Capítulo Um.
Acordei cedo como sempre. Não sou de dormir até tarde, eu gosto de aproveitar o dia, de ficar no meu estúdio colorindo. Quando me virei do outro lado da cama, me deparei com uma chave de carro com um laço rosa. Ao lado tinha um papel escrito:
Parabéns, querida.
Era a letra de papai. Eu quase não acreditei quando vi a chave ali em cima. A peguei, corri para a varanda, abrindo minha cortina bege claro e logo depois abrindo a porta de vidro. A brisa fria da manhã bate em meu rosto. Meus olhos percorrem o jardim e lá estava o Nissan Kicks preto. Eu não estava feliz só por ter ganhado o carro, mas pela confiança que papai estava colocando mim. Desde o acidente de mamãe, ele nunca me deixou chegar em um volante de carro. Eu fiz auto escola, tirei carteira, fiz tudo que uma pessoa precisa pra poder dirigir, mas mesmo assim, ele não me deixava de maneira alguma pegar uns dos nossos carros. Sempre que eu ia em algum lugar, Tito ia comigo. Tito era o braço direito de papai, além de trabalhar para ele, eram super amigos.
Voltei para meu quarto, colocando meu hobby e descendo as escadas. Passei por Margarida, lhe dando um abraço apertado.
— Abigail! Não corra, o chão está liso — ela me repreendeu. — E o café está pronto, querida.
— Margarida, onde está papai? — pergunto.
— No jardim como sempre — ela sorri.
— Vou falar com ele e já volto. — digo e saiu saltitando. Lá estava ele, na mesa do jardim rodeadas de plantas. Estava com uma revista na mão e na outra uma xícara de chá.
— Paii! — chego perto dele e o abraço.
—Gostou? — ele perguntou.
— Amei! Obrigado por me dar um voto de confiança — digo e beijo seu rosto.
— Só tome cuidado, Abigail. Você sabe que…
O interrompo — Não me lembre, papai — digo meio triste — Eu tomarei cuidado.
— Eu sei que sim. Escolhi esse pois achei bem a sua cara. — Diz e se levanta — Vamos lá ver?
— É claro — digo e caminhamos abraçados para perto do carro. De fato era lindo, e minhas mãos sacudiam para pegar naquele volante. Talvez amanhã eu saia nele.
— Já tomou café? — papai pergunta
— Ainda não. Toma comigo?
— É claro.
Nós sentamos na mesa do café.
— Ainda não se interessou por ninguém? — papai pergunta direto e eu acabei me engasgando com o suco.
— Pai! Não! — digo e não deixo de sorrir. — Por que está me perguntando isso? Você seria à primeira pessoa a saber.
— Pergunto pois nunca lhe vi com nenhum namorado. E sobre eu ser o primeiro a saber, Carolina não ficaria chateada? — ele pergunta com graça e foi impossível não rir.
— Carolina vai entender. — digo pegando uma fatia de melão. — Acho que hoje irei visitar minha afilhada. Emily disse que ela estava meio doente. Pegou uma febre mas está melhor.
— Se você for mesmo, mande um abraço pra eles. Devo uma visita ao Sebastian e a família dele.
— Claro. O senhor já vai para a empresa? — pergunto.
— Irei sim. Hoje terá alguns estagiários — ele diz beijando minha testa. — Vai inaugurar o carro hoje?
— Amanhã. Hoje vou à casa de Ely, com o Tito.
— Tudo bem. — sorrio e ele acaricia meus cabelos.
Papai era Dono de uma empresa de arquitetura. Ele era formado nisso, assim como mamãe também era. Se conheceram na faculdade.
Depois do delicioso café de Margarida, fui ao meu quarto tomar banho e me trocar. Me vesti com uma calça jeans de cor marrom claro e uma blusa branca de seda. Usei meu sapato bico fino cor preto e estava pronta. Faltava apenas a minha bolsa e um pouco de batom. Desci novamente as escadas, e escutei o latido do Pingo. Ele era bem pequenininho e peludinho. Ganhei de Caroline no meu aniversário do ano passado.
— Bom dia, meu bebê — o pego e o mimo em meu colo — Já comeu? — pergunto como se ele fosse me responder. Entrei na despensa da cozinha, abrindo um armário onde tinha apenas as coisas dele. Tirei a ração e coloquei na vasilha dele. — É pra comer tudo.
— Onde vai tão bonita e cheirosa? — Margarida aparece na cozinha.
