Capítulo 2

1855 Parole
2 NIKOLAI Minha irmã me intercepta assim que saio do quarto de Chloe. Ela deve ter ficado parada no corredor o tempo todo. — Como ela está? — Ela vai viver, não graças a você. — Meu tom é áspero, mas não dou a mínima. É culpa de Alina estarmos nessa bagunça. Ela disse a Chloe que matei nosso pai. Ela deu a ela as chaves do carro, permitindo que ela fugisse. Com as minhas palavras, Alina sente o golpe, mas mantém sua posição. Seu rosto ainda está pálido e inchado, mas seus olhos verdes estão claros e ela não cheira mais a um coquetel de drogas. — Quero dizer, qual é a condição dela? O que o médico disse? Eu suspiro, passando a mão pelo meu cabelo. — Ela teve sorte. A bala passou direto por seu braço, quase roçando o osso. Ela perdeu uma boa quantidade de sangue, mas não o suficiente para exigir uma transfusão. Ela também tem uma torção no tornozelo. Fora isso, ela está apenas machucada e toda arranhada. — Kolya... — Minha irmã parece mais miserável do que nunca. — Eu realmente sinto muito. Eu não sabia sobre... — Pare. — Não estou com vontade de ouvir suas desculpas e justificativas. Ela pode não saber sobre os assassinos que estão caçando Chloe, mas isso não desculpa o que ela fez. Nem o fato de que ela estava doidona com seus remédios. Antes de dizer algo do qual vou me arrepender, pergunto: — Onde está Slava? — Lyudmila o levou para visitar os guardas. Pedi a ela para mantê-lo fora do caminho por enquanto, dado... você sabe. — Ela acena em direção à porta de Chloe. — Bem pensado. — Sei que não deveria superproteger meu filho, mas estou estranhamente relutante em expô-lo às realidades brutais de nossa vida, como nosso pai fez comigo. Caçar e pescar são uma coisa – estou feliz por ter Pavel ensinando isso a Slava, junto com outras habilidades essenciais para a vida – mas prefiro que ele não veja sua tutora coberta de sangue. Ele aprenderá o que significa ser um Molotov eventualmente, mas não agora. Alina parece aliviada com o meu elogio. — Então, o que aconteceu? — ela pergunta, me seguindo enquanto eu vou para o meu quarto. — Quem enviou os assassinos atrás dela? — É uma longa história. — Uma que ainda estou digerindo. — Basta dizer que ela ainda está em perigo. Alina agarra minha manga, me fazendo parar. — Então você não...? — Sim. — Eu coloquei uma bala no cérebro de um dos assassinos e feri o outro tanto que ele morreu pouco depois, mas não antes de eu arrancar um nome dele. Um nome que ainda estou tentando entender. Minha irmã me olha com uma carranca gravada em sua testa. — Mas você acha que há mais vindo. — Estou certo disso. — Por quê? Quem é ela, Kolya? — É isso que pretendo descobrir. Saindo de seu domínio, entro no meu quarto e fecho a porta. * * * Embora Chloe ainda esteja apagada, estou ansioso para voltar para ela, então, rapidamente tomo banho e me troco. Em seguida, envio uma mensagem para Konstantin, atualizando-o sobre o que descobri e pedindo a sua equipe de hackers para investigar o homem que o assassino nomeou seu empregador. Tom Bransford. O candidato à presidência que pode ser o pai de Chloe. Ela não sabe essa última parte ainda, e não sei se devo dizer algo sobre minhas suspeitas até ter uma prova mais concreta. No momento, as evidências são circunstanciais, na melhor das hipóteses, e se eu estiver errado, Chloe terá ainda mais motivos para pensar que sou um monstro pervertido. O que eu sou. Eu só não quero que ela pense dessa forma sobre mim. Meu peito aperta quando eu imagino o sorriso doce e radiante que ela me deu antes de as drogas na intravenosa tomarem conta. Eu quero mais disso, não o olhar vazio e aterrorizado que ela tinha na floresta quando eu vim em sua direção, arma na mão, tendo matado um de seus agressores e ferido o outro. Nunca mais quero ver aquela expressão em seu rosto. Alina não está mais lá quando saio para o corredor e corro de volta para o quarto de Chloe. Eu sei que ela está bem com o médico e as enfermeiras cuidando dela, mas não posso evitar a ansiedade que me atormenta a cada momento em que ela está fora da minha vista. Ela chegou tão perto de morrer. Se eu tivesse aparecido alguns minutos depois, se a equipe de Konstantin não tivesse sido capaz de hackear o satélite da Agência Nacional de Segurança para achar sua localização exata, se a bala tivesse perfurado seu corpo alguns centímetros à esquerda – há um número infinito de maneiras que isso poderia ter acontecido de forma diferente. Um número infinito de maneiras pelas quais eu poderia tê-la perdido. — Ela deve voltar a si em alguns minutos — o médico me informa quando entro em seu quarto. Ele é um dos melhores cirurgiões de trauma do estado; Pavel fez com que ele e sua equipe fossem trazidos de helicóptero de Boise por um pagamento exorbitante que compra tanto seus serviços quanto seu silêncio. — Bom. Obrigado. — Ignorando os olhares das duas enfermeiras, eu me aproximo de Chloe, uma dor aperta minhas costelas quando eu noto o tom acinzentado de sua pele bronzeada. Eles lavaram o sangue e a sujeira de seu rosto e braços e a vestiram com uma bata de hospital, mas seu cabelo ainda está emaranhado, com alguns galhos e folhas presos nos fios marrom-dourados. Eu removo os destroços, largando-os na mesinha ao