Sonhos perdidos.( Cesarini )

1208 Words
SEIS MESES ANTES..... " Sonhos não são somente sonhos, são projetos de vida." Por: Cesarini. Estávamos mais uma vez dominados pela amargura e infelicidade. Mais uma vez deu errado, mais uma vez minha esposa chora desesperada no banheiro vendo o seu sonho de maternidade ir literalmente pelo ralo. Dessa vez, achamos que tínhamos conseguido, a gestação chegou até os três meses e então tudo ruiu como esculturas feitas de areia. Me sinto um nada, encostado na parede perto da porta, impossibilitado emocionalmente de acalentar minha esposa. Eu não aguento mais vê-la se despedaçando a cada tentativa fracassada. O doutor Romeão há muito me alertou para que eu não deixasse Cíntia continuar, pois a cada não recebido pela vida, minha esposa fica com seu estado psicológico mais abalado. Por isso, prometo para mim mesmo que não haverá uma próxima vez, uma próxima chance. A porta do banheiro abre-se e uma mulher quebrada passa por ela. _ Eu o perdi, amor! Mais uma vez meu organismo fraco não conseguiu segurá-lo! - vocifera nervosa, soluçando. Sem saber o que dizer para amenizar tanta dor, abraço a minha esposa. Seu corpo sacode em meus braços. Era isso, o fim da linha para nós e o sonho de conceber um fruto nosso, mas não era o fim da linha para sermos pais. Cíntia, aos dezesseis anos, fez um aborto m*l sucedido. A menina engravidou de um namoradinho da escola, os pais dela, quando souberam, trataram de dar um fim na gestação. Toda essa truculência no jovem organismo da minha esposa deixou sequelas em seu sistema reprodutor. Uma infecção grave em suas trompas faz com que o embrião não consiga se implantar no endométrio. Procuramos diversos tratamentos um deles consistia em aplicações de certa quantidade de injeções medicamentosa no pé do útero. Cíntia se submeteu ao tratamento; entretanto, não obtivemos êxito. Partimos para a fertilização in vitro; no entanto, as três tentativas foram falhas. Eu tenho condições de criar cinco filhos com folga, dando a eles o melhor de tudo. Minha condição financeira me permite isso, porém a vida não quer nos presentear com a dádiva de gerarmos crianças que carreguem o nosso DNA. Para ser sincero, não consigo entender as leis do universo. Como podem pessoas sem estabilidade financeira serem agraciadas com um monte de filhos, enquanto pessoas abastadas sofrem para tê-los? Eu considero isso uma tremenda covardia da vida para com todos. Sinto mais pelas crianças que, desde muito pequenas, sofrem nas garras da filha da p**a do destino c***l, sem ter um teto digno por cima de suas pequenas cabecinhas, alimentação adequada, vestimenta e educação faltosos, mas principalmente a falta de cuidado, amor e zelo que os progenitores não têm por eles. - Calma, minha princesa. Tome um banho e arrume-se. Precisamos ir à clínica para saber se não restou nenhum pedacinho dentro de você que possa causar uma infecção - falo com muito tato. - Era nosso bebezinho, meu filho... e mais uma vez, ele se foi. O destino me condena, Cesarini, por causa da troca que meus pais fizeram comigo e com aquela vida inocente! Eu não tive culpa, não tive! Como eu saberia que minha mãe estava me dando um chá abortivo? Como? - minha esposa grita, socando meu peitoral. - Shiuuuu, shiuuuu! Não foi culpa sua. Acalme-se, princesa! - falo, tentando conter sua fúria desenfreada. Após longos minutos, Cíntia conseguiu banhar-se e vestir-se para podermos seguir para a Clínica Medical Health Group. Ao chegarmos, Cíntia passa por um ultrassom transvaginal, onde é constatado que existem restos do aborto em seu útero. Minha esposa é encaminhada para fazer uma curetagem uterina. Doutora Heloina, explica- me o procedimento e encaminha Cíntia para a internação. Como a gestação evoluiu até o terceiro trimestre, fez-se necessário o exame de raspagem, diferente das outras vezes em que raramente passamos do primeiro mês. Fico andando pelos corredores da clínica, pensando numa matéria que li há muito tempo num livro espírita. Não recordo em qual capítulo e muito menos o nome, mas entre tantas palavras e frases, um trecho deteve minha atenção. Nele, o autor tentava deixar claro que certas coisas que acontecem em nossa vida terrena atual são fruto de dívidas da nossa vida passada. Ele exemplificava que dores e tormentos são muito condizentes com o comportamento e caráter de épocas passadas, além de narrar a história de uma mulher que desejava ser mãe, mas não conseguia. Este autor, seja lá quem for ele ou ela, revelou que essa senhora não seria agraciada com esta bênção por ter feito muitas maldades com criancinhas em sua vida passada. Ou seja, uma condenação. Contudo, eu me recuso a ficar de braços cruzados vendo as forças da minha esposa exaurirem-se. Se minha Cíntia quer ser mãe, ela será. Não precisa vir de dentro do seu útero para que ela seja agraciada com a maternidade. Acredito que, primeiramente, essa vontade brota e finca suas raízes no coração e depois transborda para outras partes do corpo. Até porque, neste mundo, podemos dividir as mulheres que são procriadoras, sem tino nenhum para a maternidade, e as mães, que são aquelas verdadeiras leoas para cuidar e proteger seus filhos. Busquei pelo meu celular no bolso da calça e fiz uma ligação. Meu poder e meu dinheiro têm que servir para alguma coisa. Não sou adepto de nenhuma pleite e nem de negócios escusos e troca de favores ilícitos. Porém, é o amor da minha vida que está desabando a cada negativa que recebe para tornar nosso sonho realidade. _ Wagner Coimbra, é Cesarini Nowak de Moraes, estou precisando dos seus serviços, meu amigo. Quero adotar uma criança. Sei muito bem da morosidade exaustiva deste país diante de uma conceção para adoção. No entanto, quero agilidade em tudo. Não se preocupe se tiver que molhar algumas mãos, dinheiro não é problema. _ O senhor me dá carta branca para agir, senhor Nowak? _ Concedida, meu caro, não me decepcione! _ Jamais, senhor Nowak! O primeiro passo foi dado, agora é esperar por notícias e conversar com Cíntia a respeito. Sento-me na recepção, pego uma das várias revistas espalhadas por uma mesinha de madeira e começo a folheá-la. Deparo-me com a propaganda do mais novo kit de tratamento capilar que minha empresa lançou no mês passado. A minha fábrica fica situada em Volta Redonda, onde meu primo Augusto é o gerente e responsável por todos os setores químicos. Enquanto eu cuido da nossa sede aqui no Rio, num dos prédios empresariais da Rua Uruguaiana. Cheveux de rêve é uma empresa antiga no ramo da linha capilar. Nosso foco é os cosméticos veganos que são compostos por ingredientes naturais, normalmente à base de plantas e extratos de óleos vegetais, como: Aloe vera; Óleo de coco; Óleo de jojoba. Nossos produtos produto não contém nenhum ingrediente de origem animal e nem é testado em animais, independentemente se esse produto é químico ou natural. Muito diferente da época em que meu bisavô e meu avô estavam a frente da fábrica, mas sendo eu filho único e novo gestor, fiz questão de mudar isso. Claro, focando no público alvo que cresceu muito ultimamente nos últimos anos. As horas passam e eu continuo sentado nas cadeiras acolchoadas da recepção, só pretendo sair daqui levando minha esposa comigo
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