— Vou visitar minha afilhada. Faz tempo que não vou lá. Que tipo de madrinha eu sou? — pergunto com graça.
— A melhor que uma criança poderia ter — ela sorri, apertando minha bochecha e saindo da cozinha.
Papai já tinha ido para a empresa. Hoje à noite eu sairei com Carolina. Marcamos de ir juntas dormir na casa da fazenda da avó dela. Apenas nós duas.
— Bom dia, Tito. — digo
— Bom dia. Abby. Vai a casa da Emily?
— Sim. Papai lhe disse?
— Sim. Eu vou te deixar lá e sair pra resolver algumas coisas no banco. Mas não vou demorar. Você me liga qualquer coisa.
— Não se preocupe. Tá tudo bem — lhe dou um sorriso entrando dentro do carro. Não demorou muito já estávamos no luxuoso apartamento do casal Mantovani. Sebastian morava na escala, que logicamente era enorme comparado aos outros andares de baixo. Toquei a campa e logo Emily aparece com os cabelos em um r**o de cavalo, Lorenzo Raphael em seu colo e mais atrás vejo Dakota no chão brincando.
— Hey — ela sorri ao me ver e me abraça.
— Oi. Como vai? — pergunto e brinco com Raphael, que era lindo e a cara do pai.
— Ótima. E você? Quanto tempo, hein?
Entro na casa e quando Dakota me vê , fica em pé e abre os bracinhos. A pego no colo e deixo um beijo estalado nela.
— Vou bem. Eu estava bem ocupada esses dias. Papai mandou um abraço — digo e me sento no sofá. — Dakota está melhor?
— Melhorou sim. Graça a Deus. Foi só um resfriado. Fiquei tão preocupada.
— Eu também fiquei. Os gêmeos gostam de uma bagunça, não é? — pergunto vendo os vários brinquedos pelo chão.
— Dakota é bem mais bagunceira. Ela adora brincar. Raphael já é mais quieto, mas gosta de uma baguncinha também.
— Ele tem cara de pestinha também.
— Dakota tá ensinando pra ele. — Ely diz e ri para filha.
— Onde Sebastian está?
— Trabalhando. Hoje ele vai passar o dia lá. Está cheio de coisas pra resolver.
Fiquei quase duas horas conversando com Emily. Ela me contou que está grávida de novo e que começará o pré natal com seu médico Caleb. Eita que esses dois não perdem tempo, e sem contar que Ely tem uma sorte e tanto pra ter filho, pra uma pessoa que já tirou um ovário.
— Foi ótimo te ver de novo. Ver vocês e parabéns pela gravidez. — digo e a abraço
— obrigada, Abby. Venha mais vezes.
— Virei com certeza — digo me despedindo e saindo da casa. Saquei meu celular do bolso e liguei para Tito, que não demorou muito atendeu.
— Tito? Você pode vir… — acabei me chocando em algo alto e duro, e acabei caindo de b***a no chão, deixando até o celular cair. A primeira coisa que fiz foi verificar se o celular tinha quebrado, e por sorte não. Coloquei o celular na mão e me levantei, dando de cara justamente com ele.
Ele me encarava sem reação alguma. Estava pálido e nervoso. Eu podia ver que ele estava prendendo a respiração e comigo não estava sendo diferente. Meu corpo estava do mesmo jeito. Eu estava nervosa e também prendia a respiração.
— Você está bem? — essa é a primeira palavra que ele se dirigiu a mim depois de quase dois anos.
—S..sim — acabei gaguejando. Minhas mãos apertavam fortemente a alça da minha bolsa de couro. Elas estavam começando até a suar. — Licença — digo passando por ele
— Abi….
Se ele tivesse terminado de falar meu nome, eu pararia, mas ele não terminou. Escutei apenas seus passos andando em direção a porta da casa de Ely. Me virei mais uma vez e ele estava de costas, esperando alguém abrir a porta e não demorou muito Ely abriu. Ela olhou pra mim e depois pra Nicholas. Tratei de sair rápido dali. Coloquei o telefone no ouvido novamente e Tito me chamava.
— Alô? Abigail?
— Oi Tito. Você pode vir me pegar? — peço com educação.
— É claro, Ebby. Já estou chegando aí.
— Obrigada.
Desliguei o celular e o guardei dentro da minha bolsa.
“Por favor, Tito! Venha o mais rápido possível, pois será doloroso demais eu me esbarrar nele mais uma vez” —penso.
Quando Tito chegou, até perguntou se eu estava bem pois minha cara estava pálida. Sim, essa palidez é ele que causa em mim. Tito entenderia se ele soubesse a humilhação que ele me fez passar.
