Capítulo 02

1236 Words
A minha história começa assim... Sou uma menina ou devo dizer mulher? A questão é que sou normal, como todas as outras da minha idade, ou seja, vinte e dois anos. Agora, em relação a minha vida, digamos que isso seja "normal" com pessoas mais velhas e o rótulo é outro. Posso ser considerada anormal porque no meu apartamento há um quarto apenas com perucas, roupas de luxo e muita maquiagem. Você deve estar se perguntando se sou uma menina que veio de uma família rica e sonha em ser uma Lady Gaga da vida, mas não, muito pelo contrário. Há exatos cinco anos atrás, meu pai Edson Moura faleceu por conta de doenças cardíacas. No ano, acabou sendo um sofrimento tanto para mim, quanto para minha mãe Elisa Moura e minha irmã Sabrina Moura. Por mais que entre a minha irmã e eu haja apenas cinco anos de diferença, quando papai morreu ela tinha apenas doze anos, o que fez com que ficasse um pouco revoltada com a vida. Mamãe entrou em depressão meses depois, fazendo com que seu chefe precisasse trocar de secretária. Não que ele fosse m*****o por conta dessa atitude, a questão é que ela não ia mais para o trabalho, deixando ele na mão diversas vezes. Estava um pouco difícil achar trabalhos, as pessoas não aceitavam meu currículo por não ter nenhum curso "importante" e nenhuma qualificação, até então não havia trabalho em nenhum lugar. Por sorte, após tantas pesquisas na internet, encontrei um meio fácil, onde eu poderia trabalhar apenas durante à noite, uma vez ou outra teria algo durante o dia. Sem contar no salário, que daria para cobrir todas as dispensas de casa, fazendo-nos viver de maneira mais confortável. O problema é que após dois meses trabalhando, ainda com dezessete anos, sendo de menor, mamãe descobriu que eu trabalhava como acompanhante, fingindo ser namorada, noiva, mulher... Ela não ficou nem um pouco feliz com a notícia. A briga acabou sendo maior do que eu esperava, fazendo-me ir embora de casa. No início Sabrina não soube o motivo da minha saída, queria esconder por mais alguns anos, até que ela estivesse mais velha e madura para entender. Em hipótese alguma gostaria que ela me virasse a cara ou que gostasse e quisesse seguir a "carreira" da irmã mais velha. Com quinze anos chamei ela para uma conversa franca de irmã para irmã. Lembro-me como se fosse ontem. — Nós precisamos conversar, Sabrina. — Sentei com ela no sofá do meu apartamento. — Irá falar sobre o seu trabalho? — Perguntou. — Como você sabe? Mamãe contou para você? - Perguntei preocupada, era uma coisa que eu queria contar. — Entrei naquele quarto que você avisou que não era para entrar. — Contou. — E ano passado, ouvi você conversar com um homem, o celular estava no viva voz. — Não acreditava que deixei tão amostra tudo que estava acontecendo. — Você me desculpa? Não se afasta de mim. — Choraminguei. — Está tudo bem. Entendo você e agradeço tudo que tem feito por nós. — Abraçou-me. Naquele dia, chorei tudo que estava guardado. As lágrimas que faltaram cair quando fui embora de casa. Todo o dinheiro recebido, como era muito, metade era entregue para a minha mãe cuidar da casa e poder comprar tudo que era necessário para elas. A outra parte, utilizava para comprar perucas novas (de todas as cores possíveis e cortes), alguns vestidos (por mais que exigia as roupas que eles queriam que eu usasse na ocasião), sapatos e muita maquiagem. Todos os dias pela manhã, caminhava cerca de uma hora, estando chovendo ou não, nada afetava meus dias. Havia um café na esquina do apartamento, onde todas as manhãs na volta da caminhada, pegava o meu café com leite e torradas doces, com coberturas de caramelo e chocolate. O único dia que não trabalhava era na segunda-feira. E caso implorassem muito, fazia pelo dobro do preço. Meu perfil estava exposto em um site de acompanhantes online e em jornais, claro, nomes fictícios. Natasha Bloemer, nos sites e nos jornais. Mas normalmente em cada noite precisava inventar um nome diferente. Eu tinha uma amiga chamada Gabriela, diferente do meu trabalho, ela aceitava que sua noite se estendesse um pouco mais, mas escolhia. Homens com uma faixa de 20-30 anos, sempre tomando precauções. Sendo um ano mais velha do que eu. Outra pessoa que não posso deixar de fora dessa pequena apresentação é o Leandro, meu ex-namorado. Tudo aconteceu na escola, um ano antes de meu pai morrer, o que resultou em uma perseguição incomodativa na minha vida. Ele sempre foi possessivo e considerava-me sua propriedade. Mas eu não admitia, nós terminamos meses antes de tudo acontecer. O problema é que de vez em quando ele aparece, pede para voltar, explica que vai tentar ser um homem melhor e que fará de tudo para que eu possa me apaixonar novamente. Estava satisfeita ficando sozinha. Não era necessário ter alguém no meu pé. Não que eu nunca tivesse sonhado com alguém, quem sabe em um futuro muito distante. Era uma segunda-feira e a única coisa que eu desejava é que não fosse necessário sair durante o dia, muito menos pela noite para qualquer evento. Analisava o meu perfil no site novamente, onde havia um bate-papo, a qualquer momento alguém poderia entrar, fazer o cadastro e conversar comigo. Sala de bate-papo Você é a famosa Natasha Moura?  Sim. O que deseja?  Tenho uma proposta para fazer a você. É só dizer! Quero que faça meu filho se apaixonar por você. E por que eu faria isso? Porque estará recebendo o meu dinheiro. De quanto estamos falando exatamente? Uma quantia que irá te favorecer muito, mas não quero tratar de negócios pelo computador. Onde nós nos encontramos? No Restaurante San Marino, você conhece? Às 20:00 de hoje. Estarei lá. Leve 3.000 reais Não esperei que ele me respondesse, precisava encontrar no quarto uma roupa para utilizar no jantar. Já havia frequentado com um dos meus acompanhantes. Até que a hora do encontro chegasse, distraí-me com o que passava na televisão, eram programas aleatórios. Sabrina havia deixado algumas mensagens no meu celular, provavelmente estavam precisando de dinheiro. "Você pode me dar cinquenta reais?" Sabrina "Está ai?" Sabrina "Responde quando puder." Sabrina "Está trabalhando hoje? Segunda é o seu dia de descanso, lembra?" Sabrina Era engraçado como Sabrina nunca se contentava em mandar apenas uma mensagem, ela precisava mandar várias até que eu pudesse responder as mesmas. "Posso sim, mas preciso saber para que você quer usar?" Selena "Estou." Selena "Como sabe eu não trabalho hoje, mas precisarei sair mais tarde, não é bem um acompanhamento como de costume. E muito menos algo a mais." Selena Deixei o celular em cima da minha cama para caso ela pudesse responder rapidamente. Iria preparar um bom banho para estar mais relaxada. Todas as vezes antes de sair para ser acompanhante, preparava um banho que pudesse limpar as impurezas e assim fazia quando voltada do trabalho. Esperei alguns minutos na pequena banheira que ficava na minha suite. Ligava o som em um volume considerado alto, mas que não fosse atrapalhar os vizinhos, já que as regras do apartamento eram rígidas, claro, ninguém estava errado. Nós precisávamos respeitar uns aos outros para uma boa convivência. Deixei os meus cabelos enrolados na cabeça, como se fosse careca para poder utilizar a peruca que escolhi para o encontro.
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