Naiara
Entrei pela porta dos fundos que da direito a cozinha e já vi minha mãe na boca do fogão.
—Coroa! — Gritei a dando um susto por trás.
—Naiara, sua filha da p**a — Bate com o pano de prato em mim.
—Bom dia, mamãe. Também estava com saudades — Rio e abraço.
—Tô sem dinheiro. Nem vem, Naiara — Desliga o fogo.
—Só acha que eu venho pra cá pra pedir dinheiro — Estalo a língua.
—Pra que mais seria? — Me olha séria.
—A senhora sabe que eu não venho por causa so pai.
—Desculpa. Mas esse mês não posso pagar a tua faculdade e nem o aluguel, Nai — Alisa meu cabelo.
—A Selma já tá apertando a minha mente, disse que vou ser chutada na certa se não for pagar no dia certinho.
—Depois que o seu pai sofreu aquele acidente no trabalho e está impossibilitado de trabalhar, já viu. Tudo aqui em casa tá apertado demais — Vejo seu olhar triste — Me desculpa por não poder continuar te ajudando meu amor.
—Tá tudo bem, mãe — A abraço. Eu preciso ajudar dentro de casa. Mas com o dinheiro que eu ganho como garçonete em uma lanchonete por meio período. Tenho que arrumar o meu jeito pra faturar mais — Eu prometo que vou dar o meu jeitinho, como sempre damos — Beijo a sua testa.
—Mas eu não tinha depositado um dinheiro extra há um tempo na sua conta? — Sorrio nervosa.
—Ontem eu fui checar a conta no banco, ai eu poxa, deve ter uns trezentos reais ainda. Quando fui ver o saldo só tinha quatro reais — Dou de ombros.
—Como conseguiu gastar tanto, Naiara?
—Contas e mais contas? Vida adulta não é fácil, mãe. É um eterno respirou, gastou cinquenta reais. Sem condições.
—Você e Nicolas só me da prejuízo — Esfrega o rosto.
—Falando nisso, cadê o Bambi?
—Saiu de casa ontem de noite e não voltou até agora. Nem as chaves levou.
—Já ligou?
—Só da caixa postal. Que não tenha acontecido nada com ele — Como se Nicolas desse bobeira pra perigo. Com certeza foi pra casa de alguma menina t*****r e fumar. Ele sempre foi de me contar tudo, não é nada demais.
—Abre o portão! — Escutamos os gritos e batidas como desespero. Já imagino quem é e vou caminhando pelo quintal a entrada.
—Quem é? — Pergunto.
—Sou eu — Responde como se fosse óbvio. Abro o portão — p***a, Naiara. Demora muito.
—Tá achando que sou sua empregada? Quando perguntarem quem é, você diz o seu nome. Sorte tua que reconheci essa tua voz de viadinho — Enxoto ele pra dentro e fecho o portão.
—Quebra viada — Bate na minha cabeça.
—Você para de ficar dando sustos na mãe, Nicolas — Chuto sua canela e ele resmunga — Eu vou te quebrar na porrada. Que merda foi fazer dessa vez? — Pergunto mais baixo pra ninguém escutar.
—Vou entrar pra boca — Sorrir com naturalidade.
—Mãe vai infartar, Nicolas. Meu pai vai te enfiar a porrada.
—Meu pai tá sem trabalhar, minha mãe tá quase sem casa pra limpar e quando aparece, tem que rejeitar por ter que cuidar do pai. Muito m*l consegue alguma coisa passando roupa, ainda tem tuas despesas, Naiara. Eu tive que me mover de alguma forma.
—Se move tentando passar em um concurso. Ah, é — Coloco a mão na testa — Não tem como já que nem terminou a droga do ensino médio.
—Escola é pra mim não. Você é inteligente, Naiara, você vai longe. Meu único caminho é esse, dinheiro fácil sem precisar estudar — Passa por mim e vou atrás dele — Toma o teu — Me joga o pacotinho de erva e pego no ar.
—Primeira guerra tu afunda, Bambi. Tá ficando doido? — Pergunto toda preocupada. Nic é meio lerdinho pra essas coisas de bandido, não da dentro. Só tem dezoito e se acha o adulto.
—Obrigado pela confiança, irmãzinha — Sorrir debochado — E para com o Bambi. Apelido ridículo.