Quando Sebastian me chamou para ser madrinha de casamento, fiquei bem feliz, sendo sincera. Eu sabia que veria Nicholas lá, até porque era casamento de seu irmão, mas nunca passou por minha cabeça ele ser meu par. Tentei reagir da maneira mais normal possível, tentando não demonstrar meu descontentamento.
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Já de noite, arrumei minha pequena maleta com algumas roupas e alguns produtos de higiene. Desci as escadas e papai estava na sala conversando com Tito.
— Já vai, filha? — ele pergunta.
— Já pai. Carolina já está me esperando. O senhor vai ficar bem? — pergunto.
— Claro, querida. Margarida me fez companhia — ele sorri e eu me abaixo beijando sua cabeça.
— Tudo bem. Boa noite pai. Boa noite, Tito.
— Boa noite, Abby — Tito diz.
— Ah, trás Melissa amanhã — digo me referindo a netinha de Tito. Eu adorava ela. Era uma menina linda e doce. Um amor de pessoa.
— Ela também está com saudades de você. Depois que ela sair do colégio eu a trago.
— Tudo bem. Até amanhã. Tchau — saiu de casa e corro para o portão onde Carolina estava dentro do carro.
— Partiu? — ela pergunta toda alegre. Ela tem a mesma idade que eu, mas Carolina é bem meninona e foi ela que me ajudou a me soltar mais desde a morte de mamãe.
— Agora — digo e seguimos para a casa da fazenda da avó dela.
Logo chegamos na fazenda. Não era longe. Era enorme e bem aconchegante. A avó de Carol é um amor de pessoa. Ela nos recebeu bem como sempre. Não dormiríamos na casa da avó dela, e sim na outra casinha que ficava mais para próxima do lago da fazenda. Era tipo um celeiro, mas com camas, sofá, TV, som e essas coisas.
— Vou por a pizza no forno e você fica com a pipoca e o brigadeiro — Carol diz indo para a cozinha.
— Tá — digo largando minha bolsa no canto da cama e indo para a cozinha. Não tinha nenhum tipo de divisão a casa, só tinha um balcão na cozinha que dividia a sala.
— Noah não pediu pra vir? Ele sempre pede — digo com um sorriso nos lábios.
— Dessa vez não. Ele tá em uma reunião com a família dele. — Carol diz amarrando seus cabelos pretos e lisos. Ela tinha a pele bronzeada e olhos cor de mel. Minha amiga era linda. — Pronto. A pizza já está no forno. Quer ajuda?
— Só olha a pipoca que tá no microondas. Já escolheu o filme? — pergunto.
— Já. Corações quebrados — diz.
— O meu filme? — perguntou com sarcasmo.
— Seu? — ela pergunta. Talvez não entendeu.
— Você disse que o nome era corações quebrados. O meu está.
— Não fala isso. Você sabe que quando você fica triste, eu também fico. — ela diz e beija minha cabeça.
— Eu vi ele hoje. Me esbarrei com ele — digo me virando para ela.
— Não brinca. Tiveram um contato? — ela pergunta.
— Eu me esbarrei apenas, Carol. Foi estranho. Ficamos nos olhando e…
— Não fala mais, porque toda vez que você fala dele você fica no mundo da lua. O que ele fez com você , Abby, não tem perdão. Ele foi um moleque, baixo demais. Nem parecia que ele tinha vinte e nove anos. Por sorte Noah não quebrou a cara dele.
— A pipoca — digo correndo e desligando o microondas. Tirei a pipoca e coloquei dentro de uma vasilha — por sorte não queimou, ou você comeria queimada mesmo.
— Não seja m*l — ela diz rindo e levando as coisas para o sofá.
Eu nem prestei atenção direito no filme. Como Carol disse, é só eu falar nele que eu fico no mundo da lua. Voltando ao passado e lembrando de tudo que não me faz bem.
Dois meses foi o suficiente para ele me conquistar. Com seu jeito doce, carinhoso, safado as vezes. Com seu beijo quente e devasso, que confesso que mexia com meu corpo inteiro.
Lembro-me bem que na festa de um amigo de papai ele estava lá, e veio para perto de mim, me dar um cartão com seu número, mas eu neguei de imediato. O seu interesse em mim foi notável, e ele era sempre bem direto.
