Prólogo

689 Words
O vento gélido os cercava e arrepiava suas peles. Arthur quase sentiu vontade de rir. Era a primeira noite fria em duas semanas. Aquilo era muito apropriada, de fato. Era como se os céus estivessem anunciando o fim de sua vida e debochando dele. Alguns diriam que ele estava sendo dramárico, mas era assim que se sentia. A vida como ele conhecia e gostava estava prestes a acabar. Sua liberdade estava ameaçada e condenada. - Você disse que me amava. Eva choramingou. Ela agarrava-se ao casaco de Arthur como se isso fosse o impedir de entrar no navio. Era inútil. Se houvesse algo que pudesse impedir tal atrocidade, o próprio Arthur teria pensado. - Eva, querida, sabe que não tenho escolha. - Abandone tudo! Abandone por mim. Ele sentiu um arrepio gélido. Abandonar tudo? Ele podia fazer aquilo? Por ela? Arthur olhou para a mulher esbelta e curvilínea. Eva era linda e encantadora. Dona de uma sedução que nunca foi vista em outra dama. Ela, porém, não era uma dama de verdade. Inaceitável, de fato. Um duque não deveria, de forma alguma, casar-se com uma párea da sociedade. O pensamento veio e ficou. Era isso. Arthur a queria. Ele a desejava ardentemente. Eva era boa para ele e fazia coisas palpitarem em seu peito, mas ela não era adequada. Aquele era um pensamento odioso. Arthur sempre se considerou moderno. Tão à frente do seu tempo e suas regras retrógradas. Mas no fim, ainda era um homem preso às suas obrigações, guiado por sua honra. Ele voltaria para casa. Ele casaria com sua noiva. Ele seria fiel. Ele nunca mais teria o corpo de Eva sob o seu.  Arthur a puxou para mais perto e num ímpeto apaixonado colou sua boca a dela. - Eu lamento. - Sussurrou entre os beijos - Meu lugar agora é na Inglaterra. Minha família me espera. Eva tremeu. - Você quer dizer que ela te espera. Arthur fez uma careta. Ele não gostava de dramas femininos, assim como qualquer cavalheiro. - Você sabia sobre ela, Eva. Eu nunca escondi Beatriz de você. A mulher deu um passo para trás. Seus olhos vermelhos focaram nos dele, secos e claros. Aquilo a irritou. Por que ele não chorava? - Você vai amá-la? Arthur franziu a testa. - Ora, que pergunta é essa? - Diga. - Como posso saber sobre o futuro? - Você já a conheceu. A última vez que Arthur vira Beatriz ambos tinham 17 anos. Ela era bonita, ele lembrava, embora seu corpo não houvesse se desenvolvido. Ela não tinham curvas que atraíssem um cavalheiro, mas seu rosto era espetácular. E os cabelos? Vermelhos como fogo e, certamente, eram de tirar o fôlego. Mas o que Arthur mais se lembrava sobre a noiva era a sua timidez exagerada. Na época, ele criara um jogo em sua cabeça. Todas as vezes que fazia Beatriz manter uma conversa que durasse mais do que poucas palavras, ele ganhava pontos. Os pontos triplicavam se conseguisse fazê-la sorrir. Beatriz não sorria muito. Aquilo fora a muito tempo. Ele gostava de Beatriz antes. Ela era aceitável e Arthur sempre soube que faria parte de sua vida. Seus pais haviam acertado o casamento de ambos há muitos anos. No dia em que nasceram para ser mais exato. Dois bebês nobres. No mesmo dia. Na mesma hora. Disseram que o destino estava celado. Disseram que os céus os mandaram juntos, pois almas gêmeas devem estar assim, juntas. Suposições demais envolvendo dois bebês, era o que Arthur achava. Ele não a viu por oito anos. Oito anos em que viveu uma vida fora do campo. Oito anos em que aprendeu a ser um homem. Oito anos em que soube o que eram mulheres caindo aos seus pés. Não, Arthur não amava a ideia de casar. Ele também não amava a ideia de uma daminha inexperiente na cama. E também não achava que o jogo de quando tinha 17 anos continuaria interessante agora que estava mais velho. Ele ainda precisaria de tanto esforço para fazer a dama sorrir? Honestamente, parecia uma vida inteira de tédio pela frente. - Não, Eva. Eu não a amarei.
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