1º Capitulo – Fim e Inicio

2482 Palavras
Fiquei cego com a luz que Emily emanava, de tal forma que não consegui ver quando caiu no chão sem sentidos. Aurora já a amparava quando recuperei a visão, enquanto Holly e Jennifer se acercavam do corpo de Brook e Keith, que jaziam sem vida. A minha mãe correra para o lugar onde os guardas tinham estado a lutar contra o exército dos gémeos para verificar quais os danos que tínhamos sofrido, ao mesmo tempo que eu pegava gentilmente na minha mulher e a levava para o interior do palácio. Deitei Emily e chamei as suas aias para que cuidassem dela até que acordasse, pois eu sabia que iria demorar algum tempo devido à quantidade de energia que ela despendera, e voltei para o jardim para me inteirar dos danos causados pela batalha. Do lado de fora do castelo já se ouvia comemorar, especialmente por parte dos aldeões que tinham vindo ajudar, com a confirmação que os gémeos tinham, finalmente, sido derrotados. Surpreendentemente não havíamos tido baixas, apesar do que o cenário aparentava, sendo que apenas alguns dos guardas detinham ferimentos provocados pelo confronto. Dos poucos adversários que permaneciam de pé aquando da derrota de Brook e Keith chegavam-nos expressões confusas por causa da perca de controlo, que se havia finado no exacto momento em que os gémeos morreram. Aliviado, voltei para o interior do palácio, acompanhado do general da guarda real, de Aurora e da minha mãe, onde começámos a contactar várias aldeias para saber quais os estragos que tinham sofrido. O sol já se punha quando acabei de resolver todos os problemas do dia, sem que houvesse sinal que Emily fosse despertar. No castelo a azáfama reinava, tanto por socorrer aqueles que estavam a ser controlados, como pelos festejos que eram organizados no palácio e nas diversas aldeias do reino, o que fez com que me fosse impossível encontrar um único local sossegado para descansar. Voltei ao meu quarto, querendo ver Emily e repousar um pouco, encontrando Aurora e Jennifer perto dela com um ar apreensivo. - O que se passa? - Não deve ser nada, mas a Mia disse-nos que a Emily ainda não se mexeu desde que a trouxeste. - Ela deve estar exausta Jennifer, não me parece que seja motivo para nos preocuparmos. - Por acaso sabes onde ela foi buscar aquele feitiço Eliot? – A minha sogra aparentava um misto de dúvida e preocupação embora tentasse esconder as suas emoções. - Ela disse-me que o encontrou num livro antigo. - E não sabes de que livro se trata? Ou onde está? - Pelo que sei encontrava-se na biblioteca, mas nunca o vi nem sei qual o seu título. - Vou perguntar a Eileen se tem alguma lembrança desse livro. Se houver alguma melhora da minha filha informem-me por favor. - Nós mantemos-te avisada. – Aurora saiu, deixando-me a sós com Jennifer. - Ela nunca tinha ouvido falar daquele encantamento – explicou a minha amiga. – Além disso, temos desconfianças de que os gémeos não estavam tão fortes como de costume. - Como assim? – Sentei-me num cadeirão ao lado de Jennifer, completamente estafado. – Foi-nos extremamente difícil acabar com eles, não era possível que tivessem mais poder do que aquele que mostraram. - Eu não disse que eles não eram poderosos Eliot, só que é estranho eles não terem conseguido passar a nossa defesa. Por muito que atacassem nós tínhamos força o suficiente para lidar com eles e isso nunca tinha acontecido. – Preparava-me para interromper quando ela continuou: - a Aurora estava a dizer-me que no dia em que ela e o rei Darin lutaram contra os gémeos, na batalha em que os pais dela morreram, tinham toda a guarda a defendê-los e mesmo assim só escaparam por pouco, e nesse tempo os gémeos não eram tão poderosos nem possuíam um exército. - De facto é estranho, mas se calhar estávamos melhor preparados que eles. – Olhei para Emily, que se encontrava exactamente na mesma posição em que a havia deixado, e suspirei. – Além disso eles estão mortos, não vejo porque nos temos de preocupar com isso agora. - Tens razão. – Jennifer levantou-se e dirigiu-se à porta. – Aproveita para descansar agora, amanhã os convidados para a celebração começam a chegar cedo e vais ter muito que fazer. - Vou fazer isso. Encontro-vos mais logo. Acordei com alguém a bater à porta. Continuava cansado e estava dorido por ter adormecido no cadeirão mas depressa me ajeitei e mandei entrar o visitante. A minha mãe ingressou no cómodo com um sorriso no rosto, transportando uma bandeja, e dirigiu-se para perto de mim. - Pensei que tivesses fome. - Que horas são? - Dez horas. A Jennifer disse-me que tinhas ficado a descansar, mas pensei que seria melhor comeres alguma coisa já que não jantaste. - Obrigado. – Olhei para Emily que continuava na mesma posição e