Ele conseguiu meu número de alguma forma e começamos a conversar. Marcamos de sair. Ele foi me buscar em casa, até conversou com papai e tudo mais. Foi mais fácil papai deixa eu ir , pois Nicholas era seu amigo. Saímos naquela noite para um restaurante bem bacana. Conversamos, ele me tirou umas boas risadas contando de suas aventuras e foi a noite mais agradável com um homem que eu já tive. Nessa noite foi nosso primeiro beijo
Flashback On
Ele parou o carro bem na frente do portão da minha casa e sorriu pra mim com aquele sorriso doce e travesso. A barba loira estava bem feita em seu rosto, e eu tive vontade de tocar, e foi isso que fiz. Eu levei minhas mãos a sua barba e toquei de leve. Seus olhos verdes estavam claros e brilhavam, mas logo ficaram escuros. As mãos de Nicholas sobem por trás de minha nuca, segurando meus cabelos loiros e acariciando. Sua boca s aproxima da minha, e ele começa com pequenos beijos e mordidas de leve. Meu corpo estava clamando pelo seu naquele momento, mas nada além do beijo iria acontecer. Sinto seus lábios abrindo os meus e investindo. Foi a melhor sensação que já senti. Ele era bom, sua boca era macia e tinha gosto de vinho com hortelã. Minhas mãos saem de seu rosto e seguram seus cabelos loiros meio bagunçados. Os lábios de Nicholas dançavam em um tango perfeito com os meus. Eu podia apenas escutar o barulho de nossas bocas juntas. Ele penetra sua língua na minha, onde senti uma sentimento de desejo naquele momento. Nicholas quase me engolia ali dentro do carro, mas eu estava amando. Nicholas sabia usar a língua como ninguém.
Depois de cessarmos o beijo, ele me encarou. Eu não consegui ler o que seus olhos estavam expressando. Ele apenas encarou minha boca e voltou a me beijar de novo e de novo e de novo. Ficamos um bom tempo ali dentro do carro, até eu ver que as luzes da área da minha casa se acendendo.
— Papai acordou. Eu tenho que ir. Obrigada pelo jantar. Eu amei.
— Eu amei a sua companhia — ele diz e antes deu sair do carro, me beija de novo. — Podemos sair de novo?
— É só marcar. — digo e ele sorri de lado pra mim.
— Então eu te mando mensagem.
— Tá. Tchau, Nicholas.
— Até logo , Abby
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Saímos mais algumas vezes. Até Soraya mais Carlos chegou a nos ver juntos, e a cara que ela fez pra mim foi a pior. Eu não queria nunca ter que esbarrar com aquela cobra e aquele i****a novamente, mas Sacramento não é tão grande assim.
Nicholas viu meu desconforto e eu tive que contar tudo o que aconteceu entre Soraya, Carlos e eu naquele dia em que considerei o pior da minha vida.
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— Abby! O que você acha? — Carol me pergunta e eu olho para a pizza em meu colo.
— O que você disse? — Pergunto sacudindo a cabeça e voltando ao presente.
— Tá vendo só? Você estava no mundo da lua.
— Não estava não — minto e me levanto indo na geladeira pegar suco.
— Estava sim e não minta pra mim — ela diz — O que você acha de viajar-mos um dia? Eu você e Noah? Vamos para a Disney.
— Acho uma boa ideia — digo sendo sincera. — Eu nunca fui lá mesmo. Vamos adoçar um pouco nossa vida lá.
— Isso que eu tô falando. Um lugar bem animado e cheio de aventura. Eu sempre quis ir a Disney desde pequena, mas papai nunca teve tempo de me levar. Agora que somos de maior e responsáveis, podemos ir.
— Vamos marcar um dia para comprar as passagens e hospedagem. Mas isso mais pra perto das férias desse ano. Esses tempos estou cheia de quadros para terminar.
—Claro. Saca só — ela diz sorrindo e colocando um cd no som da sala.
— O que vamos escutar? — pergunto me jogando no tapete e voltando a comer minha pizza.
— Lady Antebellum — ela diz e coloca Need You Now. Minha música favorita.
— Que covardia — digo e ela sorri e começa a dançar na minha frente. Parecia uma louca e eu amava esse jeito dela.
Novamente minha mente deu um flashback
Flashback on
Eu estava pronta e ansiosa para o encontro que eu teria com Nicholas. Seria um jantar na fazenda de seus pais. Só estaríamos nós dois lá.
Usei um vestido vermelho tomara que caia, cabelos soltos, maquiagem não exagerada, mas o batom bem vermelho. Meu Salto não era tão alto. Tinha a cor bege claro que combinou perfeitamente.
