Arruinei o casamento da minha melhor amiga. Eu desonrei a mim mesmo, minha família e humilhei todos que amo.
Sonho em cair no chão, mas em vez disso volto obedientemente para o corredor, como o meu irmão ordenou.
Tentei murmurar alguma coisa, mas ele não quis ouvir. Ele deu um passo na minha direção, me puxou pelo braço e me empurrou de volta para o lugar de onde veio.
Agora o meu pulso está machucado, mas me distraio da dor para não enlouquecer. Esfrego a minha pele e mentalmente digo adeus à vida.
Não adianta tentar explicar algo para alguém. Bekir falará com Marcos.
Marcos não vai amenizar o conflito, ele não é desses. Ele é o corajoso, eu sou a covarde. O meu irmão contará tudo ao meu pai.
Estou sufocando com o desespero avassalador. Eu lamento lamentavelmente e me afasto da multidão de convidados que nem sequer suspeitam do drama que está se desenrolando nas proximidades. E a minha vida está desmoronando.
Depois disso, papai nunca nos abençoará. Mesmo que Marcos realize o Hajj. Mesmo que ele me dê um dote mais generoso do mundo, para o qual ele simplesmente não tem dinheiro. Mesmo que ele me ame como ninguém mais. Tudo está arruinado. Eu estraguei tudo.
E não posso nem ficar com raiva de Marcos e da sua ideia estúpi*da. Ele está lá agora lutando por nós dois. E eu... sou apenas uma criatura que colocou o meu amado irmão contra o meu amado homem.
Soluço de novo, mordendo o interior da bochecha até sangrar. Olho para a parede e tento equilibrar a minha respiração, mas qual é o sentido? A minha calma não mudará nada. Mas o pânico tem todos os motivos.
As mãos de alguém caem sobre os meus ombros, eu pulo e até grito. Não demoro muito para perceber que é Leila. Olho para o seu sorriso caloroso e m*al consigo conter as lágrimas. Minha querida, você ainda não sabe o que eu fiz... E quando descobrir, não vai mais me tocar.
Os meus olhos ficam cheios de umidade. Estou nos últimos fios de cabelo e Leila franze a testa e se aproxima de mim.
— Ei, Aika... O que está acontecendo?
Não consigo responder, apenas balanço a cabeça.
Ela abre os braços e eu imediatamente mergulho neles.
Como sou terrível... não mereço isso...
Mas, apesar dos meus próprios pensamentos, eu me aproximo ainda mais da minha amiga. Descanso o meu rosto no seu ombro e olho através de um véu de lágrimas para a multidão agitada. Me permito um pouco de fraqueza, sonhar, e se passar? Mas não. Não…
Encontro o meu pai com os olhos e praticamente engasgo de vergonha. É ainda mais forte quando percebo que o mesmo m*aldito promotor está ao lado dele. Meu sangue ferve e decido odiá-lo. Por algum motivo, parece que foi ele quem deu a dica para Bekir. Caso contrário, como o meu irmão foi parar onde Marcos e eu estamos?
Não adianta pensar nisso. Quero cair no chão de novo.
Os golpes calmantes de Leila pioram a cada segundo. Eu me sinto muito m*al... Pensamentos sobre escapar passam pela minha cabeça. Mas onde? Você não pode fugir de si mesmo...
Olho para um homem que não conheço, de terno caro e rosto severo, e repito para mim mesmo sem parar: por que você fez isso? Diga-me... Por que você fez isso? O que eu fiz para você?
Não estou esperando uma resposta. Se eu perguntasse, ele iria rir na minha cara porque era um absurdo. Porque a culpa é minha. Porque não tenho coragem de perguntar com sinceridade: por que fiz isso...
De alguma forma eu me recomponho e me afasto. Percebo o olhar afetuoso de Leila e forço um sorriso.
Por fim, quero ter tempo para mostrar a ela que a amo sinceramente e não importa o que aconteça.
— Alguém te ofendeu, pequeno riacho? Ela sorri calorosamente, estende a mão para minha bochecha e a acaricia. E isso me derruba novamente.
De acordo com uma interpretação, Leila é uma gota no paraíso. Mas agora tal apelo soa especialmente blasfemo. Hoje o meu riacho secou. A entrada para o céu está definitivamente fechada.
— Eu mesmo. Aceno desajeitadamente e recuo.
Eu cerro as minhas mãos com força.
Bekir e Marcos estão sozinhos no quintal há cerca de cinco minutos. Senhor, deixe-os apenas conversar e não brigar. Por favor…
— Vamos cortar o bolo agora. Vamos chegar mais perto?
Leila não insiste para que eu lhe conte imediatamente o motivo do meu estranho comportamento. Na verdade, é incrível que ela tenha encontrado tempo para mim.
Uma amiga estende a mão para mim, eu a agarro como se fosse um salva-vidas. Sigo Semen enquanto a luz se apaga lentamente acima das nossas cabeças.
Em nossos casamentos, as tradições são suavemente entrelaçadas num cenário completamente padronizado. Estive em várias celebrações de pessoas que não pertencem a nossa cultura. Não posso dizer que me causaram uma impressão indelével. Não, é mesma coisa, apenas música diferente, álcool, parte da comida, competições e danças mais atrevidas.
Leila me deixa ir ao lado do resto das suas amigas. Ao contrário de mim, eles não precisavam se reunir no salão. Estou num pequeno grupo atrás dos recém-casados.
Continuo contando os últimos segundos da minha vida sem vergonha. Eu olho para a porta assustadora. Estou esperando que Bekir apareça e vá até o meu pai. E eu nem vou cair em pé. Não adianta implorar. Ele é muito honesto...
A música muda para uma muito solene. Fica completamente escuro e o futuro caminho do bolo é iluminado por um holofote. Um enorme e brilhante bolo branco está sendo retirado pela porta que dá para a cozinha.
Os convidados ficam maravilhados com o espetáculo e pegam os seus celulares, pois agora é a hora de tirar fotos. E eu também o tiraria com prazer, se não estivesse desesperado com que fiz.
Agora não consigo apreciar a beleza do gigante de sete níveis nem sentir a atmosfera. Todos os músculos do corpo estão tensos. Até os meus ouvidos estão zumbindo. Cada vez mais alto, até que em determinado momento o som para.
Ficarei surda no momento da minha maior vergonha.
É difícil enxergar no escuro, mas me parece que na minha vida nunca esquecera nada do que aconteceu.
Uma sombra com uma camiseta rasgada e suja voa pelo corredor como uma flecha. Esta é Marcos. Ele corre, seguido por Bekir. A camisa do meu irmão estava meio-desabotoada, a barra da calça puxada para fora.
Pare, shak-k-k-kal!!! O meu irmão grita alto e Marcos coloca a mão para trás com o dedo médio esticado.
Mais e mais convidados estão confusos. Marcos até derruba alguém. Bekir o afasta. Se eu fosse um pouco mais velha, provavelmente já teria tido um ataque cardíaco e morrido em segurança. Mas estou viva. Agora parece que infelizmente.
Marcos corre pelo corredor.
Leila e Azamat não o veem, nem os convidados, apaixonados pelo bolo e que se reuniram mais próximos da ação. Mas a estrela principal deste feriado não está destinada a ser a obra-prima em formato de bolo, infelizmente.
— Eu vou te matar de qualquer maneira, seu bastardo!