suspirei. - O que tens Eliot? - A Emily ainda não deu nenhum sinal de vida, estou a começar a ficar preocupado. - Ela precisa de descansar, tens de lhe dar tempo. – Vendo o meu ar abatido acrescentou: - queres que chame o médico? - Vou esperar até que amanheça e depois trato disso. – Relembrei-me da conversa com Aurora e inquiri a minha mãe sobre o livro. - Não faço ideia do que se trata. Livros antigos são o que não falta na biblioteca e também não percebo o interesse em saber que feitiço era. – Falei-lhe do que Jennifer me tinha contado e o semblante da minha mãe alterou-se por completo. – Foi das primeiras coisas que a Aurora comentou comigo depois da batalha e eu tive a mesma opinião que tu. Nós passámos anos a prepararmo-nos para este confronto e isso deu-nos a vantagem. As visões e o poder da Emily fizeram o resto. - A Emily sonhou com a Brook a segurar em qualquer coisa – lembrei-me subitamente, - mas ela não tinha nada nas mãos. - Não devia ser importante. Tu mesmo disseste-lhe para não se focar nos pormenores. – Assenti enquanto ela se levantava. – Não vale a pena ficares a pensar sobre isso, está tudo acabado. Agora descansa. Se precisares de mim chama. Deitei-me no sofá, não querendo acordar Emily antes que ela estivesse recuperada, e adormeci rapidamente. Quando acordei já o sol ia alto no céu e rapidamente me levantei, encaminhando-me para a grande cama de dossel e constatando que a minha esposa não se tinha movido nem um milímetro. Chamei Pauline e pedi-lhe que trouxesse o médico durante a tarde, dando mais algum tempo a Emily para descansar. A hora de almoço aproximava-se e eu sabia que deveria ter muitos assuntos para tratar sobre as celebrações, contudo não tive pressa em despachar-me. Depois de pronto caminhei até ao salão de refeições onde já se encontravam Holly e Jennifer, que falavam alegremente sobre os seus casamentos. - Então e quando é que o Richard e o Eric se vão mudar para cá? – Apesar de Emily já não precisar de ter as amigas como guardas elas haviam aceitado permanecer no castelo, ajudando-a nos seus deveres como rainha de Cyon. - Algumas semanas antes do casamento – respondeu Holly animada. As duas iriam ter um casamento duplo, uma ideia que tinha partido de Holly. – Mas vão aparecer antes para nos ajudar com os preparativos. - Agora que já podemos marcar a data sem problemas vai ser rápido preparar tudo. - Se precisarem de ajuda avisem, parece-me que vamos todos ter menos com que nos preocupar daqui para a frente. - Espero que estejas certo Eliot, estes últimos anos têm sido desgastantes. - É claro que vai tudo melhorar Jennifer, nós fizemos por isso. – Holly levantou-se, demasiado entusiasmada. – E hoje vamos festejar devido ao nosso esforço. Vou ver como estão a correr os preparativos. Continuei a falar com Jennifer durante uns minutos, mas depressa me vi obrigado a exercer os meus deveres de rei. Dirigi-me para a sala do trono, onde o general já se encontrava com a última actualização sobre a batalha do dia anterior, adivinhando uma tarde muito preenchida. Ainda não estava nem há dez minutos em reunião quando a minha mãe irrompe pela sala, demasiado apressada para se tratar de alguma boa noticia. - Desculpem-me pela intromissão, mas este assunto n******e esperar. – Agarrou-me pelo braço com uma expressão urgente, arrastando-me para o exterior. - Mãe, o que se passa? - Emily. – Ao ouvir o nome da minha mulher corri pelas imensas escadarias, sem me preocupar com mais nada. Abri a porta do quarto de rompante, dando de caras com Aurora e o médico, que lhe dava algo para os nervos. Emily continuava desacordada, com uma aparência de paz, e sem se mexer. A minha mãe já tinha entrado no quarto quando consegui perguntar o que se passava. - É melhor te sentares primeiro querido. - O que se passa com a Emily? Respondam-me! - A rainha entrou em coma Sua Majestade. - Como? – Deixei-me cair no cadeirão que Aurora fora buscar para mim, esperando que se tratasse de um erro. - Aparentemente tem a ver com o feitiço que ela utilizou ontem. Vou ter de lhe fazer alguns exames para perceber se tem mais danos, mas vai levar algum tempo. - De quanto tempo estamos a falar? - Até ao final do dia de amanhã deverei conseguir alguns resultados Senhora. Garanto que vou ser o mais breve possível a examinar a sua filha. - Há alguma coisa que possamos fazer? - Seria muito útil saber o encantamento que a rainha usou, majestade. - Vai ser difícil, mas vamos procurar o melhor que pudermos. - Pode levar meses Eileen, nós não temos a menor pista de onde se encontra o livro. – Aurora sentou-se ao meu lado, derrotada. – Há alguma maneira de a acordarmos? - Primeiramente terei de determinar em que estado a rainha se encontra, mas mesmo que