Episódio 3

1468 Palavras
Pensamentos sobre o homem atrevido, sob cujos pés pareço ter me enroscando, saem da minha cabeça assim que vejo Marcos. Olho em volta uma última vez e saio das sombras, caminhando em direção a ele em passo acelerado. O restaurante onde Leila e Azamat estão se casando é administrado por um dos bons amigos do meu pai. Passei metade da minha infância aqui, me divertindo enquanto o meu pai e seus amigos tomavam chá, conversavam sobre assuntos sérios e jogavam gamão. Graças a isso, sei que este lugar é seguro. É difícil chegar aqui. E por que alguém além de nós faria isso? — Alya... Marcos exala e olha para mim como se não nos vissemos há um mês, embora na verdade nos tenhamos visto anteontem. Eu disse que estava indo para a floricultura para uma missão urgente, e eu...Ah... Ao mesmo tempo, estou muito envergonhada e ainda sinto um friozinho no estômago com as lembranças de como Marcos me pressionou, como ele me beijou, o que ele sussurrou... Ele disse muitas vezes que não era feito de ferro. Mas também não sou feita de ferro. Eu realmente quero começar a falar sobre casamento o mais rápido possível. Parece-me que um ano e meio é mais que suficiente para se convencer do acerto da sua escolha. Estou segura de mim mesmo. Estou pronta para fazer todo o possível para defendê-lo. — Venha até mim rapidamente... Acelero em resposta ao pedido dele. Ele está parado sob uma parreira de uvas. Também na sombra. Dou um passo em direção a ele e caio em mãos fortes. Elas imediatamente caem nas minhas coxas e apertam até doer. Marcos olha para o meu corpo. Hoje estou usando um vestido azul de cetim até o chão. Existem alças nos ombros. O decote do vestido é muito aberto mesmo, mas perguntei para minha mãe, ela não me proibiu de usar. Acontece que ninguém na plateia se permitiria olhar de forma tão predatória e óbvia para o vale entre os sei*os. Até o promotor se conteve, mas Marcos... Seu olhar faz o meu estômago doer novamente. Tenho vinte anos e esses olhares, beijos e a sensação de desejo masculino pressionado contra a minha barriga são o máximo das minhas experiências sensuais neste momento. Eu gostaria de mais, mas só depois do nikah. Sonho em me casar uma vez e para o resto da vida, ter três filhos, criá-los como pessoas dignas e, quando envelhecer, contar aos meus netos sobre minha vida honesta e feliz, sem ter que olhar para baixo e mentir. Acredito que com Marcos tudo será exatamente assim. Sua palma rasteja atrás de minhas costas, eu aperto minha mão e pego seu olhar turvo. — Marcos, por favor... Ele franze a testa, não quer abrir mão da oportunidade de me sentir, mas desiste. Ele se inclina em direção ao meu rosto, eu imediatamente faço o que ele pede sem palavras. Aperto as bochechas dele com as palmas das mãos, elas são lisas. Ele está sempre bem barbeado. Pressiono os meus lábios nos dele. Quero me afastar imediatamente, mas ele me segura, mergulhando os dedos em meu cabelo. Fico tensa, e ele exige que eu relaxe, massageando a pele com pressão com a ponta dos dedos. Sinto uma língua passando pelos meus lábios. Quer entrar em mim. Eu sei. Já permiti isso várias vezes, mesmo sendo haram. Estou dilacerada por dentro pela inconsistência. Fazer tal coisa debaixo do nariz dos meus pais não é apenas atrevimento, mas ridículo e inaceitável. Mas como posso recusá-lo indefinidamente? Ele também é uma pessoa... eu o amo... Eu timidamente relaxo minha boca, Marcos imediatamente começa a mergulhar fundo com a língua repetidas vezes. Para ser sincera, não gosto de beijar assim. Talvez porque ainda não entenda tudo sobre o relacionamento entre homens e mulheres, mas finjo que compartilho sua paixão. Pressiono persistentemente o meu peito e me afasto quando as duas mãos dele pousam em minhas nádegas. Obviamente, isso é demais. — Por favor! Por favor... Ele abre com um suspiro. Sinto que não sou a melhor pessoa. É muito difícil equilibrar as expectativas da sua família, os desejos do homem que ama e os seus próprios sentimentos. — Venha comigo, Al... Marcos pergunta, juntando as sobrancelhas. O seu olhar suplicante e cheio de impaciência aprofunda minha culpa. Também apago diligentemente a explosão de raiva por pedir demais, depois de minhas tentativas frequentes