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1804 Palavras
Sinto meu estômago doer por mais um chute, já perdi a conta de quantos foram. Não só chutes, socos também. Quem sabe um cinto, ou uma corda, que tal uma faca?!      - SUA FILHA DA p**a! EU DISSE QUE QUERIA A CASA ARRUMADA! - E mais um chute.    Ele não costuma bater no meu rosto por causa do meu trabalho. Mas a barriga e as pernas, ele faz qualquer coisa. Claro, que para o meu trabalho eu necessito da perna, mas ele não liga muito, já que eu posso esconder com um calça.    Só tem 5 meses que estou trabalhando. Quase não consegui o trabalho por estar abaixo do peso e pálida, apesar de já parecer um fantasma por natureza. Mas como viram que eu tinha potencial, me deram a vaga de professora de dança.    Eu sempre guardo o dinheiro, pelo menos nisso, ele não faz questão de mexer, já que eu não saio de casa direito. Mas ele exige a casa limpa e comida pronta. O que posso fazer?! Eu moro com ele, não tenho para onde ir. E ele também não deixaria, eu já tentei várias vezes, até que desisti.      - Mas está arrumada,   Alex  ! - Minha voz sai fraca, por causa dos chutes na barriga.      - E minha comida? Ahn? Não está no prato, vá colocar agora. Quando eu descer, quero tudo na mesa. E põe tudo separado, se estiver misturado, já sabe o que vai acontecer. - Ele rosna para mim e vai em direção ao seu quarto.    Sim, escutaram certo. Não dormimos juntos desde os 8 meses de namoro, comai a morar com ele com quase 4 meses. Me arrependo até hoje. Fui ingênua de cair na lábia dele, eu estava sozinha e precisava de alguém para cuidar de mim. No começo ele foi esse alguém, mas depois que começamos a morar junto, acabou o encanto. Ele mostrou quem realmente era.      - Claro,   Alex  . - Digo baixo, mesmo ele não ouvindo mais.    Me levanto com dificuldade e vou em direção a cozinha. Sem ele saber, tomo dois comprimidos de remédio para dor e ponho rapidamente sua comida, coloco a minha e você para o meu quarto. Ele não gosta de comer "  olhando para minha cara de b***a  ", como ele diz.    Eu não tenho mais ninguém, não tenho família, evito fazer amizade no meu trabalho, fico sempre na minha. Sei que me chamariam para conversar, sair e iam querer vir aqui e isso não seria possível. Alex já surtar e me bater.    Fico na minha cama olhando para a parede e pensando. Eu tenho que sair daqui, não posso mais aguentar isso. Mas dessa vez, eu tenho que pensar bem antes de sair, para ele não desconfiar. Ainda bem que moramos em casa, se não, era bem provável que ele falaria para o porteiro não deixar eu sair e se o caso saísse, mandaria ligar para ele.    Depois de um tempo pensando, ouvi a porta do seu quarto bater. Ele foi dormir, ou pelo menos descansar, para sair mais tarde. Ir para a casa das putas dele. Até já tentei denunciar ele, mas como não tenho sorte, o primo dele era policial, então não deixei eu fazer a queixa e ameaçou se eu tentasse fazer isso de novo. Conclusão? Apanhei até desmaiar, fiquei em casa por duas semanas, ele foi no meu trabalho entregar um falso atestado, dizendo que fiquei doente. Cínico.    Então me lembrei de uma pessoas, ela com certeza me ajudaria. Não nos falamos a muito tempo, mas espero que ela me ajude, é minha única opção. Levanto e tranco a porta devagar para não fazer barulho. Pego meu celular e ligo para a minha única esperança.        -  Alô? - Torço para ela me ajudar.        - Oi, Tris. Sou eu. - Olho para a porta e suspiro.        - Nana! Como você está? Por que sumiu? Pensei que tinha me esquecido. - Alex excluiu todos os meus contatos e trocou meu chip, ainda bem que tinha guardado o número dela no papel, então comprei outro chip e acrescentei no celular, já que podia colocar mais de um.       - Eh, aconteceu umas coisas. - Minha voz ainda está fraca pela surra.       - Que coisa, Nana? Sabe que pode me contar tudo não é? - Sua voz continua doce, como quando nos conhecemos.       - Eu só preciso sair daqui. Preciso fugir daqui, não aguento mais. - Lágrimas caem dos meus olhos. Mas evito fazer barulho, ele não pode saber que falo com ela.       - Como assim, Nah? O que aconteceu? Me fala, como quer que eu te ajude, se fica falando em códigos? - Sua voz dos desesperada.      - Eu, eu estou sofrendo, Tris. Ele  me bate todo dia, não importa o que eu faço. Eu saí de um sofrimento para entrar em outro. - Meu choro se intensifica.      -  Ele  quem amiga? Meu Deus, me conta logo! - Ela diz nervosa.      - O  Alex . - Eu sussurro.      - Aquele que você disse que era apaixonada e que ele te pediu em namoro no parque? - Pergunta surpresa.      - Sim. - Deito de costa na cama.      - Mas amiga, você disse que ele te tratava super bem. - Fico em silêncio. - Foi ele que te proibiu de falar comigo? - Não respondo. - Tudo bem, não precisa falar. Vou te ajudar. Escuta, separa seus documentos e o que acha ser necessário. Vou ver com o Slade o que podemos fazer.      - Quem é esse? - Me levanto da cama, já separando as coisas. Vou só levar umas roupas, não sei onde vou ficar, mas depois eu viro com o dinheiro que guardei.      - Meu marido, você vai conhecer ele. Não estou mais aí nos EUA. - Ouço barulho de uma porta batendo ao fundo. - Vou me encontrar com ele, já ligo para você.      - Escuta, eu te mando uma mensagem quando eu puder ligar. - Ouço uma movimentação no quarto ao lado. - Tenho que desligar.    Escondo as coisas embaixo da cama, ponho celular na gaveta do armário e destranco a porta. Depois deito na cama e viro para a parede. A porta se abre e não escuto nada, fico quieta e finjo dormir. Um tempo depois a porta é fechada de novo e alguns minutos depois a porta da casa é fechada.    Levanto rápido e pego meu celular olhando como horas, 01:37. Nossa! A hora passou muito rápido. Levo o prato e o copo para a cozinha e lavo a louça que estava lá. Depois volto para a cama e mando uma mensagem para Tris. Enquanto ela não fala nada, tomo um banho rápido. Coloco uma calça legging, uma blusa de manga longa para esconder os machucados e uma bota de cano curto com salto pequeno.    Tomo mais 2 comprimidos para aliviar mais as dores e sento na cama, na hora ele toca e eu atendo.      - Me passa seu endereço, rápido! - Passo por mensagem. - Quero que você pegue suas coisas e vá para o correio que tem atrás da sorveteria que íamos. Lá vai ter um carro te esperando, Slade vai estar lá com outro  'macho'  , mas não fica com medo. Sei o quanto não gosta de ficar perto de homens, mas eles são conhecidos. Confia em mim, certo?    - Sim! - Respondo com firmeza, mas o medo já se apodera de mim. Tomara que dessa vez dê tudo certo.     - Está bem! Eles estão chegando, é o tempo em que você vai para lá. O carro é preto, a placa é HI7J- 361. Nos vemos em Homeland, e antes que pergunte, aqui te explico tudo. Te amo, nos vemos em breve.      - Também amo você, Tris. Obrigada por me ajudar, por me tirar desse inferno. - Choro de novo, com os vários acontecimentos na minha vida, eu não consigo controlar muito meu emocional.      - Sabe que eu nunca te deixaria no pior, se eu soubesse que estava sofrendo antes, teria te tirado daí a tempos. Agora venha logo, estarei te esperando. - Me despeço e desligo o celular. É agora!    Pego as coisas e saio de casa, fico com medo de encontrar um maluco na rua ou o próprio Alex, mas o caminho é tranquilo. Chego onde a Tris disse que teria um carro e o vejo parado em frente ao correio. Fico com medo deles fazerem algo comigo, já que eu vou para um lugar que não conheço e só tem homens no carro, mas decido confiar nela, é uma única pessoa que confio no mundo.    Atravesso a rua e paro ao lado do carro na calçada. A porta da frente abre e um cara enorme sai de lá. Dou um passo para trás assustada.      - Oi, meu chamo Slade. Sou o marido da Trisha, ela já está te esperando. Vamos? - Ele abre a porta de trás e fico indecisa se vou ou não, no fim prefiro ir, não quero voltar para casa e ficar na mesma rotina de apanhar e apanhar.      - Sou Sienna. - Me limito a dizer e entro no carro. A porta ao meu lado é fechado e ele entra no banco do passageiro. No lado do motorista, tinha outra cara, igualmente enorme. Por que eles são tão grandes? Fico pensando até que lembrei de ter ouvido falar de NE, eles devem ser um deles.      - Olá, me chamo Fury. - Ele sorri e suas presas aparecem. Que medo.      - Sienna. - Respondo baixo, me encolhendo no banco. Acabo soltando um gemido ao apertar a mochila na minha barriga machucada, eles me olham estranho, mas não falam nada. Logo o carro está em movimento. Por causa dos remédios, acabo dormindo a viagem inteira, só de acordo com o Fury me chamando.      - Ei, pequena. Chegamos. - Seu sorriso e gentil. Coço os olhos e pego minha mochila. Desço do carro devagar e logo um corpo se choca com o meu. Ele fica tenso e gemo de novo.      - Aí, amiga. Me desculpa! Estava com tanta saudade. - Olha para uma Trisha sorridente na minha frente. - Venha, vamos ao hospital. Quero saber porque gemeu aí.      - Também estava com saudades e não é  nada  demais. Só me machuquei  caindo  da escada. - Ela me olha de lado, sabe que estou mentindo, mas não fala nada. Percebe que não quero falar na frente deles. - Obrigada, Slade e Fury.    m*l termino de falar e ela já me puxa, se despedindo deles. Enquanto caminhamos para o hospital, minha cabeça começa a revirar. E se ele me achar aqui? E se ele fizer m*l a essas pessoas? Fiquei tão feliz por finalmente sair de lá, que não pensei nas consequências. Volto a mim quando já estamos no hospital, vejo um cara vindo de cabeça baixa, ele se parece com o Alex. Não acredito que eu m*l saí e ele já me achou, será que sabia que eu ia fugir e ficou escondido me seguindo? Mas ele não vai me pegar, eu não volto para lá mesmo. Saio correndo sem direção, não sei para onde estou indo, mas tenho que me afastar.    Minha vista fica embaçada com lágrimas e enxergo tudo borrado, m*l me dou conta que cai em uma cachoeira. Subo assustado tossindo a água, consigo chegar a beira da cachoeira e me sento na ponta dela, fico inerte por um tempo, até que escuto um barulho atrás de mim. Ele me achou!
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