— Está linda — Margarida aparece em meu quarto e arrumou meu cabelo.
— Obrigada. Será apenas um jantar — digo meio sem jeito.
— Gosta dele, não é? — ela perguntou e se sentou ao meu lado. Margarida morava junto conosco. Tinha seu quarto perto do nosso. Era grande e bonito. Papai fez questão de fazer. Ela era uma mãe pra mim.
— Gosto sim, Margarida — digo e deito minha cabeça em seu ombro — Gosto de mais.
— O amor é lindo — ela sorri e acaricia meus cabelos — Tito já está lhe esperando.
— Papai já está dormindo?
— Já sim. Aproveite.
Sai de casa e entrei no carro. Nicholas disse que estaria me esperando na fazenda, e foi pra lá que Tito me levou.
— Vai ficar bem? — Tito pergunta.
— Sim Tito. Dirija com cuidado — digo e lhe dou tchau. Desci do carro e segui para a entrada da fazenda. Vejo uma mulher e um homem se aproximando de mim.
— Boa noite. Posso ajudar? — o homem pergunta.
— Boa noite. Pode sim. O Nicholas está aí? — pergunto.
— Não senhora. Não tem ninguém além de mim e minha mulher aqui. Sou o caseiro da fazenda.
— Tem certeza? — pergunto.
— Sim senhora. — a mulher diz. Ela estava grávida.
— Me chame de Abigail — sorriu. — Posso esperar lá na casa?
— Claro. Ela está aberta e as luzes acesas. Qualquer coisa é só chamar. Moro naquela casa ali — diz apontando para sua casa — Talvez o Sr. Nicholas logo chegue.
— Obrigada — digo e sigo para a casa. Como disse, estava aberta e com as luzes acesas. Entrei e me sentei no sofá da sala. Achei estranho ele ainda não ter chegado e não ter nada de jantar pronto aqui. Estava frio e eu acabei esquecendo de pegar meu casado. Andei pela casa inteira, fui lá fora, voltei , sentei, esperei de novo e nada dele parecer. Acabei desistindo, e peguei meu celular para ligar para Tito, mas aqui não tinha área nenhuma.
— Droga — falei pra mim mesma e sai de dentro da casa. Conversei com o caseiro e perguntei se aqui não tinha nenhum transporte.
— Infelizmente não, senhorita.
Concordei e caminhei para a porteira que levava a saída da fazenda. Estava tudo marcado e eu não entendi o que aconteceu. A fazenda não era tão longe do centro. Abri a porteira e segui rumo ao centro da cidade. Eu não passaria a noite aqui, e não tinha área para mim ligar pra alguém. A estrada era meio escuro e super vazia, mas eu não estava com medo. Escondi meu celular em meu peito e segui meu rumo.
Eu estava triste, muito triste, e com raiva ao mesmo tempo. Como ele marca um jantar e não aparece? Sem ao menos me dar uma explicação? A minha cara de trouxa deve ser a melhor agora.
Pra piorar minha situação, dois homens que estavam em uma moto se aproximaram de mim e me assaltaram. Eles foram brutos comigo, um me deu um tapa onde eu acabei caindo e me ralando, sem contar o corte em minha boca. Eles levaram apenas minhas jóias e meu dinheiro. Graças que o celular estava em meu peito e eles não viram. Eu corria como uma louca , e graças a deus eu consegui chegar no centro da cidade. Eu estava suja e ralada, com medo, chorando. Até agora eu não culpava Nicholas. O culpei quando meu celular entrou em área e chegou mensagens de Carolina pra mim.
Mensagem com Caroline
onde você está?
Abby?
Me responde!
Onde você está?
Eu sei que Nicholas não está com você!
Ele está na mesma festa que eu!
Eu pensei que vocês iriam jantar juntos na fazenda dos pais dele.
Cancelaram?
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Eram várias mensagens de Carolina. Eu não estava acreditando no que eu estava lendo. Eu queria não acreditar. Juro que não.
Mensagens para Carolina.
Onde você está?
Me diz agora!
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Não demorou muito ela respondeu.
Mensagem de Carolina.
Estou na boate Las Vegas.
Onde você está?
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Eu não respondi, apenas andei rumo a boate. Se Nicholas estiver realmente lá, eu vou querer uma boa explicação.
