Capítulo 3

1918 Parole
3 CHLOE Com o coração batendo irregularmente, eu vejo a porta se fechar atrás da figura alta e de ombros largos de Nikolai. Minha testa ainda formiga onde seus lábios tocaram minha pele, mesmo enquanto minha mente repassa os gritos crus e cheios de agonia do homem que ele torturou. Como pode um assassino implacável ser tão atencioso e terno? Isso é real ou é apenas uma máscara que ele usa para esconder o psicopata dentro de si? Na verdade, não estou com fome – a anestesia me deixou um pouco enjoada – mas preciso de alguns minutos sozinha. Tudo aconteceu tão rápido que não tive a chance de formular minhas perguntas, muito menos tentar encontrar alguma resposta. Em um momento, um dos assassinos da minha mãe estava montado em mim, luxúria brilhando em seus olhos escuros e diretos, e no próximo, o cérebro de seu parceiro estava por todo o chão da floresta e Nikolai estava estripando meu agressor e ameaçando remover seus intestinos. Engolindo uma onda de náusea, coloco de lado a lembrança. Por mais brutais que fossem os métodos de interrogatório de Nikolai, eles produziram alguns resultados, e com o pior do choque passando e minha mente se dissipando da névoa da anestesia, posso finalmente pensar nas implicações do que descobri. Eles estavam lá para matar vocês duas, Nikolai me disse no carro antes de perguntar se o nome Tom Bransford significava alguma coisa para mim. Sim. Porque ele tem estado em todas as notícias ultimamente. Com a mão instável, levanto o controle remoto e ligo a TV, sintonizando um canal de notícias. Com certeza, eles estão cobrindo os debates primários, que Bransford parece estar ganhando, colocando-o à frente em todas as pesquisas. Minhas entranhas se agitam enquanto estudo sua imagem na tela. Se Nikolai está me dizendo a verdade, este é o homem responsável pelo assassinato de minha mãe. Jovem e esbelto aos 55 anos de idade, o senador da Califórnia exala charme e carisma. Seu cabelo louro-dourado espesso m*l aparece o grisalho, seus olhos são de um azul brilhante e seu sorriso é radiante o suficiente para iluminar um armazém. Não admira que o estejam comparando a JFK; ele poderia ser o irmão ainda mais bonito do presidente morto. Procuro por sinais do m*l em seu rosto de feições uniformes e não encontro nenhum. Mas, novamente, por que eu acharia isso? Por mais bonito que seja Bransford, ele não se compara ao apelo magnético sombrio de Nikolai, e eu sei do que ele é capaz. Eu também não sou a única deslumbrada com Nikolai. Mesmo tonta da anestesia, não pude deixar de ver os olhares cobiçosos que as enfermeiras lançaram sorrateiramente para ele. Nunca saí em público com meu patrão, mas imagino que as calcinhas derretem pelo caminho quando ele anda pela rua. Uma pontada bizarra de ciúme me atinge com o pensamento, e eu percebo que estou me distraindo da questão-chave. Por quê? Por que um dos principais candidatos presidenciais iria querer matar a mim e minha mãe? Isso não faz sentido. Absolutamente nenhum. Mamãe não poderia ter sido mais afastada da política se ela tivesse vivido na selva amazônica, e Deus sabe que eu não sigo essas coisas. Por mais embaraçoso que seja admitir, eu nem votei na última eleição, estando muito ocupada começando a faculdade e tudo mais. Nunca conheci Bransford em qualquer lugar; tenho boa memória para rostos, e o dele é mais memorável do que a maioria. Talvez mamãe o tenha encontrado? No restaurante em que ela trabalhou, talvez? É possível, teoricamente. O hotel de luxo ao qual o restaurante está ligado é frequentado por todos os tipos de VIPs. Talvez Bransford tenha ficado lá durante uma visita a Boston, e mamãe o testemunhou fazendo algo que não deveria. Mas, então, por que ele iria querer me matar também? A menos que... ele estava com medo de que mamãe tivesse me contado tudo o que ela sabia sobre ele? Puta merda. Talvez ela tenha escondido algum tipo de evidência em seu apartamento, e ele acha que eu sei onde está. Empolgada, eu me sento, apenas para cair de volta no monte de travesseiros com um gemido. A anestesia definitivamente está passando porque o movimento doeu. Muito. Parecia que facas quentes mergulhavam em meu braço, e o resto do meu corpo não estava muito melhor. É como se eu tivesse sido derrubada por um caminhão de verdade, em vez de um assassino do tamanho de um. Antes que eu possa recuperar o fôlego e me concentrar novamente, a porta se abre e Nikolai entra, segurando uma bandeja com pratos cobertos. Meu coração dispara e a pouca respiração que recuperei evacua meus pulmões. Sem o véu de choque embotando meus sentidos e a distração da equipe médica agitada ao meu redor, seu efeito sobre mim é devastador, terrivelmente potente. Eu nunca conheci um homem que pudesse fazer meu corpo reagir simplesmente entrando em um ambiente. E não é apenas sua aparência; é tudo sobre ele, desde a intensidade animal crua em seu impressionante olhar verde âmbar até a aura de poder que ele usa tão confortavelmente quanto um de seus ternos feitos sob medida. No momento, ele está vestido de forma mais casual, jeans escuros e uma camisa de botão azul claro com as mangas arregaçadas até os cotovelos. Ele deve ter se trocado e tomado banho enquanto eu estava apagada, noto; não apenas suas roupas são diferentes das que ele usava no carro, mas a mancha em sua bochecha desapareceu e seu cabelo escuro está penteado para trás, úmido, expondo a simetria nítida de seus traços marcantes. Avidamente, meus olhos percorrem