Capítulo 3

1535 Words
Contei mentalmente até dez. Não foi o suficiente pra me acalmar. Então, fiz a única coisa que eu podia. Caminhei até o sofá e sentei ao lado da minha mãe com um sorriso fixo e forçado no rosto. —  Sua mãe me viu lá fora e me convidou —  Bruno se apressou em explicar, provavelmente percebendo o desconforto estampando em meu rosto. —  Tudo bem. Tô vendo que Bolinha adorou te ver. Ele sorri para ela, que balança o rabinho pra lá e pra cá enquanto recebe carinhos na cabeça.  —  Eu estou feliz em ver a Bolinha também. — Ele se inclina um pouco e fala com a voz melosa. —  Não é, minha menina?  Quase vi a cachorra assentir com a cabeça. Traidora. —  Feliz estou eu. É tão bom ter você aqui de novo, Bruno. Vocês dois nesse sofá me lembra tanto os velhos tempos.   Ela sorri, mas um olhar triste cruza o seu rosto. Sei que eu precisava mudar de assunto, mas Bruno é mais rápido. —  Como anda o trabalho, tia Dri? Quase reviro os olhos. Esse é um assunto que mamãe ama. —  Ah, vai tudo muito bem. Sabe o que eu digo? Quanto mais trabalhoso um caso for, mas satisfatório é. Estou bem no meio de uma briga pela guarda de crianças e represento o pai. Nunca é fácil, as mães sempre tem vantagem. Mamãe é advogada de divórcio e isso sempre foi motivo de piada, já que ela é contra se divorciar. "Se você escolheu casar, fique casado", era o que ela costumava dizer cada vez que pegava um novo caso. Isso, é claro, também ficou no passado. Mamãe não faz mais piadas com o seu trabalho. Ela apenas vive ele. —  Eu não me preocuparia se fosse esse pai. Ele fez bem em te escolher, todo mundo sabe que você dá a vida no trabalho. Eu não pretendia soar amarga, mas foi exatamente assim que minha voz saiu. Sei disso porque mamãe me lança um olhar cortante e Bruno faz uma cara confusa. Ele não sabe dessa nova realidade na vida da minha mãe. As lembranças que ele deve ter dela são todas de uma mulher sorridente, louca pela família e que passava horas conversando com os filhos e o melhor amigo deles. Mas ele percebe algo estranho, pois me lança seu velho sorriso reconfortante. Retribuo.  Nós três ficamos em silêncio e qualquer pessoa que tenha convivido com a gente antes saberia dizer o quanto isso é estranho e incomum. Minha mãe solta um suspiro que ecoa pelo silêncio da sala. —  Eu estou cansada e amanhã preciso acordar cedo. Vou deixar a pizza para vocês dois. —  Ela levanta do sofá, já caminhando para a escada. Sem me dar chance de rebater. Não que eu faria, já desisti há muito tempo. —  Boa noite, crianças. Volte mais vezes, Bruno. —  Claro, tia Dri. Durma bem.    Eu permaneço em silêncio enquanto observo minha mãe sair de fininho. Por um momento, eu quase acreditei que ela iria jantar comigo essa noite. Erro de iniciante. Eu deveria saber melhor. Não vou deixar que isso me abale, porque eu já deveria estar acostumada e porque tenho coisas mais urgentes para tratar no momento. Bruno e eu sozinhos. Ele me encara. —  Eu posso ir embora, se quiser. Não sei o que quero. — Pode ficar. —  acabo dizendo. — Não vou comer uma pizza inteira sozinha. Ele concorda com a cabeça. Subo minhas pernas para o sofá e as cruzo. Minha camisola encolhe e acaba deixando a minha calsinha aperecer por alguns centímetros. Coro intensamente. Bruno olha para as minhas pernas, morde os lábios e devia o olhar. Ele pega uma almofada que estava ao seu lado e taca para mim. Agradeço e puxo a camisola de forma que minha calcinha fique escondida como deve e coloco a almofada em meu colo. Bruno se mexe desconfortável no outro sofá e pega outra almofada para colocar sobre o próprio colo. Tento não pensar no que isso pode significar. — Então ... eu não sabia que estava namorando. Acho que meus pais me pouparam dessa informação.  Seu tom é descontraído, mas eu conheço Bruno melhor do que isso. — Estou. Faz 5 meses. Thiago é ótimo. Não quero parecer c***l, mas talvez seja impossível falar sobre o meu novo namorado sem que Bruno sinta uma pontada no peito. Sei disso pela forma como os seus olhos desviaram do meu rosto. Era o que ele costumava fazer quando ficava magoado ou irritado comigo. Ficamos novamente em silêncio. Quando ele volta a falar, sua voz é tão baixa que m*l posso ouvir. —  Você o ama? Não quero conversar sobre nada disso com Bruno. Mas talvez a gente precise. Talvez seja isso que esteja faltando para pôr um ponto final nesta história.  