não seja grave eu não vos aconselharia a tal, pois ninguém saberá que danos poderão ser causados. - Comece com os exames o mais rapidamente possível. Até sabermos como a Emily está é melhor que não espalhemos pelo reino. - É uma boa ideia Eliot. - E quanto à festa desta noite filho? Não seria melhor cancelar? - A última coisa que me apetece agora é comparecer a essa festa, mas se a cancelarmos levantaremos suspeitas de que algo não se encontra bem. – As duas amigas olharam para mim com aprovação, abraçando-me em seguida. – Vamos dizer às pessoas que a Emily ficou esgotada e vai levar algum tempo a recuperar. Até lá vou mudar-me para o meu antigo quarto, se me quiserem encontrar. - Vou avisar a Holly e a Jennifer, elas devem estar a preparar-se. - Eu vou contigo Eileen, e aproveito para informar a Mia e a Pauline. Queres que lhes diga para levar o teu traje para o outro quarto Eliot? - Sim, por favor. Vou ficar aqui mais uns momentos. – Assim que elas saíram eu voltei toda a minha atenção para a Emily. Passei uma hora a observar o rosto da minha esposa, sereno e em paz, como se apenas estivesse adormecida, até que Jennifer bateu à porta para me dizer que eu estava atrasado. Sem v*****e, encaminhei-me para o quarto e tomei um banho rápido, sem conseguir relaxar. Vesti o fato que me tinham preparado e olhei-me ao espelho, pensando em como poria um sorriso no rosto. A custo saí dos meus aposentos, encaminhando-me para o hall onde os convidados começavam a chegar e Aurora fazia de anfitriã em nome da filha. Passei a noite a responder às pessoas o porquê da rainha não estar presente assim como o que se tinha passado no dia anterior, o que me fez ficar com dores nos maxilares de tanto forçar o sorriso. Assim que a comemoração acabou, perto das duas horas da manhã, subi as escadas esperando que já houvesse alguma novidade sobre o estado de Emily, encontrando Mia no quarto. - Alguma novidade? - Não majestade. O médico saiu daqui há pouco tempo com algumas amostras de sangue e apenas pediu para que a rainha estivesse sempre acompanhada e para o contactarmos se existirem alterações na sua condição. - Ele disse quando volta? - Dependendo dos resultados dos exames o doutor pode voltar a qualquer momento majestade. - Muito bem, então teremos de aguardar. Podes ir descansar Mia, eu tomo conta da Emily. – Com uma vénia Mia saiu, deixando-me livre para deixar os meus sentimentos fluírem. Sentei-me na borda da cama e peguei na mão da minha mulher, completamente imóvel, e larguei uma lágrima solitária. Na manhã seguinte encontrava-me mais cansado do que nunca. Aurora acordou-me ao entrar no quarto, seguida de Holly e Jennifer, todas elas com aspecto de quem não tinha dormido. A minha mãe chegou pouco tempo depois, pondo-me ao corrente das suas buscas na biblioteca com as outras mulheres, as quais tinham sido infrutíferas. Alguém chamou Pauline, que depressa apareceu, e encaminhámo-nos todos para o salão de refeições, cada um mais abatido que o outro. Embora a minha disposição não podia descurar os meus deveres, então tive de voltar à reunião que havia sido interrompida no dia anterior e que me ocupou durante toda a manhã, deixando-me totalmente desconcentrado. Passei a tarde na biblioteca. Já tínhamos visto dezenas de livros mas nenhum deles continha o que procurávamos, o que estava a fazer nervos a todos. A demora do médico também nos deixava apreensivos, sem saber se era um bom ou mau sinal e, por diversas vezes, alguém ia verificar se ele já chegara. - Já cá está – gritou Holly ainda no corredor. – Chegou agora mesmo e que encontrar-se com o Eliot e com a Aurora. Dirigimo-nos o mais depressa possível para o quarto onde Emily repousava, encontrando o médico a realizar alguns exames de rotina, sem que houvesse alguma alteração a declarar. Sentámo-nos nos cadeirões enquanto esperávamos que ele terminasse, cada um mais nervoso que o outro. - Como é que ela está? - A rainha encontra-se em perfeitas condições, Senhora, o que torna estranho o facto de ter entrado em coma. - Então o que se passou? - Não consigo lhe dar certezas majestade, não sem o feitiço, mas posso afirmar que foi devido à quantidade de energia que a rainha despendeu. Fisicamente está óptima e não existem razões para que o seu estado se mantenha. - Quando é que ela acordará? - Para essa pergunta não existe resposta majestade, só o tempo o dirá. Contudo, há mais uma coisa que gostaria de lhes informar. - Diga-nos tudo por favor, por pior que seja. - Não tenho más notícias, Senhora, apenas uma que pode se complicar se o estado da rainha não se alterar para melhor. – Vendo-nos impacientes, o médico continuou: - sua majestade está grávida.
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