Capítulo 1

826 Words
Beatriz tentou se equilibrar nas pedras, mas seu pé escorregou logo quando estava chegando a beira do riacho. Ela tropeçou e caiu sentada, molhando todo o vestido. Droga! Tereza iria ficar irritada. Mas o mais provável era que a roupa já estivesse seca quando precisasse encontrar a mãe. Ela terminou de atravessar o bosque e chegou até a familiar residência dos Lewis. Beatriz sorriu. Nos últimos tempos, aquele era o seu lar mais do que qualquer outro lugar. Em breve tornaria-se oficialmente a sua casa. A sua família. Finalmente. Ela caminhou até a porta e bateu. O mordomo James a recebeu com um grande sorriso. - Menina, você demorou. - Ah, senhor James, não exagere. - Ele a espera na sala de visitas. Vamos, querida. Beatriz já conhecia o caminho. Na verdade, conhecia cada canto daquela casa. Ela podia imaginar seus futuros filhos correndo pela propriedade, entrando nos bosques e pulando no riacho. Tereza diria que isso não é adequado para crianças de boa família. Mas Beatriz achava que crianças eram crianças. Fim. Senhor James abriu a porta e anunciou a presença de Beatriz. O patriarca da família Lewis sorriu. Todos na casa Lewis sempre sorriam para ela. - Minha cara! O Senhor Anthony estava parado próximo a janela. Beatriz sentiu um aperto em seu peito. Ela sabia que ele devia estar olhando para fora e pensando na falecida esposa. Ele fazia muito isso. Beatriz não gostava de lembrar de Elisa, aquilo a deixava triste e saudosa. O senhor Lewis, porém, dedicava religiosamente horas do seu dia para lembrar a amada. - Olá, pai! Como você está nessa manhã? - Cada vez mais próximo do fim. - Não diga isso. Ela sentiu um arrepio gélido. Anthony não estava muito bem de saúde nos ultimos tempos. - Ora, Beatriz! Vamos, você sabe a verdade. Não fique triste, não foi para isso que lhe chamei. - Para que, então? - Arthur deve chegar ao amanhecer. Beatriz já sabia, mas mesmo assim, o coração dela saltou. Foram oito longos anos sem nenhum contato. Arthur não mandara cartas. Bom, apenas uma vez. Ele se correspondia com a família, no entanto. Beatriz decidiu a muito tempo não se chatear com isso. Arthur era a sua salvação. Era a sua liberdade. Certamente a sua melhor amiga, Lucy, diria que era besteira confiar tanto assim em um estranho. Beatriz discordava que seu noivo fosse de fato um. Ela lembrava-se de suas conversas quando eram mais jovens. Lembrava-se de Arthur tentando fazê-la rir. Ele era um cavalheiro gentil. E, sendo parte daquela maravilhosa família, não poderia ser diferente. Arthur estava voltando para casar com Beatriz. Ela passaria a viver naquela casa grande e alegre. Ela sabia também que ele seria um marido gentil. E poderia lhe dar filhos. Para ela, Arthur era um herói. Como poderia não gostar dele? Poderia não haver amor entre os dois, embora Beatriz esperava que chegassem lá, mas haveria respeito e gratidão. Isso era o suficiente. - Estou ciente, pai. m*l posso esperar. Ele suspirou. - Querida, estou certo de que Arthur será respeitoso. Mas espero que entenda que meu filho viajou o mundo. Ele conheceu culturas e uma vida que você jamais saberá. Entende? Beatriz franziu a testa. - Não entendo, pai. - Eu só quero dizer, querida, que talvez ele não seja mais o garoto de suas lembranças. Anthony estava preocupado com a pequena Beatriz. A garota parecia buscar em seu filho a esperança de viver o conto de fadas que nunca experimentara. Ele também gostaria que fosse assim, é claro. Mas Anthony não podia enganar a si mesmo ou a adorável senhorita. Ele lia as cartas do filho. Tão deslumbrado com o mundo lá fora. Tão feliz em não seguir regras. Tão encantado com... outra dama. Não que Arthur houvesse mencionado isso abertamente, mas Antony era um homem vivido. O filho não queria aquele casamento e enxergava as obrigações de voltar e assumir o ducado como uma prisão. Ora, ele poderia se ressentir de Beatriz tão facilmente. A inocente e sempre sorridente Beatriz. Não era justo, era? Ele a amava como uma filha. Ele queria que ela encontrasse verdadeiramente um lugar entre os Lewis. Bom, era uma tarefa difícil. Árdua, ele acreditava. Mas o que mais um homem velho e condenado a morte poderia fazer? Sim. Ele ajudaria aquela pobre moça. E ao seu filho também. Ele tinha certeza que Arthur seria o mais abençoado dos homens se entregasse o coração a jovem dozela à sua frente. Seria a sua última missão antes de entregar-se a morte. Ele faria seu filho Arthur amar Beatriz tanto quanto ele próprio amou a sua mulher. Beatriz ergueu o queixo. - Não se preocupe comigo, pai. Eu sei que esse não é um casamento por amor. Ele deve ser meu marido porque assim foi acordado há muito tempo. Irei respeitá-lo e espero o mesmo dele. Isso é tudo. Bom, não no que dependesse de Anthony. - É claro, minha cara.
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