Penso na pergunta. Penso no sorriso doce de Thiago. Em seu abraço apertado enquanto eu chorava. Penso em como ficou ao meu lado. Sim. Eu o amo. —  Amo.  Minha voz é igualmente baixa, mas ele escuta. Seus olhos se fecham e ele permanece assim.  —  Tudo bem? Eu pergunto. Não sei mais o que dizer. Ele não responde, mas me faz outra pergunta. —  Você ainda me ama? Evitei pensar no assunto desde que Thiago surgiu na minha vida. Mas aqui, diante de um Bruno, eu sei. Sei que o amo. Mas não sei se é da mesma forma que antes.  —  Bruno, que diferença isso faz entre a gente? Ele abre os olhos. — Eu só preciso saber. Por favor.  —  Você sempre foi parte da minha vida, Bruno. Eu te amo. Sei que te amo porque do fundo do meu coração desejo tudo que há de melhor para você e porque sei que se algo o magoar, vai me magoa também. Mas se você quer saber se te amo como um namorado? Acho que não. Eu sei que te amei a minha vida toda, antes do nosso primeiro beijo, eu te amava como um irmão. Talvez seja assim que eu tenha que te amar agora. Bruno parece que levou um t**a. E dói. Dói machucá-lo porque sim, eu o amo. Eu me prendi à mágoa durante todo o último ano, mas o oposto do amor é indiferença. Eu nunca fui, nunca serei indiferente a esse garoto. Eu nunca poderia. —  Eu amo você — diz olhando diretamente em meus olhos. A intensidade nele me deixa tonta —  Não estou dizendo que te amo como irmã —  A palavra "irmã" é pronunciada como se fosse venenosa —  Estou dizendo que te amo como a garota com quem dei meu primeiro beijo. Como a garota que me fazia sorrir só com a presença dela. A garota que me mostrou o que é estar tão apaixonado que chega a doer. Estou dizendo que te amo da mesma forma como nós dois nos amávamos antes de tudo mudar. Estou paralisada. Não sou capaz de responder. Se eu fosse, não faço ideia do que diria. Isso... isso não é justo. Ele não pode fazer isso. Não pode. Eu quero gritar com ele agora, mas a minha garganta está seca. Bruno respira fundo. —  Mas eu quero que saiba que não estou aqui tentando atrapalhar seu namoro. E se você ... o ama, então eu vou ficar feliz por você. Mel, a gente sabe que eu vou embora em algum momento, mas eu estou aqui agora e eu não quero esse clima estranho entre a gente. Encontro a minha voz.  —  Acho que deveria ter pensado nisso antes de dizer essas coisas. —  Eu disse porque quero que você saiba. E eu juro que não vou dizer outra vez. Eu falei que não quero me meter no seu namoro e é verdade, Mel. Mas enquanto eu estiver aqui, eu gostaria que a gente pudesse sentar e conversar. Como amigos. Por favor. Penso sobe isso. Lembro de Bruno. Quando ele era só o Bruninho, meu melhor amigo. Lembro como eu podia contar tudo para ele. Como sua presença me deixava feliz. Não acho que seja possível ter isso de volta, mas se houvesse alguma possibilidade... Eu gostaria de tentar. —  Eu concordo. Ele sorri. —  A gente consegue. Eu duvidava um pouco, mas... —  Tudo bem —  digo animada e a almofada cai de meu colo. Ele faz uma careta. —  Mas para isso dar certo, você não pode se vestir assim na minha frente. É sério. Eu rio.  —  Por que? Estou provocante? — brinco.  —  Você não faz ideia. Eu daria muitas coisas para te beijar agora. Eu paro de rir. — Tudo bem.  — ele cora — Você para de usar camisolas na minha frente e eu paro de fazer comentários do tipo que acabei de fazer. Sorrio de como ele parece sem graça agora. —  Fechado. E, pela primeira vez desde que Bruno se mudou, eu me sinto bem sobre nós dois. Uma parte de mim sempre sentiu que era errado que ele não fizesse mais parte da minha vida. Talvez, eu e Bruno não nascemos para ser um casal e sim apenas dois amigos. Mas de uma forma ou outra, eu sei que ele sempre vai ser parte de mim.
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