—É mais uma ofensa pro Bambi ser comparado com você.
Eu que lute pra segurar esse garoto.
Fiquei um pouco com a minha mãe e meu irmão. A bichinha quase que virou pra trás quando ele contou que iria entrar pro tráfico, ela bem que disse pra ele que não da dentro e pipipi popopo, mas quem disse ele escuta? Escuta nada. Faz o que quer, sabendo que queremos o seu melhor.
Entrei no busão tocando pro terror e desci indo de cara com aa portas do inferno. O primeiro enviado de Lucifer me espera ansiosamente para me envergonhar na frente da classe inteira pelo meu atraso, nunca pede sua oportunidade.
— Licença — Peço educadamente por estar sete minutos atrasada — Posso entrar?
— Que bom que chegou, Naiara — Sorrir sarcástico — Entre e senta em seu lugar — Suspiro aliviada por nenhum comentário a mais. Até eu passar por sua mesa e sentir seu aperto em meu braço — Não terá tratamento especial, Naiara. Não irei tolerar mais seus atrasos — É rude e assinto. Não quero parar na coordenação como da última vez quase sendo expulsa. Tive toda a droga do meu esforço pra chegar até aqui e não vou desistir no meio do caminho. Me sento no meu lugar e assisto a lição do inferno dada pelo tremônio.
Guardo todas as minhas coisas na mochila assim que as aulas acabam e sou liberada. Vou até o pátio onde encontro uma rodinha em que envolve a Cassia. Paro ao seu lado e a mesma para de rir no instante e me abraça de lado.
— Viada tu se atrasou de novo.
— Nem me fale — Suspiro.
— O tremônio te humilhou dessa vez? — Sorrio de lado — Eu juro que vou acabar com a raça dele — Cerra os dentes.
— Calma, campeã — Brinco — Você não pode ser expulsa. Ou esqueceu que é bolsista?
— Não é atoa que quebro os dentes dessas patricinhas a quilômetros daqui. Dentro da faculdade podem me expulsar, fora daqui somos apenas pessoas que trombaram os punhos por mera coincidência — Da de ombros e rio de seus pensamentos.
— Cassia Monteiro e Naiara Azevedo — Escutamos aquela voz grossa que conhecemos melhor que nós duas.
— Tem medo não c*****o? — Cassia resmunga com o mesmo que vem com aquele sorriso sonso.
— Sei que amam minha visita — Pisca pra mim e reviro os olhos.
— Tá dizendo isso pra mim ou pra Naiara? — Cassia cruza os braços e pergunta com deboche pra ele que estala a língua.
— Se sinta especial não — Bate em minha testa e faço careta.
— Por você sinto nojo e desgosto, Rafael — Falo em provocação.
— Você se fazendo de difícil só mexe mais comigo, Naiara — Sussurra próximo ao meu rosto.
— Eu mandando você tomar no seu cu, mexe com você, Rafael? — Arqueo uma sobrancelha e sorrio em vitoria ao ver o mesmo se afastar.
— Bora pra casa, Cassia. Vim te buscar hoje.
— Continua o teatro de vocês — Incentiva — Estava adorando essa cena. Não sei porque não casam logo.
— Sem chances — Respondo convencida.
— O doido que tiver coragem de namorar com a Naiara, vai ter todo o meu respeito.
— Se deve respeito, lindo — Retruco com deboche.
— É coisa do passado — Justifica.
— Passado, pipipopo — O imito até ser calada por um selinho rápido.
— Bora, Nai? — Marcos, o dono do beijo me pergunta e concordo sorrindo — Cassia — Abraça ela.
— Fala aí. Tem cigarro não? — A bicha até se anima.
— Do verde eu tenho — Rir discreto e entrega pra ela.
— Eu já disse que amo esse garoto? — Aperta suas bochechas — Casa com ele, Nai.
— Traidora — Rafael fala mais alto — Até agora estava mandando ela casar comigo.
— Você disse que não queria. Passei pro meu melhor abiguinho.
— Vai ir a pé, vagabunda — Da as costas todo bravinho nos deixando pra rir dele.
— Vou lá ou o bonito vai mesmo me deixar por aqui — Beija minha bochecha e acena pro Marcos e vai atrás do irmão.