e persistentes de transmitir a complexidade do que está acontecendo. Uma mulher deve ser paciente. Para o homem dela. Compreensão. Eu sorrio e acaricio o seu rosto. Admiro sinceramente e ele olha para baixo novamente. Quero puxar o tecido mais alto para não me envergonhar e não atormentá-lo, mas não tenho certeza se ele entenderá bem esse gesto. Então, estou apenas esperando que seus olhos voltem para o meu rosto. Ele é muito bonito. Loiro alto, de olhos azuis e nariz arrebitado. Somos opostos tanto na aparência quanto no caráter. Ele é uma pessoa que ama a liberdade e não conhece restrições ou limites. Eu sou feita deles. Tenho inveja dele e sonho um pouco que quando ele me tomar como esposa, começará uma vida completamente diferente, cheia de liberdade. Mas isso requer etapas. Ele não pertence a mesma cultura que eu. — Como irei, Marcos? Todos os meus... Meus pais... Ele faz uma careta. Este não é um argumento para ele. E estou experimentando uma onda de ressentimento. — Desista deles por mim, Al. Vou deixar qualquer um por você... Eu rio e dou um tapa no peito dele, e ao mesmo tempo o calor se espalha dentro de mim. Isto parece muito comovente. Eu nem quero discutir. Provavelmente, se ele diz isso, então ele também tem algo de que desistir por minha causa... — Não posso, Marcos... me desculpe... — De moto até o rio, Al... Sem capacete... Vamos... Sua proposta parece tão ultrajante e perturbadora que me deixa sem fôlego. Uma imaginação selvagem pinta imediatamente um quadro que não é nada decente, mas é tentador... Ande com os braços estendidos para que o vento sopre, os cabelos esvoaçam, gritando... Porque com ele eu posso fazer tudo alto. E rir. E juro... E como é um rio, quem sabe até iríamos às compras... Ah-ah-ah... Que tentador e inadmissível. Fecho os olhos e balanço a cabeça. Não. Depois. Nessa nossa vida futura, poderemos realizar tudo isso. Coloquei as palmas das mãos nas mãos de Marcos. Tiro-a dos meus quadris e levanto. Eu sei que mostrar respeito e amor pelas pessoas, principalmente pelos homens, beijando as suas mãos é apenas nossa tradição. Mas quero amar Marcos de todas as maneiras: tanto como ele quer quanto como eu quero. Então me aproximo, pressiono os lábios nos nós dos dedos e olho para cima, envergonhada. A maneira como ele sorri me deixa ainda mais envergonhada. Sei que ele dá a esse gesto um significado diferente do meu, mas não importa, vamos concordar em tudo. — E se eu for à noite na sua casa, você desce? Ele engole, vejo seu pomo de adão se contorcendo e quero muito prometer essa estu*pidez, mas com todas as minhas forças balanço a cabeça. Não posso fazer isso com meus pais e com minha própria reputação. Já é difícil para mim olhá-los nos olhos. Quero economizar pelo menos um grão. — Caramba... Marcos jura. Ele sacode as mãos. Minhas pupilas dilatam de excitação. Acho que agora ele vai explodir, me acusar e ir embora. Mas ele se aproxima, levanta o meu queixo e nos olhamos nos olhos. — Me envenenou... Fico em silêncio, minha pele arrepia. Não é verdade. Na minha comunidade, bruxaria é um pecado. É verdade que ainda sou uma pecadora. Conhecer as regras e quebrá-las é um crime deliberado contra Deus. Mas não discuto com Marcos sobre isso. A raiva em seu olhar está desaparecendo lentamente. Ele aceitou ambas as recusas. Eu exalo. Ele está pronto para continuar a tolerar as minhas peculiaridades. Inclina-se para um último beijo. Meu instinto protesta, eu não deveria, mas novamente não recuso. É verdade que desta vez não temos tempo para nos beijar. Nossos lábios estão muito próximos quando ouço o barulho alto de um galho seco atrás de mim. Eu fico com medo instantaneamente, pulo e me viro. Vejo, sem exagero, os selvagens olhos negros de meu irmão Bekir e fico sem palavras. Ele está olhando por cima da minha cabeça. A sua mandíbula está cerrada, suas têmporas latejando. Os punhos cerram. Quando o meu irmão olha para mim, fico com frio. Quero dizer algo em minha defesa e em defesa de Marcos, mas minha língua não se move. Eu ouço: — Saia daqui, Aika... E eu fechei minha boca impotente. Bekir esconde o rosário no bolso da calça e começa a arregaçar as mangas da camisa branca como a neve.
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