde eu posso, com unhas e dentes.

— E essa roupa?

— A de sempre, pai. — fui até o quintal e peguei a minha toalha. O meu irmão já tava quase entrando no banheiro quando eu passei na frente. — Eu já tinha falado, viu.

— Mas eu vou sair! Tá tirando né, Jade!?

— Vai sair pra onde, 23 da noite? Tá vendendo drogas? — tranquei a porta.

— Tá amarrado em nome de Jesus. — a minha mãe falava.

Ela morre de medo que meu irmão entre pra o mundo das drogas. Que se torne ou traficante ou usuário. Mas a verdade é que tomo mundo usa em algum momento da vida. Eu mesma usei quando precisei superar aquele quase estupro que sofri.

Tirei aquela roupa que mesmo sendo usada por um curto período de tempo, para mim estava suja, principalmente a calcinha. Eu não tenho relações sem camisinha, mas mesmo assim, quando alguém toca meu corpo, já fico com a memória e ele me beijou. Eu quero tirar os resquícios de tudo.

Tomei um bom banho e escovei bem os meus dentes, depois dei lugar ao meu irmão, que estava esperando esse tempo todo do lado de fora da porta.

— Demora do caralh*!

— Eu tava tomando um banho. UM banho. Você toma suas duchas de 2 minutos, não sabe o que é isso. — segurei as pontas da toalha e dei uma olhada no fogão. — O que tem pra comer?

— Tem comida de meio-dia.

Eu não curto muito comer almoço no jantar, mas todo mundo aqui em casa adora. Geralmente, eu como a salada. Faço uma boa salada e colocou um fio de azeite e um pouco de sal rosa.

Eu sou fitness. Aquela fitness de pobre que dá muito certo. Mas eu vou pra academia e malho. Ou pelo menos ia. Faz 1 mês que não vou. Acho que a grana da academia já conta na grana que eu tô juntando pra pagar as contas dos meus pais.

A minha mãe ficou endividada com despesas da casa. Móveis e empréstimos que sujaram sem nome. O trabalho dela coloca a comida na mesa e paga o aluguel, mas as contas de água e luz sempre chegam e meu pai sempre atrasa. Ele trabalha como borracheiro, mas o dinheiro que ganha a gente nunca vê a cor. Sempre tá se reclamando que não tem.

Eu queria que ele fosse muquirana. Que falasse que não tem nada, mas na verdade está juntando tudo. Porque aí seria mais fácil colocá-lo contra a parede e fazê-lo ajudar em casa. Mas a verdade é que ele deve estar perdendo tudo pra banca. Ele gosta de jogar buraco apostado e também faz apostas de futebol. Com o próprio Carlinhos, aliás.

Meu pai deve ser um dos responsáveis pela falência do Carlinhos. Porque ele tá endividado no TotalBet e ele tem a maquininha de apostas, além de também jogar sem controle.

Eu trabalho e pago o que o meu pai não paga. Além disso, também pago a internet.

Driele faz b***s e só gasta com ela mesma. Meu irmão é igual ao meu pai, se tem dinheiro ninguém nunca viu, mas sai que é uma beleza. Vive de festa e bebedeira.

Essa família é toda desorientada.

Às vezes eu penso que se morasse só eu e a minha mãe, nós daríamos certo. Porque se tem uma coisa que eu puxei a ela foi a coragem, a determinação.

Fui pro meu quarto e vesti uma roupa de dormir. Minha irmã ainda estava enrolada de cabeça e tudo na cama.

— Já comeu, Driele?

— Não quero comer. — ela resmungou. — Apaga a luz.

Ela tão tá bem mesmo.

Eu não duvido de verdade que é gravidez. Nosso quarto tem uma janela e o garoto que ela fica de vez em quando escala o prédio e entra no nosso quarto.

Ela acha que faz isso na calada e ninguém sabe, mas eu ouço o bater das bolas dele no r**o dela e as respirações ofegantes.

Amanhã eu vou ter uma boa conversa com esse garoto, mas depois de ver se isso é gravidez ou intoxicação.

Fiz a minha salada e comi tudo, depois escovei meus dentes de novo e fui dormir.

Todo mundo aqui em casa dorme tarde. O meu irmão, acho que nem dorme.

Deitei na cama e dormi rapidinho.