seu rosto, desde as barras pretas grossas de suas sobrancelhas até o formato cheio e sensual de sua boca. Pela primeira vez, não está curvado daquele jeito sombrio e cínico dele; em vez disso, o sorriso em seus lábios é caloroso, tingido de uma ternura inquietante. — Pedi a Pavel que esquentasse algumas sobras e preparasse uma seleção de petiscos diferentes — diz ele, cruzando o quarto em minha direção enquanto eu desligo a TV automaticamente. Sua voz profunda e grave é como uma carícia para meus ouvidos, muito mais agradável do que o tom estridente do apresentador. Colocando a bandeja na minha mesa de cabeceira, ele se senta ao meu lado e começa a destampar os pratos um por um. — Eu imaginei que você pudesse estar lidando com um pouco de náusea, então, trouxe algumas torradas aqui também. Uau. Ele poderia ser mais atencioso? Se eu não o tivesse visto matar e torturar com meus próprios olhos, nunca teria acreditado que ele fosse capaz de tamanha crueldade – mesmo com aquela vibração sombria e perigosa que continuava recebendo dele. — Obrigada — murmuro, tentando não pensar em suas mãos empunhando uma lâmina que cortou um homem enquanto ele estendia a bandeja em minha direção, me deixando escolher o que eu quero. Há de tudo, desde frutas cortadas até panquecas recheadas, frios e vários queijos, mas ainda estou com náuseas, especialmente com as imagens horríveis que se recusam a sair da minha mente, então, eu apenas pego a torrada e um punhado de uvas. Ele me observa comer com um meio-sorriso de aprovação, e tento não pensar sobre o quão caloroso aquele sorriso me faz sentir – e não apenas de uma forma s****l. É uma ilusão, essa sensação de segurança e conforto que ele me dá, uma sobra de quando eu pensava que ele era um bom homem que tinha problemas para se conectar com seu filho. Eu estava começando a me apaixonar por aquele homem. Não. Estou mentindo para mim mesma. Eu me apaixonei por ele, tanto que mesmo com as revelações aterrorizantes de Alina soando em meus ouvidos, eu dei meia-volta com meu carro e estava voltando para cá quando os assassinos me emboscaram. Sua própria irmã me disse que ele era um monstro, e eu não acreditei nela. Eu não queria acreditar nela. Eu ainda não sei. — Onde está Slava? Como ele está? — pergunto, escolhendo o tópico mais inócuo que posso pensar. Há tantas coisas que precisamos discutir, desde as motivações de Bransford até se sou ou não uma prisioneira aqui, mas ainda não estou pronta para isso. Essa última pergunta, em particular, é muito perturbadora para contemplar no momento. — Ele acabou de voltar de um passeio com Lyudmila — responde Nikolai. — Alina fez com que ela o levasse antes de nossa chegada. — Ah, bom. — Eu estava preocupada que a criança pudesse nos ter visto de sua janela. — O que você vai dizer a ele sobre... você sabe? — Aceno para minha tipoia com a mão esquerda. — Diremos apenas que você caiu em um galho. — Sua mandíbula aperta. — Eu preferia que ele não soubesse que você o deixou. — Eu não… — paro, porque eu o fiz. Eu estava voltando, mas Nikolai não sabe disso. Nem estou planejando dizer a ele. Não quero que ele saiba com que facilidade me enganou, como, mesmo agora, uma parte de mim se recusa a acreditar que ele é um assassino tão c***l quanto os homens que assassinaram minha mãe. Seus olhos de tigre se estreitam com interesse especulativo. — Você não o quê? — Nada. — A palavra sai pouco convincente. Eu me esforço para encobrir isso. — Só quis dizer que não o deixei. É como se uma nuvem de tempestade passasse pelo rosto de Nikolai, bloqueando toda a luz e calor. Seu olhar se fecha, suas feições magníficas assumem uma dureza de estátua. — Certo. Você me deixou. Por causa do que Alina disse a você. Eu engulo em seco. Não tenho certeza se estou pronta para isso também, mas parece que não tenho escolha. Ignorando a dor latejante no meu braço, me coloco numa posição mais ereta. — Ela mentiu? — Minha voz vacila ligeiramente. — Ela inventou tudo? Ele me encara, o silêncio se estendendo por segundos dolorosamente longos. — Não — ele finalmente diz. — Ela não fez isso. Algo dentro de mim murcha. Até este momento, eu ainda tinha esperança de que sua irmã estivesse errada, que apesar do que eu o vi fazer aos dois assassinos, ele não era culpado do horrível crime de patricídio. Mas não há espaço para dúvidas agora. Por sua própria admissão, o homem na minha frente matou seu pai. — O que aconteceu? Por que… — Minha voz falha. — Por que você fez isso? Ele não responde por outro longo momento de desespero. Seu rosto é o de um estranho, escuro e fechado. — Porque ele mereceu. — Suas palavras caem como um martelo, pesadas e brutais. — Porque ele era um Molotov. Como eu. Eu umedeço meus lábios secos. — Não entendo. — Meu coração bate contra minha caixa torácica, cada batida ecoando em meus ouvidos. Uma parte de mim quer desligar isso e sair correndo gritando, enquanto outra parte, infinitamente mais tola, deseja curvar minha palma sobre a linha dura e intransigente de sua mandíbula, oferecendo conforto com meu toque. Porque oculta sob aquela fachada dura e sem emoção está a dor. Tem que haver. Ele abre a boca para responder quando alguém bate na porta. O som é baixo, hesitante, mas mata o momento com a mesma certeza de um tiro. Levantando-se de um salto, Nikolai caminha até a porta para abri-la. — Konstantin está ao telefone — diz Alina da porta. — A equipe dele encontrou algo.
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