lado de sua maca. Eu odeio vê-la assim, tão pequena, frágil e ferida. Eu daria qualquer coisa para ter sido capaz de levar aquela bala por ela, ou melhor ainda, ter acordado algumas horas antes, para que eu pudesse impedi-la de ir embora. Estendendo a mão, eu carinhosamente acaricio meus dedos sobre sua mandíbula definida. Sua pele é macia e quente. Incapaz de me segurar, eu esfrego meu polegar sobre seus lábios entreabertos. Lábios macios de boneca, os superiores ligeiramente mais cheios do que os inferiores. Lábios pecaminosos que poderiam seduzir um santo – não que eu seja ou tenha sido um. Puxando minha mão antes que meu corpo possa reagir de forma inadequada, vou para uma cadeira no canto do quarto e me sento para esperar enquanto o médico desaparece no banheiro. As enfermeiras empacotam os suprimentos; assim que Chloe recuperar a consciência e ficar estável, eles irão embora. Fiel à promessa do médico, apenas alguns minutos se passam antes que Chloe se mexa, um leve ruído escapando de seus lábios enquanto suas pálpebras se abrem. Estou imediatamente de pé, cruzando o quarto em direção a ela. — Oi — ela murmura sonolenta, piscando para mim. — Será que eles já… — Sim, zaychik. — Eu gentilmente aperto sua mão esquerda, tomando cuidado para não desalojar o intravenoso em seu braço. Seus dedos delicados estão frios em meu aperto, apesar do lençol cobrindo-a até o peito. — Como você está se sentindo? Você quer algo para beber? Ela pisca de novo, ainda claramente atordoada, então, pressiono um botão para levantar a cabeça de sua maca para uma posição meio sentada, e levo um copo d'água com um canudo aos lábios. Ela chupa avidamente, me fazendo sorrir. O médico se aproxima e eu dou um passo para trás, deixando que ele e sua equipe façam o que querem. As enfermeiras colocam o braço direito de Chloe em uma tipóia enquanto ele faz algumas perguntas e mede seus sinais vitais; em seguida, eles removem o IV e todo o equipamento de monitoramento. Ela foi considerada acordada e estável. — Tome isto para a dor conforme necessário — diz o médico, colocando um frasco de comprimidos sobre a mesa. — E tome cuidado para não molhar o curativo. Ele precisará ser trocado a cada vinte e quatro horas. — Ele olha para mim e eu confirmo. Tenho uma boa experiência com ferimentos à bala e ficaria mais do que feliz em desempenhar o papel de enfermeiro de Chloe. Não estou feliz com os analgésicos, mas sei que ela vai precisar deles. Seu ferimento pode não ser fatal, mas ainda vai doer como o inferno. — Aqui, eu cuido disso — digo enquanto as enfermeiras se movem para levantar Chloe, provavelmente para transferi-la para sua cama. Afastando-as, eu cuidadosamente a pego e a carrego até lá – não é uma tarefa difícil, já que ela é pouco mais pesada que Slava. Embora ela tenha comido como um lenhador durante a semana em que esteve aqui, minha zaychik ainda está muito magra por causa de seu mês fugindo. Ela estremece quando a deito, e sinto como uma punhalada no estômago. Eu nunca estive tão visceralmente sintonizado com outra pessoa antes, a ponto de sentir a dor dela como minha. Se eu tivesse alguma dúvida sobre o que ela significa para mim, ela desapareceu no momento em que vi que seu Toyota não estava na garagem. Eu nunca tinha conhecido tanta raiva e terror como quando soube que os assassinos estavam na área – quando pensei que não poderia encontrá-la a tempo. Minhas entranhas se retorcem e afasto o pensamento antes de ficar tentado a estrangular Alina. O importante agora é que Chloe está segura aqui comigo. Já disse a Pavel para reforçar nossa segurança, caso os assassinos tenham descoberto quem contratou Chloe e transmitido essa informação a seu empregador antes de eu encontrá-los. Duvido – aquele que torturei parecia não ter ideia de quem eu era – mas não vou correr nenhum risco. Além disso, sempre há a ameaça dos Leonovs. Alexei ficará ainda mais irritado agora que roubamos o lucrativo contrato do reator nuclear tadjique do Atomprom de sua família. Afastando esse pensamento também, concentro-me em apoiar Chloe em alguns travesseiros e cobri-la com um cobertor enquanto o médico e sua equipe levam a maca e todo o equipamento para fora do quarto. Um minuto depois, finalmente estamos sozinhos. Sento-me na beira da cama e pego sua mãozinha. — Você está confortável, zaychik? — pergunto, esfregando sua palma gelada. — Posso pegar alguma coisa para você? Algo para beber, comer? Eu imagino que você deve estar com fome. Ela engole e acena com a cabeça. — Um pouco de comida seria ótimo. — Ela parece mais alerta agora, seus grandes olhos castanhos claramente cautelosos. Seu medo tem um efeito duplo sobre mim, fazendo meu peito doer ao mesmo tempo que desperta aquela parte primitiva e retorcida em mim que quer persegui-la e marcá-la, reivindicá-la da maneira mais brutal possível. Suprimindo o instinto sombrio, levo sua mão aos lábios e beijo seus nós dos dedos. — Eu vou trazer para você. Você quer algo para entretê-la enquanto espera? Um livro ou… — Vou apenas assistir um pouco de TV. Eu sorrio e entrego a ela o controle remoto. — Ok. Já volto. Inclinando-me, dou um beijo rápido em sua testa e saio correndo do quarto.
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