13/01/1997

2120 Palavras
Na manhã seguinte o garoto acordou no chão da cozinha, seu rosto estava cheio de sangue, a dor em suas costelas era insuportável, mas não mais do que a emocional, a dor de saber que sua mãe foi abusada na sua frente e não pode fazer nada, ele estava decidido que isso não aconteceria de novo, foi até o quarto do casal, onde os dois ainda estavam dormindo, era um quarto simples, apenas uma cômoda, um guarda roupas velho e a cama, silenciosamente, para não acordar seu pai, Jack abriu a gaveta do guarda-roupas, onde ficavam as roupas íntimas do casal, então começou a revirar tudo, não demorou muito para sentir algo duro e metálico, ele sabia o que era, de lá de dentro puxou um trinta e oito de cano alongado e coronha perolada, estava totalmente municiado, após guardar a arma na parte de trás da cintura, saiu do quarto tão silencioso quanto entrou. Depois de tomar banho e arrumar-se para a escola, colocou seu novo casaco e saiu, assim como no dia anterior encontrou Liz na frente da Willis, a garota que novamente segurava um saco de papel, ao ver o rosto de seu namorado o abraçou com lágrimas nos olhos. -Tá tudo bem Liz. -Falou antes que ela pudesse falar qualquer coisa. -Não tá não, olha pra você amor! O menino em choque com o que ouviu ficou em silêncio por um instante, o que significava aquilo, por que ela chamou-o de amor? Mas antes que tivesse tempo de pensar sua boca falou. -Eu te amo. -Eu também te amo. Após um curto silêncio, os dois beijaram-se. -Vamos indo? -Quer saber? Podíamos faltar aula hoje! -o menino exclamou. -A gente nunca fez isso, o que vamos fazer então? -Não tenho ideia, podemos começar entrando de volta na padaria pra comer, o que acha? -Pode ser. O início da manhã foi bem tranquilo, apenas comeram e conversaram, Jack evitou qualquer pergunta ou conversa sobre o dia anterior, então após aproveitar ao máximo até próximo do meio dia, os dois saíram da padaria. -E agora? -Podemos ir até o parque de diversão que está aqui na cidade. -Liz meu amor, eu não tenho dinheiro pra isso, eu também queria, mas eu não tenho nem pra pagar pra mim, imagina pra nós dois. -Deixa de ser bobo, eu pago. -Certeza? -Claro. Eles então partiram para seu destino onde passaram a tarde se divertindo, Liz morria de medo na montanha russa, ou na casa assustadora, mas toda vez que ela sentia isso, o menino estava lá, a abraçava e então continuavam o passeio, já no pôr do sol, no topo da roda gigante, com a Linda vista de toda a sua pequena cidade, assim como para o lado contrário uma grande floresta, Jack ajoelhou-se e do bolso puxou uma pequena caixinha. -Liz eu venho guardando esse anel a um bom tempo, afinal já pensava em me tornar seu namorado, você e sua família sempre me trataram bem, vocês são minha verdadeira família, você é meu amor, quer namorar comigo? -MEU DEUS, SIM! -Gritou a menina. O menino levantou-se, colocou o anel de prata, com desenhos de flores, no dedo da menina, seguido de um lindo beijo ao pôr do sol, infelizmente sabiam que já era hora de ir embora, de voltar para suas vidas normais, para Elizabeth isso até podia não ser r**m, mas Jack sabia o que o esperava. Já em frente a casa da jovem os dois se beijaram apaixonados, então quando terminaram ao olhar para o topo da escada que dava entrada para a casa de madeira, estava a mãe da menina na porta. -Que bonitinhos! -Obrigado senhora. O menino falou enquanto virava-se para a mulher. -Meu Deus Jack! Seu pai fez isso com seu rosto? -Sim, mas não se preocupe… -Como não? Isso é um absurdo, você quer entrar? O jantar hoje vai ser macarrão com almôndegas. -Certeza? Não vai ser incômodo? -Imagina, entrem logo. Ao entrar depararam-se com uma pequena sala, com um sofá de três lugares, uma poltrona e uma mesa de centro, um pouco mais à frente uma cômoda com uma televisão de plasma, que recém havia sido lançada. Na poltrona estava o pai de Liz, um homem alto, magro e forte, vestindo uma camisa social, calça de terno preta e