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Seraphin

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Sombrio
os opostos se atraem
máfia
drama
mistério
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intro-logo
Sinopse

Seraphin era um homem sem chão, sem raízes, um errante. Um assassino de aluguel, frio, sem nome verdadeiro, sem passado que valesse lembrar. Tinha o bolso cheio de dinheiro, a conta sempre cheia, mas não tinha com quem gastar, não tinha por quem voltar. Sem apego, sem lar, sem nada que o prendesse a lugar nenhum.

Às vezes, achava que o que batia dentro do peito era só uma carcaça vazia, um músculo morto, funcionando por reflexo. Ele não sentia, não se importava. Tinha desprezo por tudo e por todos. Alguém precisava morrer, e ele recebia. Recebia, então matava.. Ele não perguntava por quê, não queria saber nomes. A missão vinha, e ele executava.

Mas então ele conheceu Cora.

E tudo o que ele achava que era sólido começou a rachar. O silêncio dele já não bastava, o desprezo já não protegia. A presença dela bagunçava. E, perto dela, aquela carcaça vazia no peito começou a doer.

O assassino de aluguel, frio e implacável, descobriu que talvez... talvez o coração dele ainda estivesse lá. Podre, enferrujado, mas inteiro. E isso era um problema.

Porque sentir era perigoso. E amar… pior ainda.

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Seraphin
Seraphin estava deitado na carroceria do próprio carro, era ali que dormia quase todos os dias, não tinha casa, não pagava hotel, não confiava em camas limpas nem em quartos com janelas, só encostava o carro em algum canto, desligava tudo, deitava e dormia, com a arma perto da perna e o motor ainda quente. Tinha feito dois trabalhos naquela semana, o último dentro da fazenda de um fazendeiro covarde que tremia enquanto entregava o envelope, queria um problema resolvido, e Seraphin era o tipo de homem que resolvia, sem perguntas, sem olhar nos olhos, sem deixar rastros, só fazia, sumia e cobrava caro. Fechou os olhos, mas não dormiu, escutou um som baixo, um choro abafado, parecia feminino, parecia perdido, mas ele não era o tipo que ia atrás de barulhos, não se metia onde não foi pago pra entrar, ignorou. Mas aquilo incomodava, não pelo choro, mas pelo som que insistia, como se atravessasse a noite inteira até encostar dentro dele, e Seraphin odiava qualquer coisa que se aproximasse do que um dia chamaram de sentimento. Pegou a bolsa, jogou o capuz sobre a cabeça, desceu da carroceria em silêncio, a chuva fina batia no rosto, gelada, sem força, irritante como tudo, seguiu andando pela estrada de terra até alcançar uma velha cabana que já tinha usado antes, abandonada, com goteiras, porta bamba, mas pelo menos coberta. Empurrou a porta com o ombro, passou, trancou do jeito dele, jogou a bolsa no chão e se jogou no colchão sujo que alguém deixou ali há anos, apoiou a arma do lado, cruzou os braços por cima do peito e respirou fundo, o som do choro continuava lá fora, longe, mas ainda presente. Fechou os olhos de novo, mais forte dessa vez, nada lá fora era da conta dele. Dormiu por umas três horas, não mais que isso, acordou com o rugido de uma onça, mas já acostumado, levantou e foi até o rio, tinha sempre escova e sabonete.., sempre sozinho, em silêncio, sem ninguém por perto. Na bolsa, dentro do carro, tinha um pequeno estoque de tudo o que precisava, não ligava pra água fria, não se importava com o desconforto, comia qualquer coisa que tivesse sido feita num ambiente limpo, comida não precosava ser boa. Depois voltou pro carro, olhou o celular velho, recebeu o próximo trabalho, era ali mesmo, perto da mesma fazenda, sem precisar ir longe, o fazendeiro daquela terra não era amigo, era só um cliente, um entre muitos, e Seraphin ficaria mais quatro dias ali, só até encerrar o serviço, depois partiria sem olhar pra trás, como sempre. Na hora da refeição, foi junto com os peões da fazenda, não falava com ninguém, ninguém falava com ele, os homens o temiam, e ele não fazia questão de mudar isso, pegou a bandeja, caminhou até o canto, se serviu do básico e se sentou. Foi quando ela entrou. Uma mulher de vestido longo, cabelo solto e rosto abaixado, carregava uma bandeja também, o cheiro dela chegou até ele antes do corpo, não era perfume, não era flor, era medo. O medo dela tinha cheiro, e era doce.. E tinha algo mais, algo que ele não conseguiu nomear. A mulher hesitou ao notar onde ele estava, quase parou, mas continuou andando, sentou longe, o mais longe que conseguiu, em silêncio, com os olhos baixos, com o corpo encolhido, como se pedisse pra sumir, e mesmo sem querer, Seraphin viu. Não devia, mas viu. A cicatriz no braço esquerdo. A respiração curta. O fazendeiro sentou ao lado dele, largando o peso do corpo na cadeira, com aquele jeito de dono de tudo, como se estivesse oferecendo uma dádiva. — Pode ficar por uns meses… tenho alguns assuntos pra resolver… — Não posso — Seraphin respondeu, sem virar o rosto — peguei o trabalho que queria, fiz, fico mais quatro dias e parto. — E quando volta? — Não volto. Se me passar uma mensagem, e for algo que valha, a gente conversa. — Lá dentro, Cora, agora! — o fazendeiro gritou, alto, seco, sem paciência, sem disfarçar o tom de comando. Cora. Era esse o nome dela e morria de medo do marido, soube que era esposa do fazendeiro, porque levava um colar com nome dele, , como se ele fosse o seu dono e ela fosse uma objeto. Ainda não era da conta dele, não era, nunca tinha sido, não se importava com gritos, com brigas, com mulheres assustadas em fazendas enormes, não se importava com o medo que cheira, com nada disso. Terminou a comida em silêncio, levou a bandeja até uma mulher que trabalhava ali, uma que ele achava que era da cozinha, depois voltou pro carro, pegou uma toalha e foi até o rio, se despiu e mergulhou fundo, deixou o corpo afundar, tentou apagar o pensamento do nome dela, do cheiro, do jeito de se encolher. Mas quando saiu da água, havia uma mulher sentada na beirada do barranco. Não era Cora. — Quer companhia? — Solicitei companhia? — ele rebateu, direto, os olhos frios, o corpo ainda pingando. — Não… — Então não me siga — Seraphin cortou, firme — não tô interessado, e não gosto do seu jeito, sai. Ela ficou ali, alguns segundos paralisada, como se esperasse alguma palavra diferente, mas não veio, então abaixou a cabeça e voltou andando devagar. Secou o corpo com a toalha, vestiu uma roupa limpa, acendeu uma fogueira pequena e jogou dentro dela a calça e a camisa que tinha usado no dia anterior Era costume. Queimava as roupas sempre que podia, principalmente as que usava em serviço, só mantinha os sobretudos e algumas blusas de frio que deixava numa lavanderia qualquer, isso quando não havia sangue, de resto, ele jogava fora ou queimava, simples assim. Não era bom em lavar roupa, nunca foi, e não tinha ninguém que fizesse esse tipo de trabalho por ele, não confiava, não queria, não permitia. Tudo o que usava era descartável, como a vida que levava. Como as pessoas que cruzavam o caminho dele. Mas a mente foi para Cora.

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