Intriga

826 Palavras
Vicente estava concentrado em sua mesa, analisando documentos importantes relacionados à expansão do Grupo Falcão. Ele gostava de começar cedo, quando o prédio ainda estava em silêncio. Sua sala era um reflexo de sua personalidade: sóbria, moderna, com móveis de linhas retas e uma ampla janela que oferecia uma vista panorâmica da cidade. O som da porta sendo aberta abruptamente quebrou o silêncio, e ele ergueu os olhos. Lá estava seu tio, Dário Falcão, o irmão mais novo de seu pai. Dário era um homem em seus cinquenta e poucos anos, de aparência impecável, sempre com um sorriso que mais parecia uma ameaça disfarçada. — Meu sobrinho querido! — exclamou Dário, entrando sem cerimônia, como se a sala já fosse sua. — Resolvi dar uma passadinha para ver como está o escritório. Afinal, em breve eu estarei aqui, não é? Vicente inclinou-se levemente para trás na cadeira, observando o homem com cuidado. Ele sabia que Dário não perderia uma oportunidade de provocar. — Isso só o futuro dirá, tio — respondeu Vicente, com um sorriso calmo, mas firme. Dário riu, aproximando-se da mesa. — Ora, Vicente, vamos ser sinceros. Você sabe tão bem quanto eu que a empresa precisa de alguém com mais... experiência. — Ou talvez alguém com menos sede de poder — rebateu Vicente, com a voz controlada. Os olhos de Dário estreitaram-se, mas o sorriso permaneceu. — Sede de poder? Não seja dramático, meu caro. Estou apenas preocupado com o bem-estar do legado da nossa família. Vicente cruzou os braços, sustentando o olhar do tio. — O legado da nossa família está em boas mãos, Dário. Meu pai confiou em mim para liderar, e os resultados falam por si. Dário fez uma expressão de falsa surpresa. — Ah, sim, os resultados. Mas, você sabe, Vicente, algumas pessoas aqui no conselho não compartilham da mesma confiança que seu pai tem em você. Eles acham que falta... estabilidade. Vicente sabia exatamente aonde Dário queria chegar, mas não daria o gosto de vê-lo vencer a discussão. — Estabilidade é conquistada com resultados, e isso é algo que eu entrego. Agora, se me der licença, tenho trabalho a fazer. Dário inclinou-se sobre a mesa, aproximando-se. — E eu estou certo de que fará um excelente trabalho... enquanto ainda estiver aqui. Vicente manteve o sorriso, mas seu olhar era cortante. — Obrigado pela visita, tio. Espero que tenha gostado do meu escritório, porque talvez essa seja a única vez que terá a oportunidade de vê-lo assim, de perto. Dário se afastou lentamente, ajeitando o paletó com um ar despreocupado. — Sempre tão confiante, Vicente. Mas, cuidado. O mundo dos negócios é imprevisível. Com essas palavras, ele virou-se e saiu, deixando um leve aroma de seu caro perfume para trás. Vicente respirou fundo, sentindo o sangue ferver, mas não permitiu que a irritação transparecesse. Vicente levantou-se e caminhou até a janela, olhando para a cidade abaixo. Ele sabia que a batalha pelo controle do Grupo Falcão seria difícil, mas estava preparado para lutar. Não apenas contra Dário, mas contra todos que duvidassem de sua capacidade. Vicente voltou à sua mesa depois que Dário saiu, mas a conversa ainda ecoava em sua mente. Ele precisava consolidar seu plano e agir rápido. A figura de Olívia surgia constantemente em seus pensamentos desde que Sávio mencionara seu nome. Ela parecia ser a peça que faltava para resolver seu problema. Ele pegou o telefone e discou rapidamente. — Clara, chame o Sávio à minha sala, por favor. Minutos depois, a porta abriu-se suavemente, e Sávio entrou com seu andar descontraído de sempre. — Você chamou? — Sente-se — disse Vicente, apontando para a cadeira diante de sua mesa. Sávio obedeceu, observando o amigo com curiosidade. Ele sabia que Vicente só o chamava assim quando tinha algo sério para discutir. — Preciso de mais informações sobre Olívia — começou Vicente, direto. — De onde você a conhece? Sávio arqueou uma sobrancelha, surpreso pela pergunta, mas logo relaxou. — Nos conhecemos em uma reunião de negócios há alguns anos. Ela estava representando a empresa da família. Lembro que fiquei impressionado com a postura dela, considerando que era tão jovem. Vicente manteve o olhar fixo em Sávio, analisando cada palavra. — E depois disso? — Bem, temos alguns amigos em comum, então acabamos mantendo contato, mas nada muito próximo. A verdade é que sempre a admirei. Ela é determinada e muito inteligente. — Você acha que ela aceitaria minha proposta... inusitada? — Vicente perguntou, medindo as palavras. Sávio estreitou os olhos, claramente intrigado. — Sinceramente… Não sei. Vicente se levantou, andando até a janela enquanto falava. — Algo que resolveria os problemas dela e os meus. Sávio ficou em silêncio por um momento, processando a informação. — Ela não tem nada a perder. — Contrato de casamento — corrigiu Vicente, virando-se para encará-lo. — Ela está em uma situação difícil, e eu preciso de uma esposa para garantir meu lugar na empresa. Parece a solução perfeita.
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