sapatos sociais, Jack sabia que o homem recém havia chegado do serviço, por isso apenas tirou o paletó. -Oi meu querido, oi filha, fiquei sabendo de vocês dois, parabéns…. -Ele falava ainda virando o rosto, sua fala foi completamente interrompida ao ver o rosto de Jack. -p**a merda filho, seu pai fez isso? Janta aqui, depois vou te levar pra casa. -Ele falou em tom sério, completamente diferente de antes. -Sim, mas não se preocupem. -Isso é completamente inaceitável. -Respondeu Amara, que entrava pela porta logo atrás das crianças -Aquele animal, acha que resolve tudo batendo, mas fora isso, ele fez mais alguma coisa? Você pode me contar tudo, eu preciso saber tudo. -Sim, posso falar com o senhor a sós? -Sem dúvida, meninas podem nos dar licença um instantinho? -Claro, vem liz. -Amara falou saindo acompanhada da filha. -Senta filho, pode me falar sem vergonha de nada ok? -Tá. -o menino falou sentando-se no sofá. -Ontem meu pai estava conversando com eu e minha mãe na mesa, estava tudo tranquilo, até eu contar que achava que estava namorando, ele não gostou do fato de eu não ter certeza, tudo piorou quando contei que tinha tirado uma nota r**m em matemática, aí ele levantou, me deu um soco no rosto, eu caí no chão, quando estava levantando ele chutou minhas costelas algumas vezes, ainda tá doendo por falar nisso, aí minha mãe pediu pra ele parar, mas ele não gostou disso também, ele estuprou ela na minha frente. -Meu Deus, vou fazer tudo que puder para te tirar desse lugar, você não merece isso, vamos jantar? -Vamos, só por favor não conta pra Liz, eu gosto que ela me veja como alguém forte. -Filho, você é forte, a maioria das pessoas não aguentaria um dia na sua pele, por falar em pele, deixa eu ver suas costelas. O menino ergueu a camisa, os hematomas nas costelas eram grande, talvez alguma costela estivesse quebrada, mas não tinha como saber e o médico seria muito caro, era mais fácil Mike resolver isso sozinho. Os dois voltaram a mesa de jantar, m*l tocaram na comida, comeram apenas para não fazer desfeita para Amara que havia preparado o jantar com tanto amor, após a janta, já na porta de casa Jack abraçou Elizabeth, deu um beijo em sua boca, então partindo junto a Mike no carro, em alguns minutos já estavam em frente ao lar decadente de Jack, Max esperava na frente, segurando um pedaço de madeira na mão. -Jack entra já, onde você andou garoto. -Comigo, seu merda. -Respondeu Mike -A tinha que ser, aposto que devia tá com aquela p*****a também. Os dois se aproximavam enquanto discutiam, o pai do menino levantou a madeira na intenção de bater em Mike, mas antes que terminasse seu golpe recebeu um soco no queixo, o homem de terno agarrou a madeira da mão daquele verme, então o espancando por alguns minutos sem parar, ao terminar jogou a madeira ao lado da cabeça do homem. -Jack se você precisar pode ir lá pra casa. -Se você ir, vou acusar ele de sequestro Jack, por sua causa a sua namorada vai ficar sem pai. -Gritou a mãe do garoto que estava na porta Mike entrou no carro sem falar mais uma única palavra, então partindo, Max se levantou do chão e entrou, também em silêncio, assim como o resto da família. -Max para, você só vai conseguir mais problemas. -Cala boca vagabunda. Ao ouvir isso Jack trancou sua porta, na esperança de conseguir evitar problemas, então ouviu um barulho seco, como uma pancada, seguido de outro, aquele sem dúvida era o som de sua mãe caindo, o menino destrancou a porta e correu para o quarto de seus pais, onde encontrou seu pai em cima da mulher segurando um abajur de cabeça para baixo, sua base redonda estava ensanguentada, assim como o chão que se ensopava com o sangue da cabeça de sua mãe. -Isso é culpa sua! Gritou Max furioso, levantando e vindo em direção a Jack que sacou o revólver o mais rápido possível. -A resolveu virar homem? Achei que ia ser uma bichinha o resto da vida! O garoto vendo seu pai aproximar-se não via outra escolha a não ser disparar, essa não seria só