As pessoas me olhavam rua. Eu não chorava mais. Talvez se eu fosse um pouco mais sensata, eu ligaria para Tito e iria para casa, já que acabei de ser agredida e assaltada. Sim, eu estava com medo agora, ainda dói em mim tanto por dentro quanto por fora, mas não seria isso que iria me parar. Eu já passei por tanta coisa na minha vida, que não vai será um tapa na cara que vai me derrubar.
Já na frente da boate, não foi difícil eu entrar pois mulheres eram liberadas de graça. As pessoas lá dentro me olhavam e riam de mim. Eu não ligava, não eram todos, uns até que me olhavam preocupados.
Meus olhos correm pelo o local, até eu encontrá-lo no meio de um bando de gente no andar de cima na área vip. estava caminhando para lá, quando vejo Soraya chegando perto dele e o beijando.
— Abigail — escuto a voz de preocupação de Carolina atrás de mim. Ela me vira e me olhavam dos pés a cabeça — Meu pai. O que aconteceu? Quem te machucou, amiga?
Eu apenas a encarava e uma lágrima escapou de meus olhos. Quando eu me viro para olhar novamente lá em cima, ele não estava mais lá, agora ele estava na minha frente, me encarando assustado.
— Feliz? Conseguiu o que queria? — pergunto com raiva.
— Quem fez isso com você? — pergunta me olhando assustado.
— Não importa! — grito.
— Quem foi o desgraçado que fez isso com você?! — ele grita sacudindo meu ombro.
— Eu te odeio! — grito de volta — Tá vendo isso? — aponto para meus machucados — Isso foi culpa sua seu infeliz. — bato no peito dele — você mentiu pra mim. Você marcou a merda do jantar e eu fui lá servir de palhaça pra ninguém. Fiquei horas te esperando lá, e nada de você aparecer. Eu vim embora andando porque não tinha área de telefone lá. Eu fui agredida e assaltada naquela estrada vazia e perigosa, tudo isso por que você marcou a droga do jantar e não apareceu. Olha só onde venho te encontrar? Curtindo, rindo da minha cara justamente com ela. Como pode fazer isso? Eu te contei o que ela e ele me fizeram, a humilhação que passei, o medo. Eu deveria desconfiar que você era bom demais para ser verdade. — eu já estava aos choros na boate, e todos ali me olhavam. Nicholas não sabia o que dizer.
— Ela que me beijou! — ele diz e se aproxima de mim — Abby, me perdoa ... Eu juro que não lembrei do jantar
— É claro que não lembrou. — digo com ironia. — Pensa que me engana? — pergunto com raiva. — Não me engana não, Nicholas.
— Você precisa limpar isso aí — ele diz me puxando, mas eu não vou. Nicholas acaba me pegando no colo e me levando para um lugar mais vazia, ou melhor, completamente vazio.
— Me Larga! — grito e ele me põe no chão. — Some da minha vida , Nicholas. Volta lá pra Soraya. Vocês têm muita coisa em comum. Fazer os outros passar por humilhação
— Por favor, eu apenas me esqueci. Por que não me ligou da sua casa? Ele pergunta e se aproxima de mim. — Por favor. Eu tô preocupado. Vamos primeiro limpar isso em você.
— Me Larga — digo me afastando — Eu só queria confirmar o que lá no fundo eu pensava. Essa é a sua vida, Nicholas. Festas, bebidas e mulheres. Viva ela intensamente.
Com os sapatos na mão, saiu de perto dele e vou para o meio da multidão. Vejo Soraya se aproximando de mim e sorrindo sinica
— Brigou com o namorado? — pergunta com deboche.
— Sim , mas eu vou aproveitar a raiva que tô e vou te dar um soco. — digo juntando todas as minhas raivas e acertando um murro bem na cara dela. Ela acaba caindo e me xingando, mas não ligo.
— Amiga? — escuto Carol me chamar. — Vem. Você dorme em casa hoje. Lá você liga pra Margarida e avisa.
Apenas concordo e sai da boate. Do lado de fora, o frio bate em minha pele, e a dor preenche meu peito. Entro dentro do carro de Carol e coloco o sinto
— Abigail!!! — escuto apenas a voz de Nicholas me chamando, mas não dou importância e saiu o mais rápido possível.
Sim. O único homem que eu amei quebrou meu coração em milhões de pedaços.
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— Abigail! Você está chorando — Carol diz me abraçando. — O que você tem? Tá lembrada daquela noite de novo?
— Não consigo não pensar. — digo limpando as lágrimas. — eu ainda o amo tanto que chega a doer, e eu não sei que remédio eu tomo para isso passar.
— O tempo vai ajudar — ela diz e me abraça forte.
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