uma surra comum, ele já havia matado a esposa, o que o impedia de matar o filho, Jack com o revólver apontado na direção de seu pai tremia, mas finalmente teve coragem de o enfrentar, o primeiro disparo acertou o pulmão do grande homem, o segundo atingiu o pescoço, de onde começou a jorrar sangue, ele saiu cambaleando, tentando manter-se de pé, apoiando-se nos móveis, mas sua mão fraquejou, caiu no chão onde morreu lentamente em meio a poça de seu próprio sangue, o garoto correu para o quarto, pegou seu casaco de couro e seu pequeno canivete, que havia ganhado de Liz em seu último aniversário, então pulou a janela, assim saindo pelos fundo, o menino correu para a casa de sua namorada, quase uma hora depois Elizabeth acordou, parecia ter alguém batendo em sua janela, não, ela tinha certeza agora, tinha alguém ali, após alguns instantes tomando coragem ela finalmente olhou, Jack estava na janela era visível que estava em choque, ao abrir a janela o menino abraçou-a, com toda sua força. -Me desculpa, me desculpa, me… -Calma meu amor, do que você tá falando? -Eu tenho que ir embora, mas eu prometo que volto. -O que? Como assim? O que aconteceu? -Eu matei ele, agora se eu ficar vou ser preso! -Ca-calma, a gente pode resolver isso, eu posso ir com você. -E jogar todo seu futuro no lixo? Eu te amo, não quero acabar com a sua vida. -Eu não ligo, eu só quero ficar com você! -Exclamou a menina já chorando. -Por favor amor, não faz isso, você é a única pessoa que eu já amei é que já me amou, não torna isso tudo ainda mais difícil por favor. -Jack eu também te amo e é por isso que eu faria qualquer coisa por nós. -Eu sei, mas não posso deixar você estragar seu futuro por mim, seria muito egoísmo da minha parte, eu prometo que vou voltar! -Enquanto falava isso, lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, aquela era a primeira vez que ele chorava na frente de Elizabeth. -Eu vou estar aqui te esperando. O menino segurou a nuca da menina enquanto a puxava para um beijo, seguido de um longo e caloroso abraço, possivelmente o último que recebeu em anos, então virou-se e partiu enquanto sua amada o assistia ir embora. Após sair da casa de Liz o garoto vagou sem rumo esgueirando-se por becos, evitando qualquer viatura policial que passasse por ele, em poucas horas Jack havia afastado-se da pequena cidade, enquanto caminhava pela estrada avistou um pequeno posto de gasolina, com a conveniência ainda aberta, ele adentrou o estabelecimento, uma pequena lojinha com três estantes de coisas a venda, que formavam quatro corredores até o balcão de pagamento, em frente a este uma pequena caixa com três filhotinhos de collie, atrás do balcão estava um homem de meia idade, barba por fazer, olhos verdes, cabelo penteado para trás, vestia uma camisa polo vermelha. -Em que posso ajudar? -Eu vou dar uma olhadinha, já te falo. -Claro, fica a vontade. O menino passou olhando as prateleiras, mas tinha dinheiro apenas para um saco de salgadinhos, ele o pegou e levou até o balcão, onde enquanto pegava o dinheiro sentiu algo tocar em sua perna, ao olhar para baixo viu um dos filhotinhos, marrom claro, peito branco assim como as quatro patinhas que pareciam ter uma botinha, na testa também havia uma listra na cor branca que perto da ponta do focinho ligava-se a parte de baixo da mandíbula e ao peito. -Olha ele gostou de você, não quer levar? Estão para adoção, algum i****a deixou eles aí na frente, sem comida, estava todo magrinho. -Na verdade quero sim, sei como é tá no lugar dele. -Ótimo, pega aqui então. -O balconista falou entregando um pequeno saco de ração. -Muito obrigado, Vamos lá garoto? O animal respondeu com um latido, Jack entregou o dinheiro do salgadinho e os dois saíram, o menino sabia que não podia mais voltar a cidade, então em meio ao nada embrenhou-se na mata, uma densa floresta de araucária, onde dormiu sob as estrelas, abraçado em seu novo companheiro.
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